segunda-feira, 29 de agosto de 2011


 A história do buraco que nasceu de geração espontânea e agora quer ser uma floresta

Na minha rua surgiu há poucos dias um jovial e malandro buraco. "Geração espontânea", garantiu-me. Como se vê, trata-se de buraco, além de tudo, metafísico, filósofo e positivista. 

Perguntei-lhe sobre os seus planos, pois na minha rua já vivi momentos trepidantes com enchentes ameaçadoras e o meio-fio mais alto que a calçada e sei o que é lutar contra acidentes topográficos mal-humorados e tempos chuvosos furibundos. 
Quando surgiu, o buraco era humilde e nada ameaçador

Respondeu-me que pretende, se não conseguir ser elevado ao elegante status de piscina, transformar-se em cratera, chegar à condição de charco e, se possível, atingir o ponto de ser um pântano, onde habitarão cobras gigantescas e crocodilos que mandará vir de onde existirem tais e tamanhos animais enormes e nocivos. 
Agora já se tornou uma bocarra pronta a nos engolir

Percebi que teria problemas. Pedi licença e retirei-me, temeroso do que estaria por vir. A minha conversa com o buraco fora de manhã e, à noite, terrificado, percebi a ocorrência de estranhos fenômenos à luz do poste madrugador: curiosos movimentos de seres arredondados que se mexiam colados ao pavimento da rua: eram buracos de outras partes da cidade que tinham vindo em socorro daquele malefício que brotava da rua. 

Conferenciavam e ouvi que intentariam até mesmo tornar-se um buraco tão grande e tão profundo que, além de se tornarem pântano, chegariam à China onde promoveriam grandes tumultos e enormes desacertos. Continuei prestando atenção até que ouvi: antes de tudo, antes do pântano e dos charcos, das piscinas ou seja lá do que for, uniriam forças, se juntariam num só ente lesivo e dariam origem a uma grande floresta, dominando todas aquelas paragens. 

Finalmente aqui o início da grande floresta em  que se tornará
Isto posto, houve como que um vendaval e os buracos se tornaram um. E de repente uma folhagem desprendeu-se de enorme nuvem de poeira; dia seguinte minha rua tinha a primeira manifestação do mundo - geração espontânea vale salientar - de um matagal que, temo, virá em breve vai se espalhar em toda Natal e nos transformar não sei exatamente em quê. Mas não tenho dúvida: boa coisa não será.


Nenhum comentário: