sábado, 14 de junho de 2008

Porque ficou em você

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Abaixo, uma definição de saudade.

Saudade é a gota do teu perfume,
O primeiro raio de sol,
A noite feita de brisa
e um calmo escurecer.


É o cheiro do teu cabelo,
Teus passos de maciez,
O silêncio de nossas coisas,
o nosso mundo, marfim.


Saudade é a alegria,
que antecipa a volta
de alguém que nunca partiu,
porque ficou em você.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A Melancia e a opereta bufa

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A dançarina Andressa Soares, que tornou-se mais conhecida como Mulher Melancia, está batendo recorde de vendas da "Playboy". A indústria cultural sempre se utilizou do corpo feminino para alavancar vendas; desde cerveja a automóveis, de roupas a produtos de beleza. As chamadas revistas masculinas, que tratam a mulher como produto, matéria-prima de seu conteúdo, quando é preciso apelam para a vulgaridade e a nudez chula.

O exemplo mais forte é o de Melancia, uma jovem de beleza, digamos, burlesca; algo grosseira e muito bufa. Vulgar e gravemente espalhafatosa, Melancia já anunciou que compôs uma certamente bela canção, intitulada "Baba, cachorrão". Em seus shows, o hit será grande sucesso, convenhamos.

Vivemos, nos meios de comunicação voltados para consumo de massa, especialmente aqueles que se voltam para entretenimento, uma fase de muita grosseria, baixeza; uma realidade de mídia caricata e que atende a um público tipo senso comum. As TVs de todo o mundo exploram esse tipo de atração e têm em troca grande audiência, que é vendida aos anunciantes. Faustão que o diga.

O ser humano, como na Playboy, como em todo o sistema da indústria cultural, é usado como elemento de venda, mirando o mercado que absorve esse tipo de material. Ao que parece, é uma tendência em toda a TV aberta, com repercussões na mídia impressa e, também na net. Essa repercussão se dá mediante comentários críticos ou em aplausos e incentivo a tais produções.

Fala-se que tudo é um esquema, um sistema: as TVs abertas aderem abertamente ao mau gosto, obrigando o público de maior poder aquisitivo a comprar programação a cabo. Isso em nível mundial. Faz sentido, faz sentido.

No mais, ao Brasil, minhas comiserações. A divulgação de Melancia servirá para consolidar ainda mais nossa imagem de país de orgias, uma terra de bacantes, de mulheres fáceis e semi-nuas - ou nuas mesmo - a dançar e a cantar por aí. Talvez sejamos mesmo uma opereta bufa.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Todo mundo de quatro pé... Já!

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A colunista Mônica Bérgamo, da Folha, dá a seguinte informação: "Claudia Matarazzo, responsável pelo cerimonial do Palácio dos Bandeirantes, reforçou as aulas de alongamento para preparar os assessores do governador José Serra para a visita do príncipe Naruhito, do Japão, no dia 21. É que o protocolo japonês exige que se curve até mais de 90 graus - "quase encostando a testa no joelho" - para cumprimentar o herdeiro do trono. Sem nunca olhá-lo nos olhos ou estender-lhe as mãos. A regra só não vale para o governador."

Sabem o que acho? Acho muito errado. Fazer uma reverência ao Príncipe, de apenas 90 graus? Que absurdo! Acho que é até uma ofensa, um insulto, mais que isso: um ultraje!
Temos que estar cientes de que somos um povo inferior, mestiço, muitas etnias juntas ao longo da história para no fim dar esse povinho brasileiro, ralé e chulapa... Não... para o Príncipe, deveríamos, todos, nos estirar no chão ou, como se dizia antigamente no sertão, ficar todo mundo de quatro pé, para o Príncipe passar sobre nossos espinhaços.
Deixo aqui o meu protesto e digo: se já nos curvamos tanto, bem podemos descer mais...
Emanoel Barreto

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Demos graças a Deus...

Caras Amigas,
Caros amigos,
Graças a Deus o Governo conseguiu que os deputados aprovassem a recriação da CPMF, agora sob o codinome de Contribuição Social para a Saúde. Graças a Deus.

Vocês se lembram de que, quando havia a CPMF, tudo funcionava bem, os médicos iam aos postos de saúde e hospitais públicos, havia medicamentos para todos, respeito e atendimento a qualquer hora? E de que, quando a CPMF acabou, tudo ficou ruim, com filas como essa da foto se alastrando quarteirão afora? Não quero nem pensar.

Graças a Deus, tudo vai voltar. Tudo vai ficar bem, tudo ficará como sempre devera. A contribuição que todos pagaremos vai garantir que os pobres, os desvalidos, terão atendimento digno de um ser humano.

As coisas de jornal andam dizendo que o Governo, para garantir a aprovação, irrigou com verbas os alqueires parlamentares. Não acredito. O Governo, fazer isso? Jamais. A retidão ética não o permitiria. Assim, confiemos que agora a Saúde terá atendimento de qualidade e o povo, sofrido que só ele, ficará muito mais feliz.
Emanoel Barreto

terça-feira, 10 de junho de 2008

"Heil, Hitler!"

Caras Amigas,
Caros Amigos,
As coisas de jornal informam que nos últimos dez anos os gastos militares cresceram 45 por cento no mundo. Não tenho idéia do quanto cresceu a fome; acredito que mais, muito mais que este percentual.

Então, vem-me a pergunta: por que gastar tanto dinheiro com o aperfeiçoamento de material letal; por que as fábricas de armamentos se esmeram tanto em produzir máquinas que matam com precisão magnificada? Por que não mandar ajuda a refugiados, comida a favelados, civilização e uma cultura de paz ao mundo?

Os humanos somos os únicos animais na Terra que trucidam, matam por esporte, assassinam para manter o poder, torturam, esganam, oprimem, especializam-se em competições de violência.

A insanidade instala e instila o medo, provoca o pavor nas crianças, usa tecnologia mortal. Então, vem-me a certeza: Hitler vive. Aliás, sempre viveu. Hitler não era um homem: representava um modo de pensar e de viver. Hitler continua, in memoriam, matando vidas e solapando a paz. Hitler está em cada bala, bomba, mina ou arma que atira e destrói. E cada vez que um comandante determina: "Fogo!", está na verdade gritando: "Heil, Hitler!"
Emanoel Barreto

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Chuck Berry quer comer

Caras Amigas,
Caros Amigos,
O velho (81 anos) e sempre bom Chucvk Berry, está em São Paulo para um show. As coisas de jornal estão registrando, o que é muito bom. O artista é parte da história da música do século 20 e tem um estilo inconfundível. Traz a seu lado um filho, o Jr., guitarrista, e a filha Ingrid Berry Clay, na gaita.

Tudo isso a Ilustrada, da Folha, anotou, mas, precisava dizer que o astro quer comer costeletas de porco após o show, e que duas pizzas devem chegar ao camarim 40 minutos antes de o espetáculo terminar?

São essas coisas que nao entendo, nas coisas de jornal. Essa necessidade que os jornalistas temos de trazer às páginas essas tolices, esses faits divers, que em nada contribuem para a compreensão da matéria ou realce de sua importância.

Jornalismo deveria se voltar mesmo era para os casos importantes, respeitando-se os respectivos nichos das informações. Mas dizer que alguém, só por ser célebre quer comer costeletas já é um certo exagero, não? Ou, admitamos, tietagem do repórter.
Emanoel Barreto

domingo, 8 de junho de 2008

A chuva e a carpideira

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Chove lá fora.
Natal estranha o sol que não chegou.
E a chuva cai como pesado pranto,
não sabe bem porquê.

Talvez pela própria vida.
Talvez pelo não-viver.

Quem sabe pela existência
que se finda em todos nós

E a chuva é o choro antes
da carpideira, agourenta,
dizendo que vai chegar.
Chove.
Emanoel Barreto