sábado, 12 de julho de 2008

Classificados de empregos: atenção, últimas vagas


Caras Amigas,
Caros Amigos,
Empresa nacionalmente conceituada, com sede em Brasília, admite profissionais qualificados, com a máxima urgência, para as seguintes especialidades:

Corrupto - os candidatos devem apresentar currículo com descrição de suas atividades nos últimos cinco anos e cartas de recomendação. Exige-se discrição, competência para subornar, fraudar, mentir, perjurar, caluniar, difamar, desviar fundos públicos e formar empresas em paraísos fiscais.

Patife - para o cargo é preciso que não se tenha qualquer caráter, meios termos ou noções de ética ou moral.

Prevaricador - especialidade da qual se exige muita perícia, o pretendente deve necessariamente conhecer os meandros da administração pública e dispor-se a ter comportamento compatível com o cargo ou seja: não temer a lei e ter certeza de impunidade.

Pilantra - cargo operacional, o candidato deverá demonstrar gênio assombroso para agir sob pressão e transportar valores sob risco de captura. Garantimos assistência jurídica compatível.

Safado - os admitidos serão treinados como tropa de choque para possíveis enfrentamentos com a polícia. Assegura-se aos contratados planos de fuga em caso de cometimento de crimes de morte no cumprimento do dever.

Maus caráteres - essenciais em toda organização como a nossa, o mau caráter deve, imperativamente, esquecer quaisquer aspectos atinentes a coisas como respeito por verbas destinadas a obras sociais urgentes e estar dispostos a municiar de informações os demais setores aqui mencionados.

Laranjas - tais especialistas devem ser suficientemente ingênuos (às vezes nem tanto), para liberar suas contas bancárias ou endereços a fim de que possamos, por esses meios, implantar uma poderosa organização de desvio de fundos.

Trambiqueiros - tipos dotados de notável amoralidade, serão utilizados em pequenos serviços, como subornar funcionários dos escalões mais baixos, a fim de obter informações que, circunstancialmente, venham a ser necessárias ao empreendimento de grandes golpes no erário.

Lobistas - importantíssima função, o lobista precisa ter grande rede de contatos e estar disposto a fazer funcionar seu arsenal de relações. Em caso de necessidade, pode usar de artifícios que vão da simples mentira até a coação, a fim de conseguir a obtenção de ganhos imorais.

Vigaristas - última especialidade com vagas, o vigarista deve ser criativo, ter dotes teatrais e sugerir aplicações de golpes nos mais diversos setores da administração, fazendo-se passar por figurões ou ricaços.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O povo estropiado e os ricos descontentes

Caras Amigas,
Caros Amigos,
O recente episódio da prisão de três ilustres apropriadores das coisas do povo trouxe a público algo até então, para mim, apenas latente: o poderoso sistema de proteção que a elite estabelece para si, cobrando da polícia tratamento especial para os criminosos, digamos.., de classe...

Vocês entendem o que quero dizer...

No senado, enquanto o senador Pedro Simon erguia sua ira santa contra os criminosos e defendia que eles deviam, sim, ser algemados no momento da prisão, o senador Arthur Virgílio dizia que não, que as algemas eram desnecessárias e que houvera espetacularismo da Polícia Federal ao permitir que fossem gravadas as cenas da captura dos procurados.

Virgílio, não tenho dúvida, era movido pelo sentimento de solidariedade de classe. Nada pior para alguém da elite que ver um seu igual atirado ao laço da polícia e aparecer não na coluna social, mas no jornalismo que denuncia a ocorrência de crimes e os seus fautores.

Jamais vi o senador lamentar que algum pobre tenha sido preso sob as lentes das câmeras; e isso ocorre todo dia. As elites até aceitam ter alguns dos seus capturados: mas com elegância, tremiliques, discrição e charme. A Polícia Federal, portanto, precisa é de savoir faire, luvas de pelica, gestos delicados. Xá pra a escola de boas maneiras, seus policiais malvados!!!

Imagine, um ricaço ser preso sob o alarde da populaça. É algo inaceitável. Afinal, ele não matou, não estuprou, não torturou, não esganou; não tem as mãos, como se dizia antigamente, tintas de sangue. Seu crime é branco, alvo como os papéis onde redige seus mandados secretos e viscosos.

E quando o rico patife é trazido à luz, quer agir como os vampiros: ocultar-se depressa, para não morrer. De vergonha não é, pois não a tem; mas para escapar do brilho que lhe ilumina a cara, que queria ter sempre em meio às sombras tão amigas.
Emanoel Barreto
Ia esquecendo: a foto é para mostrar o resultado da corrupção: os pés estropiados do povo, que somente vê na cadeia um outro pobre; e não encontra, entre os presos, aqueles que bebem os crimes em goles de champanhe.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A carne empacotada

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A Peta é uma organização cuja sigla em português quer dizar algo como "pessoas a favor dos direitos dos animais". Caracterizada por intervenções pouco convencionais, sempre apelando para a nudez de seus adeptos em atos públicos, a Peta nos aponta algo que é terrível e acompanha a humanidade desde o seu nascedouro: a crueldade.

No caso, eles apontam a crueldade contra os animais, mas, de fundo, referem às ações brutais do ser humano em situação plena, ou seja: atingindo outras pessoas, animais e o meio ambiente. A metáfora apresentada pela ilustração faz-nos pensar. Trata-se de uma licença poética dramática. E, ao vermos seres humanos empacotados como se faz com carne de animais em supermercados, vem-nos ao olhar aquela tristeza pesada: como somos violentos.
Emanoel Barreto

terça-feira, 8 de julho de 2008

Logo, logo, ele vai estar solto...

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A foto mostra o momento em que Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo era capturado pela Polícia Federal. Ele, Naji Nahas e Celso Dantas são nacionalmente conhecidos como corruptos. Todos foram presos. Detalhe: se todos os corruptos que a PF captura fossem mantidos na cadeia, em breve surgiria uma empresa especializada para criminosos de fino trato, a lhes atender pedidos de caviar e outros, permitam-me, acepipes, adequados às suas requintadas práticas culinárias.

Mas a verdade é a seguinte: em mais alguns poucos dias todos estarão soltos. Não vou enumerar a lista de acusações de cada um; deixo para as coisas de jornal. Aqui, somente lamentar esse estato de coisas.E mais: tenho convicção de que crimes de colarinho branco, quando não são punidos, de alguma forma repercutem no que chamamos de democracia.

Com a impunidade historicamente instalada, cria-se uma cultura em que as pessoas passam a desacreditar na eficácia das leis; esquivos e bem remunerados advogados promovem salamaleques jurídicos e terminam por libertar seus polpudos constituintes.

E onde existe uma situação tal é indício de que a democracia, que inclui o estatuto de não roubar e não deixar roubar, termina arranhada. Além, é claro, de questões como a fome, a miséria e a pobreza, que também autorizam a dizer que no Brasil não há democracia.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Vamos chamar Branca de Neve?

Caras Amigas,
Caros amigos,
Sob pressão da CBF, Dunga convocará Ronaldinho Gaúcho para compor a Seleção que disputará o jogos de Pequim. As coisas de jornal andam dizendo que será sua última chance. Se fizer papel feio, a Bruxa estará solta e ele terá que fugir para a mina dos Sete Anões.

Desde o princípio, tive a impressão de que Dunga não daria certo. Lembram da Lei de Murphy, aquela que diz que se uma coisa pode dar errado ela dará errado? Creio que foi isso o que aconteceu. A não ser por efeito de alucinação, alguém poderá dizer que a Seleção vem jogando bem, ou muito bem, como seria de se esperar.

O grupo vem se arrastando, passo a passo, pesadamente, na tentativa de classificação para a Copa do Mundo. E caso Dunga continue com esse jogo da altura de um rodapé, talvez seja melhor chamar Branca de Neve.
Emanoel Barreto

domingo, 6 de julho de 2008

A mão que quer calar a nossa voz

Caras Amigas,
Caros Amigos,

Recebi colegas de professores universitários um manifesto em defesa da liberdade de expressão na internet. O texto é longo, mas vale a pena ser lido.
Bom domingo,
Emanoel Barreto

A Internet ampliou de forma inédita a comunicação humana, permitindo um avanço planetário na maneira de produzir, distribuir e consumir conhecimento, seja ele escrito, imagético ou sonoro. Construída colaborativamente, a rede é uma das maiores expressões da diversidade cultural e da criatividade social do século XX.

Descentralizada, a Internet baseia-se na interatividade e na possibilidade de todos tornarem-se produtores e não apenas consumidores de informação, como impera ainda na era das mídias de massa. Na Internet, a liberdade de criação de conteúdos alimenta, e é alimentada, pela liberdade de criação de novos formatos midiáticos, de novos programas, de novas tecnologias, de novas redes sociais.

A liberdade é a base da criação do conhecimento. E ela está na base do desenvolvimento e da sobrevivência da Internet.A Internet é uma rede de redes, sempre em construção e coletiva. Ela é o palco de uma nova cultura humanista que coloca, pela primeira vez, a humanidade perante ela mesma ao oferecer oportunidades reais de comunicação entre os povos. E não falamos do futuro. Estamos falando do presente. Uma realidade com desigualdades regionais, mas planetária em seu crescimento.

O uso dos computadores e das redes são hoje incontornáveis, oferecendo oportunidades de trabalho, de educação e de lazer a milhares de brasileiros. Vejam o impacto das redes sociais, dos software livres, do e-mail, da Web, dos fóruns de discussão, dos telefones celulares cada vez mais integrados à Internet. O que vemos na rede é, efetivamente, troca, colaboração, sociabilidade, produção de informação, ebulição cultural.

A Internet requalificou as práticas colaborativas, reunificou as artes e as ciências, superando uma divisão erguida no mundo mecânico da era industrial. A Internet representa, ainda que sempre em potência, a mais nova expressão da liberdade humana. E nós brasileiros sabemos muito bem disso.
A Internet oferece uma oportunidade ímpar a países periféricos e emergentes na nova sociedade da informação. Mesmo com todas as desigualdades sociais, nós, brasileiros, somo usuários criativos e expressivos na rede. Basta ver os números (IBOPE/NetRatikng): somos mais de 22 milhões de usuários, em crescimento a cada mês; somos os usuários que mais ficam on-line no mundo: mais de 22h em média por mês.

E notem que as categorias que mais crescem são, justamente, "Educação e Carreira", ou seja, acesso à sites educacionais e profissionais. Devemos assim, estimular o uso e a democratização da Internet no Brasil. Necessitamos fazer crescer a rede, e não travá-la. Precisamos dar acesso a todos os brasileiros e estimulá-los a produzir conhecimento, cultura, e com isso poder melhorar suas condições de existência. Um projeto de Lei do Senado brasileiro quer bloquear as práticas criativas e atacar a Internet, enrijecendo todas as convenções do direito autoral.

O Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo quer bloquear o uso de redes P2P, quer liquidar com o avanço das redes de conexão abertas (Wi-Fi) e quer exigir que todos os provedores de acesso à Internet se tornem delatores de seus usuários, colocando cada um como provável criminoso. É o reino da suspeita, do medo e da quebra da neutralidade da rede. Caso o projeto Substitutivo do Senador Azeredo seja aprovado, milhares de internautas serão transformados, de um dia para outro, em criminosos.

Dezenas de atividades criativas serão consideradas criminosas pelo artigo 285-B do projeto em questão. Esse projeto é uma séria ameaça à diversidade da rede, às possibilidades recombinantes, além de instaurar o medo e a vigilância. Se, como diz o projeto de lei, é crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida", não podemos mais fazer nada na rede.

O simples ato de acessar um site já seria um crime por "cópia sem pedir autorização" na memória "viva" (RAM) temporária do computador. Deveríamos considerar todos os browsers ilegais por criarem caches de páginas sem pedir autorização, e sem mesmo avisar aos mais comum dos usuários que eles estão copiando.

Citar um trecho de uma matéria de um jornal ou outra publicação on-line em um blog, também seria crime. O projeto, se aprovado, colocaria a prática do "blogging" na ilegalidade, bem como as máquinas de busca, já que elas copiam trechos de sites e blogs sem pedir autorização de ninguém!

Se formos aplicar uma lei como essa as universidades, teríamos que considerar a ciência como uma atividade criminosa já que ela progride ao "transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado", "sem pedir a autorização dos autores" (citamos, mas não pedimos autorização aos autores para citá-los). Se levarmos o projeto de lei a sério, devemos nos perguntar como poderíamos pensar, criar e difundir conhecimento sem sermos criminosos.

O conhecimento só se dá de forma coletiva e compartilhada. Todo conhecimento se produz coletivamente: estimulado pelos livros que lemos, pelas palestras que assistimos, pelas idéias que nos foram dadas por nossos professores e amigos... Como podemos criar algo que não tenha, de uma forma ou de outra, surgido ou sido transferido por algum "dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular"? Defendemos a liberdade, a inteligência e a troca livre e responsável. Não defendemos o plágio, a cópia indevida ou o roubo de obras.

Há necessidade de garantir a liberdade de troca, o crescimento da criatividade e a expansão do conhecimento no Brasil. Experiências com Software Livres e Creative Commons já demonstraram que isso é possível. Devemos estimular a colaboração e enriquecimento cultural, não o plágio, o roubo e a cópia improdutiva e estagnante.

E a Internet é um importante instrumento nesse sentido. Mas esse projeto coloca tudo no mesmo saco. Uso criativo, com respeito ao outro, passa, na Internet, a ser considerado crime. Projetos como esses prestam um desserviço à sociedade e à cultura brasileiras, travam o desenvolvimento humano e colocam o país definitivamente para debaixo do tapete da história da sociedade da informação no século XXI.