sábado, 17 de fevereiro de 2007

Os bandidos acuados

Leio no Jornal do Brasil que a polícia, no Rio, começa a sufocar o tráfico. Descapitalizados, diz o jornal, os criminosos podem tentar ações no asfalto, em busca de compensar as perdas com a redução na venda de drogas.

Suponho que a ação em desenvolvimento, com o apoio da Força Nacional de Segurança, é pontual e tática, devendo portanto evoluir para um tratamento estratégico e intenso, mantendo os criminosos permanentemente sob a mira da polícia.

É claro que a questão do tráfico no País é algo complexo e historicamente enraizado. Não há como negar que a simples ação atualmente em andamento no Rio não vai desarticular esse tipo de atividade, até porque suas ramificações se estendem para muito além dos morros e chega aos gabinetes e ambientes VIP.

A atuação policial deve ser o indicativo de que a sociedade começa a se posicionar, através do seu aparelho de repressão, e a dizer aos criminosos que eles agora terão um limite.

Mesmo assim, pontual e tática, a atitude já representa alguma coisa. Agora, é esperar que a presença da polícia nas ruas e um trabalho competente de inteligência venham a resultar num arrocho tal que os bandidos sejam contidos.

Por outro lado, é preciso promover a denúncia da cultura das drogas, convencer o jovem de que a droga não deve significar um estilo de vida e que, em si, não leva a nada.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Gastando à toa o meu inglês

Quando o verão se abre em cores e belezas sobre Natal, os turistas estrangeiros chegam como enxame de gente curiosa, quase aflita para aproveitar o sol, o calor, a areia da praia quase brilhando de tanta luz. Natal é uma cidade de lluminosidade muito especial,e esse brilho de alguma maneira se reflete na alma das pessoas. Natal vira um estado de espírito.

A cidade vira um democrático estardalhaço de alegrias. Gente que veio da Escandinávia troca o branco da pele pelo queimado do sol nordestino, gente que veio de outros Estados brasileiros adora essa paisagem de paraíso, gente que veio não-sei-de-onde fica alegre, vira jovem, vira menino.

E os daqui, os que de alguma maneira vivem do turismo, aproveitam para trabalhar e ganhar o seu dinheiro. Então, surge um comércio simples, o comércio dos que sobrevivem de vender água de coco, uma dose de caipirinha, casquinho de caranguejo e uma cervejinha gelada.

Esses, sabe-se lá como, aprendem palavras ou expressões básicas em inglês e saem por aí, pelas praias, vendendo. Sorridentes, oferecem: "Beer?"

E os estrangeiros: "Oh, yes".
E os vendedores: "Tá bem, tá aqui a sua beer."

Às vezes, os vendedores confundem as pessoas. Basta que você seja confundido com um nórdico, para ser abordado. E foi isso o que aconteceu, com a minha mulher e com uma conhada, em férias conosco.

Elas estavam nas imediações da Fortaleza dos Reis Magos, monumental construção portuguesa e um dos símbolos da cidade, quando, de repente, um menino disse: "Beer?"

E mais uma vez "Beer?" Elas não comprenderam a abordagem, até perceber que estavam em meio a um grupo de famílias da Escandinávia.

Como eles acenaram que não, que não queriam a cerveja, o menino passou a pedir: "Money, money."

Afinal, elas, em português, disseram que não queriam nada nem tinham trocado. Sabe qual foi a resposta dele?

"Ah, aqui perdi meu tempo. Estou gastando à toa o meu inglês."

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Salve-se quem puder

O Estadão online publicou:
JOHANESBURGO - Algumas estrelas de Hollywood resolveram recorrer aos serviços dos sangomas, bruxos sul-africanos, para controlar a ansiedade nos dias que precedem a entrega do Oscar, de acordo com o jornal The Mercury. Elliot Ndlovu, um curandeiro da região de Kwazulu-Natal, usará de sua tradição para acalmar as estrelas.

Ele viajou para os EUA, a convite de uma empresa da Califórnia, e por quatro dias deverá aplicar os conhecimentos da medicina tradicional zulu, bem como medicamentos à base de plantas, sementes e ossos, e também usará a observação das estrelas para adivinhação do futuro de apresentadores e indicados.

Talvez seja também a hora de trazermos o homem até o Brasil, para abrandar o coração dos criminosos, comuns e de colarinho branco, que assolam ruas e plenários desta mui amada pátria nossa, salve, salve.

Salve, salve?
É mesmo. Salve-se quem puder.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Crônicas para Natal

O horizonte e a pérola

A praia se abre ao horizonte

como uma ostra
que oculta a pérola dos mares.

Pirangi, a praia,

é uma área privativa do lazer,
local exclusivo para as férias,
alegre clausura do prazer.

Sua areia é trilha

para todos os pés
que correm para o mar.
E as ondas, mansas,
são mulheres massageadas de ternura.

Pirangi, Veneza do mar,

seus barcos desfilam
sem pressa
nas avenidas de todas as ondas.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Roberto Carlos: a brasa ainda não apagou.

Numa de suas raríssimas entrevistas, Roberto Carlos falou a vários jornalistas e alguns privilegiados turistas do transatlântico Costa Fortuna, onde apresenta shows para uma platéia classe A.

Conversou sobre sua carreira, admitiu a possibilidade de em futuro próximo vir a fazer plástica, revelou-se adepto da malhação para se manter em forma aos 65 anos e até admitiu ter simpatias pelo funk.

Roberto Carlos, que somente não gostou de falar sobre sua biografia não-autorizada, anunciou que publicará uma autobiografia e garantiu: não usa Viagra.
Claro, a brasa ainda não apagou.

Agora, um detalhe: a rigor, qual a importância de tudo isso? Quantos homens de 65 anos também fazem cruzeiros, são riquíssimos, podem até pensar em publicar uma autobiografia, malham diariamente não usam Viágra e ninguém sai à sua procura, para saber detalhes de suas vidas, etc.. etc... etc...?

Respondendo: não há, em essência, qualquer importância. O único - e vigoroso detalhe - é que Roberto Carlos é uma figura midiática, administra muito bem sua imagem, trabalha sua visibilidade e tem todo um passado, também midiatizado, a respaldar sua pessoa.

E as figuras midiáticas são assim: cobrem-se como véu transparente da fama e tornam-se distantes, porém visíveis pela TV, jornal ou revista, internet ou o que mais seja. São visíveis, mas intangíveis, ausentes ao contato visual direto, ao toque de mão, ao carinho, ao abraço.

E disso sobrevivem, e isso industrializam pela mídia. São produtos de massa e assim tornam-se reis.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Crônicas para Natal

Os grãos do passado

Pedras antigas, grãos

do passado de Natal,
respingam essa rua
esquecida e solitária,
ao lado do Solar Bela Vista.

Rua de calçamento irregular,

suas pedras rudes fervilham
sob os pés de quem a caminha.
As pedras são devoradoras
de passos, como, na própria vida,
muitos dos nossos passos se perdem.

Rua antiga, esquecida

numa das dobras da cidade,
esperemos que fiques assim,
como um velho livro.
Guardando, para sempre,
lembranças de passos
que não voltam mais.