sábado, 25 de abril de 2009


Vamos passear de avião?
Emanoel Barreto

O poder opinativo da charge é nada desprezível. Que o digam os políticos e outras personalidades de mídia. Eminentemente editorial, a charge é uma espécie de piada a partir do mundo real. Mas uma piada corrosiva, ácida, uma sátira, uma denúncia. Pela charge os políticos se tornam lamentáveis.

Dizem que Getúlio Vargas colecionava as que saíam com ele. Mais para fazer tipo, claro. Porque, com o Departamento de Imprensa e Propaganda, o famigerado DIP, publicar charge era uma concessão, uma liberalidade, que o ditador concedia até mesmo como forma de se auto-propagandear.

Mas ilustração como essa, publicada hoje pela Folha, funciona como petardo, míssil jornalístico a cair sobre o Congresso, onde verdeja a cultura da corrupção como coisa sagrada. Deputados e senadores, muitos deles, veneram a corrupção como algo sacro, respeitável, bento; querido e nascido do mais íntimo de suas almas escuras.

Por isso a importância das charges. Mas, para entendê-las, é preciso ser leitor, leitor diário de jornais. Acompanhar a vida da cidade, do Estado ou do País, do mundo até, a fim de compreender a piada impressa em seu contexto. No mais, é continuar fazendo carga sobre as imoralidades do Congresso, essa casa onde muitos são porcos.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Eles querem Santos Dumont
Emanoel Barreto

Causam perplexidade, senão indignação, as palavras do senador Epitácio Cafeteira(PTB-MA): "Daqui a pouco, estaremos recebendo vale-transporte", quando reclamava das medidas moralizadoras no uso das passagens aéreas pelos parlamentares. Não, ele não quer vale-transporte, quer mais. Se dessem chance, certamente iria querer até mesmo o Air Force One, o avião que transporta os presidentes americanos, com Santos Dumont como piloto .



O que no Brasil chamamos de classe política, além de sociologicamente ser um erro, incorre em outro deslize: na presença de desclassificados como portadores de diploma de legislador ou governador. Não é isso o que se tem visto, em mais um escândalo?



No Congresso há uma teia escusa, escura e sinistra aos interesses públicos, comerciando passagens, promovendo tramoias, enganando, ludibriando, furtando. Os jornais não devem nem podem parar de denunciar e expor seus nomes. É preciso punição pública, já que para eles não haverá punição penal.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Os detetives e o mundo real
Emanoel Barreto

Piratas virtuais invadiram os computadores do Pentágono e tiveram acesso a dados do projeto de construção do avião caça Joint Strike Fighter, um dos mais caros já empreendidos pelo Departamento de Defesa dos EUA, orçado em US$ 300 bilhões. A administração de Barack Obama está tomando medidas para conter essa escalada, inclusive contratando piratas virtuais. A ideia é contratar pessoas que exercem esse tipo de atividade para que elas ajudem a melhorar a segurança das redes de comunicação do país.

A informação saiu na Folha. Dá a impressão de que estamos falando de filme de espionagem. A vida imitando a ficção. O que mais estranho, todavia, é o fato de se estarem gastando 300 bilhões de dólares para a confecção de armas, quando o mundo precisa de alimentos, progresso e paz. A insanidade dos governantes alimenta a fome de guerra e ajuda a enriquecer os matadores.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Vossa Excelência me respeite!"
Emanoel Barreto
Deu na Folha: O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa bateram boca nesta quarta-feira no plenário do tribunal. Barbosa acusou o presidente da Corte de estar "destruindo a credibilidade da Justiça brasileira" durante o julgamento de duas ações --referentes ao pagamento de previdência a servidores do Paraná e à prerrogativa de foro privilegiado. "Vossa excelência me respeite. Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país e vem agora dar lição de moral em mim. Saia à rua, ministro Gilmar. Faça o que eu faço", afirmou Barbosa.
Em resposta, Mendes disse que "está na rua". Barbosa, por sua vez, voltou a atacar o presidente do STF. "Vossa Excelência não está na rua, está na mídia destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro."
Irritado, Mendes também pediu "respeito" a Barbosa. "Vossa Excelência me respeite", afirmou. "Eu digo a mesma coisa", respondeu o ministro.
Os ministros Carlos Ayres Britto e Marco Aurélio Mello atuaram como "bombeiros" para tentar encerrar o bate boca. "A discussão está descambando para um campo que não coaduna com a disciplina do Supremo", disse Marco Aurélio ao pedir o encerramento da sessão.
Barbosa chegou a afirmar que Mendes não estava falando com os seus "capangas de Mato Grosso". O ministro disse que decidiu reagir depois que Mendes tomou decisões incorretas sobre os dois processos analisados pela Corte.
http://mais.uol.com.br/view/206350 - clique aqui para ver o vídeo.

......O ministro Joaquim Barbosa, um dos pilares morais desta nação, agiu como costuma agir: com força, vigor discursivo e ênfase em favor da coisa pública. Ao que pude perceber, vendo o vídeo, o que se discutia era a concessão de aposentadoria aos notários, ou seja: donos de cartórios. Cartórios são verdadeiras minas, fábricas de papéis com fé pública, vendidos a peso de ouro. Por que notários aposentados, como se fossem servidores comuns?

Eles devem ter sua própria aposentadoria. Sinceramente, não sei como isso se dá, mas, desamparados é que não ficam. Ao que percebi, tratava-se de manobra para beneficiar os notários. Coisa boa é que não era. Veja o vídeo e tire conclusões.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Agressão a uma criança
Emanoel Barreto

Maísa, a menininha encantadora que apresenta programa no SBT, está sofrendo assédio de dois paparazzi, o que obrigou a família a tomar precauções com ela até na escola, a fim de que não seja incomodada pelos dois fotógrafos.

Essa é uma das mais lamentáveis formas de jornalismo: fotógrafos que perseguem celebridades de forma impiedosa, tirando-lhes a privacidade e, se possível, intimidade. O jornalismo tem muitas formas perversas de manifestação, desde a distorção intencional de noticiário, opiniões enviesadas para ludibriar o leitor, até chegar a essa forma de nada recomendável de manifestação.

No caso, o desrespeito a uma criança assume proporções criminais, especialmente pelo fato de que se trata de alguém em fase de formação e cuja exposição de mídia, por si só, precisa ser bem monitorada pelos pais, a fim de que um muito compreensível deslumbre com a fama não venha a ter consequâncias desastrosas.

Paparazzi são pessoas que se voltam para o chamado jornalismo de faits divers, cuja essência são a banalidade e a frivolidade. Tudo o que alguém famoso faça e que puder ser captado pelas lentes se transforma em notícia, mesmo que não tenha importância alguma que não seja a exposição mesma de pessoa célebre. Chega à esfera criminal e como tal deve ser tratada.

domingo, 19 de abril de 2009

Um xerife na política
Emanoel Barreto

O delegado Protógenes Queiroz, que dirigiu a Operação Satiagraha, agora que está sob fogo nutrido, e buscam transformá-lo de investigador a investigado, admitiu que pode ser candidato. Só não disse a que cargo nem por qual partido. A Operação Satiagraha investiga o banqueiro Daniel Dantas por fraudes e outros atentados aos dinheiros públicos, além de tentativa de corrupção de investigadores da PF, a fim de que não o indiciassem.



Não é pouca coisa e as elites sabem que não é. Portanto, estão mobilizadas para a desestruturação moral e profissional de Protógenes. Segundo tem dito às coisas de jornal em todo o Brasil, estaria sendo chamado pela opinião pública a ingressar na política e, em pronunciamentos públicos, é chamado de "o delegado do povo".



Somente há uma coisa de que não gosto: a transformação de alguém em herói de ocasião, que passa a ser tido e havido como a essência da honradez e capaz de mudar tudo no ensombrado e viscoso mundo do Congresso Nacional. Nada mais reducionista. De qualquer forma, Protógenes parece ser um policial correto. Vamos ver no que vai dar.