sábado, 17 de maio de 2008

A volta de Indiana Jones

Caros Amigos,
Vem aí um novo filme de Indiana Jones, 19 anos depois da última produção. O imaginário dos povos, desde as épocas imemoriais dos gregos, sempre necessitou de heróis - figuras míticas cujos gestos trágicos, extremados, movidos por sentimentos de doação e de causa, divinizados, elevam o coletivo humano à catarse, à sublimação, à saída sublime, à solução magnificada frente aos abismos do mundo.

O cinema, como antes a história, divinizou as figuras arquetípicas dos grandes líderes, dos guerreiros. Ou então criou personagens, como Indiana Jones, para sintetizar valores e personificar idéias, tudo a partir do velho maniqueísmo: a luta do Bem contra o Mal.

Mas, a realidade é dura. E, em lugar de Jones, temos os militares ditadores de Mianmar deixando seu povo à míngua; temos George Bush e seu belicismo obsessivo; o regime chinês e aquele massacre na Praça da Paz Celestial, lembra?; os corruptos que infestam a cena pública brasileira; a fome que grassa como uma epidemia na África; e, não há como fugir, a condição humana, que nos leva aos desatinos e à dor, aos desacertos e todas as insanidades.

Mas, por algum tempo, na tela, Jones vai voltar. E de alguma maneira vai encontrar em mim aquele menino que assistia seriados em preto e branco no Rex. E vai dizer que, seja como for, vale viver essa vida que vale a pena por que a alma, esse amigo que mora em nós, não é pequena.
Um abraço de fim de semana.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Minotauro da vida

Caros Amigos,
Procurando na net assuntos para comentar, descobri, não sei com que atraso, que existe um movimento internacional chamado Peta, ou People for the Ethical Treatment of Animals – Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, que protestam, digamos assim, com bastante veemência. E buscam, em ações disruptivas, achar nichos de mídia para fazer valer suas pregações e alcançar notoriedade.

Denunciam, por exemplo, tratamento cruel de ovelhas na Austrália, para a obtenção de lã, matança de animais para fabricação de casacos de pele, alimentação à base de carne e touradas. Tanto, que a jovem da foto - de autoria não assinalada -, está figurando um miúra, aqueles enormes e imponentes animais massacrados pelos matadores de Espanha em tardes de sol.

É um movimento que, ao lado de grupos como o Greenpeace, terá, ao longo do tempo, possibilidades de crescer, ou pelo menos firmar-se como marco defensor desse ethos, podendo obter alguma representatividade junto à sociedade civil. A questão são os métodos, certamente considerados como ultra-radicais e até chocantes por olhares ligados ao establishment e que, mesmo sensibilizados pelas bandeiras pró-vida, teriam dificuldade em participar, mesmo que discretamente.

Mas, são os sinais dos tempos: as metrópoles, esses grandes e complexos seres urbanos, são movidas por um conjunto de reivindicações, numa intricada trama psicossocial, econômica, comportamental e política. E nesse oceano de gente e pulsões, aparercem os protestos, os gritos, a visão de que é proibido ser desumano.

De qualquer forma, vemos um mundo que, se de um lado sente o neoliberalismo buscar impor sua lógica de que tudo é mercado e assim deve permanecer e ampliar-se, de outro, ou outros lados, vêem-se pessoas e grupos dissidentes, apontando alternativas que, convenhamos, são muito mais humanas e têm um conteúdo ético admissível, pelo menos enquanto movimento de protesto.

Ousadias e picardias à parte, é pelo menos interessante saber que a irreverência de alguma forma desnuda as intenções ocultas e inegavelmente cruéis dos senhores do mundo. A moça da foto é uma espécie de Minotauro da vida. E caminha pelo dédalo da vida, criticando, com sua estética do corpo nu, as vergonhas escondidas de quem só faz o mal. E, com o mal, lucra, lucra muito.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O pão dos pobres; fortuna dos ricos

Caros Amigos,
A Folha Online informa, em matéria da editora-assistente de Dinheiro, Karen Camacho, que "o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) elaborou um levantamento que aponta as desigualdades no Brasil. Um dos dados mostra que os 10% mais ricos concentram 75,4% da riqueza do país.
Os dados, obtidos pela Folha Online, serão apresentados pelo presidente do Ipea, Márcio Pochmann, nesta quinta-feira ao CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). O objetivo, segundo ele, é oferecer elementos para a discussão da
reforma tributária.
A pesquisa também mostra como é essa concentração em três capitais brasileiras. Em São Paulo, a concentração na mão dos 10% mais ricos é de 73,4%, em Salvador é de 67% e, no Rio, de 62,9%.
Para Pochmann, a
injustiça do sistema tributário é uma das responsáveis pelas diferenças. "O dado mostra que o Brasil, a despeito das mudanças políticas, continua sem alterações nas desigualdades estruturais. O rico continua pagando pouco imposto", afirmou.
Apenas para efeito de comparação, ao final do século 18, os 10% mais ricos concentravam 68% da riqueza no Rio de Janeiro --único dado disponível."

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Como se vê, a injusta e secular divisão de renda no Brasil é um dado histórico alarmante. Nesse complexo, reúnem-se aspectos que vão desde o puramente econômico, passam pela geração de preconceitos étnicos e de gênero, forjam comunidades corporativas no âmbito político-administrativo e deságuam na miséria e na pobreza, na violência e no banditismo, na corrupção e dilapidação de valores relativos à cidadania.

A mobilização por uma reforma tributária é, assim, além de um fato de política fiscal, a fundação de um novo ethos, uma nova forma de convivência social, obrigando-se aqueles que têm mais a pagar para poder ter esse mais. É preciso uma taxação direcionada às grandes fortunas, é preciso redirecionar o poder do Estado sobre as elites, a fim de que estas se entendam como co-responsáveis pelo estado de coisas que aí está posto. O problema é que o Estado é feito pelas elites e para as elites. Assim, fica difícil a busca de justiça social. Mas, de qualquer maneira, que venha uma reforma tributária.
Emanoel Barreto
Foto: Martha Albuquerque - Favela da Rocinha-Rio

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O afeto que se encerra

Caros Amigos,
Com a saída da ministra Marina Silva, encerra-se o período de presença de alguém que tinha compromissos com a floresta, com o meio ambiente, com a vida. Conhecedora profunda da Amazônia, até porque de lá, foi aos poucos sendo cerceada pelos colegas de ministério, até chegar ao ponto da renúncia. Não que Carlos Minc venha a desmerecer o cargo. Ao contrário, tem perfil e biografia que a isso o credenciam.

O problema é que, com a saída da Ministra, as forças que a ela se opunham dão demonstrativo da capacidade de fazer valer seus interesses. As serras comemoram, rosnando seu grito de corte. E, com a saída de Marina, é o afeto que se encerra.
Emanoel Barreto

terça-feira, 13 de maio de 2008

Bendito é o fruto

Caros Amigos,
Em meio ao caos em que se transformou sua vida, o atacante Ronaldo está em vias de, num lance de dados da boa fortuna, começar a inverter a situação: o anúncio de que sua namorada Bia Antony está grávida, chega como uma bênção a quem tanto já se penitenciou ao deus da mídia, ou como uma daquelas bolas que somente rolavam para Romário empurrar ao gol.

Hoje, no programa de Ana Maria Braga, ele compareceu e foi alvo de paparicos; recebeu declarações de apoio e incentivo, ante uma apresentadora reverencial e prestativa. Tanto o programa de Ana Maria, quanto a entrevista no Fantástico, semana passada, não passam, estou certo, de uma poderosa ação de markrting pessoal a fim de reavivar Ronaldo enquanto marca. Ele é, além de uma pessoa, um produto, um ser midiátido, do qual os grandes conglomerados econômicos ligados ao esporte se nutrem e engordam. Esses podem engordar, Ronaldo, não.

Tal é a lógica do grande capital que o financia e dele aufere seus dividendos. Detalhe: na entrevista ao Fantástico, Ronaldo estava, podemos até dizer, malvestido. Abatido, roupas com aparência de coisa já muito usada, chinelos simples. Tudo, tudo para compor o tipo; expor, via vestuário, o que estaria se passando no interior, no intimus do craque. É admissível que ele estivesse mesmo acabrunhado. A roupa foi apenas o complemento, o cosmético feioso que ajudou a formar a imagem do sofredor arrependido. A estética da depressão como artifício dramático.

Agora, quando se fala num filho, a trilha, roteiro que rege a vida das pessoas de mídia, funcionará como a água purificadora do pecado impensado. Será uma sinfonia mágica, um tilintar suave de sininhos a sinalizar que o pesadelo está para acabar. Shhhhhhhhhhhhhh.... Silêncio, vem aí um bebezinho... Bendito é o fruto do vosso ventre, Bia.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Desumanidade: o patrocinador oficial do Caso Isabella

Caros Amigos,
O Caso Isabella. Não há mais o que dizer.
Todas as lágrimas já foram choradas.
Só falta a Globo assinar contrato de exclusividade
para entrevistas com familiares.
Emanoel Barreto