quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Imagem: http://cidadedosdeuses.zip.net/images/iemanja.jpg
Brasil, louco e bêbado, eu gosto de Você. Feliz ano novo, Brasil
Emanoel Barreto

O Brasil é um misto de samba e de maracatu. É um misto de Preto Velho, Nossa Senhora e São João do Carneirinho. De Jesus e de Oxalá, de São Pedro e Tiradentes. São Jorge Guerreiro nos apoia com escudo e lança, enquanto Iemanjá dança nua em todos os carnavais. É assim que vivemos, fazendo da lascívia força de trabalho e da perseverança desejo de todas as carnes. É assim que o Brasil funciona: sofrimento embebido em mel, cachaça elevada ao altar da eucaristia de todo nós, mestiços da vida.

Nosso presidente, qualquer presidente, em qualquer época da nossa história, terá sido sempre uma espécie de primeiro-ministro da cana, administrando a bacanal do Senado, da Câmara e da nossa Justiça louca, cabrocha e seminua. E assim será para sempre: Brasil, país onde a hóstia da democracia será sempre feita de pão dormido.

Brasil, por isso mesmo, por ser brasileiro, mestiço, caminhante atrás do trio elétrico, acredito em Você. Dionísio nos abençoou e berra conosco, louco, em busca da nossa utopia de gols.



quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fonte: http://resistir.info/franca/imagens/siqueiros_democracia.jpg (detalhe de obra do muralista mexicano Siqueiros)
A democracia é frágil e treme de medo
Emanoel Barreto

O incidente envolvendo setores do governo federal que querem esclarecer e punir torturadores do regime militar, o ministro da Defesa, Nelson jobim e generais, revela o quando é frágil a democracia neste país. O texto abaixo é bastante elucidativo. O material é reproduzido da Folha de S. Paulo.


Contra "Comissão da Verdade", comandantes ameaçam sair

ELIANE CANTANHÊDE
colunista da Folha de S.Paulo

SIMONE IGLESIAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Os comandantes do Exército, general Enzo Martins Peri, e da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, ameaçaram pedir demissão caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não revogue alguns trechos do Plano Nacional de Direitos Humanos 3, que cria a "Comissão da Verdade" para apurar torturas e desaparecimentos durante o regime militar (1964-1985).

Em reunião com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, no dia 23, às vésperas do Natal, os dois classificaram o documento como "excessivamente insultuoso, agressivo e revanchista" às Forças Armadas e disseram que os seus comandados se sentiram diretamente ofendidos. O comandante da Marinha, Júlio Soares de Moura Neto, não estava em Brasília.

Na versão militar, Jobim teria se solidarizado com os comandantes e dito que pediria demissão se não houvesse um recuo do governo. À Folha Jobim negou.

Na reunião, Jobim disse que não tinha sido consultado sobre os termos do plano, que não concordava com tentativas de revanchismo e iria falar com Lula a respeito. Com isso, acabou colocando o presidente entre dois polos de pressão: militares, de um lado, e o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, do outro.

Lula embarca hoje para a folga de fim de ano na Bahia procurando uma solução de contemporização. Os militares se contentariam com mudanças no texto, mas Vannuchi está irredutível e também ameaça sair caso haja recuo.

Até ontem, a opção de Lula para minimizar a crise era uma saída de meio-termo: não mexer no texto, mas orientar as comissões técnicas encarregadas de executá-lo a ignorar na prática os pontos mais críticos.

À Folha um alto funcionário civil disse que a "tensão está fortíssima". Esse clima ficou evidente na cerimônia que Lula presidiu anteontem, no CCBB, para sancionar a nova lei de cargos e salários dos taifeiros da Aeronáutica, na presença de Saito, que conversou à parte com o presidente.

Convidado por Lula, Jobim disse que não poderia comparecer à cerimônia porque estaria fora de Brasília. Quem apareceu, para um evento da Funai, foi Tarso. Também conversou reservadamente com Lula.

Vannuchi está no olho do furacão: ele tinha despacho com o presidente às 18h do mesmo dia, mas o encontro foi adiado para ontem e, no final, acabou não acontecendo, o que aumentou a suspeita de que tenha posto o cargo à disposição.

Lula conversou com Vannuchi por telefone e lhe falou sobre a "fórmula de conciliação", mas o desfecho ficará para a volta de Lula, em 11 de janeiro.

O foco da crise é o sexto capítulo do Plano de Direitos Humanos, anunciado por Lula no dia 21 e publicado no "Diário Oficial da União", no dia seguinte, com 180 páginas.

O capítulo se chama "Eixo orientador 6: direito à memória e à verdade". Duas propostas deixaram a área militar particularmente irritada: identificar e tornar públicas as "estruturas" utilizadas para violações de direitos humanos durante a ditadura e criar uma legislação nacional proibindo que ruas, praças, monumentos e estádios tenham nomes de pessoas que praticaram crimes na ditadura.

Na leitura dos militares, isso significa que o governo do PT, formado por muitos personagens que atuaram "do outro lado" no regime militar, está querendo jogar a opinião pública contra as Forças Armadas.

Imaginam que o resultado dessas propostas seja a depredação ou até a invasão de instalações militares que supostamente tenham abrigado atos de tortura e não admitem o constrangimento da retirada de nomes de altos oficiais de avenidas pelo país afora.



http://files.nireblog.com/blogs1/dineymonteiro/files/violencia.jpg
O silêncio dos inocentes ou até que morra uma autoridade
Emanoel Barreto

Há muitos anos, no saudoso semanário Dois Pontos, dirigido pelo jornalista Marcos Aurélio de Sá, foi publicado editorial sob o título "Até que morra uma autoridade". Redigido por Sá, o editorial referia a uma onda crescente de assaltos em Natal, ante a leniência sonolenta das autoridadades. E, afirmava o jornalista, até que alguém da elite fosse alvo da ação dos criminosos, nada seria feito. O título era bastante incisivo.

Uma análise de discurso simples indica: o governo é composto pelas elites. Sendo assim, não mantém vinculação orgânica com esse ser coletivo a quem chamamos de povo, e se e somente se algum de seus iguais, da elite, fosse atingido, haveria uma ação deliberada e permanente contra assaltantes e outros agressores.

Vejo no twitter que assaltantes estão promovendo arrastões em áreas nobres no litoral, onde, exatamente, a elite passa seus dias ociosos de verão, mar, cerveja. Enfim, onde os bem aquinhoados exercitam sua dolce vita. E isso está causando pavor. O mesmo pavor das pessoas ditas comuns que, por exemplo, vivem em Felipe Camarão, e experimentam em seu cotidiano ao conviver com a dor, a morte, a ameaça.

Mas a violência, ao que parece, democratizou-se. Agora, a onda de pavor saltou os muros invisíveis da sociedade de classes e toma literalmente de assalto as mansões festivas das praias. Esperemos que o alastrar da violência demonstre às autoridades que o crime campeia à corda solta. E que todos se sintam também escandalizados com o sofrimento, a dor e o silêncio dos inocentes que formigam nos arrabaldes.


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

http://inblogs.com.br/media/blogs/censurado/Itamar_thumb1.jpg
Jânio Quadros: não consegui identificar o autor da foto

Lula e FHC: Cerimônia de posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Brasília, 01/01/2003. Foto: Joedson Alves/AE


Um país meio desequilibrado: que país é esse?
Emanoel Barreto
Do vértice da fêmea ao abraço trançado.
Nos pés de um louco os passos de um povo.




http://www.universohq.com/quadrinhos/2005/imagens/henfil_grauna.jpg

Outra do Henfil, vida de gado
Emanoel Barreto


Outra preciosidade do Henfil que achei, garimpando na net. A ironia rascante como lâmina de florete chegando ao ponto certo. Ferino, certeiro. O povo representado em sua tragicidade, esperando sempre por um gesto salvador das elites. Povo, grande bicho manso. Êêê, ôô, vida de gado/ Povo marcado, povo feliz.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Um cartum do Henfil, uma lembrança da ditabranda
Emanoel Barreto

Olha que beleza este cartum do Henfil. Isso me lembra os anos de chumbo, quando a ditabranda, assim chamada agora pela Folha de S. Paulo, mandava e mais que isso, desmandava. Henfil morou em Natal, convivi com ele. Depois vou contar algo a respeito dessa figura de louco sublime, que contribuiu muito para que eu, Dermi Azevedo e Arlindo de Melo Freire, fundássemos a Cooperativa dos Jornalistas de Natal-Coojornat. Eram reuniões quase secretas... Mas, como disse, depois eu conto.

A crise no jornalismo impresso

A seção Monitor da Imprensa, mantida pelo Observatório da Imprensa, publicou o artigo abaixo transcrito. Uma análise de como a crise no jornalismo impresso é grave. (EB)

NOVO JORNALISMO
Banqueiro da Califórnia investe em notícias locais

O banqueiro americano Warren Hellman decidiu criar uma organização jornalística sem fins lucrativos para suprir a diminuição de notícias locais devido à crise que provoca demissões nos veículos de comunicação. Hellman, que vive em São Francisco, juntou-se à escola de jornalismo da Universidade da Califórnia e à emissora pública KQED para seu projeto. O investidor teve a idéia de desenvolver um novo modelo para a cobertura local ao analisar o conteúdo dos jornais San Francisco Chronicle e San Francisco Examiner. "Estava chocado como o Chronicle encolheu, o quão fino o Examiner estava e como era pouca a cobertura das notícias locais. Acreditava que isto afetaria a política local e que teríamos candidatos mais fracos. Parecia, para mim, que tínhamos que fazer algo", conta.

Previsto para ser lançado no ano que vem, o projeto usará uma combinação de repórteres e editores pagos e estudantes de jornalismo para produzir matérias para diversas plataformas: internet, impresso, rádio e emissoras de TV. A fundação de Hellman fornecerá US$ 5 milhões para o início do empreendimento, mas o banqueiro espera que a iniciativa se sustente no futuro por meio de doações individuais e empresariais.

Hellman não é o único a olhar para o jornalismo "hiperlocal" como um modo de injetar energia renovada e dinheiro na indústria jornalística afetada pela crise. O Minnpost.com, iniciativa sem fins lucrativos fundada há dois anos, foca nas notícias de Minnesota com atualizações semanais e é mantida por doações de centenas de indivíduos. Já o Voice of San Diego, jornal online fundado em 2005, dedica seu espaço às notícias da cidade californiana.

Para Neil Henry, reitor da Escola de Jornalismo Berkeley, da Universidade da Califórnia, colaborar com Hellman será significativo para seus 120 alunos. Além do conteúdo para o projeto, a escola de jornalismo espera fornecer orientação editorial e know how de tecnologias e captação de recursos. "Quanto mais parcerias construirmos, mais colaboração buscarmos, o site servirá cada vez mais ao público e também como um monitor da mídia", acredita.

Executivos do Chronicle e do Examiner, por outro lado, não gostaram muito da análise feita por Hellman sobre seus jornais. Segundo Frank Veja, publisher do Chronicle, o diário continua a dedicar espaço para cobrir a região. Ele lembra também que o tráfego online aumentou com as novas seções de bairros e blogs sobre a cidade. "Desde que começamos nossos esforços para garantir um futuro forte para o Chronicle, melhoramos nossa situação financeira e a qualidade de nossos produtos", declarou. Já James Pimentel, editor-executivo do Examiner, diz que o jornal gratuito manteve sua equipe e expandiu sua cobertura local desde que foi comprado pela Clarity Media, em 2004. "O Examiner irá continuar a promover a excelente cobertura local que sempre teve", promete. Informações de Lisa Leff [Associated Press].




La dolce vita...
Emanoel Barreto

A foto mostra o então senador americano Jonh Kennedy em momento paradisíaco. Coisas de Jornal reproduz abaixo texto do site TMZ, o mesmo que deu em primeira mão a morte de Michael Jackson. Obtive a foto no mesmo site, que a publicou agora pela manhã.

Diz o Ig Gente, que repercutiu o assunto:

Na imagem, supostamente de 1956, o ex-presidente norte-americano John F. Kennedy aparece em um iate cheio de mulheres nuas. Na época, JFK ainda era senador mas já conhecido pelas festas que dava e pelas múltiplas companhias femininas - apesar do casamento com Jacqueline Kennedy.

O site alega que consultou vários experts para confirmar a autenticidade da foto. JFK, tomando sol, à esquerda, estaria de férias com o irmão, Ted Kennedy, e amigos no Mediterrâneo. Nessa época, sua mulher Jackie, grávida da primeira filha, foi levada às pressas para o hospital, onde perdeu o bebê.

O que se comenta nos sites internacionais é que a imagem poderia ter mudado a História, caso tivesse ido à tona na época das eleições presidencias algum tempo depois. Vai render assunto...

João Maria Alves
O descobridor de chaplins
Emanoel Barreto
O olhar sensível do fotógrafo é indagador e perplexo. Ele busca na figuração das imagens o que nelas se oculta, sua essência. Como dizia Cartier Bresson, o fotógrafo busca o momento preciso, aquele instante mágico, às vezes terrível, grandioso ou patético em que de alguma forma a condição humana se revela inteira e grita.
João Maria Alves é aquele tipo de profissional em permanente estado de paixão pela vida, pois intimamente sabe que cada foto, como a do menino e seu cão, é uma espécie de biografia congelada pela lente exata. Veja bem essa imagem. Ela expressa um estado de ser: o menino e sua candura tímida; e um estado social: o menino à porta de sua casinha pobre.
A foto conta, lamenta, exalta e tragicamente chega a prever qual o seu futuro desse menino pobre. João Maria é um descobridor de chaplins. Talentoso, suas fotos, no silêncio das imagens aprisionadas, gritam. Mesmo sabendo ele que esse grito será apenas isso: um grito parado em nosso olhar.
Ele enviou, a meu pedido, fotos para que eu as publique neste Coisas de Jornal.
Obrigado, Amigo. Vamos juntos falar de coisas que, sabemos, não são exatamente para ser compreendidas. Mesmo assim, vamos... Vamos falar de coisas que não são exatamente para ser compreendidas.
Mas, é isso João: eles não compreendem. Mas eles sabem o que fazem.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Alex Régis
Dinarte era mesmo adivinhão
Emanoel Barreto

A minha abordagem a respeito de a governaora Wilma de Faria ser a terceira força política do Estado na campanha de 2002, foi confirmada por ela em entrevista hoje à Tribuna do Norte.

A matéria é dos jornalistas Aldemar Freire, Anna Ruth Dantas e Guia Dantas e tem a seguinte abertura:

A governadora Wilma de Faria (PSB) encerra 2009 com duas definições políticas: a disputa para o Senado e o apoio ao vice-governador Iberê Ferreira de Souza (PSB) que, como ela mesmo afirma, é candidato irreversível ao Executivo. No entanto, há duas indefinições: a escolha do candidato a vice de Iberê, que a governadora sinaliza estar entre o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo (PDT) e o deputado estadual Robinson Faria (PMN), e a indicação do segundo nome para concorrer ao Senado. Um dos cotados é o deputado federal João Maia (PR).

A governadora admite que a ausência de um companheiro de chapa para a eleição de senador está “atrapalhando um pouco” e acredita que atritos existirão, inclusive entre candidatos do mesmo palanque. Ela afirmou isso em referência aos senadores José Agripino Maia e Garibaldi Filho. Ao responder sobre a escolha do vice, ela não esboça preferências. A chefe do Executivo estadual acredita que a eleição de 2010 será polarizada.

E descarta uma terceira via, como ela própria adotou em 2002, na campanha contra o então governador Fernando Freire e o senador Fernando Bezerra. “A terceira via para existir, como existiu em 2002, precisa ter uma mulher corajosa e eu não estou vendo isso. Não tem nenhuma mulher e nenhum homem (de coragem para a terceira via)”, avaliou. Sobre o deputado Robinson Faria, ela avalia que o deputado já dá sinais de ter desistido de concorrer ao Executivo.


E a governadora critica a Assembleia Legislativa. Ela ponta que ganham dispensa de tramitação apenas os projetos do Ministério Público, do Tribunal de Justiça e de aumento salarial. Wilma de Faria afirma que disputará uma vaga para o Senado, mesmo sem ser uma pessoa poderosa. “Eu não sou poderosa. Hoje estou no poder, mas não sou poderosa. Ou seja, eu fiz uma administração democrática, todos participaram”, completou.
.......
O texto é suficientemente objetivo, conciso e claro para permitir a compreensão de que temos aí alguém com capacidade política de atirar-se a uma disputa ciente do seu poder, trazendo à tiracolo vontade inquebrantável para apresentar-se ao embate.

A afirmativa de que não há no Estado ninguém, homem ou mulher, com virtù para repetir a sua façanha de 2002, a demonstra como um agente político que não teme exprimir discurso como esse, que chega às raias da arrogância. Mas o ato frasal da governadora não pode ser medido nos limites estreitos da arrogância. É tolo o político que se deixa dominar por ela. A governadora não cairia nesse canto de sereia.

O dizer de Wilma tem mais que isso: é ato tático, que nas entrelinhas e por antecipação atribui a outros um perfil negativado. A repercussão na imprensa pode contribuir para colar em adversários e/ou correligionários indecisos em apoiá-la a imagem de fracos, sem que isso necessariamente leve a governadora a ser vista como arrogante.

Ou seja: ela apenas "fez uma constatação" objetiva do quadro que se põe. Se for acusada de arrogante poderá dizer que apenas relembrou sua coragem em 2002. Com isso, e com o epíteto de guerreira, que já é quase parte do seu nome, começa de alguma forma a apresentar-se em posição olímpica, sabendo de antemão que entrou num páreo de longa distância, não numa disputa de cem metros rasos. E começa falando alto.

Como eu disse na matéria sobre a governadora e Dinarte, o velho senador era adivinhão...
Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDGYqNbLiv6Uc5oMwm5LCChc17RQYx9jdAOHa6HX1t_EydLDMkO9f3MbcqbAK5AoLUpeSWzzYC2GAx8OpJM5BXmxkcIgBQrHTNdYg_KA-dg0saCsd2J58-QS7OM5TECtH7xhLJ/s320/foto_dinarte.jpg
Dinarte era adivinhão (final)
Emanoel Barreto

O texto "Dinarte era adivinhão", publicado ontem, começava assim: "Depois dos 60 anos, o homem começa a adivinhar". A frase é do senador Dinarte Mariz, registrada em livro pelo escritor, poeta, advogado e ex-reitor da UFRN Diógenes da Cunha Lima. Está no livro "Solidão, solidões, uma biografia de Dinarte Mariz, publicado em 2002 pela Gráfica do Senado.

Talvez por ter mais de 60 anos quando a proferiu e por acreditar em suas próprias premonições, - o restante deste texto publico amanhã. E, nele, abordo o que dizia o senador a respeito da governadora Wilma como a herdeira do seu legado.

Agora, a parte final do texto:

Talvez por ter mais de 60 anos quando proferiu a frase, e por acreditar em suas próprias fabulações, Seu Dida disse, a respeito de quem seria seu sucessor e legatário político: "Em política não vou ter um sucessor, mas uma sucessora, de saia. " Está à página 116 do livro de Diógenes, que em sua obra vê aí o indicativo de que Dona Wilma seja a fiel depositária da herança dinartista. Ele gravou 13 horas de depoimento com o senador para a realização do texto, mas não indica dias ano ou anos das gravações.

Li o livro em 2003, quando preparava minha dissertação de mestrado, onde analiso a cobertura do Diário de Natal/O Poti a respeito da campanha ao governo do Estado ocorrida um ano antes. A tese foi defendida em 2004.

Nos capítulos que antecedem a fase propriamente analítica do discurso jornalístico, tracei um perfil político de Wilma, estimando que ela seria a terceira força a intervir na política do Estado. Ou seja: aquela líder que romperia com o maniqueísmo de duas correntes familiares em histórico digladio, quando mudavam-se os mandantes sem superação da essência oligárquica.

Afirmo na dissertação que ela não seria, digamos assim, uma terceira força puro sangue (não uso esta expressão na tese, texto eminentemente acadêmico), mas uma terceira força porque remiu-se de suas ligações oligárquicas e formou em torno de si um quadro de seguidores, funcionando sua personaliade como liga das facções.


Para tanto contou com fortuna e virtù, como diria Maquiavel. Fortuna no sentido de contar com a história a seu favor. As conjunturas sociopolíticas a favoreciam. E virtù, por encontrar em si o carisma arrepiante, capaz de despertar os sonhos e os arroubos utópicos das multidões em fúria de democracia e voto.


O livro me foi dado de presenta por Diógenes, dia 13 de junho de 2002 e o li de um só fôlego. Ano seguinte, quando começava a desenvolver a dissertação, chegando à figura de Wilma e à sua possível condição de terceira força, lembrei: "Diógenes falava alguma coisa a respeito dela." Localizei a página. E a afirmativa de Dinarte, colocada pelo meu amigo como destinada a Wilma, ajudou-me a consolidar a suposição.

A rigor, porém, Seu Dida não vaticina que seria ela. Apenas alude a um sucessor de saia. Naquele momento tudo se encaixava em seu perfil e mantive na dissertação Wilma como sucessora de Dinarte.

Agora, passados anos não tantos assim da minha dissertação, e frente à dinâmica da política, caio em uma indagação: "Ao dizer que depois dos 60 o homem começa a adivinhar, afirmando que seu sucessor usaria saia, Seu Dida não estaria querendo na verdade mais confundir que explicar? Não estaria indicando que a mulher, a figura feminina, terá mais e mais participação na vida pública do Estado, sem ser Wilma necessariamente?"

Não tenho resposta a tal pergunta. Mas trago uma nova indagação: a senadora Rosalba Ciarlini é de cepa dinartista, assim como a governadora. Poderia ela ser a diana caçadora antevista pelo velho político seridoense? Não sei. Talvez esteja eu a divagar demais nas teclas monocórdicas do meu computator-piano e fazendo uma fantasia-improviso apenas para deleite do meu leitor de domingo. Mas, não tenho tal intenção, nem brinco com coisa séria.

Alinhavo apenas, em acordes naturais e nenhum tom sustenido, algumas recordações, lembranças amáveis que me chegam de um tempo ainda moço em minhas lembranças. Tempo em que varava noites, madrugadas, manhãs já cansadas de tanto ler e teclar, preparando a minha dissertação.

E encerro, lembrando outra figura de talhe da nossa política: o astuto deputado Majó Theodorico Bezerra, que ensinava: "Em política, não há gratidão nem reconhecimento." E completo: Wilma precisará lutar muito para chegar ao Senado e eleger seu sucessor no governo.

E afinal trago Seu Dida novamente à tona, quando teorizava: "Política é uns empurrando os outros. Político é como piloto de avião: se souber decolar e aterrissar, o resto vai bem..."