segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Que venga la vida...

Caros Amigos,
Que o ano novo seja
como a taça de campanhe,
que alegra o instante fugaz
da vida em festa.
e jamais como a gota
de cicuta do cotidiano atroz e perigoso.
Abraço grande.
Emanoel Barreto

sábado, 29 de dezembro de 2007

Fiat lux

Caros Amigos,
É bom olhar a luz e ver tudo perfeito.
Cores, nuanças, matizes sutis.
Formas, declives, curvas, ladeiras.
É bom olhar a luz e ver tudo perfeito.

É bom descobrir a dimensão: profundidade,
largura, altura. É bom voltar a ver o mundo
por inteiro.

Como numa sinfonia de cores, massas e volumes,
o olhar passeia, num alumbramento intenso e
calmo - a serenidade mora nesse encontro.

As cores exalam seu perfume luminoso; e cada
grão de vida tem sua força própria, que o olhar
descobre, encontra e abraça

Faça-se a luz, para que o olhar mergulhe e
se misture ao sereno turbihão radioso.
E que o pôr-do-sol, seja como a epifania
de quem reencontrou a luz.
Emanoel Barreto

*Este texto é um deo gratias. Uma ação médica bem sucedida deu-me de volta a visão plena, após um grande e pesado feixe de anos usando óculos. É incrível ver o mundo em suas cores mais reais. Viva o azul e viva a vida. Carpe diem.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A saudação dos gladiadores

Caros Amigos,
O ano termina com a manutenção da insânia,
da violência sectária e demencial do
radicalismo mais atroz.
Ódio e sangue explodem como se fossem
uma espécie de dádiva bestial.
A morte de Benazir Bhutto, como uma fagulha
dantesca da irracionalidade humana
é bastante elucidativa do quadro
deplorável desse estágio que o mundo vive.

Sua presença no cenário mundial
era como uma delicada chama em meio
ao furação político que comanda corações
e mentes dos poderosos.
Sua busca por dar ao Paquistão acesso às
liberdades democráticas servia como
exemplo a radicais como George W. Bush,
Osama bin Laden e os narcotraficantes
que se intitulam libertadores da Colômbia.

O mundo inteiro perdeu uma de suas
mais expressivas figuras, dentre os que,
como ela, buscavam a paz, a solidariedade,
justiça social, dignidade humana.
Não é de hoje que a humanidade
convive com déspotas e com armas.
Sua morte é emblemática: significa que,
como no tempo dos césares, a espada faz a lei,
e essa lei manda matar.

Frente a tão brutal acontecimento vale
uma reflexão: até que ponto a violência
continuará em sua escalada gritante?
Esperemos que, apesar do pantanal que
martiriza aqueles que se voltam
para respeitar e engrandecer a vida,
continuem a brilhar as pequenas chamas
daqueles que desejam um mundo melhor.
Sim, porque, mantendo-se a situação
atual, prevalecerá a soturna saudação
dos gladiadores:
"Ave, César, os que vão morrer te saúdam."
Emanoel Barreto

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

E aí, Jesus?

Caros Amigos,
Hoje, uma mensagem ao Aniversariante:

E aí, Jesus?
Na manjedoura muitos presentes,
além dos que Te deram os Reis Magos?
Os amigos chegam alegres,
dando-Lhe abraços, desejando
Feliz Aniversiário?

E aí, Jesus?
A humanidade está feliz,
satisfeita, vive em paz
e segue o que Tu ensinaste?

E aí, jesus?
O Homem pensa em acabar
a fome no mundo, estender
a mão, dar um abraço?

E aí, Jesus?
Já percebeu que a paz está acuada
em meio às balas, à ferocidade e à
loucura de Bush e bin Laden?

E aí, Jesus?
Ainda Vais pregar o
Sermão da Montanha?
Sim, Tu deverias pregar
outra vez e atrair
multidões,, derramando
Tua palavra.

E aí, Jesus?
É Teu aniversário.
Feliz data, Menino-Deus.
E que, quem sabe, algum dia,
haja vozes para ouvir a Tua voz.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Caros Amigos,
O bispo de Barra (BA), D. Luiz Flávio Cappio, até esta tarde mantinha a greve de fome, em protesto à transposição das águas do Rio São Francisco. Essas atitudes de greve de fome são uma forma de chamar a atenção da sociedade via mídia. São uma atitude de extrema, garantindo-se ao seu autor ou autores visibilidade, na busca de fazer valer seus pontos de vista.

São aceitáveis, quando tratam de assunto de importância social e histórica irrecusável, como o despertar de uma ação de salvação nacional, numa mobilização em larga escala, que somente possa ser despertada por uma ação extrema, como a greve de fome.

Não é o caso, quando se trata do São Francisco. Estudos comprovam a viabilidade do projeto e sua importância para o semi-árido de vários Estados nordestinos. E mesmo que surjam argumentos contrários, não são suficientemente fortes para que se tome tal atitude.

Uma greve de fome assume aspectos e contornos de martírio: nesse caso, a auto-imolação de alguém em favor de uma causa maior. Dom Cáppio, inegavelmente um homem sério e de incontestável honradez, cometeu um equívoco, ao se propor a tanto. Haveria outros modos, como por exemplo, convocar a sociedade civil a se manifestar. Tem carisma a condições para tanto. Será lamentável se vier a morrer, pois sua presença seria reclamada sempre, em favor de outras causas.
Emanoel Barreto

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A Rua Chile

A Rua Chile, na Ribeira,
é mesmo como o Chile:
estreito território de belezas,
encantos, deslumbre...

Caminho de ferro para o trem,

acalenta, ao longo do tempo,
inacabado e perene romance com o Potengi.

Casarões renascidos pelas tintas

e pela sensibilidade;
amigos, brindes e poesia;
agradável ponto de Natal.

A rua Chile é uma pátria.

Ali, o antigo é parte da História,
que se diz presente na
reconstrução do tempo que passou
Emanoel Barreto

domingo, 16 de dezembro de 2007

Avenida Rio Branco

A Avenida Rio Branco começa no Baldo,
em meio ao trânsito louco e desequilibrado.

Multidão de carros neuróticos disputam espaço e vez,

como se estivessem escalando grande montanha de asfalto.

Velha avenida, antiga estrada dentro de Natal,

a Rio Branco sobe sua própria ladeira,
pára em seus sinais
e afinal se lança feito louca para a Ribeira.

E no secular bairro velho da cidade,

a Rio Branco é vertente que deságua
no silêncio das coisas antigas.
E ali deixa descansar seu desespero de ser avenida.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Meu Destino

Caros Amigos,
Deixo vocês hoje com "Meu Destino", poema de Cora Coralina.

Nas palmas de tuas mãos

leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos
por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A democracia e a CPMF

Caros Amigos,
Com a derrota do Governo, que viu rejeitada a aprovação da vigência da CPMF até 2011, o Senado deu uma demonstração de que, quando as forças da democracia agem livremente, prevalece o interesse social. Não que o Senado seja uma Casa de homens e mulheres essencialmente bons - a história tem comprovado o contrário - mas, de alguma maneira, anunciou-se como uma instituição que pode acertar.

Quando do transcurso da votação, percebeu-se claramente o processo democrático em andamento. As argumentações e contra-argumentações, as atitudes do Governo, cujos representantes parlamentares tentavam cooptar votos em favor da CPMF, até chegar-se ao ponto de o presidente Lula enviar uma carta-compromisso, garantindo que cem por cento dos recursos seriam aplicados em saúde, destinação inicial da CPMF.

Agora, virão os debates a respeito da reforma tributária. O País segue em frente. E, ao final das contas, todos verão que, mesmo sem a CPMF, haverá dinheiro para manter-se em funcionamento a máquina do Estado.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Um mistério e muito sofrimento

Caros Amigos,
As coisas de jornal estão informando que a cidade portuguesa de Praia da Luz está em campanha para esquecer a tragédia da menina inflesa Madeleine McCann, desaparecida de um hotel de lá, desde o dia 3 de maio. Velas e fotos da criança de quatro anos estão sendo retiradas de vitrines e outros locais de acesso ao público, com o objetivo de que o balneário não venha a perder turistas.

O caso todo é bem estranho: os pais chegaram a ser suspeitos da morte da menina, enquanto se procurava a pessoa ou pessoas que possivelmente a seqüestraram. Até agora, nada há de conclusivo. Por isso mesmo, os moradores da cidade começam a se preocupar unicamente com suas vidas e, claro, com seus ganhos com o turismo.

Esse fato nos remete à questão do heroísmo ou do martírio através da mídia. Enquanto havia a suspeita, indício forte de que uma criança inocente havia sido seqüestrada, ou seja, do ponto de vista de mídia surgia a figura do mártir, todos os votos de solidariedade se voltaram para a figurinha adorável de Madeleine, cuja foto pontilhou todos os jornais europeus.

Agora, desfeita a imagem, pela suspeita de que os pais a tivesse por algum motivo matado a criança, a aura de martírio esfumaçou-se, mesmo admitindo-se que ela, de alguma forma, viveu momentos de muita dor, seja quando foi morta, seja quando foi levada e supostamente também assassinada.

Mesmo com motivos para querer saber do seu desaparecimento, os moradores preferem se voltar para a vidinha de sua cidade. A polícia de Portugal não teve competência para desvendar o caso, e agora um mistério e muito sofrimento começam a ser esquecidos entre as brumas de um crime, para afinal se perder na noite das lembranças tristes.
Emanoel Barreto

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A voz sinistra do Mão Branca

Caros Amigos,
Minha Filha lembrou-me aqui meus tempos de repórter policial. E pediu uma história. Lembrei-me do seguinte: Natal, nos anos 80, Natal foi varrida por uma onda de violência que tinha começado no Rio, onde alguém, que se identificava como Mão Branca, estava matando bandidos, todo santo dia. Aqui, foi imitado.
Aqui, alguém que também se identificava como Mão Branca, começou uma ação de extermínio. Um matador, ou matadores ferozes, nunca se soube exatamente quem, atacava bandidos e deixav junto aos corpos mensagens anunciando que outros teriam o mesmo destino. E assinava: Mão Branca.
O matador chegou mesmo a enviar aos jornais uma lista com nomes. Num desenho grosseiro, um punho masculino segurava uma balança onde, em cada prato, estavam os nomes. Polvorosa no mundo do crime. Reduziu-se em muito o número de assaltos. Não havia dia em que, pela manhã, os repórteres não encontrassem, em terrenos baldios, corpos de criminosos assassinados.
Então, numa manhã de sábado, eu estava na redação da Tribuna do Norte, quando um dos telefones tocou. Atendi. Do outro lado, uma voz metálica, forte, sinistra e tensa, anunciou: "Aqui é Mão Branca. Com quem falo?" Cobri o fone com a mão para ele não ouvir e gritei: 'Pessoal, cala a boca todo mundo, que eu estou com Mão Branca no telefone!'" A redação parou. Um largo silêncio aguardava o desfecho do telefonema.
Voltei a falar com aquela misteriosa voz e respondi: "Fala com Barreto." Ele retrucou: "Pois bem, Barreto, vá até as proximidades da Alpargatas, que você vai encontrar mais um." Quando tentei continuar a conversa, o sinistro personagem calou. Mas, antes disse: "Procure, Barreto, que você encontra." Ouvi um clique e a ligação estava terminada.
Não pensei um minuto : chamei Ivanízio Ramos, um fotógrafo pé-quente, meu velho amigo, e saímos voando da redação em direção a um dos carros da reportagem. A direção estava entregue à perícia de Leonardo, chefe do setor de transportes. Leonardo era atirado, corajoso e manejava com firmeza o volante. Acho que aquele Fusca nunca correu tanto, quando naquele dia.
Leonardo saiu costurando o trânsito. Se dava, ele cortava o sinal; se não, encontrava um jeito de ganhar a dianteira, logo que o sinal abria. E o carro zunia, numa carreira louca e decidida. Comigo mesmo, eu pensava: "Só espero que a gente não acabe morrendo, com essa história de Mão Branca." E o carro continuava, como se tivesse vida e estivesse maluco.
Afinal, chegamos à área onde estaria o corpo. Começamos a andar por locais ermos, estradinhas de barro. Silêncio grande. Somente o vento fazia barulho, agitando as folhas do matagal. O carro, agora, bem devagar. Quando descíamos para procurar o corpo, por precaução o motor ficava ligado e as portas abertas... Cuidado nunca era demais.
Caminhamos pelo meio do mato e nada. Vamos em frente. Nada, outra vez. Retomamos a procura. Depois de mais de meia hora de busca, vimos uma pequena aglomeração. Ao lado das pessoas, alguma coisa parecida com uma cova rasa. Pronto: era ali. Ivanízio preparou a máquina. Chegamos. Descemos do carro e fomos até lá.
Os tipos começaram a cavar. Usavam pedaços da pau, cacos de telha, tudo o que estivesse à mão. Cavaram, cavaram e nada. Afinal, descobrimos: a cova fora um logro. O telefonema uma astuciosa armadilha para chamar a atenção do jornal. Mão Branca não havia matado ninguém. Mas, aposto, o sujeito que fez a ligação devia estar por lá.
Moral da história: repórter tem de estar preparado para tudo. Até mesmo para não encontrar a notícia. Mas, dias depois desse ocorrido, o pesadelo estourava nas manchetes: Mão Branca tinha voltado a matar.
Emanoel Barreto

sábado, 8 de dezembro de 2007

Vamos falar com Drummond

Caros amigos,
Circula na net uma foto comovente: ao lado da estátua de Carlos Drummond de Andrade, no Rio, um homem pobremente vestido, tendo ao lado um saco plástico, desses de supermercado, conversa com a imagem do poeta. O flagrante mostra-o gesticudando, indicador apontado, como se estivesse defendendo um ponto de vista ou pedindo uma opinião.

O modo como a estátua foi esculpida, dá-lhe impressionante poder de humanizar-se; parece mesmo um homem, calmo, olhando a paisagem urbana, intensa e colorida do Rio, ou, quem sabe, pacientemente ouvindo uma conversa.

Tocou-me, a foto. Aquele brasileiro, bêbado ou louco - quem sabe as duas coisas - representou, ao meu olhar, uma enternecedora e trágica visão do nosso povo. Do nosso povozinho, da nossa patriazinha, como diria Vinícius.

Simplezinho, pobrezinho, aquele homem se dirigia à estátua como quem conversasse com alguém de sua total confiança, trazendo na expressão da face a manifestação de um gesto íntimo de decepção, de emoção intensa e sofrida: um desabafo, uma cobrança. Dava a impressão de referir-se a um terceiro. Talvez reclamasse a respeito deste terceiro, mas tudo feito de forma cordata. Pela express~çao facial, era uma reclamação sem intenção de confronto. Uma exigência de desculpas, quem sabe mesmo a súplica por um pedido de perdão.

E Drummond, em seu saliente silêncio de bronze, mas com um olhar tão humano e tão compreensivo, ouvia pacientemente aquelas palavras e, quem sabe, em sua placidez de estátua não lhe estaria, de algum modo, dizendo o que fazer.

Talvez somente um poeta morto, e sua estátua, transformada em oráculo, nos possa dizer o caminho e indicar as pedras que nele estejam. Talvez, aí, o Brasil encontre seus passos.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O destino missionário de Xuxa

Caros Amigos,
O JB On Line trouxe um questionamento da maior importância aos seus leitores: quer saber se Xuxa deve se dedicar aos jovens. Já pensou? Importantíssimo: tanto a pergunta, quanto a dedicação de Xuxa aos jovens. Ela, que já tanto bem faz às nossas crianças, deveria agora, missionária e sã, voltar seus atributos intelectuais e éticos em favor da juventude que, coitada, à falta de uma líder como aquela expressiva figura midiática, está perdida, sem saber o que fazer.

Esse tipo de jornalismo, é óbvio, é da maior importância, uma vez que trata de questão de vital essencialidade para todo o País: a participação expressiva de Xuxa em favor das grandes causas, vez que ela é líder nata e, historicamente, tem-se postado ao debate, na discussão dos grandes temas.

Ironias minhas à parte, é claro que o JB quis saber mesmo é se se o leitor-internauta entenderia o momento atual como o mais propício para Xuxa buscar inserir-se no nicho de mercado formado pelo consumidor juvenil. É sabido que ela já praticamente esgotou o filão infantil e em mais uns breves anos estará cumprido o seu ciclo como apresentadora. Mas aí, questiono ainda assim: por que valorizar tanto essa figura, a ponto de pedir opiniões a respeito de seus próximos passos mercadológicos? Por que um jornal perder tempo com isso, quando há assuntos e temas sérios a ser tratados junto ao seu leitorado?

Quando o jornalismo se encaminha para a fatuidade, para a exaltação dos faits divers, especialmente se força um questionamento, como é o caso, está prestando um desserviço ao leitor. Mais que isso, está prestando um desserviço à sociedade, que certamente espera ver, nas páginas, coisas de jornal mais, digamos, consistentes.

Sei que o JB deu fez uma viragem editorial que prioriza a informação espetacularizada; basta ver a diagramação de sua primeira página, e seu conteúdo visual, muito colorido e com o título do jornal em azul. Mas, de alguma maneira, deveria manter em nível mais alto as discussões que propõe a seu leitorado. Infelizmente os tempos mudaram e o velho JB já não é mais o mesmo.
Emanoel Barreto

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Cobras criadas

Caros Amigos,
O Senado Federal cobriu-se de vergonha, ao garantir o mandato do seu ex-presidente, Ranan Calheiros. Contra todos os indícios de quebra do decoro parlamentar, em questão de minutos ele foi absolvido e o processo mandado a arquivo. Pergunta-se: até onde chegaremos, com um Senado assim? Até quando o povo poderá ser achacado com procedimentos desse tipo? Ao que tudo indica, per omnia seculum seculorum...
O ofidiário do Senado, sem dúvida, já estava orquestrado em mãos ocultas, espertalhonas, de quantos as mergulharam no charco do parlamento poluído. O caso Ranan Calheiros é apenas um, mais um, a refletir que tipo de cultura política está firmemente enraizada na vida pública do País. O jogo de interesses, a troca de favorecimentos, facilitações e insidiosas práticas, volta a ser o marco profundamente encravado, ferindo largamente a honradez e respeitabilidade nacionais.
Com isso, permanece e se alastra a desconfiança no que se convencionou chamar de classe política. Isso ofende a cidadania, macula a fé no desempenho dos representantes e os torna como que um bando um quadrilha, a atacar com ferocidade incomum valores éticos, e a devastar, com gênio assombroso e prodigiosa desfaçatez, o respeito e a retidão.
A Nação foi, mais uma vez, vilipendiada. Por favor, um minuto de silêncio.
Emanoel Barreto

sábado, 1 de dezembro de 2007

Viver como os mortos

Caros Amigos,
O Estadão traz trechos de um pungente depoimento de Ingrid Betancuor, ex-candidata à presidência da Colômbia e hoje cativa dos narco-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Farc. As declarações, na verdade um doloroso lamento escrito, mostram um ser humano abatido física e espiritualmente; uma pessoa que apenas pensa em existir, existir como existe uma pedra, um caco de vidro, no máximo uma planta. Ou, como ela diz na carta: os reféns "vivem como mortos".

O seqüestro e o cárcere privado são duas das mais cruéis formas de apoderamento que se tem sobre um ser humano, que é usado como moeda de troca entre um criminoso e, no caso, a sociedade. Não há respeito pela criatura em cativeiro. Ela é algo de serventia circunstancial. Em situação de emergência, poderá se eliminada sem qualquer sentimento de culpa por parte do matador. É o ser humano reduzido à condição de bem disponível.

Não dá para entender um grupo armado, que se diz a favor do povo, manter-se à custa da comercialização de cocaína. Entre eles não há nenhum Guevara; historicamente, não se postam condições para que surja uma nova Cuba; nada parece indicar que algum dia venham a assumir o Poder.

Não há dúvida de que as condições de vida do povo colombiano não são desejáveis e sejam inaceitáveis, tais os desníveis sociais ali encontrados. A Colômbia é um país estilhaçado por uma profunda crise sócio-econômica, a ação de grupos extremistas de direita e a presença dos narco-guerrilheiros.

Os reféns, resultado humano mais lamentável de tal situação, representam uma realidade triste, sombria, acabrunhante; uma manifestação do quanto a nossa degradação pode chegar. Imagine alguém preso ano após ano, sem ter culpa em qualquer crime, sem haver feito nada para merecer o isolamento. Respirando instantes, sorvendo momentos, buscando o fim de um tempo que não passa nunca.

A situação da Colômbia é um grito que não tem fim. E os loucos envolvidos em sua guerra vão se estraçalhar até o último chumbo. Aos demais, o sofrimento.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

CPMF: que bom que caísse...

Caros Amigos,
Bilhetíssimo: o presidente Lula anda dizendo que "somente o DEM e os sonegadores" são contra a prorrogação da CPMF. Claro que não. Qualquer cidadão que sofra com esse imposto do cheque, que não é só do cheque, pois incide sobre qualquer movimentação financeira, está contra tal recolhimento. Não dá mais para suportar uma tamanha carga tributária, uma das maiores, senão a maior do mundo. A cobrança do imposto encurta o salário de muita gente, que fica com mês demais, a dinheiro de menos, para fazer frente às despesas. Vamos ver no que vai dar a votação. Torço pela queda da CPMF.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

E foi assim? Sabia que eu não sabia?

Caros Amigos,
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, acionou sua assessoria de imprensa para se desculpar, após o caso da menina que foi seviciada em uma cadeia onde ficou mais de um mês presa, entre 20 homens. Na edição de hoje da Folha de S. Paulo, na seção Tendências e Dabates, ela explica que herdou um Estado em condições que me pareceram falimentares, ao que ela diz, especialmente no setor de segurança pública.

No viés disso tudo utiliza, como argumento para a brutalidade sofrida pela criança, que as cadeias estão superlotadas, que há 12 anos não se faz concurso público para admissão de novos servidores setoriais, há um enorme rombo de déficit nesse segmento e mais isso, aquilo e aquilo outro.

Ou seja, seu antecessor, cruel e insensível - e deve ser mesmo -, legou-lhe uma herdade maldita, que ela não teve tempo, ainda - ainda? - de pelo menos tomar conhecimento, na plenitude, de suas condições molestas.

O argumento, velho e fácil, vem a calhar, ao lado das costumeiras promessas de "enérgicas providências" em favor de soluções para os dantescos problemas e - que gesto belo -, amparo à família da menina e dela mesma. Bom, quanto a isso, isso é o que vamos ver.

Mas, se o antecessor foi mesmo um arrasa-quarteirão e deixou o Estado à míngua, por que ela, que representa pretensamente a vanguarda do povo, é defensora dos direitos humanos, é feminista e batalhadora, vanguardeira e resoluta, não tomou a simples providência, ainda ao início do seu mandato, de instalar uma comissão para apurar a situação do quadro penitenciário do seu Estado? E, depois disso, promover reformas urgentes?

Simples assim? Simples assim. Só que não foi feito. A verdade é que a governadora somente tomou conhecimento dessa situação, que ao que parece não é pontual, através da imprensa. Daí o pânico, a vergonha, a necessidade de se arranjar uma desculpa de última hora, a demonstração de indignação, como se fora ela ainda uma opositora.

A indignação deveria ter sido demonstrada logo ao alvorecer do governo. Com a denúncia do estado de miséria e abandono das instituições. Com o flagrante de abusos. Agora, o discurso falsamente humanista somente revela a farsa improvisada e feia. O negócio é o seguinte: como o presidente Lula, ela também não sabia de nada...
Emanoel Barreto

terça-feira, 27 de novembro de 2007

A derrogação da Lei da Gravidade

Caros Amigos,
As coisas de jornal informam que a ONU colocou o Brasil entre os países que contam com um bom Índice de Desenvolvimento Humano. Custa-me crer que isso seja verdade. Somente algum malabarismo de cifras e estatísticas muito bem manipuladas poderia colocar nosso país em situação socialmente aceitável. Trata-se, estou convicto, de coisa de tecnocrata certamente sem conhecimento da realidade nacional.

É muito fácil, em números, desenhar-se uma dada situação, projetar circunstâncias favoráveis, enunciar feitos monumentais, prever-se a Terra Prometida. A situação brasileira, pela sua estrutura, pela sua conjuntura, não demonstra qualquer evolução social ampla e profunda, voltada para uma mudança de quadro em favor de uma alteração que melhore a vida do grande ser social que se conhece como povo.

Para que se tenha um bom IDH, é preciso que um país tenha uma realidade social, política e econômica de tal maneira dinamizada que, ao passar das gerações, molda uma situação propícia à reprodução de um círculo virtuoso - para usar expressão já meio desgastada -, que impulsione sempre em direção a melhores dias.

Não vejo assim o Brasil. Há, claro, um certo equilíbrio, em relação a quadrantes historicamente recentes, quando a inflação era a peça de resistência dos chargistas, que a representavam com a figura de um dragão. Isso, para tocar rapidamente em um aspecto da vida nacional.

Afora isso, não vejo qualquer mudança profunda na qualidade de vida do povo, ou, para falar o jargão oficial, no Índice de Desenvolvimento Humano, para cuja configuração exige-se o preenchimento de uma série de critérios envolvendo um real e bem qualificado padrão de vida.

Não é culpa do Governo Lula. Este é apenas mais um, no processo histórico em que transcorre a tragédia brasileira. A situação não está boa. Dizer o contrário é como querer derrogar a Lei da Gravidade por decreto.
Emanoel Barreto

sábado, 24 de novembro de 2007

A Rainha e as negrinhas

Caros Amigos,
Vejo na Folha On Line uma foto, com legenda que, a rigor, nada informa, da Rainha Elizabeth em visita a Uganda. A monarca é saudada por um grupo de menininhas, que têm às mãos bandeiras da Inglaterra e de Uganda. Há algo de sarcástico, de cínico e perverso no registro. Seguinte: a rainha de um país que explorou com vigor incomum o povo ugandense, é recebida em festa, como se estivesse fazendo uma deferência ao ali se apresentar, ou mesmo uma caridade - permitindo-se ser vista por aquelas negrinhas alvoroçadas.

E o pior é que a foto nos é imposta pela Agência Efe, que a produziu, e candidamente aceita pela Folha. Ou seja: pelo simples fato de que a foto foi enviada pela agência espanhola Efe, a Folha nos repassa a imposição desta, como a a visita da Rainha fosse para nós, no Brasil, algo de importante ou interessante.

Isso reforça a afirmativa de que notícia é o que os jornalistas querem que seja notícia. O exemplo é simples, para que compreendamos a questão: se um jornalista como poderes editoriais escolhe um assunto ou fragmento de assunto e resolve publicá-lo, mesmo que não tenha maior importância, será lido e tido como "notícia". O simples fato de estar publicado, por homologia forçada a temas realmente pertinentes, torna a a foto ou texto uma "informação".

A Folha On Line segue os padrões dos jornais americanos na internet, que apresentam essa sequência de fotos no alto, à esquerda da página. É o caso da foto da rainha Elizabeth que passa, como num cineminha, ao lado de outras platitudes informativas. Eventualmente, pode até haver algo importante, mas o texto-legenda mais aguça a curiosidade que informa a respeito do assunto.

Essa questão do jornalismo na internet, se não for levada muito a sério pelos jornalões impressos, pode ser muito mais causa de desinformação que de prestação de um serviço jornalístico relevante.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O coletivo de cobra é cobrança

Caros Amigos,
Nas coisas de jornal, as velhas novidades de sempre: um senador e um agora ex-ministro envolvidos formalmente no escândalo do mensalão; a Selação cambaleando, o Governo obcecado freudianamente pela CPMF; os criminosos - abusados que só eles -, acuando os cidadãos com eficácia magistral. Ou seja: o velho mundo, no Brasil de sempre, reprisando seu estoque de acontecimentos, erros, mentiras, pecados e vícios.

Falando da CPMF: foi criada quando o ministro da Saúde era o cardiologista Adib Jatene; criada a pedido dele, com o propósito de ampliar a massa de recursos voltada para melhorar o desempenho do atendimento ao, digamos assim, povo brasileiro. E o que acontceu? Nada. Ou melhor: aconteceu o pior - os problemas se agravaram e o dinheiro, que seria para a Saúde, não se sabe bem aonde está sendo empregado.

A CPMF, na verdade, tornou-se um imposto de recolhimento diário, jorrando aos cofres do Governo e retirando a você, a todos nós, minuto a minuto, um ágil pagamento tributário, agindo simultaneamente em todas as contas, até mesmo aquela, do mais modesto correntista.

É uma cobrança perversa. Disso, não há dúvida. Ao que parece, ao que dizem as coisas de jornal, o Governo estaria temeroso quanto à manutenção do tributo, frente às manobras da oposição, que, diz, quer derrubar essa cobrança.

Falando em cobrança, certa vez um amigo, em tom de blague, disse-me que cobrança é um amontoado de cobras, um coletivo. Interessante obsrevação, não? Bem criativa... Agora, esperamos para ver o que acontecerá no serpentário do Congresso. Se a CPMF cair, aí sim, estaremos livres da cobrança...
Emanoel Barreto

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Silêncio... Estamos de volta

Caros Amigos,
Chegamos da viagem. A casa nos recebeu, quietinha, às duas da manhã. Foi com uma alegria calma que olhamos, eu e Minha Mulher, a sala, os livros, a decoração simples e amiga do nosso lar. Até o hamster, Topete, nos brindou com seus pequenos barulhos de boas-vindas. Estávamos cansados, mais que isso, exaustos, depois de horas e horas de vôo, deixando Minas Gerais como um retrato na parede das nossas recordações amáveis.

Enquanto nós vivíamos nossas férias, as coisas do mundo mantinham seu ritmo, rugindo dinheiro, destroçando vidas, corrompendo o o tempo e os costumes. Em Natal, na recém-inaugurada Ponte da Todos, um ser humano desesperado havia se atirado lá do alto, fugindo do mundo em direção à Morte.

Mas o importante é acreditar, confiar, desafiar o tumulto e as trevas, sabendo que mais um dia virá. E, com ele, mais um passo da Vida. Na nossa casa, estamos em paz.

Silêncio. O tapete amigo acolheu os nossos passos, fez deles um gesto de chegada e nos convidou a viver o grande momento de nós dois.
Emanoel Barreto

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Voltando das Gerais

Caros Amigos,
Volto das Gerais, trocando a serra pelo mar.
Aqui, no silêncio que se espalha
como um lençol de calma sobre o coração de Minas,
é tempo de chuva,
garoa e névoa
que envolve as montanhas,
manhã nascente,
dia por ser descoberto.

No litoral,
o vento balança a palha do coqueiro,
o mar se abre em vastidão.
Estou voltando para casa.

Na bagagem da lembrança,
uma saudade que se escondeu, sorrateira,
e dorme entre minhas preciosidades de afetos.

Um grande abraço.
Emanoel Barreto

domingo, 18 de novembro de 2007

De Minas Gerais, a festa

Caros Amigos,
Foi intensamente bela a festa de ontem, na Casa de Geraldo e Maria, em Major Ezequiel. Foi o I Encontro da Família Mistura Fina. Agora, já estamos esperando o próximo. Abaixo, um relato ainda com gosto de emoção. São uns versos que cometi, para comemorar a grande reunião.

De Minas Gerais, a festa

De Minas Gerais, a festa
Que aqui se realizou,
Teve canto, teve viola,
Teve gente que chorou.

De Minas Gerais, a festa
Que muita gente juntou,
Deu alegria à família,
Que toda se abraçou.

Teve várias gerações,
Reencontradas na soleira
Da casa grande enfeitada,
Aprontada pra cantar.

Quando a música começou,
Juntou novo, juntou velho
Puxando uma toada,
Que muita gente alegrou.

Depois serviu-se a comida,
Com capricho e saborosa,
Enquanto a viola solta,
Enchia a sala inteirinha,
Com alegria faceira,
De um cantar tão brilhoso
Que até parecia feira.

O sorriso se espalhou,
Foi muito abraço que veio
Muita gente não se via
Fazia anos inteiros.

A festa foi muito larga,
Como se um riachão
Tivesse ali passado
Trazendo n'água, emoção.

Nesses versos pé-quebrado,
Que poeta eu não sou,
Saúdo a todos mais velhos
Com respeito e devoção.

A Tia Nice e Tio Nilsinho,
Tia Rute e Tio Antônio,
Gostei muito de abraçar,
Pedindo a Deus nesse abraço
pra Ele me abençoar.

Mas houve lá uma hora
Que a saudade bateu
Como se fosse um passado
Que de repente nasceu.

A saudade anunciou
Com uma grande reverência
Tia Naná e Tio Luizinho,
Tia Nénén e Tio Lindinho.
Se lembrou de Dona Terezinha
E Seu Viçoso, ademais.

E disse a todos presentes
Que esses tempos passados
Devem ser rememorados,
Guardados com emoção.

Devem ficar num sacrário
que existe no coração.
São coisas tão importantes
De muita, tanta valia,
Que quando a viola canta
Até que dá agonia.

Aos moços também me falo,
Digo que gostei demais,
Quando tiver outra festa
Eu volto e então repito:
Cheguei, pois gostei demais.

Durante a festa inteira
Foi alegria e foi bão.
Se fosse lá no Nordeste,
Tinha fogueira e balão.

Agora então me despeço
E estendo a minha mão.
Família Mistura Fina
Pra sempre estará unida,
Puxando a viola solta
Pra comemorar a vida.

Emanoel Barreto

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A festa na casa de Geraldo e Maria

Caros Amigos,
Aqui, no coração de Minas, estou num retiro feito de natureza e paz. Os pássaros cantam suas canções de pios, enquanto o sol, preguiçoso, se esconde e se recobre com o lençol da noite, dando lugar a um silêncio manso. As estrelas tecem no céu sua sinfonia de pingos de luz.

Estou com Terezinha, Minha Mulher, na casa de Geraldo e Maria. Casa grande, tão grande que parece um labirinto, habitado por um aconchego que só se encontra nas Gerais. Maria, irmã de Terezinha, é a matriarca de um clã que se construiu ao longo do tempo e traz plantada em si a força misteriosa que vem das montanhas, encanta o olhar e deixa longe o pensamento. Geraldo, o patriarca, caladão em seu silêncio de mineiro caprichoso e ligado à terra, é um grande abraço a nos receber.

O motivo de nossa vinda, assim como e de muita gente mais, é uma festa grande, já se aprontando para acontecer sábado que vem. Com frango, quiabo, angu e torresmo, como manda o melhor sabor das Gerais.

Uma coisa não posso esquecer de lembrar: o Tempo, aqui, parece que tem vergonha de passar. Pede licença, se embrenha pelos cantos, fica escondido e anda de mansinho.

Aqui, o Tempo já sabe, é proibido ficar velho depressa. E quando alguém envelhece, tem guardado bem forte na lembrança, que ainda é moço na força do viver.

Aqui, eu descobri, o Tempo passa devagarinho, que é para dar à Vida mais direito de ser vivida.

E é nesse clima bom que, sábado, quando a familharada estiver reunida na festa, viola pra todo lado, gente cantando feliz, vamos viver mais um pedaço de Vida, como quem faz uma colheita boa.

Fica aqui o meu abraço. Que venham e cheguem logo os filhos, os genros, as noras, netos, primos, tios, tias, parantes e aderentes, amigos e agregados. Venham com suas cantigas, que a festa, aqui, começa antes de começar.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Mais dinheiro, mais dinheiro...

Caros Amigos,
Um bilhetíssimo para vocês, por pura falta de tempo: ao que tudo indica, deverá obter pleno êxito a molesta intenção do Governo, na aprovação da continuidade da CPMF. É preciso, entendem "eles", que continuemos a pagar para ter conta em banco; a pagar para sermos lesados; a pagar por pagar. E o que temos em troca? Façam o seguinte: olhem em volta, vejam os noticiários de rádio, TV e jornal, que logo encontrarão a resposta.
Um abraço,
Emanoel Barreto

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Em meio a Minas, montanhas

Caros Amigos,
Deixei os ares portenhos pelas montanhas mineiras,
chão brasileiro tão forte, coisas de aqui querer bem.
Cheguei ao abraço, família, calor de tempos
amigos; queridos, todos queridos.

Com mais tempo, escrevo. Detalho coisas de cá.
Volto a vocês todo dia, mas trazendo
na lembrança, ainda por esses dias,
o som do tango portenho.

Um abraço,
Emanoel Barreto

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Adios, muchachos

Caros Amigos,

Anoto neste pequeno e incompleto diàrio: saio agora, seis e meia da manhá, nos rumos distantes de Minas. Là, estarei na regiáo mais central e mais intensamente mineira, protegido pelas montanhas, abraçado pelo clima ameno, pelo siléncio grande que domina tudo.


Ao tempo, irei acrescentando recuerdos, detalhes, visóes e acontecimentos. Continuo com problemas na acentuaçao. As computadoras, acà, sao máquinas molestas...

Gracias,
Emanoel Barreto

domingo, 11 de novembro de 2007

O bébado e o equilibrista

Caros Amigos,
Caminhando pela feira de San Telmo, Buenos Aires, parei frente a um artista de rua. Trabalhava com uma marionete, a triste figura de um borracho. Garrafa na mao direita, malvestido, o boneco executava, ao comando dos cordèis, passos de bebado ao som de um tango, que saìa, cheio de dolor, de um aparelho fanhoso.

O pobre boneco representava bem a figura dos descamisados de Evita Peròn, sofrendo màgoas, chorando alguma tràgica separacao, golfando tangos cheios de profunda e trëmula angùstia. Olhando aquele artista, que repetia sempre o mesmo nùmero, vi nele o perfil do equilibrista da vida. Ganhando essa mesma vida ao lado de um boneco. O boneco, o bebado: o artisya, o equilibrista.

Certamente, todos os dias, ganha os seus cobres e depois volta â sua habitacion. Creio que vi ali, bem exposta, toda a pulsante tragicidade de alma portenha. E, como no Brasil, aqui tambèm hà bebados e equilibristas.
Um abraco,
Emanoel Barreto
PS: È impossivel colocar a acentuacao tonica. O computador nao esta programado para isso. Assim, fiz o texto da forma que me foi possivel.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Mi Buenos Aires querido

Caros Amigos,
Estou em Buenos Aires. Aqui, visitei La Boca e Caminito, por onde andou Carlos Gardel, aliàs, Charles Gardes, que nao era argentino, mas frances, filho de uma lavadeira imigrada à Plata.

Elegante, com seus edificios rotundos e imponentes, ornados de uma espècie de beleza austera e enigmàtica, a cidade è encantadora.

O tempo frio obriga o uso de trajes pesados. Hà um clima de displicente formalidade no caminhar pelas calcadas. Algo como uma solene sinfonia de passos, um balè coreografado e levemente caòtico. A brisa fria da tarde lembra um tango que dissolveu-se no ar.

Nas lojas, a economia està indexada ao dòlar e ao real. Os vendedores sao atenciosos e entendem facilmente o portunhol. Bom estar aqui. Vamos ver se amanha tenho mais tempo que hoje para escrever.
Um abraco,
Emanoel Barreto
PS - A falta de sinais graficos deu-se pelo fato de que a computadora - como sao conhecidos por aqui os computadores - esta com problemas. Fiz o possivel, mas foi impossivel solucionar. Hasta luego.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Volto logo

Caros Amigos,
Estarei fora por uns quinze dias. Sempre que possível, atualizarei o Coisas de Jornal. Enquanto isso, deixo vocês com a poesia de Cora Coralina.
Um abraço,
Emanoel Barreto

Conclusões de Aninha

Estavam ali parados. Marido e mulher.Esperavam o carro.
E foi que veio aquela da roçatímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe,
tinha queimado seu rancho,e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio pedindo um auxílio
para levantar novo rancho e comprar suas pobrezinhas.
O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula, entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,se comoveu
e disse que Nossa Senhora havia de ajudar. E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?
Donde se infere que o homem a

juda sem participar e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."

Pensando bem, não só a vara de pescar,
também a linhada,o anzol, a chumbada,
a isca, apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do pescador.

Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão: na prática, a teoria é outra.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Eles estão se acertando

Caros Amigos,
Renan Calheiros voltou sem alarde ao senado, o Governo busca uma aproximação com seus ditos oposicionistas para aprovação da CPMF, o PSDB sinaliza sinais de fumaça amigáveis ao Governo. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Tudo se acertando direitinho, nas entrelinhas, no silencinho torto do Poder que age a portas fechadas. Tudo se acerta: Renan volta se alarde, parece que vai mesmo perder a presidência do senado, e o Governo acena, que amável, ao PSDB, para um acordão em favor da CPMF.

Temo que o imposto continue a ser sugado dos brasileiros, sob a alegação de que é imprescindível. Temo que o álibi seja o velho recurso do "apelo ao bom senso", para que o imposto seja novamente perpetrado.

Apela-se ao bom senso quando é para a retirada de dinheiro das contas, da vida dos cidadãos; mas ninguém pensa em bom senso quando é para se tomar uma decisão como aquela que dará ao Brasil o ônus de pagar para que jogadores do futebol fiquem mais ricos e para que a elite de endinheirados que lucra com esse esporte torne-se ainda mais rica. E o pior é que o povo irá pagar. E aplaudir.

Apela-se ao bom senso em favor da CPMF, mas não se apela ao bem senso para uma ação firme e poderosa contra aqueles que destróem a Amazônia, a Mata Atlântica e ameaçam de poluição o Aqüífero Guarani. Apela-se em bom senso em favor do lesa povo, enquanto milhões de brasileiros enchem a boca de gol e estão de barriga vazia de direitos e cidadania.
Emanoel Barreto

sábado, 3 de novembro de 2007

As pontes de Igapó

Caros Amigos,
Aqui, uma crônica sobre Natal e o rio Potengi.
Um bom fim de semana.
Emanoel Barreto


As Pontes de Igapó

Natal é uma cidade dividida

pelo amor entre o rio e o mar.
E o rio, o rio Potengi, tem, p
or sua vez, seus dois amores.

O Potengi é talvez o único rio do mundo que tem,

paralelas e tão próximas,
duas pontes a cruzar seu coração de águas.

Uma, feita de ferro e quase morta,

o primeiro e mais antigo amor do rio.
A outra, em concreto e enfeitada
pelo trânsito apressado, é a namorada mais jovem.

E entre as duas pontes, abraçado por elas,

o Potengi corre sua vida de águas
e certamente sorri quando o sol se faz poente.

E as pontes, rivais e amigas,
fazem festa no marulhar desse abraço.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

The Ventures - Walk Don't Run (1960)

Caros Amigos,
Uma raridade, com The Ventures. É só clicar.
Emanoel Barreto

YouTube - The Ventures - Walk Don't Run (1960)

Dia de Finados

Caros Amigos,
Aos que já se foram
digo que o mundo
continua tardo,
pesaroso e triste.

E a vida tensa,
perigosa, insana.

Aos que já se foram
quero informar
que os insensatos
perdominam ainda,
falam de incêndios
e fazem matar.

Mas também me lembro,
aos que já se foram,
que há crianças lindas,
rios rebrilhantes,
estrelas cadentes
e fé no amanhã.

Aos que já se foram
peço que confiem, pois
aqui na Terra, mesmo
enlouquecidos,
os tiranos morrem.
Caem lá das torres,
eles também vão.

Como ainda eu vou,
aos que já se foram
peço que me esperem;
vou fazer a festa, subir num
palanque e gritar
que o mundo é louco,
foi escurecido, mas tem
quem resista sem esmorecer.

Mas depois eu volto,
que aqui tem vida, vida
muita vida, olhar de verão.

Saudades,
Emanoel Barreto

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Uma opinião aguada

Caros Amigos,
Transcrevo abaixo o editorial de hoje da Folha de S. Paulo a respeito da realização da Copa do Mundo no Brasil. Acho que foi redigido por alguém que desconhece completamente a realidade do País ou então por algum seráfico e pio jornalista, que acredita nas boas intenções dos políticos.
Veja só:

A Copa e as contas

O BRASIL, candidato único, deve ser oficializado hoje em Zurique como o país-sede da Copa do Mundo de 2014. Mais de seis décadas após o desastre de 1950, quando a seleção nacional perdeu a final para o Uruguai em pleno Maracanã, o país voltará a ser palco da principal competição futebolística do planeta.Trata-se de uma boa notícia. Eventos do porte da Copa são uma excelente ocasião para fazer negócios, incentivar o turismo e obter investimentos em infra-estrutura.


Alguns desses ganhos permanecem mesmo depois de encerrada a competição. É o caso de uma linha de metrô que se construa ou da popularização do Brasil como destino turístico.Só que as oportunidades também podem dar lugar a um pesadelo. Serão certos os danos à imagem do país se cenas de caos aéreo se repetirem durante a competição, por exemplo. Além disso, persiste também o risco de a Copa, a exemplo do Pan 2007, converter-se numa maratona de prejuízos para o erário.

A diferença entre êxito e fracasso está no planejamento. Para que a competição seja um sucesso e os gastos públicos produzam resultados duradouros, é preciso antecipar os pontos fracos e tomar as medidas para saná-los. Muitas exigem um prazo de maturação de anos.Lamentavelmente, o histórico do país e o do governo são ruins. Basta lembrar que a administração Lula assistiu inerte a pelo menos dez meses de tumulto aéreo antes de adotar medidas que parecessem uma atitude.

Também está fresco na memória o Pan 2007. Originalmente orçado em R$ 414 milhões, a maioria em recursos oriundos da iniciativa privada, o custo do evento foi multiplicado por nove: R$ 3,7 bilhões, tudo pago pelo contribuinte. A Copa do Mundo é uma competição muito maior do que o Pan. Se não houver controle, os quase R$ 4 bilhões parecerão brincadeira de criança.E o Brasil já entra no gramado com o pé esquerdo.

O relatório da Fifa que o recomenda como sede parece muito mais um "press-release" do que o resultado dos trabalhos de uma comissão que esteve no país. Não são mencionadas cifras de investimentos necessários. Informalmente, fala-se em R$ 400 milhões para o comitê organizador e R$ 1,1 bilhão para a renovação dos estádios. Difícil acreditar.

A Alemanha gastou mais de R$ 20 bilhões na Copa de 2006. E o presidente Lula, que lidera a caravana de políticos que foi a Zurique celebrar a "conquista" brasileira, já advertiu que não pretende poupar gastos na Copa.A torcida brasileira -pela importância do futebol no país e pela tradição da seleção pentacampeã- merece uma Copa no Brasil. Mas o evento só se justificará se marcar uma mudança na atitude de dirigentes e autoridades. É preciso prestar contas e minimizar o gasto público.

PS: pela falta de energia, pela falta mesmo de opinião (editoriais necessariamente devem ser opinativos, críticos), acho que a Folha, querendo passar a idéia de um jornal ponderado, perdeu a oportunidade de denunciar a falta de respeito para com as contas públicas e para com a cidadania.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Nosso complexo de vira-latas

Caros Amigos,
Agora que a Fifa garante que a Copa de 2014 será realizada no Brasil, será preciso que o Congresso se ajoelhe e prometa: não irá apurar qualquer acusação relativa a multinacionais de produtos desportivos mediante CPIs, a fim de que o País se faça merecedor da esmola de ter aqui um campeonato mundial de futebol.

É que a Fifa não quer, em meio a um tumuldo de uma CPI, ser vista como tendo ligações perigosas com as falcatruas do futebol brasileiro. Acho que um povo não pode ser assim tão humilhado, exposto, achincalhado por dirigentes que, querendo tirar proveito político do futebol, vão à Suíça implorar para que a Copa seja no Brasil.

Este país não precisa de campeonato de futebol: precisa, sim, de escola, saúde, segurança, expectativa de vida para seu povo, emprego, salário digno, moradia. Precisa, enfim, de dignidade, honradez, seriedade e trabalho.

Ademais, sabe-se qua não há infra-estrutura à altura do evento; segurança, nem se fala. Mas dinheiro vai aparecer e bem depressa, seja do governo federal, sejam dos governos dos Estados escolhidos para sediar a Copa. Dinheiro será tirado de programas sociais para ser gasto, para ser dado a multinacionais que virão aqui pilhar um povo que já tem excesso de pouco.

A falta de dignidade do que se convencionou chamar de classe política vai garantir o futebol e os gritos de apoio dos milhões de tolos que cairão nessa emboscada.

Aí, me vem à lembrança Gonzaguinha, em Comportamento Geral:

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado

Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã,
Seu Zé se acabar em teu Carnaval

É isso. O Brasil Merece.
Emanoel Barreto

sábado, 27 de outubro de 2007

Permanente é eterno?

Caros Amigos,
Um minutinho da sua atenção.
Alguém aí já se perguntou quanto tempo dura a permanência?
Ou qual o tamanho da eternidade?

Será que permanente
é o começo da eternidade?

Quanto tempo dura um instante?
Quanto tempo existe em um momento?

Ficar é um pedaço da permanência,
ou uma fagulha do momento?

O que é mesmo o tempo?
Quem passa: é o tempo, ou somos nós?

Passar é o quê?
Muitos momentos contados em instantes,
muitos ficares perdidos ao longo
da nossa permanência ou um grande
estar que não sabemos quando vai acabar?

Bom fim de semana.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Oremos aos deuses do Egito

Caros Amigos,
Já podemos dizer "alvíssaras meu Capitão/Já vemos terras de Espanha/ Areias de Portugal." A Fifa fará ao nosso povo a nímia deferência de trazer para o Brasil, em 2014, a Copa do Mundo. Grande Fifa. A informação é do Estadão Online e dá conta de que as opiniões da magnânima equipe de avaliadores das condições desta infeliz nação para sediar o efento, são favoráveis.

Dizem as coisas de jornal do Estadão, citando documento da Fifa - será que em inglês de pronuncia Faifa? - que, "na conclusão, na opinião desta equipe de inspeção, o Brasil está bem estabelecido para sediar uma excepcional Copa do Mundo."

Minhas comiserações.

A nau dos insensatos que apóiam esse crime deve estar vibrando. Enquanto isso, roncam as cuícas e repicam os buchos vazios dos que vão aplaudir as jogadas e os gols. Entretanto, para a realização das disputas, a entidade internacional, é claro, impôs algumas regras, como seria de esperar. Afinal, a Fifa vai fazer uma caridade, uma caridade, não: uma concessão ao povo brasileiro e como tal terá suas exigências.

É o seguinte: a CBF desistirá de obter qualquer remuneração advinda dos jogos - o que é muito justo, não é mesmo? - já que sua divisão foi previamente feita na Alemanha, para encher os cofres da mesma Fifa e do Comitê Organizador da Copa. Ótimo.

Tem mais: como foi considerado que o País, ou seja, os cidadãos, tem todas as condições para realizar o torneio, deverá desta forma arcar com segurança, transportes, hospitais hotelaria e estádios. Acho muito justo. Afinal, se você é bobo, tem mesmo que pagar pela sua bobagem.

Resumindo, o pessoal da Fifa achou que está tudo bom. Mesmo sabendo das deficiêndias do nosso sistema aeroportuário e dos nossos estádios, somente para citar dois casos. Isso sem falar na insegurança, para não aprofundar muito o assunto.

É óbvio que eles acharam tudo muito bom: o Brasil foi o único país cujos dirigentes, por ignorância ou má-fé, se propôs a empresa de tal porte. Falando sério, sabemos todos que foi má-fé mesmo. Muita gente vai abocanhar dinheiro do governo. Lula jamais deveria ter metido o País nessa enrascada. Isso só vai acontecer por conivência, cavilação mal-intencionada do Presidente. Outra coisa: o governo sequer participa, foi alijado, de ingerência no Comitê da Copa. O que diabo é isso: o governo vai esbanjar dinheiro do povo e não vai poder decidir nada sobre as despesas? Oremos.

O Estadão informa também que o governo brasileiro já se comprmeteu a fazer alteração legais pedidas pela Fifa, a fim de que a Copa seja aqui. Não especifica quais mudanças. Mas, boa coisa não é. Suspeito que serão alterações que garentem que o povo será obrigado a arcar com despesas e o que mais vier.

A lembrança que me vem é aquela do povo do Egito, trabalhando para construir as pirâmides dos faraós. Como se sabe, as tais são túmulos. E o Brasil já vem construindo o seu há muito tempo. Vinde em nosso socorro Amon-Rá.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Povo feliz

Caros Amigos,
Desenha-se, no céu escuro da vida brasileira, mais uma intentona contra o dinheiro dos cidadãos; paradoxalmente, sob os aplausos deslumbrados de expressiva parcela da sociedade - e por que não dizer, de quase toda a sociedade: a decisão insana de trazer para o Brasil a realização da Copa do Mundo em 2014, como se isso fora de importância capital para um povo com altas taxas de analfabetismo, ensino público raso, universidades sufocadas, saúde cambaleante e insegurança a mão-cheia.

Para ajudar a bater o martelo, um grupo de governadores, auto-denomimado "caravana de governadores", viajará a Zurique para manifestar à Fifa seu apoio à idéia enlouquecida da CBF em realizar aqui a Copa. São eles: José Serra, Sérgio Cabral, Aécio Neves, José Roberto Arruda, Jaques Wagner, Blairo Maggi, Eduardo Braga, Eduardo Campos e Cid Gomes.

A presença desses governadores reafirma o que Nelson Rodrigues chamava de o "nosso complexo de vira-latas": representantes do Estado metem-se, imploram a uma entidade privada que traga para aqui o seu circo, certamente garantindo que serão bons meninos e darão a contrapartida: os trinta dinheiros para pagar a conta.

Os custos de uma tal empreitada, entretanto, serão astronômicos. Serão, na verdade, custos sociais, pois evidentemente o dinheiro do contribuinte é que sancionará a farra fotebolística; ou alguém pensa que a iniciativa privada vai despender dinheiro com o convescote da bola?

Será, literalmente, dinheiro retirado à sociedade; serviços essenciais, mantidos pelo governo, sonegados aos carentes para atender aos apetites de governantes insensatos. Será uma espécie de crime de lesa povo. Lamentavelmente, o mesmo povo que irá aos estádios aplaudir, gritar, sofrer, esperar que a Seleção seja campeã. Pobre gente.

Como diz Zé Ramalho: "Povo marcado, povo feliz..."
Emanoel Barreto

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

PT e PSDB fecham negócio pela CPMF

Caros Amigos,
Após o arquivamento da representação do PSOL contra o senador Eduardo Azeredo, tido como o grande maestro do mensalão, cujos cordéis teria manbipulado antes mesmo de ser senador pelos tucanos, PT e PSDB, dizem as coisas de jornal, estariam prestes a fechar negócio em favor da aprovação da CPMF.

Os - poderíamos chamar de próceres? - do partido garantem que não foi selado qualquer acordão, advertindo aos curiosos que os atos de Azeredo foram cometidos antes de ele ser senador. Ou seja: pecado velho não conta. O tempo se encarrega de apagar as culpas ou pelo menos levá-las para locais profundos da consciência, escondendo-os no cofre onde os políticos ocultam suas misérias e vergonhas.

Além de arquivar a representação contra Azeredo, a Mesa do senado, sob o comando do petista Tião Viana, sobrestou a decisão de encaminhar a sexta representação contra o senador Renan Calheiros ao Conselho de Ética. Aí, já para agradar ao PMDB.

Como se vê, as coisas começam a se encaixar. Os tucanos começam a manobrar para tirar algum proveito da mesa farta do governo, é claro. As alegações do tucanato deverão ser muitas, para essa forma de adesão foscaao governo. Eles, os políticos, sempre têm muitos argumentos para justificar seus mais pegajosos atos.

A sujeira sempre é lavada aos olhos públicos. Depois, eles dizem que é apenas um cisco na vista do povo. Fazem vista grossa a seus atos impunes e voltam ao plenário como se estivessem vestidos de virtudes.
Emanoel Barreto

sábado, 20 de outubro de 2007

O Brasil visto de costas


Caros Amigos,
A moça aí na foto é uma certa Talita Colucci, de 19 anos, que disse à Veja ser "uma responsabilidade muito grande representar o bumbum do Brasil." Já pensou? Deve ser mesmo. Numa terra onde abundam pessoas como Renan Calheiros, temas que tais são evidentemente de rara e suma responsabilidade.

A propósito, não sei como ela foi escolhida para a missão, mas o fato é que está representando o derrière nacional; também não sei em que concurso, academia, plenário ou forum. Entretanto, creio ser lícito suspeitar que seja em alguma opereta bufa, coisa muito comum neste país.

Aliás, em matéria de entrevista com mulheres que são apenas fêmeas - tão lamentáveis quanto homens que são apenas machos -, a Época traz uma com Gisele Bundchen (!), que é uma pérola.

Dotada de cultura pedestre e poder de argumentação da estatura de um rodapé, a moça fala a respeito da importância da defesa do meio ambiente e de como se integrou com os índios no Amazonas, quando ali foi filmar comercial da Grendene. Arranja frases curtinhas e atende aos interesses da revista.

Um velho problema de nós, jornalistas, é criarmos notícia onde não há. Qual a importância de uma mulher ter nádegas suntuosas? Qual a autoridade que Bundchen tem para falar a respeito de meio ambiente? A questão é que jornalismo é também uma espécie de eco da conversa do cotidiano, do falar por falar. A banalidade faz parte da vida e por vias transversas inscreve-se no jornalismo, que a eleva a alturas como se esta tivesse alta importância.

Mas, o triste, o triste mesmo, é ver que o Brasil parece mais interessado no que está ao sul do corpo das mulheres e na visão de mundo, curtinha, da outra. Que também é Bund...
Emanoel Barreto