sábado, 1 de novembro de 2008

A Mulher inteira e bela

A Mulher inteira, o corpo belo.
O instante, o abraço, o olhar querendo...

Ela.

Terna, bela, completamente plena.

O momento que é só de nós dois,
numa manhã que se fez luz. E plenilúnio.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

E a turma toda pede Obama

A quatro dias da eleição presidencial dos Estados Unidos, o mundo conspira Obama, espera e pede pela sua eleição. Um sentimento de que algo de podre no reino da Coca-Cola precisa e pode ser levado ao charco da história. É como se alguma coisa nova, essencialmente nova, estivesse por acontecer. Especificando: retirada das tropas do Iraque, redução do imperialismo americano, bondade distribuída à mancheia.

Melhor seguir em marcha lenta: a rigor, as pessoas não sabem exatamente o que ele pensa. Seu discurso foi programado para abranger o máximo possível de público, tornando-o simpático à eleição daquele que poderá vir a ser o primeiro presidente negro dos EUA.

"Obama é o candidato favorito de 42% da população de várias cidades do mundo, enquanto apenas 12% votariam em seu adversário republicano, John McCain, segundo pesquisa da rede de TV britânica BBC." Essa informação está nas coisas de jornal da Folha.

De alguma forma, Obama é visto como a antítese de Bush, que por sua vez é, socialmente, a encarnação do mal. Nesse jogo de dualidade bem/mal, a balança pende para o lado do "bem". E quem "é" o "bem"? Obama, claro. O raciocínio maniqueísta e simplificador do senso comum funciona sempre assim: de maneira a reduzir tudo a oito ou oitenta.

Esquecem as pessoas que ele é, antes de tudo americano, antes mesmo de ser negro. Tanto que está aí, candidato com chances reais de vitória. É irrecusável que sua presença será sempre melhor que a de Bush. Mas não se pode esquecer que sua alma é a de um norte-americano. E todo americano pensa assim: "God bless America...". Do mesmo modo que nós dizemos: "Deus é brasileiro..."

O trabalho de marketing é exatamente esse: produzir um personagem. Personagem que, depois de eleito, dará lugar ao pragmatismo do homem, o que nos remete a representante do establishment, da velha ordem americana.

Também espero que seja eleito. Mas tenhamos paciência para o que trará em termos de política externa. Será positiva a presença de um negro na presidência; como símbolo, como indício de um princípio de mudança. Mas, daí à sua idealização, heroicização, caímos no terreno da fantasia. E isso não é bom. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Emanoel Barreto

A rua de um lado só

Meu amigo, poeta e jornalista Walter Medeiros, envia este desabafo. O registro do descaso da prefeitura de Natal.
Emanoel Barreto

Os moradores da rua Neuza Farache receberam com alegria a visita de emissoras de TV, para mostrarem como andam obras da Prefeitura em Capim Macio. As equipes chegaram sem alguns problemas, porque estamos num período sem chuvas, pois no inverno a rua fica inacessível, ilhada por lagoas de todos os lados. No momento, entretanto, o problema é outro.

A rua Neuza Farache nunca tinha enfrentado problema além da poeira do período seco, embora pela ausência de pavimentação tenha sido há décadas uma rua de um lado só, pois os veículos só trafegam pelo lado direito no rumo oeste-leste.

Há cerca de seis meses, a Prefeitura escavacou tudo, fazendo uma vala de 2,5 m de profundidade por 1,2 m de largura, para instalar canos que se supõe para esgoto e drenagem. Escavacou e deixou tudo fofo, areia solta, casas inacessíveis. Cada morador teve de se virar para improvisar acessos dos mais diversos formatos.

Há dez dias uma equipe de obras chegou para fazer o mesmo serviço novamente. Emitiram a ordem de serviço e já estavam escavacando novamente, até que os moradores alertaram e suspenderam a repetição da “obra”. Mesmo assim, já era tarde, pois passaram uma máquina para aplainar, que piorou a situação.

Como se não bastasse, agora os caminhões carregados de areia trafegam sem parar, afundando o caminho dos carros, rompendo encanações da CAERN, fazendo atolar carros, ônibus, micro-ônibus, caminhões. De nada adianta contato, mensagem, telefonema para a SEMOV. Damião Pita atende, promete, mas não manda fazer nada.

Hoje amanheceu com um trecho compactado. Nada mais, nada menos que dois canos que romperam ontem e passaram a tarde jorrando água no leito da rua, o que amenizou a situação em um pequeno percurso. Mas os caminhões já voltaram a trafegar, o sol começa a secar a areia e mais tarde tudo volta àquela normalidade horrorosa.

O pior de tudo é o desrespeito aos moradores, pois a Prefeitura não informa nada sobre o que está sendo feito. Enterrou os canos, mas nada diz sobre o possível próximo passo. Ao invés de resolver os problemas da comunidade, sua presença com os serviços em ruas adjacentes causa novos problemas aos moradores da rua Neuza Farache.
Walter Medeiros

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O Neto que virá

A Vida surge, doce e calma,
no corpo da mulher-menina, eternamente filha.

O Neto começa a ser antes mesmo de existir, e faz
brotar no rosto do Avô uma alegria terna.

É, já, uma beleza imensa.
Há música no ar, e a cor suave da noite em Natal
prenuncia uma nova alegria que virá.
Emanoel Barreto

Conversar com Cascudo

Conversar com Cascudo era descobrir o tempo velho passando à sua frente. Era mergulhar na história arcaica escrita pelo povo. Era virar páginas e páginas inteiras de cores, fandangos, jangadas, bichos e gentes; vozes de acá, nascidas ibéricas ou africanas. Conversar com Cascudo era perscrutar a vida no seu mais íntimo significado de coisa humana.

Conversar com Cascudo era descobrir um homem feito de sabedoria. Conversar com Cascudo era viajar o chão do sertão, a noite, a brenha secreta; cruviana esfriando o passo do cavalo do vaqueiro em noite de plenilúnio: arrepio com medo de lobisomem.

Conversar com Caascudo era alumbrar-se com as visagens, os cantos todos, os aboios, a comida da terra; caçuás, canga e cantiga de botar menino para dormir. Conversar com Cascudo era ouvir o tempo severo do Nordeste em sua eterna e serena espera pela chuva criadeira.

Conversar com Cascudo era ouvir o sábio da aldeia, tão dele e tão canguleira. Conversar com Cascudo agora é uma saudade, quando a vida já não anda em cavalo baixeiro e estamos todos à mercê e ao léu do não-sei-mais.
Emanoel Barreto

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Morreu o filho

Luquinha passava em frente a uma mansão, onde havia uma grande multidão. Luquinha, desempregado, morador de palafita; somente ele e a mulher. O único filho morrera por falta de um remédio, que ele não pudera comprar. Ficou meio louco deste então. Andava a esmo, passava dias sem ir em casa.

E Luquinha parou: queria saber o que acontecia. A polícia cercava a casa. Era um seqüestro. Dentro da mansão, um bandido que fugira dos policiais mantinha sob mira arma um menino, filho do dono da casa. Como se chamava o homem, o dono da casa? Seu Macieira, alguém disse.

Luquinha calou. Rodeou a casa. O cerco fora mal feito e ele encontrou um jeito de entrar na casa. Saltou o muro alto, correu ao lado da deliciosa piscina, entrou pela porta dos fundos. Caminhou em silêncio e viu que o bandido e o menino estavam na sala, ele falando ao celular com a polícia.

Luquinha foi ao primeiro andar, mexeu numas gavetas no quarto do casal e encontrou uma arma.
Atirou-se escada abaixo. Parou, mirou no bandido e mandou:

- Se vira pra mim! Se vira, vagabundo! Se vira, que é pra morrer!

O homem tremeu. Empurrou o menino de lado e voltou-se para Luquinha. Queria se defender. Inútil. A bala do 38 pegou-0 na testa e ele desabou. A polícia então invadiu a casa. Quando os agentes entraram, encontraram a seguinte cena: Luquinha deitado de bruços, demonstrando rendição, o bandido morto e morto também o menino.
Seu Macieira entrou e seu rosto assumiu a feição de uma máscara da morte. Dirigiu-se a Luquinha e quis saber:

- Quem é você? Como entrou aqui? Matou o bandido depois que ele matou meu filho?- Não - respondeu Luquinha. - Matei o bandido e matei seu filho.
Seu Macieira estava perplexo: - Por quê?

Luquinha respondeu: - Se lembra aquele remédio que você me negou, naquele dia em que fui lá na sua farmácia? Eu ia receber dinheiro no outro dia e ia lhe pagar. Mas não, você não podia esperar. Morreu meu filho. Agora morreu o seu.

Emanoel Barreto

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Lado negro, não: lado branco

O preconceito e a brutalidade estão fundamente atracados no mar da extrema direita americana. Os skinheads, neonazistas, sociopatas, planejavam uma onda de morticínio a negros, culminando com um atendado a Barack Obama, informam as coisas de jornal.

A sociedade norte-americana, em suas neuroses, loucuras e obsessões, cultiva comportamentos sombrios: o de alguém que se arma e sai atirando a esmo, matando sem distinção; o de matar o presidente da república; o de não aceitar a igualdade entre negros e brancos.

A aparentemente próxima vitória de Obama está fazendo estremecer os cânones dos ultra-conservadores, tocando as cordas mais sensíveis do preconceito: não há como admitir um negro dirigindo o maior império da Terra.

Desde o início da campanha jornais já estimavam atentados a Obama, especialmente quando e se eleito. Agora, o FBI desarma essa trama. Na foto, Daniuel Cowart, um dos presoso.

As investigações, caso sejam aprofundadas e, se aprofundadas, trazidas a público, poderão desvelar se haveria alguém, alguém em posição mais alta, a guiar as mãos sangrentas que agiriam.

Uma possível eleição de Obama será um marco, um dado essencial a superar a condição de conjuntura e assimilar-se à estrutura sócio-política norte-americana. Será somente um golpe assestado a essa estrutura, não significando seu desmanche. Mas será simbólico o suficiente para ampliar espaços mais democráticos e ares políticos menos esfumaçados.

A ação dos neonazistas, todavia, não deixa dúvida: ainda é forte o lado negro no gigante do norte. Lado negro, não, desculpe: lado branco.

Emanoel Barreto

Idioma português: navegar sem rumo, ao léu, não sei, talvez...

A Folha traz a seguinte informação:

"Faltando apenas dois meses para que as novas regras ortográficas entrem em vigor no Brasil, nem mesmo os especialistas em língua portuguesa conseguem chegar a um consenso sobre como determinadas palavras serão escritas a partir de 1º de janeiro de 2009.
As divergências aparecem nos dicionários "Houaiss" (ed. Objetiva) e "Aurélio" (ed. Positivo), nas recém-lançadas versões de bolso, que já contemplam as mudanças ortográficas. O "pára-raios" de hoje, por exemplo, virou "para-raios" no primeiro e "pararraios" no segundo.
A lista de diferenças continua. A versão mini do "Houaiss" grafa "sub-reptício" e "para-lama". Em outra direção, o novo "Aurélio" traz "subreptício" e "paralama".
Prevendo o impasse, antes mesmo do lançamento dos dicionários, a ABL (Academia Brasileira de Letras) tomou para si a difícil missão de dirimir essas e outras dúvidas. A palavra final da entidade deverá sair apenas em fevereiro, quando as novas regras ortográficas já estiverem valendo."
.....
Não vejo qualquer praticidade nessa mudança. Em nada vai facilitar a escrita ou compreensão dos textos. A não ser alguma mudança na escritura dos patrícios, que deixarão, por exemplo, de escrever direcção para grafar direção. Dará, podemos dizer, um ar mais moderno ao textos dos portugueses. Do jeito que eles escrevem, parecem estar sempre em 1500.




No mais, não vejo qualquer vantagem. Trocamos seis por meia dúzia e ainda temos três mais três de troco.


Emanoel Barreto