sábado, 6 de janeiro de 2007

Por que se assiste ao Big Brother Brasil?

A Folha de S. Paulo on line está fazendo uma enquete em que busca aferir os motivos pelos quais as pessoas vêem o BBB. Diz a Folha:

Desde 2002, o verão da Globo aposta na exposição da intimidade e de conflitos entre anônimos com o "Big Brother Brasil". Na sua opinião, qual a principal explicação para o interesse do público por esse tipo de atração?

Voyeurismo: a Globo explora cenas dos participantes em trajes mínimos e em situações de apelo erótico.
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Preguiça: besteirol e conteúdo vazio dos participantes não exigem muito esforço mental do telespectador.

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Identificação: o telespectador acompanha se o seu participante preferido será punido ou recompensado.

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Força do hábito: há quem nunca mude de canal e tenha a TV sempre ligada na Globo, passivamente.

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Falta de opção: a programação da TV aberta é de péssima qualidade. Não há opção melhor no horário.

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Por acidente: Espectador aguarda fim do "BBB" para ver minissérie -- JK (2006) e Amazônia (2007).
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Gosto pelo grotesco: programa incentiva situações constrangedoras, ridicularizantes e preconceituosa.


O internauta escolhe uma das opções e vota. É claro que isso não é uma pesquisa, nem tem qualquer valor do ponto de vista estatístico. Faz parte do conteúdo diversional da Folha on line.

Quanto ao questionário, creio que todas as respostas são válidas.O BBB é um produto da Globo com o objetivo de arrecadar aportes financeiros, manter sua imagem de emissora que "oferece ao público o que o público quer", mesmo que a grosseria e a vulgaridades ofertadas venham embaladas em finíssima embalagem visual.

Com o BBB a emissora cria um falso acontecimento, estabelece situações humanas televisadas e aparentemente espontâneas. Não são espontâneas. Tudo ali segue regras, para parecer o mais "normal" possível, como uma discussão entre participantes.

Entretanto, se essa discussão se transformar mesmo num conflito - como já ocorreu certa vez - há uma imediata interferência dos dirigentes do programa. Ou seja: até a grosseria é falsificada. Se a baixaria se expuser às claras, certamente vai ferir as pessoas na intimidade de suas casas e haveria reação daquilo que se chama de opinião pública.

Já imaginou se alguma mulher ou um marmanjo de repente aparecesse em nu frontal, caminhando tranqüilamente frente às câmeras? Creio que isso jamais acontecerá. E não acontecerá, porque ali existe uma realidade sob controle, uma simulação comportamental, para atrair audiência.

E,nas ruas, tolos irão ser "entrevistados" sobre o BBB e quanto ao que deve fazer personagem A ou B em determinada situação de confronto. Sinceramente, acho mais honesto aqueles pastores midiátidos pedindo dinheiro aos fiéis. É às claras e os caras pedem mesmo, sem qualquer cerimônia.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Crônicas para Natal

Feira do Alecrim

Alecrim, plantinha do mato, curadeira e boa.
Alecrim, bairro velho de Natal.

A feira do Alecrim é uma área
especializada em tudo,
tudo o que for para se vender, comprar, comer.

Tradicional, movimentada feira.

Seus tipos humanos, seu comércio,
universo nordestino de coisas que brotam do chão.

Na feira, ninguém precisa ser muito.
Basta ser comprador
ou estar vendendo alguma coisa.

É esse o traço de união

que junta as pessoas
e faz da feira um pequeno país,
onde o dinheiro é pobre e corre solto.

Pregões ao meio dia.
E, nas manhãs de sábado,

o feirante se faz rei e todos o obedecem.
Porque todos têm que comprar.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Ação contra o crime organizado

Ao que parece, as autoridades do Rio e de Brasília estão começando a tomar atitudes que resultarão em ações efetivas contra o crime organizado, pelo menos no que diz respeito à parte operacional, aquele que fica sob a responsabilidade dos dos bandidos, nas ruas. Com o patrulhamento das estradas que dão acesso ao Rio, as autoridades esperam controlar o tráfico de armas e de drogas.

Os serviços de inteligência deveriam, paralelamente, invadir o outro lado do banditismo, o lado clean, charmoso e rico, dos grandes traficantes, daqueles que ficam em suas coberturas e de lá têm articulações com o crime, ou melhor, com ele estão efetivamente envolvidos. É preciso também desarticular as ligações dos criminosos com a polícia e demais setores do Poder, conexos ao tráfico.

É necessário uma legislação mais dura, pois as ações de barbaridade cometidas recentemente no Rio, e já há algum tempo em São Paulo, são um demonstrativo exato de que as quadrilhas não temem a polícia e desafiam a sociedade. A barbárie é um discurso, uma ação comportamental que transmite uma mensagem: "Nós temos força e vamos usá-la."

O trabalho de domínio dos bandidos é longo, penoso e exige tenacidade e decisão de vencer. Exige, portanto, uma política de segurança nacional e integrada, com desdobramentos ao longo do tempo e adaptação às situações que venham a se postar. O crime é algo inserido na História e assim é mutável, adaptado seu modus operandi às circunstâncias nas quais esteja imerso. A repressão mudou? Muda-se também a forma de enfrentá-la.

Se os bandidos, acossados pela polícia, resolverem, por exemplo, voltar seus olhos para o Nordeste, ou para o Sul, haveria que tipo de reação das forças que o combatem? Reação pronta? Há planos para situações desse tipo?

Esperemos que, de início haja a vitória da legalidade. Depois, é esperar para ver se entrará realmente em ação uma política nacional de segurança pública, de caráter permanente e implacável contra o crime organizado.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Chineses vão tomar emprego de brasileiros

Em Coisas da Política, Mauro Santayana analisa a vinda de operários chineses para trabalhar na construção de uma usina a ser construída pela Companhia Siderúrgica do Atlântico, uma joint-venture da Thissen com a Vale do Rio Doce. A obra será em Itaguaí, Rio.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro-Firjan, justifica a contratação dessa mão-de-obra como uma simples terceirização, já muito comum no Brasil e, acima de tudo, diz: os empresários têm o direito de reduzir os custos do trabalho. Até que têm, só que, com isso, estão espulsando trabalhadores brasileiros, em favor de interesses mesquinhos do empresariado internacional e fluminense. Ralvez fosse a hoje de o governo federal intervir, de alguma maneira.

A tendência é mundial, ou seja: universaliza-se a precarização do trabalho, sob alegação de modernidade e globalização, enquanto o dado humano da questão, o dado trabalhador, é colocado em segundo plano. O trabalhador terceirizado, que é literalmente importado como peça de uma engrenagem de exploração e lucro, é somente isso: peça de engrenagem mais barata, um item que entra como insumo e pode ser descartado. Só isso.

Não é mão-de-obra qualificada, é gente simples, que fará trabalho pesado e pago a preço abaixo daquele que seria cobrado em caso de mobilização de trabalhador local.

Essa é uma, mais uma das manifestações perversas da globalização, que partilha com grande equanimidade sofrimentos, humilhações, desemprego, subemprego, demissões e toda espécie de exclusão em favor do capital, do lucro a qualquer custo - desde que o custo seja pago pelo trabalhador.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Borboletas precisam voar

O discurso de posse do presidente Lula, em que aproveitou trechos da fábula "A lição da borboleta", não foi nenhuma peça oratória, escapava a qualquer aproximação com a força retórica, não teve qualquer eloqüência ou vigor estilístico. Foi um texto chão, quase que se poderia dizer um texto tosco, frente à relevância do momento.

A única coisa a ser destacada foi a citação à fábula da borboleta. De autoria desconhecida, a fábula foi adaptada pela socióloga Mary Lourdes Machado Barbosa para homenagear o então governador de São Paulo, Mário Covas, que estivera internado no mesmo hospital que o marido dela, num apartamento ao lado. No corredor fizeram amizade, o governador solidarizou-se com Adilson Alves Barbosa, o marido de Mary e ela enviou ao governador o relato sobre a borboleta, incentivando-o a lutar pela vida. À época,a revista Istoé registrou.

O uso da fábula no discurso, escrito pelo ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, foi algo matreiro, não só por aproveitar-se de um texto que sem dúvida alguma cala fundo no senso comum, como sobretudo pela fina sensibilidade, que teve o ministro, antecipando a repercussão na imprensa.

À época, o governador Mário Covas leu o texto às lágrimas, durante entrevista coletiva, quando lutava contra o câncer e falava a respeito de como se sentia. Mas, convenhamos, o Brasil precisa mesmo dessas lições simples, os políticos brasileiros precisam mesmo aprender com as borboletas. Ou teremos sempre um povo rastejando, enquanto deputados e senadores recheiam suas contas bancárias às custas do sofrimento geral da nação.

Abaixo, o texto d'A lição da borboleta:
"Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo; um homem sentou e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco.Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso.Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia ir mais.

Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente.Mas seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas.O homem continuou a observá-la, porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo que iria se afirmar a tempo.Nada aconteceu!

Na verdade, a borboleta passou o resto de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura era o modo pelo qual Deus fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de forma que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.

Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida.Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos deixaria aleijados. Nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar.

Eu pedi forças...e Deus
deu-me dificuldades para fazer-me forte.

Eu pedi sabedoria...
e Deus deu-me
problemas para resolver.
Eu pedi prosperidade...
e Deus deu-me cérebro e músculos para trabalhar.
Eu pedi coragem...
e Deus deu-me obstáculos para superar.

Eu pedi amor...e Deus deu-me
pessoas com problemas para ajudar.
Eu pedi favores...e Deus deu-me oportunidades.
Eu não recebi nada do que pedi...
Mas eu recebi tudo de que precisava."