sábado, 26 de janeiro de 2008

Os carvoeiros

Caros Amigos,
Neste final de semana, ficamos com Manoel Bandeira.
Abraços,
Emanoel Barreto

Meninos carvoeiros

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!

Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
—Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Não podemos amarelar

Caros Amigos,
Os casos de febre amarela, além, é claro, das lamentáveis mortes que provocaram, podem ser entendidos como uma metáfora; bem ao estilo brasileirinho. Vivemos num país de tantos problemas, dificuldades mil e contradições às centenas, que cheguei a uma conclusão: do jeito que está, não podemos amarelar.

É preciso entrar firme no jogo, pisando com maciez no gramado, mas deixando as chuteiras com boas travas, para poder enfrentar o adversário; que, aliás, é um concorrente múltiplo: são as prestações no fim do mês, a gasolina cara, os supermecados vendendo preços em vez de comida, a Universidade reclamando de falta de apoio, e por aí, vai...

Mas, não podemos amarelar. Devemos é seguir em frente. Brasileiro não tem direito de ter medo (já nasceu dentro do perigo); não pode duvidar (pois são muitos os atalhos); nem fugir dos pesadelos (pois já de há muito caminha pela noite); não pode temer o tempo (já que é um povo que entrou na chuva - e é para se molhar ); e sabe que não pode confiar muito, pois como dizia Bezerra da Silva, "Você vê ladrão quando olha pra frente/Você vê ladrão quando olha pra trás."
É isso.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Dê uma chance à paz

Caros Amigos,
Em Minas, um juiz proibiu a comercialização de dois jogos eletrônicos, considerados violentos demais. Crianças e jovens são o público-alvo das empresas que produzem tais jogos, bastante procurados em lan houses.
Não é de hoje que os seres humanos nos divertimos com a violência. Os romanos trouxeram dos etruscos os jogos com gladiadores; no Ocidente e no Oriente, animais como cães, pássaros e até peixes, são utilizados em bárbaros espetáculos. E, em ringues, brutamontes se defrontam em combates cheios de perversidade. A multidão urra e ateia fogo ao circo insano.
Desde já há algum tempo, esses jogos de computador atraem mentes imaturas. De alguma forma, a cultura da violência começa a lançar raízes sociais, refletindo o drama da vida: o mais astuto, cruel, desumano e sanguinário deverá se impor. É a estética da brutalidade. É o discurso negocial do diálogo bruto fazendo valer o seu pregão.
Sofisticando-se nas telas dos computadores, a mensagem da violência faz adeptos, ou melhor, vítimas, uma vez que somente como vítimas pode-se entender que sejam os jovens que a tais jogos se dedicam. Creio que é melhor fazer como John Lennon: dê uma chance à paz.
Emanoel Barreto

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Rumo ao abismo

Caros Amigos,
O mundo está à espreita do que pode acontecer com a economia dos Estados Unidos, como alpinistas que estão presos a uma mesma corda temem que, aquele que vai na frente, se desequlibre e caia, levando todos a uma queda aterrorizante. Essas crises mundiais, desde o terrivelmente inesquecível crack da bolsa de Nova Iorque em 1930, são algo com que a humanidade de alguma maneira convive, para desespero geral, sempre e quando economias estratégicas se desequilibram.

Um complexo, intricado e invasivo processo se espalha, levando junto um importante dado psicossocial que se alastra: o desespero toma conta de todos e, na ânsia de se salvar, esse ser coletivo e imponderável a que chamam mercado, acaba, como Ícaro, precipitando-se no abismo.

E, ao final das contas, lá longe, no fundo do poço, esse ser a que chamam desempregado, olha para seu passado recente, lamenta o que acabou de perder com a crise e, de um modo ou de outro, também se precipita num abismo.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

No fim do túnel

Caros Amigos,
Goethe, em seu leito de morte, teria proferido, como últimas palavras, a famosa expressão: "Luz, mais luz." Enviesando o caso para a realidade brasileira, estamos literalmente precisando de luz, mais luz. Os seguidos anúncios de que estamos às portas de mais um apagão, sempre dando espaço para que o Governo faça seus desmentidos, nos deixam no escuro. Quem terá razão? Os níveis baixos de reservatórios e o acionamento de termelétricas devem ser vistos como indícios bastante claros de que nem tudo é só fogo de palha.

Esperemos que, vindo o apagão e o racionamento de energia elétrica, não fique a conta para o consumidor. Alguém ainda deve se lembrar: quando do último racionamento, veio um reajuste. Como forma de compensar as perdas financeiras dos fornecedores e distribuidores de energia. Ou seja: se o povo não racionasse, pagaria contas astronômicas. Como o racionamento obteve êxito, esse mesmo povo foi punido por cumprir a determinação emanada do Governo. Assim, fica claro que, confirmando-se o apagão, não haverá luz no fim do túnel.
Emanoel Barreto