sexta-feira, 31 de março de 2006

Não traga o dragão

"Gagarin subiu, subiu,
Foi até o espaço sideral.
Chegando lá na lua ele sorriu:
vou m'imbora pro Brasil,
Que o negócio é carnaval"
(Marchinha de carnaval, quando o russo Yúri Gagarin fez a primeira viagem espacial)

O astronauta brasileiro Marcos Pontes vai passar oito dias no espaço, enquanto seus companheiros lá ficarão por seis meses. A imprensa está comemorando o fato com os clarins do heroísmo. O fato não está sendo analisado. Está sendo relatado.

O que de tão importante para a ciência pode ser constatado em apenas oito dias? Foram 35 milhões de reais, para uma viagenzinha espacial. Muito, para um país cujo povo tem tão pouco.

Este comentário é curto. Espero apenas que, ao voltar, se ele não puder trazer São Jorge para nos ajudar, não traga, por acaso, em meio às suas tralhas astronáuticas, o dragão. Se isso ocorrer, estamos em má situação: como não mais existem cavaleiros andantes, nem mesmo Dom Quixote, quem nos salvará da fera?

Não vou, não vou e não vou...

"Na guerra, o essencial é a vitória;
não campanhas prolongadas."
(General chinês Sun Tzu, em "A arte da guerra")

O ex-ministro Palocci disse que não ia, porque estava com estresse. Okamotto, aquele que pagou do própio bolso 23 mil reais de uma dívida do presidente Lula para com o PT, também não vai. Mais claramente, esse pessoal está sendo chamado, chamado não, intimado a depor pela Polícia Federal, mas não vai.

Não vai, não vai e não vai. E não acontece nada.

Uma pergunta: a polícia perdeu seu... poder de polícia? Quer dizer que suspeitos, pessoas notoriamente envolvidas com transações ilegais, se apresentam para depor quando querem, se querem ou se puderem? Lamentável, não?

A questão de Okamotto, dirigente supremo do Senac, chegou ao deboche: um agente foi entregar a intimação, que ele não recebeu porque "estava viajando", foi o que disse uma secretária e assim publicado pela imprensa. Só que, à saída, o agente voltou por qualquer motivo e viu ninguém menos que Okamotto saindo de uma sala e entrando em outra.

Espere aí: isso não tipifica alguma figura delituosa? O sujeito não poderia ter sido preso ali mesmo, por tentativa de obstrução do trabalho policial? A situação brasileira, cheia de enigmas morais, viscosidades éticas, transvios de conduta ideológica, chega agora ao cúmulo da cretinice.

Elementos de alta periculosidade - sim, corrupção e desmandos com os dinheiros públicos, a meu ver, tipificam periculosidade - caminham à solta e, soltos, futuramente voltarão a delinqüir.

Eu supunha que uma intimação policial tinha força coativa, era uma imposição, não uma escolha por parte do intimado. Em meio a um governo que em seu cerne acumula toda uma gama de desregramentos e depravações políticas e administrativas, o presidente Lula pensa sua próxima intentona: voltar a dirigir - eu disse dirigir? - os destinos do Brasil.

Na verdade, ele intenta dirigir as desditas do Brasil. Nisso ele é muito bom.

quinta-feira, 30 de março de 2006

Banalização da Carta Magna

"Muitas vezes a inteligência
vale mais que o conhecimento."
(Einstein)

O jornalista Walter Medeiros envia artigo cuja transcrição segue abaixo.


O mundo tem visto a repetição cotidiana de imagens que, antigamente, a ficção seria acusada de imaginar demais, caso as produzisse em películas cinematográficas. A aventura destruidora e mortal do presidente Bush no Iraque, com mortes aos milhares, depois da aventura louca no Afeganistão, em busca de Osama Bin Laden, que até hoje não encontrou.


Aqueles campos de prisioneiros criados pelos americanos em Guantânamo, que vez por outra vêm à tona, mostrando imagens horrorosas, que só lembram os campos nazistas, e tantas outras situações fartamente “ilustram” os telejornais através dos relatos sobre a vida, o poder e a morte dos traficantes de drogas e outros.

Os produtores do Fantástico, por exemplo, parece que perderam a noção do próprio nome do programa e transformaram a chamada revista eletrônica do domingo em mais um programa de reportagem policial; não bastasse o Linha Direta, que presta seus serviços e desserviços também toda semana.

Desta forma vai se consolidando na sociedade a cultura do fato policial em primeiro lugar, invertendo completamente a ordem de interesse que qualquer sociedade saudável tem, de deixar para o vulgo as páginas ensangüentadas dos jornais caça-níqueis.

Pois esta banalização da violência vai mais longe e começa a contaminar os ambientes onde se podia esperar que não ocorresse, em vista de certos mantos protetores que encontramos nos regimentos e regulamentos internos das casas legislativas.

E chega pelas vozes de advogados que, a título de discutirem questões ligadas ao cotidiano dos processos administrativos e judiciais, extrapolam no linguajar, de forma completamente diferente daqueles tempos em que se usava o latim no âmbito jurídico e a linguagem chula era rechaçada, para manter elevado o nível das discussões.

O fato que motiva estas considerações se deu no dia 28.03.2006 durante reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Tratavam sobre as vantagens ou desvantagens de implantar a chamada Super-Receita e para tanto vieram representantes de diversos setores do serviço público federal e entidades representativas de categorias profissionais envolvidas na questão.

Os argumentos até que eram fortes e pertinentes, mas de uma hora para outra começaram a achar que havia um desamparo de certos setores que, devido à legislação vigente, teriam desvantagens ou desequilíbrio ante as regalias estatais.
Meses atrás escrevi artigo sobre violência, onde enumerava as formas como a sociedade recebe ou é invadida pela mídia, principalmente, com termos incitantes, muitas vezes utilizados até inadvertidamente e sem nenhuma intenção de cultuá-los.


No futebol, tudo é “gang”, “máfia”, “tiro de longe”, “vamos agredir mais”, “vamos combater”, etc. Fato que se repete em programas, novelas e telejornais. Da mesma forma que nas escolas as crianças e jovens usam termos que nem no chamado baixo meretrício usavam antigamente.

Mas o que chocou naquela discussão entabulada no Senado Federal, com transmissão ao vivo para todo o Brasil, foi a explicação que altos funcionários (altos pelo menos no status) da Receita Federal, que condenavam o poder de certo colegiado de decidir contra o contribuinte sem opção de recurso.

Aquele que teria um leque imenso de palavras a utilizar para representar sua indignação foi tão longe e, o pior, sem qualquer estranheza dos presentes, para definir em três palavras o que achava do cerceamento dos direitos dos contribuintes: “Estupraram a Constituição”.

A afirmação, esdrúxula - por mais metafórica que tenha sido - constitui um desrespeito àquele documento que veio trazer um novo ordenamento jurídico para o Brasil, no rumo da legalidade e da legitimidade. Diz a doutrina e a lei, sobre o estupro: “crime contra os costumes consistente em constranger mulher, mediante violência ou grave ameaça, a manter conjunção carnal.”

Aceitar com naturalidade aquelas palavras, seria o mesmo que considerar normal as ocorrências costumeiras nos presídios, onde os presos que declaram com ar de sabedoria o Artigo do Código Penal onde estão enquadrados, cometem mais crimes ao alegarem que fazem justiça com as próprias mãos, para punir os estupradores que chegam com o fim de cumprir suas sentenças.
(
walterm.nat@terra.com.br )

Insegurança e Estado

"Inimigos sabem que quando a França
envia um regimento da Legião Estrangeira
é porque quer acabar com o conflito rapidamente."
(Gianni Carta, jornalista)

A frase acima, pinçada do livro "Velho Novo Jornalismo", dá bem a dimensão de quanto o problema da violência, quando atinge pontos socialmente inaceitáveis, precisa de uma ação enérgica do Estado, sob pena de estar encaminhando o conjunto da sociedade ao descalabro, ao desequilíbrio, ao medo.

Refiro-me à histórica leniência do Estado brasileiro para com o crime organizado, aqui e, em especial, no Rio de Janeiro. Ontem, o Jornal de Hoje Primeira Edição abordou a existência de um ponto de venda de drogas a apenas 100 metros de uma delegacia em Neópolis. O fato é do conhecimento da polícia e nada foi feito.

Em função da matéria, apenas reduziu-se um pouco o tráfico. Mas, depois, tudo volta ao normal, ou seja: os bandidos voltarão a agir com desenvoltura, violência e impunidade.

O caso no Rio, milhares de vezes mais grave do que o de Natal, onde também se comerciam largamente drogas de todos os tipos, demonstra com bastante clareza a ineficiência decisória do Estado em enfrentar com rigor, quero dizer, com ação implacável, a ação dos criminosos.

A situação no Rio já chegou ao ponto do insuportável e, historicamente, mantendo-se o atual quadro, poderá trazer conseqüências as mais dramáticas, uma vez que os bandidos têm organização e inegável poder de fogo.

Junte-se a isso o fato de que bandidos autores de crimes hediondos poderão ser beneficiados com prisão semi-aberta. Com isso estarão novamente nas ruas, livres e rápidos, para voltar à prática do seu ofício de morte. Cidadãos vão morrer e os bandidos terão sempre uma nova chance para voltar ao crime.

O Estado tem o dever de garantir ao cidadão o exercício da cidadania e isso inclui o direito de ir a vir. Com a ação dos bandidos, esse direito está duramente atingido. Portanto, é preciso dos aparelhos policiais não apenas uma presença meramente legal, mas uma ação eficazmente presente.







quarta-feira, 29 de março de 2006

As minhas duas mortes

A crase não foi feita
para humilhar ninguém.”
( Poeta Ferreira Gullar)


A jornalista minha colega olhou para mim com cara de espanto, botou a mão na boca, arregalou os olhos. De repente, inverteu a marcha de suas emoções confusas e começou a rir. Correu para mim e me abraçou.

Parei, aceitei o abraço da amiga, que se manifestava sincero e forte, carinhoso e solidário, de uma solidariedade que eu não esperava pois, pelo menos para mim, não havia comigo qualquer resquício de carência ou necessidade de apoio e portanto aquela recepção me parecia sem sentido.

- O que houve? - balbuciei.
- Ora, você não soube? - respondeu, interrogativa.
Não, de jeito algum, eu sabia o que havia acontecido. Só que, “o que havia acontecido”, era bem simples: um boato havia varrido alguns setores do nosso jornalismo, dando conta da... minha "prematura e lamentável morte".


Só que ninguém, nem mesmo a minha amiga, sabia me explicar do que eu havia morrido: se do coração, de raiva, isquemia, atropelamento, trombose, hepatite, inflamação de garganta, topada ou qualquer outra causa, incluindo assalto ou doença do sono.

Mas, que eu tinha morrido, tinha morrido. E pronto. Por isso, a expressão de alegria, equivalente a ter reencontrado um ressurrecto. Mas... como ela soubera da minha morte? Não se lembrava direito, mas uma outra colega havia comentado sobre isso. E com muita convicção.


Mas agora, alegria, alegria, tudo estava desfeito. E ela saiu por aí, trombeteando meu renascimento. Ufa, cumprimentei minha amiga novamente, fui embora e fiquei feliz por estar vivo.

Essa foi minha primeira morte. A outra foi assim: em finais dos anos 80, foram trasladados para Natal os restos mortais de Emanuel Bezerra, estudante morto pelo aparelho repressor do regime de 64. O rapaz fora assassinado durante sessões de tortura quando o regime, a título de impedir a ditadura do proletariado, impunha a ditadura dos privilegiados.

Aí, veja só: começaram os anúncios de que os despojos viriam para Natal, só que com um detalhe: eram os "restos mortais do estudante Emanoel Barreto.” Digo isso porque assisti a um noticiário de TV onde meu nome era citado, ouvi em rádio e li em jornal.

Claro, comecei a ficar apreensivo com a surrealista situação: teria eu já desencarnado e não saberia? Será que eu era já um fantasma a vagar entre os vivos, sem qualquer noção de que as pessoas não me viam e eu, tolamente, pensava estar entre os que respiram? Como eu me supunha vivo e acreditava não haver enlouquecido, comecei a tomar precauções.


Aqui acolá, em vários meios de comunicação, havia a inclusão do meu nome e aí temi que fosse se espalhar novamente a onda de boatos sobre mais uma morte minha. Comecei a ligar para as redações e lembrar que ele, o outro, era Emanuel Bazerra. Eu era Emanoel Barreto, se lembravam?, e que eu não, eu não havia morrido.

E assim consegui que as coisas mudassem. Meu temor era que familiares meus tomassem conhecimento da notícia. A alguns comuniquei que estava vivo e até me submeti ao teste de São Tomé: qualquer um poderia me tocar, para confirmar que eu falava a verdade.

A outros não tive tempo de comunicar que estava vivo. Milagrosamente, estes não tomaram conhecimento do noticiário. Mas afinal, para minha tranqüilidade, chegaram os restos do rapaz e ele foi sepultado, em meio a grandes demonstrações do pessoal da esquerda, lamentando o brutal assassinato daquele brasileiro. Assim, eu e ele ficamos em paz. Mas ainda hoje penso: ainda bem que não mandaram rezar a minha missa de sétimo dia...

terça-feira, 28 de março de 2006

Dança do ventre

"Tudo o que fazemos, cansa.
Feliz daquele que não perde as forças."
(Goethe)

A crônica abaixo é do meu livro "Crônicas para Natal - as crônicas do Jornal do Dia".

E a dança se fez carne e habitou entre nós.
Movimentos fortes, femininos gestos, curvas siamesas que enviesam sonhos.

E dos véus e mãos que se encaminham surge a mulher, feita toda de lentos caminhos, passos vagarosos, tendas e mistérios.


Lendas que se achegam, gestos faiscantes, brisas do deserto, curvas lampejantes.


A dança do ventre é vida que se espalha e fica contida, toda, no instante mesmo desse desmaio programado e calmo.


A insustentável leveza da mentira

"O lado mais fraco
é o da mentira."
(Do caseiro Francenildo Santos, ao saber da demissão de Palocci)

Depois da dança da deputada Ângela Guadagnin, foi a vez do ministro Palocci dançar. Envolvido em explicações demasiadamente complicadas, verdadeiros labirintos de uma retórica do insustentável, o ministro utilizou-se em sua carta ao presidente Lula de um eufemismo, para dizer que estava pedindo "afastamento". Não, ele estava pedindo demissão.

E foi atendido. A edição de hoje do Diário Oficial da União traz a saída do ex-ministro como sendo "a pedido", ou seja: ele não foi demitido, não foi posto para fora. Habituado a conviver com a improbidade, o presidente Lula fez esse último afago ao ex-colaborador. O mesmo deve ser dito quanto ao ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, também saiu "a pedido".

O caso é exemplar: os poderosos acreditam-se acima e além do comum dos mortais. E esse foi o erro do então ministro Palocci. A teia de intrigas montada para desmoralizar o humilde caseiro se esgarçou e agora a mentira virou tiras, trapos de uma conjura de alto risco.

Talvez, a pedido do povo, tenha chegado a hora de o Governo começar a agir com decência. Não adianta passar Mantega no pão, que dessa vez não vai dar para o povo engolir.

segunda-feira, 27 de março de 2006

Quando a terra é ferida

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás;
mas só pode ser vivida olhando-se para a frente.
( Soren Kierkegaard, 1813-1855)

A Via Costeira, antes de ser o que é hoje, a grande e esfuziante estrada que alegra até mesmo a mais renitente depressão, tinha, por incrível que pareça, o mesmo traçado básico de hoje, só que em meio a um cerrado matagal. Era um caminho estreito, difícil de percorrer: a pé ou de carro.


Pois bem: certo dia, acompanhado por amigos, um conhecido meu começou a trilhar a senda da descoberta. Andou, andou, andou, partindo de Areia Preta, superou todos os percalços do caminho até que, - choque! -, descobriu um brutal, violento, inaceitável trabalho de devastação e retirada de terra, formando já uma gigantesca cratera.

Sabe onde isso ficava? Ficava, ou melhor, fica (pois a devastação não foi reconstituída), ao lado de uma curva bem fechada. Vá pela Via Costeira e você verá: são uns paredões enormes, vermelhos, uma grande cratera, escavada a pá e máquinas pesadas. Meu amigo parou, viu e, dias depois, contou-me.

Pedi a Wellington Medeiros, chefe de reportagem da Tribuna do Norte, para colocar o assunto em pauta e, numa bela, tarde tomei o rumo do perigo. Foi um trabalhão: a Kombi do jornal mal se sustinha sobre as rodas, tantas e tão inclinadas as curvas, tantos e tão traiçoeiros os areais movediços.

Cheguei afinal e, mal dava para acreditar: cerca de dez caminhões moviam-se com grande facilidade na larguíssima cratera, todos com muitos trabalhadores enlouquecidos em sua tarefa de destruir a natureza. Era barro de primeiríssima qualidade, para construções de luxo em Natal.

Desci da Kombi em companhia do fotógrafo e logo dezenas de olhos raivosos se cravaram na dupla. Para facilitar o trabalho, mandei que ele fosse fotografando para um lado, que eu entrevistava pelo outro. Se um fosse capturado, daria tempo do outro se meter na Kombi e fugir. Depois, era usar a força da direção do jornal, para ver se livrava quem estivesse preso, ou melhor, sob seqüestro.

Mas, não sei porquê, não houve, nada, nenhuma manifestação maior de agressividade, a não ser respostas dada de má vontade, caras fechadas, bocas rugindo monossílabos, expressões ruminando horrores. Mas, dava pena ver: os enormes paredões, lavrados de barro vermelho, como que sangravam seu sangue de terra, exibindo as feridas da brutalidade.

De um jeito ou de outro consegui apurar quem era o manda-chuva: um atravessador qualquer, que literalmente havia descoberto aquela mina e a estava vendendo em retalhos, em caminhões, a ricaços de Natal.

Os caminhões e escavadeiras moviam-se cruelmente sobre aquele corpo da natureza, pisoteando suas entranhas de forma brutal, sumariamente indigna, extensamente estúpida. Ficamos cerca de meia hora apurando o assunto e saímos quando um sujeito, responsável pelos trabalhos, ia chegando e, aí sim, demonstrando disposições belicosas.

Aproximou-se, perguntou o que era aquilo, eu expliquei que era uma reportagem. Ele sabia que estava errado e não tentou impedir a saída da equipe. Amaldiçoou-nos com um olhar fervente e sumiu no meio da buraqueira.

A matéria foi publicada dia seguinte. Dois ou três dias depois, o que acontece? Uma reunião entre os Comandos da Marinha (a área é terreno de Marinha), Polícia Federal e outras entidades federais e pronto: todos foram impedidos de trabalhar na Via Costeira e banidos para sempre de sua infernal missão de matar aquela linda natureza.

domingo, 26 de março de 2006

O homem é o momento

“O nascimento não é um
ato. É um processo.”
(Erich Fromm)

"Quem faz o homem é o momento.” A lapidar afirmativa me era repetida vezes e vezes quando criança, sendo atribuída a meu avô. Mais claramente: diante de circunstâncias inesperadas ou ameaçadoras, alguém pode ter atitudes incrivelmente coerentes e fortes para enfrentar seu medo interior, seguindo-se reação igual e contrária àquilo que o cerca.


A magnífica frase, essencializando toda uma filosofia popular, deve ser entendida e levada a sério. Afinal, somos tudo e nada, algo e coisa alguma, dependendo sempre do momento. Da mesma forma, encontramos na frase de abertura da coluna a visão humanista de Erich Fromm, lembrando que o nascimento é um processo.

Detalhe: o nascer não se exaure na circunstância do vir ao mundo, ser parido. Não. O nascer está sempre ocorrendo ou porvir, dependendo do que tenhamos em mente: se já nos acomodamos a nós mesmos, paramos e não mais precisamos nascer; se queremos um pouco mais do eu, um horizonte a mais dentro de nós mesmos, estaremos pois nesse eterno processo do nascer.

A sabedoria do sertão pode casar magistralmente com o saber dos mais renomados mestres.