sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Começou a cair...

Caros Amigos,
Felizmente enganei-me, quando do comentário de ontem, ao temer que Calheiros poderia manter-se no cargo, apesar de todas as pressões. Ao que parece, com o licenciamento da presidência do senado, os pés de barro poderão levá-lo, mais adiante, à débâcle total. Espero.

Há o dedo do Planalto para a retirada de Calheiros, objetivando com isso a tentativa de aprovação da CPMF no senado. Com ele no comando as oposições seriam bem mais rígidas. À sua falta, estimam os arquitetos do poder, haveria maior possibilidade de flexibilização para a manutenção desse esbulho às contas bancárias.

É o Leviatã mostrando suas garras, querendo a todo o custo força e vida do povo, para manter-se em pleno vigor: dinheiro, dinheiro, dinheiro...

Mas Calheiros começou a cair. Nada garante que seus hoje aliados o acompanhem amanhã, quando forem julgadas as novas acusações que pesam contra ele. Vamos esperar. Após o tropeço, sempre vem o tombo.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Calheiros não quer cair

Caros Amigos,
As coisas de jornal andam informando que o senador Renan Calheiros "está triste, abatido e tenso." Interessante: nas filas do SUS, nos ônibus lotados, nos hospitais públicos, nas escolas, nas delegacias, no fim do mês, nos salários sufocados, enfim, onde haja povo brasileiro, as pessoas também estão tristes, abatidas e tensas; e nenhum político teve pena do povo brasileiro. Sabe quem está com pena de Calheiros? Veja a seguir: a informação a respeito do estado de ânimo de Calheiros, segundo os jornais, partiu do senador Edison Lobão, que integra o grupo de pessoas que confiam - confiam? - existir naquela criatura, em algum ponto do seu íntimo, um homem de bem, servidor da honradez e apóstolo da causa pública.


Aos seus iguais Calheiros tem dito que não se afastará da presidência do senado. A insistência para tanto visa a facilitação de votos a favor da manutenção da CPMF. Segundo os amigos de Renan, com ele no cargo fica mais difícil domar votos em favor desse insidioso imposto que mina até mesmo o dinheiro do mais frácil correntista bancário. Saindo, por cerca de 45 dias, mas mantendo o mandato, ficaria mais fácil conseguir votos dos senadores para que o governo continue e tomar dinheiro do povo.

O ideal será que fossem desalojados Calheiros e a CPMF. Mas, infelizmente, não temos cultura política suficientemente lustrosa para a obtenção de tais feitos.Calheiros não quer cair; parece que vai ficar.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A mendiga e o trânsito

Caros Amigos,
A cena chamou-me a atenção.
O sinal de trânsito havia parado de funcionar perto do meio-dia. Os carros avançavam uns contra os outros no cruzamento da avenida. Nenhum guarda aparecia para dominar o caos. Até que uma mendiga, que sempre estava por lá, amparando um marido doente e cambaleante, atirou-se em meio ao drama urbano e, numa cena impressionante, impôs respeito.

Aquela mulher, magra, mal vestida, certamente faminta, ergueu as mãos e os carros pararam. Depois, determinou que os automóveis do cruzamento podiam passar e os motoristas obedeceram. Com energia patética, ela mandava, os carrões paravam ou seguiam.

Tive ali uma visão impressionante de como a cidadania, nas ocasiões mais absurdas, pode fazer-se valer. Alguém que vive à margem, na miséria mais absoluta, conseguiu domar aquele trânsito infernal e o tráfego fluiu normalmente.

Não precisou de apito, não vestia uma farda, não tinha qualquer autoridade formal para fazer-se obedecer. Valeu sua força e sua decisão.

Tempos depois eu a vi novamente, em outro ponto da cidade. O marido esquálido estava deitado no chão, numa calçada perto do cruzamento de outra avenida. Ela conversava com outra mulher. Esquecida, jogada, ela ali estava com seu frangalho de família, sequer esperando alguma ajuda. Cena bem brasileira, tão comum, que parece normal.

Nunca mais a vi. Está morta, está viva? Não sei. Seu companheiro, tão sofrido, tão fraco, tão doente e dependente, que fim terá levado? Não sei.

Lembrei-me hoje do episódio. Aquele casal, unido na doença e na pobreza, é um exemplo de amor. Aquele mulher, tão forte em sua presença esgarçada, na certa teria merecido algum respeito. Os perversos mecanismos da sociedade brasileira não quiseram. Lá vem o Brasil descendo a ladeira.
Emanoel Barreto

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Quarenta anos da morte do Che

Caros Amigos,
As coisas de jornal estão falando dos quarenta anos da morte do Che. Hoje, ele é uma foto em muitas paredes, ou um retrato impresso em camisetas de jovens que não sabem exatamente quem ele foi e o que pretendia. Mas olham aquele olhar que Alberto Korda captou magnificamente e se encantam com aquele enigma. Depois vão às baladas.

O tempo das revoluções talvez já tenha passado. E as revoluções se transformaram em registros históricos. Ninguém mais, em sã consciência, acredita que a classe operária vai chegar ao paraíso. Os shopping centers garantem isso. As TVs de plasma são mais atrativas que as revoluções.

Somos uma humanidade que teme o aquecimento global, o tráfico de armas e drogas e as ações furiosas de Osama bin Laden.

Não há mais tempo para preparar, ou buscar, ou pensar num futuro de igualdade. Não temos mais tempo para pensar na Revolução. E o Che, como Itabira, é só um retrato na parede. Mas como dói.
Emanoel Barreto

domingo, 7 de outubro de 2007

O que é de César

Caros Amigos,
A sociedade do espetáculo, que se expandiu e se firmou especialmente pela consolidação da TV como veículo primordial de visão e divulgação do mundo, trouxe a reboque uma circunstância inesperada: a midiatização religiosa, transformando Jesus Cristo em super star, Nossa Senhora em mito pop e os anjos em ídolos imateriais.

Isso, em se falando de marketing católico, cujo panteão abrange muitas manifestações de fé, respeito e amor por entidades sobrenaturais. Quando se fala de protestantismo, cujos fiéis hoje preferem ser conhecidos pela marca evangélicos, a coisa fica diferente. Admitem o Espírito Santo como integrante do seu elenco de salvadores. Mas as palmas vão, mesmo, para Jesus.

É da mercadoria Jesus, da marca Jesus, que advêm seus maiores aportes financeiros. A Igreja Católica, da mesma forma, também cultua a figura exemplar do Rabi da Galiléia. Mas, alguns de seus segmentos, midiatizados e extremamente profissionalizados, obtêm êxitos financeiros com programas de exaltação, onde Jesus também é mercadoria fina e rentável.

Este texto, que tem, sei disso, uma apresentação efetivamente crítica, não objetiva criticar a fé, a crença em um ser supremo. Meu objetivo é lamentar a utilização da fé como mercadoria, dentro de um contexto de economia globalizada. Vão longe os tempos em que, nos púlpitos, católicos ou protestantes, se pregava a palavra da crença com o uso da retórica, com gestos grandiosos e oradores de grande poder de convencimento.

Havia, é claro, a atitude teatral, o vigor da palavra, o acendimento da fé mediante o impressionismo. Mas, suponho, existia também sinceridade, o próprio orador imerso em seu discurso. Hoje, o discurso mesclou-se ao discurso televisivo, com os recursos de edição, cortes, enquadramentos, vinhetas e cenários. A isso deve ser ajuntado o desencantamento das multidões, que se encantam novamente via imagem telemidiática.

Há portentosos eventos que são vistos pelos participantes de co-presença, mas que também são vistos em tempo real por pessoas em suas casas. O espetáculo só é espetáculo porque há um público ali presente e esse mesmo público, espetacularizado, é visto por um público não-presente, mas atento, no recôndito do lar, ao que está acontecendo. Há uma cadeia, uma teia de acontecimentos: o grande espetáculo da vida religiosa, visto por quem também tem um sentimento de pertença àquele grupo, todos numa ação global de louvor.

Em verdade, em verdade vos digo: o que vale é a aliança que se forma entre a participação co-presencial e a participação tele-assistencial. Ao fundo, o pastor e o padre conferem com seus contadores quem pagou ou não. Suponho que hoje, de alguma forma, ressurge midiaticamente a figura dos vendilhões do templo.

Talvez seja chegada a hora de todos, todos eles, serem expulsos do vestíbulo, pois suas oferendas são venais e lucrativas. César não quer as coisas de Deus. E, Deus, também não quer o que é de César. Os sofrimentos do mundo são muitos. E vender a salvação virou objeto de lucro. Compre um carro novo, compre a TV de tela de plasma, compre também um jeitinho de escapar do purgatório, ou até mesmo do inferno.

Mas se você quer mesmo ser um justo, fique em paz e deixe Deus de fora dessa coisa de dinheiro. Não precisa nem mesmo rezar, ou orar como dizem outros. Seja honesto, digno e honrado. Creio que isso agrada a Deus. Ser bom é ser feliz, como dizia a minha Mãe. Seja bom e afasta-se dos trinta dinheiros.
Emanoel Barreto