sábado, 3 de novembro de 2007

As pontes de Igapó

Caros Amigos,
Aqui, uma crônica sobre Natal e o rio Potengi.
Um bom fim de semana.
Emanoel Barreto


As Pontes de Igapó

Natal é uma cidade dividida

pelo amor entre o rio e o mar.
E o rio, o rio Potengi, tem, p
or sua vez, seus dois amores.

O Potengi é talvez o único rio do mundo que tem,

paralelas e tão próximas,
duas pontes a cruzar seu coração de águas.

Uma, feita de ferro e quase morta,

o primeiro e mais antigo amor do rio.
A outra, em concreto e enfeitada
pelo trânsito apressado, é a namorada mais jovem.

E entre as duas pontes, abraçado por elas,

o Potengi corre sua vida de águas
e certamente sorri quando o sol se faz poente.

E as pontes, rivais e amigas,
fazem festa no marulhar desse abraço.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

The Ventures - Walk Don't Run (1960)

Caros Amigos,
Uma raridade, com The Ventures. É só clicar.
Emanoel Barreto

YouTube - The Ventures - Walk Don't Run (1960)

Dia de Finados

Caros Amigos,
Aos que já se foram
digo que o mundo
continua tardo,
pesaroso e triste.

E a vida tensa,
perigosa, insana.

Aos que já se foram
quero informar
que os insensatos
perdominam ainda,
falam de incêndios
e fazem matar.

Mas também me lembro,
aos que já se foram,
que há crianças lindas,
rios rebrilhantes,
estrelas cadentes
e fé no amanhã.

Aos que já se foram
peço que confiem, pois
aqui na Terra, mesmo
enlouquecidos,
os tiranos morrem.
Caem lá das torres,
eles também vão.

Como ainda eu vou,
aos que já se foram
peço que me esperem;
vou fazer a festa, subir num
palanque e gritar
que o mundo é louco,
foi escurecido, mas tem
quem resista sem esmorecer.

Mas depois eu volto,
que aqui tem vida, vida
muita vida, olhar de verão.

Saudades,
Emanoel Barreto

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Uma opinião aguada

Caros Amigos,
Transcrevo abaixo o editorial de hoje da Folha de S. Paulo a respeito da realização da Copa do Mundo no Brasil. Acho que foi redigido por alguém que desconhece completamente a realidade do País ou então por algum seráfico e pio jornalista, que acredita nas boas intenções dos políticos.
Veja só:

A Copa e as contas

O BRASIL, candidato único, deve ser oficializado hoje em Zurique como o país-sede da Copa do Mundo de 2014. Mais de seis décadas após o desastre de 1950, quando a seleção nacional perdeu a final para o Uruguai em pleno Maracanã, o país voltará a ser palco da principal competição futebolística do planeta.Trata-se de uma boa notícia. Eventos do porte da Copa são uma excelente ocasião para fazer negócios, incentivar o turismo e obter investimentos em infra-estrutura.


Alguns desses ganhos permanecem mesmo depois de encerrada a competição. É o caso de uma linha de metrô que se construa ou da popularização do Brasil como destino turístico.Só que as oportunidades também podem dar lugar a um pesadelo. Serão certos os danos à imagem do país se cenas de caos aéreo se repetirem durante a competição, por exemplo. Além disso, persiste também o risco de a Copa, a exemplo do Pan 2007, converter-se numa maratona de prejuízos para o erário.

A diferença entre êxito e fracasso está no planejamento. Para que a competição seja um sucesso e os gastos públicos produzam resultados duradouros, é preciso antecipar os pontos fracos e tomar as medidas para saná-los. Muitas exigem um prazo de maturação de anos.Lamentavelmente, o histórico do país e o do governo são ruins. Basta lembrar que a administração Lula assistiu inerte a pelo menos dez meses de tumulto aéreo antes de adotar medidas que parecessem uma atitude.

Também está fresco na memória o Pan 2007. Originalmente orçado em R$ 414 milhões, a maioria em recursos oriundos da iniciativa privada, o custo do evento foi multiplicado por nove: R$ 3,7 bilhões, tudo pago pelo contribuinte. A Copa do Mundo é uma competição muito maior do que o Pan. Se não houver controle, os quase R$ 4 bilhões parecerão brincadeira de criança.E o Brasil já entra no gramado com o pé esquerdo.

O relatório da Fifa que o recomenda como sede parece muito mais um "press-release" do que o resultado dos trabalhos de uma comissão que esteve no país. Não são mencionadas cifras de investimentos necessários. Informalmente, fala-se em R$ 400 milhões para o comitê organizador e R$ 1,1 bilhão para a renovação dos estádios. Difícil acreditar.

A Alemanha gastou mais de R$ 20 bilhões na Copa de 2006. E o presidente Lula, que lidera a caravana de políticos que foi a Zurique celebrar a "conquista" brasileira, já advertiu que não pretende poupar gastos na Copa.A torcida brasileira -pela importância do futebol no país e pela tradição da seleção pentacampeã- merece uma Copa no Brasil. Mas o evento só se justificará se marcar uma mudança na atitude de dirigentes e autoridades. É preciso prestar contas e minimizar o gasto público.

PS: pela falta de energia, pela falta mesmo de opinião (editoriais necessariamente devem ser opinativos, críticos), acho que a Folha, querendo passar a idéia de um jornal ponderado, perdeu a oportunidade de denunciar a falta de respeito para com as contas públicas e para com a cidadania.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Nosso complexo de vira-latas

Caros Amigos,
Agora que a Fifa garante que a Copa de 2014 será realizada no Brasil, será preciso que o Congresso se ajoelhe e prometa: não irá apurar qualquer acusação relativa a multinacionais de produtos desportivos mediante CPIs, a fim de que o País se faça merecedor da esmola de ter aqui um campeonato mundial de futebol.

É que a Fifa não quer, em meio a um tumuldo de uma CPI, ser vista como tendo ligações perigosas com as falcatruas do futebol brasileiro. Acho que um povo não pode ser assim tão humilhado, exposto, achincalhado por dirigentes que, querendo tirar proveito político do futebol, vão à Suíça implorar para que a Copa seja no Brasil.

Este país não precisa de campeonato de futebol: precisa, sim, de escola, saúde, segurança, expectativa de vida para seu povo, emprego, salário digno, moradia. Precisa, enfim, de dignidade, honradez, seriedade e trabalho.

Ademais, sabe-se qua não há infra-estrutura à altura do evento; segurança, nem se fala. Mas dinheiro vai aparecer e bem depressa, seja do governo federal, sejam dos governos dos Estados escolhidos para sediar a Copa. Dinheiro será tirado de programas sociais para ser gasto, para ser dado a multinacionais que virão aqui pilhar um povo que já tem excesso de pouco.

A falta de dignidade do que se convencionou chamar de classe política vai garantir o futebol e os gritos de apoio dos milhões de tolos que cairão nessa emboscada.

Aí, me vem à lembrança Gonzaguinha, em Comportamento Geral:

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado

Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã,
Seu Zé se acabar em teu Carnaval

É isso. O Brasil Merece.
Emanoel Barreto