sábado, 28 de fevereiro de 2009

Tsvangirayi Mukwazhi/AP
A cara feia do poder sem limites
Emanoel Barreto

Robert Mugabe, ditador-presidente do Zimbábue, comemora seus 85 anos. A expressão da face é o retrato do íntimo. Não concordo com a afirmação de que uma imagem diz mais que mil palavras, mas, neste caso, sim. A manifestação corporal como um todo traz, da sua mais íntima e deplorável essência, a figura moral que lá habita e a apresenta em toda a sua perversidade.

Explorador histórico do seu povo, gestor de prebendas e corrupção, sinecurista do poder, ávido de muita fome por dinheiro e espoliação, de há muito ele é a encarnação, sem dúvida, do que há de mais baixo no político.

A África sofre com o abandono, a miséria e o desrespeito aos direitos humanos. O Ocidente a esqueceu depois de dela tirar muito. E homens como aquele somente asseguram que tal estado de coisas vai perdurar.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Eu vou chamar Jerônino, o herói do sertão
Emanoel Barreto

Não adianta Brasil, não adianta.
Esforços e luta de nada valem.
A única maneira é chamar Jerônimo, o herói do sertão.

Os perigos são muitos, altos, largos, abismos extensos,
buracões profundos.
Estou decidido: vamos chamar Jerônimo, o herói do sertão.

Não adianta Brasil, não adianta.
Enormes teias, perigosas tramas nos envolvem a todos,
a todo instante.

Somente Jerônimo, o herói, poderá
prender o Caveira que reina em
cada mente de político criminoso.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Ressaca
Emanoel Barreto

Pronto, terminou a festa.
Acabou a alegria, o carnaval passou.
Aos poucos o último acorde vai perdendo força, dobra a esquina do tempo e se perde no território da lembrança. Longe, longe, longe...

A Alegria, deusa solar de cores e repiques, musa vulcânica, moça de todos os agogôs, segue para o seu olimpo a descansar.

O carnaval passou.
E todos os bacantes agora estarão às voltas com o mundo real. Que é todo feito só de quartas-feiras; quartas-feiras de cinzas e das saudades curtas de quem se encontrou e se perdeu no meio da multidão.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ô abre águas, que eu quero passar...
Emanoel Barreto

Em meio ao carnaval estou ilhado em casa. Como a Prefeitura não tomou qualquer providência para prevenir o descalabro, mesmo depois de eu falar com deus-e-o-mundo, mandei email a colegas jornalistas para que divulgem. Quem sabe, com isso alguém toma alguma providência. Segue a íntegra:


Peço socorro a Micarla.
Se não der, chamo
o Cacique Cobra Coral


Caros Amigos jornalistas,

Escrevo na segunda-feira de carnaval ilhado em minha casa,
cujos muros transformei em represa. Estou literalmente como
na marchinha: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira." Assim,
improviso também outra marchinha: "Ô abre águas, que eu quero passar."

Mas, enquanto as águas não se abrem, a situação é essa: garagens alagadas,
casas prestes a ser invadidas pela água e gente preocupada.
É isso: a Rua Industrial João Motta, Capim Macio, onde moro, com as últimas
chuvas assumiu aspecto de dilúvio. Por instantes tive a impressão
de ver a arca de Noé. Não era: era um carro quase tragado
pelo dilúvio urbano.

Na Prefeitura, já falei com deus-e-o-mundo, mas ninguém atendeu
ao meu alerta. Dias antes do aguaceiro entrei em contato com
a administração municipal, pedindo que uma máquina fizesse
retirada da areia do leito da rua. Adverti que, sem isso, haveria
perigo de casas serem alagadas. A Prefeitura não deu atenção.
O IPTU, aqui, é de mais de mil reais. A Prefeitura não me deu atenção.
Alagamento é assunto para a Semov, a Semov é da Prefeitura.
Só que há um problema: a Semov não se move...

Carros que tentam superar o açude enguiçam, gente entra em
desespero, pessoas ficam no prejuízo. O meu carro está
há três dias ao relento. Tive que tirá-lo da garagem
para dar espaço à água.

Agora, só me resta pedir apoio aos amigos da imprensa. Espero
com isso sensibilizar alguém da Prefeitura. Espero sensibilizar Micarla.
Mas, se nem ela me der atenção, voltarei meus pedidos para o
Cacique Cobra Coral, entidade espiritual que cuida dos ventos e
das tempestades. Tem até uma Fundação, a Fundação
Cacique Cobra Coral, que trata desses assuntos: mandar chuva a quem precisa
e tirá-la de quem esteja em meio às ondas.
Quem sabe, dele tenha alguma ajuda.

Um grande abraço,
Emanoel Barreto
PS: Aos ambientalistas fundamentalistas: como
fica o bicho-homem? Gente também é parte da natureza.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Tem portuguesa no samba
Emanoel Barreto

Descobri ontem por acaso, na RTP Internacional, que Portugal também tem carnaval. Rima pobre à parte, é isso: tem escolas de samba e desfile na Ilha da Madeira, ou Madaira, como eles dizem por lá.

Uma das escolas chama-se "Os Cariocas" e apresentava um desfile esforçado que só ele, mas faltava a força dos orixás, o sangue negro chamando as raízes mais ancestrais da noite mais profunda da África, tambores, braseiro e fogueira.

O mais interessante é que as escolas tinham sambistas e samba-enredo de verdade. Pareceu-me que eles contratam bambas do Rio para preparar a escola. Uma agremiação tinha música de Iveten Sangalo fazendo as vezes de semba-enredo.

As portuguesinhas, tão bonitinhas, eram menininhas disciplinadas e tentavam, mas tentavam mesmo, fazer de conta que sambavam. Umas até buscavam aqueles passos em que a cabrocha se transforma em jóia-mulher de irrelutável beleza. Tadinhas...

Mas, gostei. Gostei de ver nossa cultura chegando aos nossos avós, que por instantes trocam as chorosas guitarras do fado pela força trigueira do tambor.

Sabe o que faltava aos patrícios? Faltava efusão, festa, brilho, intensidade, grandeza. Que vão passar, eu sei. Mas que de alguma forma ressalta, nesse tipo de ópera popular, o grande mistério de ser Brasil. Axé babá, meu pai!