sexta-feira, 4 de julho de 2008

Um sonho de abismo

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Talvez um largo tempo a ser perdido,
Quem sabe, instante a ser desperdiçado,
Talvez a queda valha o sonho da Beleza,
Mesmo que o abismo se anuncie: "Cheguei"

Vale a pena mergulhar no abismo,
mesmo que seja o mais belo abismo em todo o mundo?
Vele a pena não correr os riscos,
e morrer em casa protegido - e mesmo assim com medo?

Vale a pena descobrir seus próprios abismos,
conversar com eles e depois partir.
Vale a pena cultivar abismos, plantar-lhes
seus sonhos, conversar com eles e depois ficar.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O moral da tropa


Caras Amigas,
Caros Amigos,
Para se destruir um exército não é preciso a sua eliminação física. Um exércico começa a cair quando perde o moral, o incentivo, a motivação para lutar. Então, grassa em seu meio a desarticulação, a sizânia, o acabrunhamento. Creio que é isso o que poderá acontecer com o grupo armado que seqüestra, explora suas vítimas e ganha dinheiro com cocaína na Colômbia.
Com a morte de diversos líderes e agora com a libertação de Ingrid Betancourt, seu mais precioso trunfo, suponho que esse estado de ânimo poderá apoderar-se de seus homens. Tropas não combatem se não estão defendendo uma idéia, uma essência, uma utopia. Quando um grupo armado e supostamente movido por uma ideologia vê esgarçar-se seu tecido social, perde o rumo e o sentido de pertença.
Talvez esteja mais próximo do que se espera o fim das Farc. Não defendo o governo da Colômbia, aliado íntimo dos Estados Unidos; mas também não posso concordar com a vitimização de pessoas, usadas como moeda de chantagem. Espero que a história venha a registrar o fim dos narcoguerrilheiros e, após, a Colômbia possa se encaminhar em direção a uma sociedade democrática, sem exclusão e a brutalidade dos grupos de extrema direita.
Uma situação histórica marcada pela exploração de um povo por elites inescrupulosas, não justifica ação de bando armado que se apresenta como defensor de uma nova realidade social, mas age como quadrilha. O tempo dirá. Esperemos.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Recuerdos de la muerte

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A libertação de Ingrid Betancourt representa um duro golpe assestado sobre os traficantes colombianos que se apresentam como guerrilheiros. As informações superficiais que a net divulgou indicam que a ação resultou de um meticuloso trabalho de inteligência e infiltração junto aos traficantes, o que garantiu a liberdade de Igrid e 14 outros prisioneiros.

Setores da esquerda insistem em atribuir a esse grupo a situação de insurentes e um status político que o coloca bem acima do que realmente são: traficantes e seqüestadores. Em 1964, quando começaram a atuar, as Farc até poderiam ser chamadas de grupo de ação armada revolucionária. Após isso, ao unirem-se a traficantes, não resta dúvida de que são apenas criminosos.

É muito fácil alegar-se uma causa justa, como a defesa de um povo perante uma situação histórica avassaladoramete cruel e opressora, como a que vive a Colômbia. Mas esse discurso se esvai quando o núcleo intelectual regente do grupo cede o espaço da ideologia à busca de dinheiro, adotando táticas de terrorismo e desrespeito aos direitos humanos.

Nada que venha da droga presta. Não há motivo justificador do seu uso como moeda de troca para a obtenção de armas que serviriam a uma suposta revolução. As bandeiras históricas da esquerda, seu humanismo e utopias desejáveis, se esboroam quando mescladas como atitudes típicas de bandidos comuns.

A Colômbia vive uma tragédia nacional. De um lado, as Farc; do outro, os traficantes, digamos, tradicionais a estas aliados, e afinal, no terceiro ponto, um governo que não tem qualquer intenção de mudar o sistema de exclusão social histórico e dantesco.

Com relação a Ingrid, que tenha o direito a uma vida digna e em libedade. Suportou um inferno quando prisioneira dos traficantes. Terá agora que conviver para o resto da vida com os seus recuerdos de la muerte.

Emanoel Barreto

Foto: Agência Efe

terça-feira, 1 de julho de 2008

Meu amigo sapo chinês

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Sou amigo de um sapo na China. É, é, um sapo. Por que não? Sou amigo de um sapo na China, como mantenho excelentes relações de amizade com um tigre de Bengala, um urso polar e um macaco estranhíssimo. Sabe aquele Zubumafu da TV? Pois é: trata-se de um daqueles. São bichos legais, cheios de uma boa conversa e coisa e tal. Pois, bem: ontem, recebi um email do meu amigo sapo, reclamando da situação política de lá, da poluição bárbara que o governo proporciona em nome do progresso. E, claro, dos terremotos. Leiam na íntegra o bilhete do meu amigo sapo. Ele se chama Zong Tiau Zhing. Eis o que disse:
年7月1日

カジメがかわいい
2001年から毎月計測して、生長の様子を見守ってきたカジメたちがある。カジメというのはコンブの仲間の大型海藻で、かたちは海の中の椰子の木みたいな感じだ。岩の上に根を張って固い茎を立てて、その先端に茶褐色の葉を茂らせる。でも、陸の椰子の木とはちがって、大きくても高さはせいぜい2メートル程度なのだ。カジメがつくる海の森は生物の寄り合う場所なので、海辺からカジメがごっそり無くなったりすると、生き物たちもごっそりいなくなる。そんなわけで、カジメを大事にする必要があって、ずっと調べている。いつどんな時によく育つか、どれくらい生きるか、どんなふうに子供を分散させるか、競争はあるか、動物とはどんな関係にあるか・・・などなど知りたいことは尽きない。そんなわけで、毎月水深10メートルまで潜っていって、決まったカジメたち60本ばかりの生長データをとってくる。カジメにもずいぶんと個性があって、ノッポや太ったの、スベスベできれいなのやできものや付着物で被われたもの、真っ直ぐ伸びたものやなんだかグニャグニャ曲がったもの、などいろいろある。違いが分かるので、毎月眺めていると、なんだかかわいく思えてくる。8年目になって、最初の頃の個体はもうみな死んでしまった。寿命は長くても6年程度なのだ。でも、その後植え足したものたちもあり、自然に生えてきたものもあって、まだまだ付き合いは続いている。カジメ君たち今月も会いにいくよ!
投稿者 onenote 場所
23:39 0 コメント
ラベル: .

Entenderam? Ficaram preocupados? Não entenderam? Então, explico:
ele está dizendo que, de repente, os sapos passaram a ser perseguidos como inimigos do Estado. A acusação leva em conta o fato de que sapos andam aos saltos e como isso estariam estimulando a concorrência ao estilo capitalista. E isso, mesmo levando-se em conta que o sistema de lá admite uma forma concorrencial entre empresas. Mas o problema é que os sapos, aos pulos, não pagam impostos e agora estão sendo duramente caçados. Pular, na China, significa driblar, enganar, esquivar-se, entendem? Por isso, ele está na mira dos tiras.

Estou providenciando um esquema clandestino par libertar meu amigo sapo e sua mulher. Mas, já estou com dor na consciência. Quando ele chegar, logo vão notar que não fala uma palava de português e talvez queiram deportá-lo. Talvez mesmo a Polícia Federal monte a Operação Brejo Seco para capturar o meu amigo.

Por precaução vou levá-lo para a Amazônia. Mas o prloblema, lá, é ele escapar da devastação. Mesmo assim, dos males, o menor: aqui, como clandestino, ele não terá que pagar impostos. Pode pular à vontade. Os políticos não fazem o mesmo?
Emenoel Barreto

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Quem nunca quis ser um jogador de futebol?

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A relembrança do primeiro campeonato mundial do Brasil, além de evocar-me o início da subida da Seleção como referente internacional no jogo que fascina o planeta, permite também outro enfoque: não sei se hoje ainda somos o gigante, o time que só pelo nome exigia dos adversários reverência, cuidados táticos enormes e uma pontinha de temor. A Seleção era, como dizia Nelson Rodrigues, a Pátria de Chuteiras.

Com a explosão do futebol como negócio na Europa, somos muito mais um celeiro de craques que uma Seleção, no sentido como o brasileiro passou a entendê-la: um patrimônio imaterial do povo brasileiro; uma espécie de ego coletivo que supria ou pelo menos compensava nossa tragédia histórica, amenizando a dor mesma de sermos brasileiros.

A Seleção resgatava nos cantos mais escondidos da nossa alma coletiva um sentimento de pertença, uma alegria louca e linda, um grito dramático de gol que na verdade era um brado de desespero social. As lágrimas da vitória eram as lágrimas escondidas do dia-a-dia.

A Seleção de Dunga, parece-me, é mais um emaranhado de jogadores, uma corda de caranguejos que andam de lado, que uma equipe que mereça ser chamada de Seleção. Hoje, pegamo-nos assistindo jogos de times ou seleções de Europa: e vibrando. A Eurocopa prendeu a atenção dos brasileiros quase como se fosse um jogo da Seleção ou uma final no Rio ou São Paulo.

Alguém dirá: mas é a globalização. Pode até ser, mas representa também uma perda da nossa identidade no esporte que mais representa o brasileiro. O jogo-samba, que enchia nosso olhar de devaneios vibrantes e admiração severa. Sim, severa, porque a Seleção, além de jogar contra alguma outra, jogava contra a sua própria história. Os jogadores tinham como adversários as lendas de Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Jairzinho..., com quem inevitavelmente seriam e são comparados. Toda a mitologia ensina que a Seleção tem de vencer. Ou vence, ou não é "a" Seleção.

Não sei, parece que é inexorável essa mudança, essa perda. Grandes jogadores quase nada rendem quando vestindo as cores do Brasi; mas dão show quanto jogam na Europa. Assim, o nosso povo, desvalido e perplexo, perdeu até mesmo o direito de se chorar em seus gritos de gol.
Emanoel Barreto

Ilustração: http://paulojales.files.wordpress.com/2006/12/futebol.jpg