sábado, 10 de fevereiro de 2007

Brasil, um arrabalde de nação, o país do futebol

Leio, entre estarrecido e indignado, que a Confederação Brasileira de Futebol prossegue com a intentona de o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014, uma insanidade que custaria ao povo brasileiro a bagatela de dois bilhões de dólares para a restauração e construção de estádios, sem incluir obras de infra-estrutura.

Não é um projeto, é um crime contra quem vive de salário mínimo, vê deputados e senadores espoliar o erário, esmola um atendimento em hospital do SUS e teme que bandidos impunes o matem na próxima esquima.

É um crime contra um povo que viu seu país ser transformado num arrabalde de nação, num beco da História, no sacrário da miséria.

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, está tentanto convencer Pelé a ser o embaixador do Brasil junto à Fifa, na busca de convencer a cúpúla do futebol mundial a nos aceitar como sede.

Pelé, por sua vez, teme que sua imagem saia desgastada, caso surjam - como seria naturalíssimo no Brasil - acusações ou constatações de desvio de verbas. Fala-se que a empreitada, ponto de fulgor da insensatez, está sendo comparada à construção de uma nova Brasília.

Orater frater, e peçamos a Deus que tal insânia não venha a se abater sobre o nosso povo. Até quando políticos e outros que tais pensam que é possível tripudiar sobre a nossa pobreza e o nosso sofrimento, pensando que o povo, de barriga vazia, irá se contentar com o circo?

Quando a cuíca da fome ronca na barriga, pode ser sinal que a dívida do prato vazio venha a ser cobrada de forma perversa com dor e balas. Aliás - perdão pelo aliás - já está sendo cobrada. Só que parece que ninguém vê.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O fim do jornalismo impresso

O The New York Times, o jornal mais prestigioso do mundo, começa a admitir, e a divulgar, que em mais cindo anos a publicação poderá deixar de ser impressa e passar unicamente a ser feita via internet. A empresa que edita o jornal e outros diários está amargando prejuízos. Por outro lado, já percebeu que os acessos à versão online superam a casa de 1 milhão e 500 mil por dia, enquanto a edição impressa tem 1 milhão e cem mil assinantes.

Acho que a diferença entre os números não seja assim tão expressiva, que justifique o fim do jornal impresso. Afinal, a internet certamente deveria permitir um acesso bem mais elevado. Aspectos como gratuidade e maior facilidade de se ler o conteúdo deveriam incentivar uma quantidade bem maior de leitores.

Mas deve-se levar em conta, também, a questão financeira. Os donos são quem sabe onde o sapato lhes aperta. Mas, estaria o mundo já socialmente condicionado, a ponto de prescindir dos jornais impressos?

Agora, a questão de fundo é efetivamente essa: até quando o jornal impresso poderá resistir, como meio eficaz de envio de informações de massa? Quando passará a ser visto como um anacronismo, uma vez que sua feitura, mesmo sob pressão, é lenta, se comparada à elaboração de material para a internet? Depois disso, vem a distribuição, trabalhosa, que envolve uma grande equipe de motoristas e descarregadores.

E isso sem levar em conta os custos com a informatização das redações, parques gráficos caríssimos, tinta, papel, fotolitos, chapas matriciais e toda a equipe que orbita em volta da redação: setor comercial, administrativo e funcionários de serviços gerais. É muita coisa.

Mas, a internet está apenas começando. Com passos largos, ganha espaço e socializa como veículo preferencial, especialmente entre os jovens. Por sua vez, o jornal impresso é veículo legitimado, portador de informações e opiniões credibilizadas historicamente e não vejo assim, num horizonte tão próximo, o fim das velhas folhas que tão costumeiramente manuseamos.

Creio que tudo virá a seu tempo. E esse tempo ainda não chegou.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Indignos até da morte

Deu no Estadão online.
RIO - A morte de João Hélio Fernandes, de seis anos, chocou até a polícia do Rio de Janeiro. O delegado Hércules Pires do Nascimento, que investiga a morte do menino arrastado por sete quilômetros do lado de fora do carro de sua mãe, que havia sido roubado, classificou os criminosos de "monstros". "As pessoas nas ruas gritavam para que eles parassem. Acredito que estivessem drogados", afirmou. O Disque-Denúncia do Rio está oferecendo uma recompensa de R$ 2 mil para informações que levem à identificação e prisão dos assassinos. O telefone é 21-2253-1177.

Segundo o delegado, os dois assaltantes perceberam que João Hélio Fernandes estava preso no cinto de segurança mas não pararam o Corsa. Eles estacionaram o carro, na tentativa de esconder o veículo, e fugiram a pé.

A mãe da criança, Rosa Cristina Fernandes, de 41 anos, estava com a filha Aline, de 13 anos, ao seu lado, no banco da frente, e João Hélio no banco de trás. A família foi abordada quando o Corsa parou num sinal na esquina das ruas João Vicente com Henrique de Melo, no bairro de Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio.
A mãe abriu a porta traseira para tirar o garoto, mas João Hélio ficou preso pelo cinto, do lado de fora do carro. Os criminosos arrancaram, a porta do veículo fechou e o menino foi levado pendurado pelo abdome. Eles percorreram quatro bairros - Oswaldo Cruz, Campinho, Cascadura e Madureira.

E agora?

Dizer o quê, diante desse fato: Pai, perdoai-os, pois não sabem o que fazem?
Dizer o quê, diante desse fato: os bandidos são vítimas da sociedade e estão somente reproduzindo o modelo de exclusão e opressor ao qual estão vinculados?

Dizer o quê, não sei. Mas, fazer o quê, acho que sei: está na hora de a sociedade responder à altura, com força e armas, em ação permanente e diária, no enfrentamento de tais criminosos.

Não há justificativa a uma ação de tamanha brutalidade ante uma criança indefesa, mais que isso, inofensiva e incapaz de fugir ao ataque de homens que são indignos até da morte.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Não incomode os tolos, eles estão com preguiça

Começo citando Drummond, no poema "Inocentes do Leblon*".

Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.

A inocência, em verdade alienação ou estupidez preguiçosa, como que
espalhou-se do Leblon visto pelo poeta e hoje habita cada tela de TV, cada Ipod, cada orkut, CDs, tênis, roupas, modo de ser.

Há, na juventude, como que uma espécie de ópio lamentável, sonolência social, preguiça que brota de um embrutecimento que virou padrão. Sinalizados por um sistema de mídia que valoriza uma vida vazia, tola, consumista, a juventude assume a banalidade como bandeira de seus ideais fátuos e faz da fatuidade um fato consumado.

Temos uma juventude que dorme, mas não tem sonhos, ideais vontade. Temos ainda hoje inocentes do Leblon, mas uma inocência perversa, inocência devassa de consumismo e bobagens que são compradas por muito dinheiro. Que preguiça.
*Carlos Drummond de Andrade In "Sentimento do Mundo' - Irmãos Pongetti, 1940© Graña Drummond.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Crônicas para Natal

O edifício da fé

Templo antigo, pesada beleza,

a Igreja Matriz,
catedral da Natal província,
repousa no lado velho da cidade.

Largo edifício da fé,

a igreja ergue suas torres
como mãos em prece todo dia.

Dentro, os fiéis são seguidores do divino.

E a igreja é como um grande mapa da religião.
No grande altar,
nas imagens,
nos recantos de silêncio e paz.

Igreja matriz,

relicário da fé
mais sincera do povo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

A morte pede milhões

O desejo de matar do presidente Bush não tem limites. Ainda hoje deverá enviar ao congresso do seu país pedido de 235 bilhões de dólares, para gastar nas guerras do Iraque e Afeganistão.

Se o pedido for aprovado, o dinheiro será somado a 70 bilhões recentemente aprovados. Reunindo todo o poderio bélico-financeiro americano aos financiamentos já liberados, a nação do Norte terá gasto até agora 745 bilhões de dólares desde os atentados de 11 de setembro de 2001,em Nova Iorque e Washington.

Tais atitudes se processam em detrimento de políticas públicas voltadas para o social. O caso mais gritante é a deplorável situação em que se encontra Nova Orleans, que desde a passagem do furacão Katrina deixou de ser uma linda e delirantemente alegre cidade, para se transformar num lugar triste, quase lúgubre, onde pessoas de amontoam em traillers, já que não têm casas para morar. Boa parte delas foi destruída. E o Governo Bush omitiu-se por completo. Detalhe: a população é eminentemente negra.

A obsessão de Bush com o terrorismo é tanta, que ele esquece algo bastante óbvio: primeiro, não conseguirá vencer a resistência dos também demenciais radicais islâmicos do Iraque; segundo, isso, além do mais, prolongará o confronto até o limite do insuportável pela sociedade americana - até que ponto pais e mães irão aceitar a morte de seus filhos num conflito tão insano?; terceiro, Osama bin Landen não está morto - pelo menos é o que parece - e nada faz desacreditar da possibilidade de que volte a trazer a território americano sua dose de loucura em resposta à loucura de Bush.