sábado, 7 de março de 2009

O crime do arcebispo
Emanoel Barreto

A Igreja revelou sua face mais reacionária e trevosa no caso da menina de nove anos estuprada pelo padastro. Grávida, a criança precisou passar pelo abortamento. O arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, como nos tempos da Santa Inquisição excomungou a mãe da menina que autorizou e os médicos que fizeram o aborto. Naqueles tempos, ele os teria condenado à fogueira.

Tacanho, mesquinho, moralmente velhado, o minúsculo cérebro do sacerdote não se comoveu com o drama da criança: uma menina que deveria estar brincando de boneca, pela visão demencial do arcebispo, deveria ser obrigada a cumprir com todo o trajeto da gravidez, para a qual seu corpo infantil não estava preparado.

Alegou que o abortamento é pecado pior que o do estupramento.

Nada entendo da graduação dos pecados. Qual a lógica que determina que a brutalização do corpo de uma criança menina seja pecado menor que a salvação desse mesmo corpo, por atitude piedosa, condoída e protetora.

Pobre, miserável arcebispo. Em nome de Deus faz o elogio do estupro; em nome da Vida, quer que uma vida seja mais violada do que já o fora. Lato sensu, sou contra o aborto. Mas, cada caso é um caso. E, com relação à criança menina de Recife, gostaria que a Igreja fosse mais piedosa. Cristo perdoava. E muito. Mas, tenho para mim, não perdoaria o crime do arcebispo.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Peraí, chuva. Se você vier, agora eu chamo
mesmo o Cacique Cobra Coral
Emanoel Barreto

uns dias fiquei ilhado em casa. Postei a foto no blog e falei que pediria ajuda ao Cacique Cobra Coral, se as coisas não se resolvessem. As poderosas chuvas que se abateram sobre Natal transformaram os muros de minha casa em barragem. Detalhe: para conter a enxurrada tenho também duas muretas, já dentro do jardim. Caso contrário...

Agora temos, eu e os vizinhos de Capim Macio, reunião marcada com o secretário da Semov, Demétrio Torres, para que se chegue a uma solução. Da minha parte, venho pedindo apenas o paliativo de retirar-se a areia do leito da rua. Isso seria suficiente para que o grande lago em que se transforma a Industrial João Motta diminuisse.



Em contato telefônico o secretário, como sempre cordial, garantiu-me que sábado, dia da reunião, todo será resolvido. Já tem até umas máquinas trabalhando lá na frente, mas distante da minha casa. E isso seria, segundo ele, indício de que as coisas vão melhorar.

Recomendou-me paciência. Paciência que só precisa durar até sábado, garantiu. Respondi: "Secretário, nós temos, digamos assim, nosso cronograma de obras e reunião. Mas a chuva, secretário, não trabalha segundo o nosso cronograma, o senhor entende?"

Ele respondeu: "Tem razão. A chuva não trabalha segundo o nosso cronograma." E pronto. Agora, é o seguinte: espero que a chuva acate a decisão e não chova. Se não, e se nada for feito, agora sim: vou chamar mesmo o Cacique Cobra Coral.

quarta-feira, 4 de março de 2009

E aí, vai encarar?
Emanoel Barreto

Moleque travesso, tinhoso, peralta.
Saiu da favela disposto a brigar.
Exibe sua força, que é magra e rasteira.
Ele é um brasilzinho de muque raquítico.

Moleque travesso, pertinaz, assanhado.
Tem jogo de perna é bamba na vida.
De becos escuros, briga com a fome.
Ele é um brasilzinho. Que dó que ele .

terça-feira, 3 de março de 2009


Agaciel, o dono da mansão própria
Emanoel Barreto

O sonho do brasileiro se divide em dois: ter seu próprio negócio e ter a casa própria. O diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, foi mais além: não tem negócio próprio, mas tem mansão própria, só que escondidinha em nome do irmão, o deputado João Maia. Agaciel perdeu o cargo, mas continua funcionário do Senado.

É assim na Terra Brasilis: o poder assegura o próprio poder: o poder de permanecer, o poder de dispor de fortunas, o escárnio com aquele pobre que sofre nas filas dos postos de saúde e amarga o dinheiro curto, pouco demais para um mês tão grande.

As elites são um sistema altamente sofisticado, que se re-produz e cria suas próprias instâncias de sobrevivência, assegurando a seus integrantes que, mesmo punidos, essa punição não doa muito. É como injeção: dói, mas passa logo.

domingo, 1 de março de 2009

É a corrupa meu irmão, é a corrupa...
Emanoel Barreto

As coisas de jornal da Folha informam neste domingo: Agaciel Maia, o vice-rei do Senado, o homem que autoriza despesas de até 80 mil sem necessidade de aprovação da Mesa, teve descoberto um segredo que mantinha a sete chaves em seu cofre de Ali-Babá: é dono de uma mansão que vale cinco milhões.

Como quando comprou a casa estava com os bens indisponíveis, usou o cérebro e, claro, fez de conta que ela não era sua. Assim, o imóvel foi estrategicamente colocado no nome do deputado João Maia, seu irmão e candidato ao governo do Rio Grande do Norte.

Diz a Folha: "A indisponibilidade dos bens de Agaciel foi decretada pela Justiça na esteira do escândalo da gráfica, em 1994.

Naquele ano, o então senador Humberto Lucena (PMDB-PB) teve sua candidatura à reeleição cassada pela Justiça Eleitoral por uso ilegal da gráfica para impressão de material de campanha. Também enfrentaram representação na Justiça Eleitoral, acusados da mesma prática, os políticos pelo então PFL maranhense Roseana Sarney (deputada e candidata vencedora a governadora) e os postulantes ao Senado Alexandre Costa e o hoje ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Eles tiveram cadernos escolares com propaganda eleitoral impressos na gráfica encomendados por Costa, candidato à reeleição. Suas candidaturas, contudo, não foram cassadas."

É isso: é a corrupa meu irmão; é a corrupa. É a corrupa como marca forte e tempero picante da vida política. Como pode um homem que tem bens bloqueados pela Justiça assumir posto vital no Senado? Permanecerá no cargo após esse flagrante? E o deputado João Maia: a imprensa daqui vai questioná-lo eticamente? Deveria ter atendido aos apetites ecônomicos do irmão, assumindo a mansão como se fosse sua? Tinha ou não tinha consciência de que estava praticando algo moralmente pegajoso, sujo, repulsivo?

E de onde saiu tanto dinheiro para a compra dessa casa?

As respostas virão com o tempo. E creio que serão ambos perdoados. É a corrupa, meu irmão; é a corrupa...