"Não é justo alguém ter o direito de ter uma empresa de aviação e outro não ter o direito de comer um pão." /////// JAMAIS IDE A UM LUGAR GRANDE DEMAIS. A UM LUGAR AONDE NÃO TENHAIS CORAGEM DA IMENSIDÃO - EMANOEL BARRETO - NATAL/RN
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Aleluia, Gretchen!
Conga! Conga! Conga! A carnavalização da nossa política terá, ao que parece, mais duas insignes figuras: Gretchen, que pretende disputar a prefeitura de Itamaracá, em Pernambuco, e sua filha, Thammy, que intenta ser vereadora por São Paulo, após estrear como atriz pornográfica. Trata-se, como se pode perceber, de duas grandes presenças, cuja visão social e capacidade política são, efetivamente, de admirar.
Ironias à parte, a ocorrência dessas candidaturas, vindo a se confirmar, representará um dado sócio-político a ser levado a sério: a situação chegou a um ponto tal de relaxamento e frouxidão, que figuras típicas do submundo, do caricato e do burlesco encontram-se e sentem-se capacitadas ao exercício de mandatos.
E, eleita uma ou outra, significará um tapa na cara do que se chama de classe política. Todos tão honrados, cheios de moral e pundonor, estarão lado a lado com artistas, digamos assim, de vida livre. É o marginal ocupando um lugar no púlpito antes reservado aos senhores e senhoras do establishment - mas que, na primeira curva da estrada, são flagrados praticando - como direi?-, alcances nos dinheiros públicos.
Com isso, tornam-se iguais à marginália, gerada pelo tipo de sociedade que essas pessoas ajudam a engendrar. Entretanto, os espaços democráticos permitem que, legitimamente, o marginal possa disputar e, claro, desfrutar de um mandato. Não estou falando de bandido; marginal, aqui, é em sentido estrito, aquele que está à margem, que não integra os grupos de dominação.
E como a dança política se aproxima, Gretchen e sua filha poderão, quem sabe, chegar ao Poder. E tome-lhe conga, conga, conga.
Emanoel Barreto
Foto: Ernesto Rodrigues/Agência Estado
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
A luz no fim da dívida
A foto que uso como metáfora do longo caminho que o País percorreu até pagar a dívida externa é de Jean Manzon, o genial fotógrafo francês que fez dupla memorável nos anos 1950 com David Nasser, nos tempos mais vibrantes de O Cruzeiro. O Governo anuncia que foi paga a dívida externa e o País passou, de devedor a credor de outras nações. Não sei se é motivo de orgulho saber que minha pátria agora passou a explorar outros povos. Mas, são as regras do mundo.
Mas a foto, que encontrei por acaso, deu-me a sensação perfeita de caminho percorrido, labirinto subterrâneo, cavernas insondáveis, gente, povo, nação, vidas se movendo no escuro. Fica agora a dívida social, que é cobrada pelas favelas, pelos famintos, pelos que jamais chegarão à universidade.
Na prática, essas pessoas se mantêm no túnel da pobreza e da miséria. E nesse túnel o tempo parou. Mas a foto, pela sua magnificência, é um belo instante do ser humano a caminho do seu próximo passo.
Emanoel Barreto
Fonte: http://fotosite.terra.com.br/novo_futuro/portfolio_pop.php?id=326
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
O momento preciso
A foto acima é de Henry Cartier Bresson, um colecionador de momentos, que congelava em imagens magníficas; ao que sei, sempre em preto e branco, a partir de uma máquina sem maiores recursos técnicos. A ele, bastava o olhar atento, a situação ideal, o ato chamando o olhar, para que surgisse a foto. Coisas de jornal.
Era ele, a partir de seu olhar intenso e descobridor, que captava a vida, o humano ser, o mundo inteiro como que resumido numa foto só.
Foi dele que surgiu a teoria do momento preciso. E o que é isso? Simples: o instante precioso, no momento certo. Um fragmento de tempo, em conexão com um fragmento de espaço se encaixam de uma maneira tal, que permitem o flagrante da vida, a sagração da vida. A rapidez do fotógrafo, a precisão sensível, o momento preciso. É isso. A foto diz tudo.
Emanoel Barreto
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Eu chamo o carcará
A águia americana busca motivos e oportunidades em todo o mundo para fazer valer sua ótica, seus pontos de vista, apetites, intenções e propósitos. Por que os Estados Unidos podem se colocar como paradigma do mundo, estabelecer seus pontos de vista e seu way of life como marco para o planeta? Por que seus agentes desconfiam de tudo, seu governo sente-se perseguido em todo o planeta e, a troco de tal esquizofrenia, passa a atacar qualquer país que seja visto pela águia como ameaça, mesmo que virtual?
É estranha a moldura ideológica que rege os grandes do mundo. EUA e assemelhados estão sempre preocupados, ofegantes perante a história, vendo inimigos em toda parte e, assim, atacando a todos. Aí, sim, os inimigos aparecem. E, à sua maneira, do jeito que podem, contra-atacam.
Aqui, da minha parte, prefiro lembrar nosso Brasilzinho, nossa patriazinha: "Minha terra tem palmeiras/ Onde canta o sabiá."
Mas acrescento:
Águia besta
Vá embora
Vá voando para lá
Pois se um dia for preciso
Eu chamo o carcará.
Emanoel Barreto
Foto: Luis M. Alvarez, AP/WWP
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Adios, Comandante...
Caros Amigos,
A renúncia de Fidel à presidência de Cuba coincide com a entropia do tempo. Ele sucumbe à condição humana, ao desgaste inexorável que corpo e mente são submetidos ao longo de nosso percurso neste planeta.Paralelamente a isso, o mundo mantinha seu processo de mudança: caía o Muro de Berlim; Moscou seguiu na derribada; a China introduzia novas facetas em seu socialismo oportunista e opressor; psicopatas como Pol Pot, no Camboja, iam à dèbâcle; Enver Hoxa e os Ceaucescu foram expurgados pela história. A Coréia do Norte é a Coréia do Norte. Ou seja, o socialismo, ou comunismo, como queiram, revelava sua inviabilidade - pelo menos na práxis que assumiu.
Cuba, ao lado do Grande Irmão, sofreu um brutal processo de estrangulamento econômico, cujas repercussões históricas impediram, disso não resta dúvida, o desenvolvimento de sua economia. Mesmo assim, em aspectos como educação básica e atenção à saúde, a ilha atende bem ao seu povo.
Não tenho qualquer simpatia por ditaduras, mas suponho que, não fora o garroteamento dos cubanos pelos americanos e países centrais europeus, a realiade sócio-econômica, lá, seria outra. Aquele povo demonstrou, no mínimo, capacidade de resistir; e resistir com dignidade.
Claro que, com a saída de Fidel haverá mudanças: primeiro, ele deixa a presidência para assumir a condição de mito, lenda viva cercada pela aura de ser o grande líder e o maior do povo. Morto, estará elevado ao panteão do socialialismso cubano, ao lado de Che e de Camilo Cienfuegos. Enquanto isso, os EUA estarão em compasso de espera, aguardando, em esquina lúgubre, a sua morte.
Seu substituto deverá estar pronto para as mudanças históricas que virão. Agora, e quando Fidel calar para sempre. O sonho do socialismo, que embalou a minha geração, deixou-nos cara a cara com aquilo que a hipocrisia de muitos hoje chama de socialismo real. Ou seja: deu no que deu e ainda não se quer admitir que fracassou. Pelo menos, nesta quadra da história e da maneira como o socialismo foi levado a efeito. Do outro lado, o capitalismo atroz comemora sua suposta vitória e diz que passou o tempo de se lutar por um sistema mais justo. Mas sei que liberdade vai muito além de ter direito a comprar uma TV digital.
Vejamos o tempo passar. O império do tempo nos dará a resposta, algum dia. Aguardemos.
Emanoel Barreto
Foto: Américo Vermelho-30.jun.1999/Folha Imagem