sábado, 23 de junho de 2007

É incrível que os ergonômicos se assuntem

Pedi, recentemente, a um renomado sociólogo que fizesse um estudo a respeito da realidade brasileira. Eis o resultado de suas pesquisas:

Quando os tempos se avizinham
de novas estratégias,
o semblante dos mercantes é que se nubla.

Mas, porém, todavia, eternamente,
as instâncias da soberba se estilhaçam.

Entretando, quando os infiéis se gabam,
as clausuras dimanam impropérios.

Se você caminha ao lado da pincéis,
é porque não sabe dos nubentes.

Foi então que os bérberes se avultaram,
na tentativa vã de se calar.
Pois das íngremes fronteiras do painel
rolaram opacos dissidentes.
E a voz dos pastores de tabernas
foram vistas a seguir estradas tardas.

Mas de que adianta um pé de alface orgíaco,
se de Baco não se obtém senão bizarros.
Afinal, quando a fé se desmanchou,
surgiu n'horizonte a efeméride,
a fazer de tolos insensatos.

PS: É assim o retrato do Brasil.
Se alguém entender alguma coisa,
me avise antes que seja bem tarde...
Bom domingo.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Voar é para os pássaros

O País volta a viver o drama dos vôos atrasados, enquanto o governo, ao que tudo indica, não tem autoridade para controlar o motim dos controladores de tráfego aéreo.

Para completar, ministros riem dos passageiros,duramente fustigados pelos controladores. Primeiro, a ministra Suplicy, zombeteira e lépida, disse que todos devem relaxar a gozar. Pudera. A mulher é sexóloga.

Agora, o ministrio Guido Mantega, entre cínico e perverso, expica a situação dizendo que tudo não passa de uma conseqüência do progresso: as pessoas têm mais dinheiro, mais négócios a realizar, mais férias a gozar e assim as coisas acabam prejudicando o setor da aviação.

Até agora não se viu da parte do governo uma ação firme, direta, objetiva, que obrigue os militares a cumprir com o seu dever. Os jornais já falam que eles declararam guerra ao governo e vão manter o país em sombrio compasso de espera.

Só falta algum ministro vir ao púlpito e dizer, com ar solene e mórbido sorriso entre os dentes: "Concidadãos, acalmai-vos! Voar é para os pássaros!"

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Motins da indecência

Os controladores de tráfego aéreo ameaçam o país com um novo motim. No senado, continuam as escaramuças do presidente da Casa, Renan Calheiros. O que há de comum entre um fato e outro? Muito simples: a indecência de um e de outros.

É inadmissível a postura da Calheiros, recebendo dinheiro para pagar a pensão de uma filha; é inaceitável que uma pequena corporação, apoderando-se da condição privilegiada de controlar um sistema vital para a sociedade, buscar chantagear essa sociedade em busca de vantagens profissionais.

A diferença é que em Renan o motim da indecência fica nos planos moral e ético, prejudicando a cultura política nacional e o sentido de dignidade do mandato parlamentar; quanto aos controladores, admita-se a validade das reivindicações salariais, condenando-se, entretanto, o método truculento que põem em prática na busca da obtenção daquilo que pretendem.

Neste país não há céu-de-brigadeiro quando o assunto é honradez.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Calheiros escorre pela calha, pois ficou acanalhado

Maquiavel ensinava que ao príncipe mais vale ser temido do que ser amado. Quando começou o imbroglio Renan Calheiros, o presidente do senado certamente achava-se temível o suficiente para fazer dobrar a Comissão de Ética. Errou. As repercussões na imprensa, o alarido nacional em torno do caso, mostrou ao senador que esse não é uma história para boi dormir. Nada disso.

Aos poucos, ante cada explosão de manchete ou noticiário de TV e rádio, incluindo-se também a participação opinativa na internet e toneladas de e-mails aos senadores deplorando a situação, Calheiros começava a se recolher. O peso da opinião pública veio a calhar contra uma realidade que se apresenta acanalhada.

E agora, quando até seus pares recomendam que ele renuncie, como mal menor a uma possível perda de mandato, caso as investigações sejam levadas adiante, o senador resiste e diz aos jornais que a palavra "renúncia" inexiste em seu dicionário.

Ao que se vê, ainda para lembrar Maquiavel, faltam a Renan a fortuna, que é o conjunto de circunstâncias favoráveis, fortuitas, para que o príncipe reine em glória e paz; e a virtù, a capacidade de perceber o momento histórico que vive e administrá-lo de tal forma que os bons ventos do poder o levem a porto seguro.

Calheiros, ao que parece, achincalhou o próprio nome.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Renan Calheiros: sua queda vem a calhar

Ao contrário do que os jornais vinham prevendo, e do que repercuti aqui, as condições de sanidade política do senador Renan Calheiros não são nada boas. Até já falam que ele pode, realmente, cair, ser atirado para fora da cadeira de presidente da Casa.

As repercussões, poderosas, junto à opinião pública, estão começando a estilhaçar suas bases de apoio, sejam de aliados, sejam de adversários "simpáticos" à sua cambaleante causa.

As coisas de jornal andam dizendo que até o presidente Lula estaria torcendo para que Renan Calheiros entre pela calha e saia pelo ralo, para que a espetaculosidade deprimente de seu desempenho não venha a respngar no governo, que vive um bom momento, político e econômico.

Do jeito que as coisas vão, com a comissão que o investiga acuada, mesmo que tendende a absolvê-lo, a situação pode se complicar. Político é um animal esquivo, ladino e ligeiro, quando se trata de salvar a própria pele.

Quando virem que Renan subiu no telhado, todos começarão a sumir. O primeiro foi o relator, Epitácio Cafeteira. Quando o bule começou a ferver, ele saiu bem depressa. Político que fala muito corre o risco de queimar a língua.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

...e, de repente, veio a água

Natal está coberta de chuva
e as ruas estão inundadas.
Um frio estranho se espalha
pela cidade, como num abraço triste.

O sol, nosso amigo de tanto tempo,
escondeu-se, sumiu, esqueceu-se de brilhar.
As águas, que no sertão são queridas,
aqui somente trazem enguiços, preguiça
e uma vontade pesada de ficar coberto.

Ficou tudo turvo,
e de repente todas as
ruas se enchem de rios.

Vou até a janela
e vejo essas brumas d'água.
A vida também escorre,
como a enxurrada que segue rua abaixo
engolida nas bocas-de-lobo.

domingo, 17 de junho de 2007

O suplício segundo Marta Suplicy

A ministra Martha Suplicy ao comentar, com ironia e desprezo o sofrimento das pessoas que penam nas filas dos aeroportos usou de expressão grosseira e insensata, ao afirmar que, se não há como resolver o problema, todos devem "relaxar e gozar".

A ministra Suplicy parece esquecer o suplício que é ficar horas, quase dias, à mercê de um sistema instável e inconfiável, como se apresenta a aviação comercial brasileira.

Isso dá bem uma idéia de como as elites vêem os problemas nacionais: com um cruel e despudorado olhar. O povo? Ah, o povo, é como dizia Maria Antonieta: "Se não tem pão, coma brioche..."

A arrogância, a insensibilidade, a empáfia, o pernosticismo da ministra, dão bem uma mostra de que tipo de pessoas està à frente das decisões nacionais. Que pena, uma psicóloga que se apresenta como tão humanista, vá cair num ato falho como esse.

PS: vamor aguardar amanhã o desfecho do caso do bom companheiro Renan Calheiros.