sábado, 18 de setembro de 2010

Joe Cocker - A Little Help From My Friends - Woodstock 1969

Al Caparra, o gangster chic

Fotoflagrante
Em nosso peito juvenil
A belíssima foto de Everson de Andrade, o Boneco Vevel do twitter. A foto como insinuação de beleza que se esconde na incompletude da imagem. Instante mágico que apalpa o ardor adolescente, pelo olhar de um jovem mestre.
O teu riso
Pablo Neruda


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.


Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.





sexta-feira, 17 de setembro de 2010


Morte, dor e fama, muita fama
Emanoel Barreto

A obra do artista Gil Vicente é feita para chocar. Truísmo à parte o que se vê é o trabalho de alguém que quer expressar alguma forma profunda de "ódio ao sistema", colocando-se o autor como sicário ou algoz de duas vítimas indefesas.

O trabalho pode ser analisado sob o prisma da estética da crueldade de Antonin Artaud. O poeta francês defendia uma "arte cruel". Aqui no sentido de uma arte que expressasse de forma crua um certo dado do real.

Ao assumir-se como personagem de sua própria obra, o autor evoca, para antagonistas de sua protagonização, duas figuras emblemáticas da política nacional sobre eles despejando todo o seu ódio. O negativismo intenso, o niilismo exacerbado se volta até mesmo contra os que veem o quadro uma vez que os coloca como um aquém integrado a este mesmo quadro e, portanto, participantes  do establishment que as duas vítimas representam, segundo a ótica do artista.

FHC como o sociólogo de esquerda, o medalhão ideológico que aderiu por inteiro ao neoliberalismo; Lula enquanto ator também de esquerda que teria "traído" a classe operária ao ligar o PT a forças conservadoras como o PMDB.

Gil Vicente não se pejou de colocar-se como um fanático, um carrasco que executa dois seres humanos cujas expressões faciais indicam profundo abatimento, amarrados, jugulados a um ser impiedoso que os executa de forma meticulosamente cruel.

E isso num tempo em que se busca a paz, o consenso, a civilização por oposto ao ato ali representado. Quer certamente ser amaldiçoado e será. No fundo o discurso do quadro implora para que o criador seja execrado, com isso alcançado fama, muita fama. É, é isso: fama, muita fama.

Obra de arte recebe críticas. Transcrevo da Folha (EB)


Marcelo Justo/Folhapress Obra que estará na Bienal causa polêmica por "matar" FHC e Lula






DE SÃO PAULO

A "Série Inimigos", de Gil Vicente, está causando polêmica antes mesmo de ser exposta na Bienal de São Paulo, que será inaugurada na próxima terça-feira. Nela, o artista retrata a si mesmo matando personagens famosos como Fernando Henrique Cardoso e Lula.

Nesta sexta-feira, a OAB-SP (Ordem dos Advogados de São Paulo) divulgou uma nota em que se coloca contra a exposição da série, "por fazer apologia ao crime".

Leia abaixo a nota na íntegra.


"Uma obra de arte, embora livremente e sem limites expresse a criatividade do seu autor, deve ter determinados limites para sua exposição pública. Um deles é não fazer apologia ao crime como estabelece a vedação inscrita no Código Penal Brasileiro.

A série de quadros denominada "Inimigos", do artista plástico Gil Vicente, é composta por obras as quais retratam, dentre outras, o autor atirando contra a cabeça do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, noutra mostra o mesmo autor, de posse de uma faca, degolando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Essas obras, mais do que revelar o desprezo do autor pelas figuras humanas que retrata como suas vítimas, demonstra um desrespeito pelas instituições que tais pessoas representam, como também o desprezo pelo poder instituído, incitando ao crime e à violência.

Certamente não se pode impedir que uma obra seja criada, mas se deve impedir que seja exposta à sociedade em espaço público se tal obra afronta a paz social, o estado de direito e a democracia, principalmente quando pela obra, em tese, se faz apologia de crime.

Por esse motivo é que a OAB/SP está oficiando os curadores da Bienal de São Paulo, para que essas obras de Gil Vicente, da série "Inimigos" não sejam expostas naquela importante mostra."
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Al Caparra, o gangster chic
 

FOTOFLAGRANTE

Everson Andrade, o Boneco Vevel no Twitter, 
é um dos talentos com quem tenho a alegria de participar 
do projeto de preparação do Jornal Livre, 
dos alunos de Jornalismo da UFRN. Aqui, uma mostra do seu olhar (EB).

E ele foi encontrado boiando no Potengi

 Felizes são os mortos famosos
Emanoel Barreto
Os grandes mortos, os mortos famosos, esses não; esses já tiveram suas vidas apresentadas ou devassadas nas coisas de jornal dos jornais e TVs, internet e rádio. Esses são mortos experientes. Mortos que já conheciam a fama e dela desfrutavam. Mas os mortos anônimos sim. Esses que eram apenas espécimes da fauna urbana, podem ser miseravelmente famosos depois que seus corpos são entendidos pelos jornalistas como corpos noticiáveis. 

Estranha e banal fama. Uma fama de arrabalde, perdida lá nos confins disso mesmo que se chama de fama. Não exatamente fama: um lembrete no grande pregão das notícias que gritam para ser lidas. 
Mas não seria esse o destino dos pobres, das vidas magrinhas, vidinhas corcundas, encurvadas, caladas, transeuntes de si mesmas, perdidas nas filas, salariozinho catado nota a nota até o final do mês? Não seria esse o destino das vidas-moeda-de-troco? Vidas opacas, seus dramas pulsando em corações que não falam a língua dos grandes mortos? Os grandes mortos, esses sim, são mortos felizes.

Mas os outros não. Os sem fama são mortos que não são mortos felizes.
É o caso do rapaz encontrado boiando nas águas do Potengi. No corpo uma tatuagem de Jesus e um nome: "Luana". Fé e amor gravados num corpo que foi atirado às águas. Mais um drama insignificante de alguém de vida insignificante. Além das tatuagens, macas de balas. E pronto. Toda uma vida significada, agora sim. Agora sim, pela mensagem do amor, da fé e da violência.

Quem é "Luana"? Estará chorando por ele? Ela também insignificante, um espécime dentre muitos espécimes que habitam o submundo dos esquecidos dos não-lembrados, dos não, dos que são apenas não. 

E o morto: como viveu? Como morreu? Por que morreu? Até agora não se sabe. Afinal, foi apenas mais um morto sem fama. Um morto velado pelas letras de jornal, lembrado brevemente pelas coisas de jornal.

É o caso da notícia abaixo, resgatada da edição de hoje do Diário de Natal.
Bombeiros resgatam corpo no Rio Potengi


Equipe retirou cadáver nas proximidades do mangue das Salinas Foto: Paulo de Sousa/DN/D.A Press
Uma equipe do Corpo de Bombeiros foi acionada no início da manhã de ontem para resgatar o cadáver de um jovem ainda não identificado, que foi encontrado boiando no Rio Potengi, nas proximidades do mangue das Salinas, Zona Norte de Natal. O corpo foi visto por um pescador que acionou a polícia. Porém, somente com a ajuda dos Bombeiros foi possível a retirada do cadáver do rio.

O jovem, aparentando em média 25 anos, tinha duas tatuagens, sendo uma imagem de Jesus Cristo nas costas e outra com o nome "Luana" no braço esquerdo. Aparentemente ele foi morto a tiros, pois apresentava possíveis marcas de perfuração à bala no rosto e no braço esquerdo. A causa da morte, porém, somente será definida após laudo do Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep), que recolheu o cadáver. O caso será investigado pela 9ª delegacia de Polícia no Panatis. (PS)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Al Caparra, o gangster chic
 
  O remorso do anjo vingador
Emanoel Barreto

A manchete de capa do Diário de Natal traz à mostra o que somos e o que fazemos. Uma mulher, casada com militar, deixa o marido no quartel e logo em seguida é assaltada por dois bandidos desses que, no meu tempo de repórter policial, os agentes chamavam de "marginal escarradeira", uma espécie de lumpanato do crime, miseráveis desprezíveis até mesmo para os que se ocupam do mal. Aquele bandido que não é bandido mesmo; é mais um ladrão de galinhas ou aquele aproveitador que leva roupa de varal.

Mas então, movida por fúria inesperada essa senhora, vivendo plenamente seu momento de revolta preplexa, dominada por uma ira inesperada se lença em perseguição a um dos assaltantes que fugira em blcicleta o atropela e o mata. Perde em seguida o controle do carro e se choca contra uma garagem após cruzar a rua e, antes, bater noutro carro. Dá para imaginar a cena da tragédia urbana.

A condição humana pulsa em todo esse drama: um desgraçado sai a assaltar o primeiro que encontra; uma mulher tem desperto em si o sentimento de vítima; e superando a situação de presa se transforma no predador sedento, agindo em expedição punitiva a criminoso que a atacou. 

Todos de alguma forma perderam: o miserável que roubava e a dona de casa que de repente se descobre um terrível anjo vingador.
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Abaixo, a matéria do Diário de Natal



Mulher reage a assalto e mata suspeito atropelado
Segundo a polícia, ela jogou carro por cima de dupla após ser abordada nas Quintas. Adolescente de 15 anos morreu
Paulo de Sousa // jpaulosousa.rn@dabr.com.br

O jovem Rogério Cordeiro de Morais, 15 anos, foi morto por atropelamento na Avenida Mario Negócio, nas Quintas, Zona Oeste, por volta das 6h de ontem. Segundo o tenente PM Alisson Menezes, oficial do 9º batalhão PM, o rapaz e outro jovem assaltaram a mulher de um fuzileiro naval quando essa deixou o marido no trabalho, em frente ao quartel do grupamento no bairro. A vítima então, em seu VW Gol prata, perseguiu o suposto assaltante, que fugira em uma bicicleta, e o atropelou. O pai do garoto, o gari Samuel de Morais, 37, revela que Rogério foi apreendido no início deste ano por roubo, mas estava solto e usou a bicicleta da empresa que trabalhava para assaltar. O nome e a idade da mulher, que ela aparenta ter em torno de 25 anos, não foram confirmados pela polícia.


Carro da condutora envolvida no incidente ficou com a lateral amassada Foto: Paulo de Sousa/DN/D.A.Press
O tenente Alisson conta que, no início da manhã de ontem, a mulher do fuzileiro foi deixar o marido em frente à base. Assim que o soldado desceu do carro e chegava ao quartel, ele notou quando a esposa estava sendo assaltada por dois homens em uma bicicleta. "Ele tentou esboçar uma reação, mas um dos jovens apontou a arma para ele e mandou que voltasse". O militar ficou assistindo toda a ação dos bandidos ao longe. Os jovens tomaram um aparelho celular, bolsa e joias da vítima. Em seguida os dois fugiram, um a pé e outro na bicicleta.


Com a fuga dos assaltantes, a vítima saiu em perseguição ao que estava de bicicleta. Na Av. Dr. Mario Negócio, a esposa do fuzileiro acabou atropelanto o jovem, que caiu em uma calçada, segundo a polícia. Ela ainda perdeu o controle do veículo, batendo na traseira de um GM Chevette azul e atravessou a pista, invadiu o sentido contrário e colidiu com a entrada de uma garagem. Rogério Cordeiro morreu ainda no local, antes da chegada do socorro médico.

Com o atropelamento, a polícia foi acionada e fez o isolamento da área onde o jovem morreu. Como estava muito abalada com o acontecido, a vítima do assalto, após a morte de Rogério, foi mantida em segurança pelos policiais e teve de ser levada ao Hospital Walfredo Gurgel, para ser medicada. "Ela estava bastante nervosa e precisou ser sedada". O Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep) é quem foi responsável pela perícia feita no local.
Folha admite vitória de Dilma, mas insiste em acontecimento-nada para atacar candidata do PT
Emanoel Barreto

A matéria abaixo está na Folha e dá conta de que Dilma venceria no primeiro turno. Traz, além disso, um detalhe de qualidade: apesar da fuzilaria da grande mídia, Folha em destaque, contra a candidatura da petista, nada, nada mudou o voto já cristalizado do eleitorado.

A informação enfática da mídia em torno do assunto - essa a explicação do fenômeno - é apenas isso: a informação enfática da mídia em torno do assunto. Falta-lhe, para ter legitimidade, repercussão na vida cotidiana das pessoas. Ou seja: os jornais e TVs acusam Dilma e o PT de uma enxurrada de coisas que a rigor não vão mudar as vidas de ninguém, para melhor ou pior.

Saber que se está dizendo que alguém fez algo supostamente errado não tem tanta importância prática no contexto do cotidiano quanto saber, por exemplo, que a inflação está descontolada e que com isso o preço da gasolina irá disparar. Se o PSDB conseguisse anunciar isso - e não vai porque não há condições de contexto histórico para tanto - aí sim a candidatura Serra poderia decolar. Em caso contrário, não.

O que o cidadão vê, lê e ouve é apenas isso: um troca-troca de palavras via TV e jornais; um acontecimento-nada, vazio de sentido social. E, o que é pior, um troca-troca de palavras que se dá somente nas manchetes, ausente dos grandes problemas nacionais, distante da realidade de quem está espremido num ônibus ou num metrô, sofre com o atendimento na saúde, teme os traficantes... mas teve alguma forma de elevação em seu salário.

Até Serra está se recusando a discutir essa tal quebra de sigilo por haver percebido que é pura perda de tempo (leia matéria em post de ontem, onde ele briga com apresentadora que o queria interrogar a respeito). Enfim, tudo se encaminha para a derrota de Serra. Sua campanha sempre padeceu de um sentido de causa, faltou-lhe conteúdo, faltou-lhe discurso, faltou o que prometer.

Para encerrar: mesmo dizendo que Dilma venceria no primeiro turno, a Folha deu manchetona de primeira página falando em escândalo. Manchete desse tipo, em suas linhas, letras garrafais, seguidas de subtítulo detalhado somente para grandes casos. E o jornal, querendo forçar os acontecimentos, busca produzir um acontecimento-manchete que, todavia, é apenas isso, um acontecimento-manchete, um acontecimento-nada.
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Abaixo, a matéria da Folha.
Dilma tem 51% e venceria no 1º turno


FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

Apesar do intenso noticiário das últimas semanas sobre a quebra dos sigilos fiscais de tucanos, a corrida presidencial entrou em fase de alta estabilidade nas taxas de intenção de voto dos principais candidatos. Dilma Rousseff (PT) venceria a disputa no primeiro turnos e a eleição fosse hoje. Segundo pesquisa Datafolha nos dias 13 a 15 deste mês com 11.784 entrevistas em todo o país, a petista tem 51%. Oscilou um ponto percentual para cima em relação ao levantamento anterior, dos dias 8 e 9.


A margem de erro máxima é de dois pontos, para mais ou para menos. Quando se consideram só os votos válidos, os dados apenas aos candidatos (excluindo-se os brancos e os nulos), Dilma vai a 57%. José Serra (PSDB) ficou exatamente como há uma semana, com 27%. Marina Silva (PV) também repetiu sua taxa de 11%. Em votos válidos, o tucano tem 30%. A verde fica com 12%. Há 4% que dizem votar em branco, nulo ou nenhum. Outros 7% se declaram indecisos. Os demais seis candidatos não pontuaram, segundo o Datafolha -que realizou a pesquisa sob encomenda da Folha e da Rede Globo.






ESCÂNDALO DA RECEITA


O levantamento comprovou que teve impacto mínimo até agora, quase imperceptível, o escândalo da quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Veronica. O Datafolha apurou que 57% dos eleitores tomaram conhecimento do assunto. Mas, apesar de a maioria conhecer o caso, só 12% se consideram bem informados a respeito.


As taxas de maior conhecimento estão entre os mais escolarizados (86%) e os que têm maior renda mensal (84%). Mas esses segmentos são minoritários no eleitorado e não provocaram alterações no quadro geral.


Numa estratificação apenas dos que se declaram mais bem informados, a taxa de intenção de votos de Dilma fica em 46% (contra os 51%no cômputo geral). Serra vai a 33% e Marina oscila para 14%. Ou seja, a soma do tucano com a verde daria 47%, e o cenário seria de um possível segundo turno.


No outro extremo, entretanto, quando são separados apenas os eleitores que nunca ouviram falar do caso da quebra de sigilos fiscais de tucanos, Dilma vai a 53%, Serra desce a 24% e Marina pontua apenas 8%. A estabilidade do quadro geral apurado pelo Datafolha também aparece em quase todos os segmentos pesquisados pelo instituto.






SEGUNDO TURNO


Na simulação de segundo turno, Dilma venceria com 57%, contra 35%de Serra. Os percentuais eram 56% e 35% há uma semana. Do ponto de vista geográfico, as únicas variações significativas e além da margem de erro ocorreram no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Brasília e em Belo Horizonte. Dilma perdeu oito pontos em Curitiba (PR) e voltou a ficar atrás de Serra nessa capital. A petista tem 28%, contra 36% do tucano. No Paraná como um todo, ela recuou cinco pontos -mas ainda lidera por 41% a 35%.


A petista também piorou seu desempenho em Brasília, saindo de 51% para 43%, mas continua líder porque Serra está com 21%. No Rio Grande do Sul e em Belo Horizonte ocorreu o inverso, com Dilma melhorando seu desempenho.


Entre os gaúchos, a petista foi de 43% para 45%, e Serra desceu de 38% para 34%. Na capital mineira, a petista foi de 40% para 44%. Serra oscilou de 23% para 25%.









O Pixador

Janis Joplin - Piece of my heart

Janis Joplin with Big Brother and The Holding Company - Summertime

 Foto rara de Roman Polanski e Sharon Stone
REUTERS

NOVA YORK (Reuters Life!) - Uma foto do cineasta Roman Polanski e sua então mulher Sharon Tate nus, feita pouco antes do brutal assassinato de Tate, foi vendida em leilão na segunda-feira por 11.250 dólares.
EFE/Christie'sA cópia de gelatina de prata em tamanho grande foi feita de uma imagem clicada pelo fotógrafo inglês David Bailey em 1969, alguns meses antes de a atriz Sharon Tate e quatro outras pessoas serem assassinadas por seguidores de Charles Manson. A foto foi impressa em 1988 para uma exposição itinerante.
EFE/Christie's
Sharon Tate e Roman Polanski, clicados pelo inglês David Bailey, em 1969
 

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Al Caparra, o gangster chic


Leio no JB online e compartilho:
Serra se irrita e ameaça deixar entrevista em programa de TV

Priscila Tieppo, Portal Terra

SÃO PAULO - Em gravação do programa Jogo do Poder, da CNT, o candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, se irritou com perguntas sobre a quebra de sigilos de tucanos e pesquisas e ameaçou deixar a entrevista.

O candidato disse que eles "estavam perdendo tempo falando daqueles assuntos", enquanto podiam dar ênfase aos programas de governo dele. Após a apresentadora Márcia Peltier citar que a quebra de sigilo teria acontecido em 2009, antes do anúncio das candidaturas à presidência, Serra subiu o tom:

- Que antes da candidatura, Márcia? Nós estamos gastando tempo aqui precioso, estamos repetindo os argumentos do PT, que você sabe que são fajutos, estamos perdendo tempo aqui.

Márcia tentou contemporizar, mas não conseguiu acalmá-lo. "A candidata do PT virá aqui?", perguntou. Após a afirmativa de Márcia, ele retrucou: "então, pergunta para ela".

"Agora nós vamos falar sobre programas", tentou prosseguir a apresentadora. Neste momento, Serra levantou-se e ameaçou sair do estúdio. Tentando arrumar o fio do microfone, disse: "eu não vou dar essa entrevista, você me desculpa".

Márcia insistiu dizendo que eles falariam de programa de governo, mas ele se manteve firme. "Faz de conta que eu não vim". "Mas porquê, candidato?", disse, ainda sentada. "Porque não tem nada a ver com pergunta, não é um troço sério. (...) Apaga aqui". "O que o senhor quer que apague?", perguntou Márcia. "Apague a TV pra gente conversar".

Márcia pediu que as câmeras fossem desligadas e as luzes do estúdio apagadas, mas Serra continuou falando: "porque isso aqui está parecendo montado". "Montado para quem? Aqui não tem isso", defendeu a jornalista.

O candidato voltou a reclamar da pauta das perguntas - que até então, havia se fixado nos acessos fiscais e sobre as pesquisas. "Me disseram que eu ia falar de política e economia".

Depois de conversar reservadamente com Márcia e o apresentador Alon Feuerwerker, Serra voltou ao estúdio e respondeu a questionamentos sobre economia, saúde e saneamento básico.


Ao final da gravação, Serra foi questionado pelos jornalistas que estavam no local sobre sua irritação. O candidato negou ter se irritado e afirmou que apenas estava "com estômago ruim" porque não tinha tomado café da manhã.

Segundo a assessoria de imprensa da emissora, as perguntas feitas ao candidatos sobre os assuntos que o incomodaram serão mantidas na edição que irá ao ar nesta quarta-feira (15), às 22h50. A reportagem do Terra , que se encontrava numa sala vizinha ao estúdio, tem o diálogo gravado.

Serra destacou suas propostas de governo nas gravações dos blocos seguintes e, sobre a questão da Receita Federal, o candidato disse que pediria a demissão do secretário, Otacílio Cartaxo, e do corregedor-geral da instituição, Antonio Carlos Costa D'Ávila.

"Eu teria demitido o secretário e o corregedor da Receita. Eles são não só os responsáveis como também têm ocultado provas sistematicamente. Eu começaria por aí", afirmou.

Hildegard Angel abre o jogo

  Transcrevo a entrevista de Hidelgard Angel na Carta Capital (EB).

Radical chique

Enquanto seu irmão Stuart era preso e morto pela ditadura, em 1971, a jovem Hildegard Angel iniciava trajetória oposta, atuando no colunismo social do jornal O Globo, onde trabalharia, entre idas e vindas, por quase 40 anos. Em 1976, quando a mãe dos dois, a estilista Zuzu, foi assassinada pelo regime em um acidente de carro, Hildegard já era uma jornalista conhecida e atriz de TV. Não deixa de ser interessante que, aos 60, recém-saída do extinto Jornal do Brasil (agora só online), Hilde assuma uma postura de franco-atiradora.
Suas armas são um blog e o Twitter. Seus alvos: a mídia e a preferência pelo candidato José Serra, do PSDB _no mês passado, ela declarou voto em Dilma Rousseff, do PT. Na entrevista concedida a CartaCapital em sua cobertura de frente para o mar em Copacabana, Hildegard Angel, criadora do termo “emergente” para definir os novos ricos cariocas, diz que Lula sofre preconceito por ser um deles, na política. “Já o Serra é o valoroso self-made man”, ironiza.
CartaCapital – Por que a sra. decidiu apoiar Dilma Rousseff?
 
Hildegard Angel - Ela estava sendo tão massacrada que achei ser o momento de me posicionar. Era um bombardeio de e-mails, de sobrenomes coroadíssimos, atacando a Dilma. Começaram denegrindo pelo físico, que ela era feia, horrorosa, megera, medonha. Aí ela ficou bonita e não puderam mais falar. Então começaram a atacar a parte moral, que ela é assassina, terrorista, ladra. Isso é um reflexo da impunidade. Enquanto não colocarmos nos devidos lugares os que foram responsáveis pelas atrocidades da ditadura eles vão se sentir no direito de forjar uma realidade inexistente, de denegrir nossos mártires, nossos heróis.
CC – Antes desta eleição, a senhora já tinha se posicionado politicamente?
 
HA – Não. Em nível nacional é a primeira vez. E acho que meu depoimento, e o almoço que a Lily Marinho (viúva de roberto Marinho) promoveu, romperam o círculo demonizante erguido em torno da Dilma. Ali fez-se uma fissura. A classe alta pensante, os ricos mais liberais, se permitiram uma abertura.
CC – D. Lily Marinho apoia Dilma?
 
HA – A Lily passou a apoiar a Dilma depois que a conheceu. Quando ela fez o almoço para a Dilma, estava agindo como a mulher do Roberto Marinho, que está acima do bem e do mal e que pode se dar ao luxo de receber quem bem entende. Mas a Dilma conquistou a Lily. Antes do almoço, podia até haver a idéia de receber também os outros candidatos. Depois, não havia mais.
CC – Houve reação dos filhos de Roberto Marinho pela madrasta ter recebido a candidata do PT?
 
HA - A Lily tem uma relação tão harmoniosa, tão respeitosa com eles, que acho que jamais teriam qualquer tipo de reação. O jornal e toda a organização têm sido muito duros com a Dilma, mas a única matéria positiva sobre ela até hoje em O Globo, da primeira até a última palavra, foi a do almoço com a Lily.
CC – Há quatro anos o ex-prefeito de São Paulo Claudio Lembo fez uma crítica, surpreendente para alguém do DEM, contra a elite branca. A sra. acha que falava só da paulistana ou da carioca também?
 
HA – Da elite brasileira como um todo. É uma elite preconceituosa, que tem seus valores, seus princípios, e acha muito difícil abrir mão de suas convicções.
CC – Que tipo de rico tem preconceito com Lula?
 
HA - O rico do passado, da herança, do aluguel, muito apegado a tradições, a sobrenome. É uma elite na maioria não produtiva, porque a elite produtiva, o homem que emprega, que gera progresso, desenvolvimento, não deixa de aplaudir o Lula. Mas às vezes a mulher deste homem não aplaude… Diplomatas aposentados também têm preconceito com Lula. O Itamaraty sempre foi o filé mignon do serviço público brasileiro, pela cultura, pela erudição, pelo savoir faire. E a política externa atual vai na contramão disso tudo. Esse é um segmento social que rejeita o Lula, o dos punhos de renda.
CC – Nos círculos que frequenta, ainda há gente que faz piada com a origem humilde de Lula?
 
HA - O vaivém dos e-mails de gente da classe A contra o Lula é de uma variedade enorme…. Por exemplo: as festas caipiras do Lula incomodaram muito. Já a Zuzu Angel sempre viu uma beleza extraordinária na caipirice, tanto que foi a primeira a usar as rendas do Norte, a misturar com organza, a usar as chitas, hoje tão na moda. Minha mãe tinha uma frase: a moda brasileira só será internacional se for legítima. Por isso foi a primeira a ter penetração no exterior. De certa forma, o Lula, com as festas caipiras dele, fez o que a Zuzu fez em 1960 com a moda caipira dela.
CC – Serra também tem origem humilde. Por que não existe este preconceito com ele?
 
HA - Porque o perfil do Lula se adequa mais ao do emergente. O do Serra é o do valoroso self made man… O Serra, para ser o homem que é, teve de dominar os códigos da elite, pelo estudo, pela convivência com pessoas intelectualmente superiores. Já o Lula foi abrindo caminho na base da cotovelada. E, de certa maneira, se manteve fiel à sua raça. Não se transformou com a ascensão, não se desligou, guardou seu ranço de pobreza, a memória do sofrimento. Isso o tornou mais sensível.
CC – E por outro lado o faz ser malvisto?
 
HA - Sim, porque nunca será um igual e nem faz questão. A dona Marisa Letícia nunca abriu seus salões. Durante o governo FHC, fui inúmeras vezes convidada para recepções no Itamaraty e, em governos anteriores, até no Palácio da Alvorada. No governo Lula só fui convidada uma vez, para o Itamaraty. Black-tie nunca existiu. Isso cria uma limitação de trânsito social. Não há uma interação para esta sociedade se inserir dentro de uma linguagem que não seja de gabinete junto à família Lula. Talvez ele não se sentisse confortável fazendo isso, não é sua praia.
CC – Ainda tem muito preconceito de classe no Brasil?
 
HA - Cada vez menos, mas tem. O que Lula sofre é preconceito de classe, mas está sendo superado por ele mesmo. Essa possível vitória da Dilma mostra que não é só o povão, não é são só aqueles que melhoraram de situação. Tem muito rico pensando diferente, saindo do casulo, desse gueto de pensamento.
CC – O interessante é que o dinheiro também tem de ser bem-nascido. De padaria, de marmita, não é dinheiro “bom”.
 
HA - O dinheiro do comércio sempre foi visto no Brasil como um dinheiro sem base cultural, de origem ruim. Já o dinheiro da indústria, da área financeira, era “digno”. Agora, com a falta generalizada de dinheiro no meio dos que eram muito ricos, essas pessoas deste dinheiro de origem menos nobre conseguiram uma posição de respeitabilidade no ambiente social.
CC – Os emergentes são mais respeitados?
 
HA – São mais aceitos, embora o verdadeiro emergente não esteja mais preocupado com isso. O verdadeiro emergente não tem aquelas veleidades do nouveau riche de antigamente. O nouveau riche de ontem queria entrar para o soçaite, que seus filhos estudassem com os filhos do soçaite, tinham aquela visão encantada da alta sociedade. O emergente de hoje tem mais noção do seu poder, não é tão submisso. Com o empobrecimento do rico tradicional, o rico do dinheiro novo se achou numa posição de não precisar fazer tanto a corte a essas pessoas.
CC – O dinheiro de Eike Batista, por exemplo, é “nobre”?
 
HA – Culturalmente falando, sim. Ele é filho de Eliezer Batista, que tinha grande status no país há muitas décadas. O que acontece é que o Eike sabe muito bem o que quer. Gosta de esporte, de mulher bonita, dos filhos e do trabalho dele. Sua vida é um retrato disso. Tem um carro espetacular de corrida na sala, tem casa decorada com troféus das suas lanchas. Ele poderia ter um Picasso, mas não é aquele rico tradicional. Nós temos no país essa classe da riqueza envergonhada, que não tem muito como explicar o seu dinheiro, da riqueza escondida, que não pode ser fotografada… E o Eike, como tudo dele, acredito, seja declarado lá no imposto, pode expor seu dinheiro. Ele é o rico da riqueza assumida.
CC – O jornalista Mauricio Stycer estudou a coluna de César Giobbi no Estadão em 2002, quando Lula se candidatou pela primeira vez, e concluiu que o colunista fez campanha disfarçada para Serra. Isso é comum?
 
HA - Ah, a Miriam Leitão também faz… É comum o colunista ter afinidade com o veículo e ter uma linha de raciocínio que vai de encontro à dele e ao meio em que convive. O Giobbi é uma pessoa estimadíssima na alta sociedade paulistana, não é visto nem como jornalista, é visto como um da turma. A Monica Bergamo (da Folha) não é vista como uma da turma. O Giobbi é um do time, então raciocina de acordo com seu time.
CC – O colunista social no Brasil sempre é de direita?
 
HA - Não, os colunistas têm a posição dos seus jornais. Tenho o privilégio que nem a posição do meu jornal eu tinha. O JB se manteve fazendo um jornalismo bem tucano até seis meses atrás, mas eu mantive minha independência e o jornal me deu essa liberdade, o que não é comum.
CC – Dos colunistas sociais clássicos, como Ibrahim Sued, tinha algum que era mais de esquerda?
 
HA - O Zózimo (Barrozo do Amaral) era visto à esquerda, mas era muito discreto, eu nunca o vi se posicionar ostensivamente na contramão do seu grupo social. Isso não existe. Havia na época uma coisa charmosa, atraente, um esquerdismo light, fazia parte do put together da elegância.
CC – A sra. teve uma trajetória bem diferente do seu irmão Stuart. Era a burguesa da família?
 
HA – Não, era a caçula. A sobrevivente. Eu era atriz de teatro e passei a ter uma atividade paralela, o jornalismo, que acabou se sobrepondo à atividade artística. Até porque quando entramos no processo das comédias ligeiras em decorrência da censura, não vi mais graça. Não sei se houve algum componente psicológico nisso, mas um mês depois da morte de minha mãe,  não renovei mais o contrato. Estava em cartaz com uma comédia de grande sucesso, “Bonifácio Bilhões”, com Lima Duarte e Armando Bogus. Não me aproximei mais do teatro, já estava com minha carreira encaminhada para o jornalismo. De repente me vi sem mãe, sem irmão, sem irmã (enviada para a França), meu pai morando no interior com outra família. Eu era a Angel que ficou para sobreviver, na atividade que sabia fazer, o jornalismo social, mas isso me custou o preço de eu ter de me calar e nem sequer refletir. Quando se vive num processo de muito medo você não reflete, só sobrevive. Eu consegui sobreviver tão bem que hoje eu falo. E vejo pessoas que deveriam estar falando, caladas.
CC – Outro dia a sra. falou no twitter que acha que a filha de Serra, Verônica, deveria abrir o sigilo fiscal para acabar com as dúvidas.
 
HA – Não só a filha do Serra, todo homem público no país e seus parentes próximos deveriam tomar a iniciativa de abrir seu imposto de renda, sua evolução patrimonial. Deveria ser lei, uma obrigação ética, moral. Causa estranheza a gente ver figuras políticas carimbadas de um dia para outro mudarem de casa, de bairro, de status, de carro, de avião, sem ter uma história profissional que justifique isso. Devia partir deles, desses homens que se dizem honrados, fazer esse gesto. Por isso acho esse escândalo pífio.
CC – A sra. também criticou na rede a passeata dos humoristas contra a “censura”. Por quê?
 
HA – A passeata deles não era a favor do humor, era a favor do Serra, não era contra a censura, era contra o governo. Foi uma passeata que teve um defeito de origem: não esclarecer o real motivo do humor não estar liberado, que era um projeto dos deputados, não do governo ou do TSE. Ou seja, foi uma passeata ignorante que disseminava a ignorância. Quem faz humor político não pode ser ignorante, porque é o humor mais sofisticado que há. Além disso, vi no CQC eles fazendo humor de uma maneira muito grosseira com dona Marisa Letícia, dizendo que o Eike Batista tinha faturado ela e ia comprar uma coleira… Isso se diz da mulher do presidente da República? É comparável à ofensa que o Irã fez em relação a Carla Bruni.
CC – Manifestar-se politicamente agora a recoloca mais no caminho do Stuart e da Zuzu?
 
HA – Me sinto um pouco refém da coragem da minha família, é como se tivesse retomado meu curso. Como se cumprisse uma trajetória que estava ali me esperando, neste momento que as pessoas se acomodaram, que estão submetidas a seus empregos, todas colocadas na grande imprensa, com uma posição monocórdia, um pensamento único. Vou estar sendo dura e talvez injusta, mas é muito fácil ser herói quando isso lhe dá ibope. Difícil é ir contra a corrente quando isso vai pegar mal para você. Sou uma colunista social e meu patrimônio são as elites. Meu leitorado principal são as elites. Me surpreende e me enternece que elas me respeitem agora mais do que nunca.
CC – Pretende se tornar uma guerrilheira online?
 
HA – Eu seria muito pretensiosa e desrespeitosa se de alguma maneira usasse essa qualificação de guerrilheira. Guerrilheiro foi meu irmão. Eu não fui. Estou tirando o atraso, só isso.
Cynara Menezes em Carta Capital
 Goebbels tinha mesmo razão?
Emanoel Barreto
 
     A emissão de determinados tipos de discursos, especialmente discursos acusatórios, diz mais que o seu próprio dizer objetivo. O excesso de acusação pode revelar, por exemplo, que a acusação é vazia. Tanto que é preciso ser repetida. Todavia, ensinava Goebbels que uma mentira repetida à exaustão causa efeito de verdade, chegando mesmo a se constituir em verdade pelo fato mesmo da convicção coletivamente criada. O exemplo é péssimo mas é histórico.

O discurso acusatório a que refiro é o da campanha serrista, que se transformou de campanha política em guerra de posição ideológica, busca de ocupação de espaços em corações e mentes a fim de tentar neutralizar o ascenso dilmista exposto nas pesquisas. 

Acrescente-se a isso que o excesso de informação em vez de explicar pode efetivamente confundir, tal a quantidade de assertivas que chega ao público-alvo. Qual dos escândalos e mais escandaloso que o outro? Ou não seria melhor ver Dilma como uma perigosa guerrilheira? E a ministra Erenice, é corrupta mesmo? E o sigilo quebrado? Mas, o que é mesmo sigilo?

Nessa mixórdia, o esforço da grande imprensa baqueia ante realidade insofismável: o brasileiro lê pouco jornais e revistas. Assim, o grande trunfo fica mesmo por conta da TV em seu jornalismo e, claro, na propaganda eleitoral.


Até aqui os efeitos do esforço da comunicação propagandística têm sido nulos, a se levar em crédito as pesquisas. Até agora, sim. Vejamos a próxima pesquisa. Vejamos a próxima pesquisa. Vejamos se Goebbels tinha mesmo tanta razão. Afinal ele falava da propaganda nazista, que era imposta e única sobre o povo alemão. No caso da atual campanha há o contraditório. Aí, creio, fica mais difícil a mentira assumir o lugar da verdade.
 Encontrar a coragem da luz na rua escura
Emanoel Barreto

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://1.bp.blogspot.com

   Temor, insegurança, a rua escura, a chuva fria ventando, o passo seguinte, o cigarro apagado pela chuva, a esquina amedrontadora, marquises pingando, o vento mais forte ainda, a chuva mais forte ainda, a roupa encharcada, a noite adentro, a luz da cidade que se apagou toda, o caminhar na treva densa, o rosnar de um cão em meio ao medo, a incerteza do outro passo, a parada na marquise seguinte, a espera, outro passo, um carro que passa zunindo e espalhando água, o frio entrando na roupa, o corpo tremendo, a incerteza de estar no caminho certo, por que demorou tanto a sair de onde estava se sabia que a chuva vinha e com a chuva vinham o vento, o frio e o medo, o cão rosnando que persegue, correr não adianta, temor, não há nada a fazer senão andar, andar a esmo porque o escuro é uma coisa que não tem rumo certo, onde estará mesmo a casa, norte, sul, leste ou oeste, o que são mesmo norte, sul, leste e oeste se não há luz para dizer onde eles estão, caminhar, caminhar, caminhar, perder-se para afinal encontrar a coragem da luz. 

A noviça rebelde


Compartilho notícia da Folha:

Anúncio de sorvete com freira grávida é proibido no Reino Unido

DA BBC BRASIL
Um anúncio de sorvete com a fotografia de uma modelo como uma freira grávida foi proibido pelo órgão que regula a publicidade no Reino Unido.
A Advertising Standards Authority (ASA, na sigla em inglês) considerou que o anúncio desrespeitava as crenças cristãs, principalmente de católicos.

A empresa Antonio Federici, por trás do anúncio, prometeu exibir posteres semelhantes em parte do trajeto que o Papa Bento 16 fará na capital britânica. A visita de Estado do papa, que começa nesta quinta-feira, é a primeira desde a criação da Igreja Anglicana em 1534.
A peça publicitária mostra uma modelo grávida, vestida de freira, saboreando o sorvete em uma igreja com os dizeres: "Concebido imaculadamente" em referência ao dogma cristão da concepção de Jesus e "Sorvete é a nossa religião".
NOVO ANÚNCIO
A empresa britânica responsável pela peça disse que exibirá posteres com imagens semelhantes perto da Abadia de Westminster. A agenda do papa prevê uma visita à abadia nesta sexta-feira, que será seguida da celebração de uma missa na Catedral de Westminster no sábado.
A empresa não revelou que imagem será exibida no novo anúncio, dizendo apenas que será uma "continuação do tema". Por meio de uma porta-voz, a empresa disse que a nova peça tem como objetivo "desafiar" a proibição do órgão regulador.
Por meio de um comunicado, a agência reguladora disse não poder fazer comentários sobre anúncios que ainda não foram divulgados, mas que está atuando, nos bastidores, para que o anunciante respeite as diretrizes. 

A empresa disse ainda que tem o objetivo de comentar e questionar, usando a sátira e o humor, a relevância e a hipocrisia da religião e a postura da igreja em relação a questões sociais. 

O anúncio proibido foi publicado em edições das revistas "The Lady" e "Grazia" e recebeu dez reclamações. 

A empresa tentou argumentar que o baixo número de queixas não deveria comprometer a liberdade de expressão com o grande público.
Este é o segundo anúncio de Antonio Federici proibido pela ASA. Em 2009, uma imagem que mostrava um padre e uma freira se preparando para um beijo foi também rejeitada pela agência reguladora.

A demência, a solidão, o horror


http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.cie.unam.mx/~gbv/weblog/juegos-de-fantasmas
A mulher que colecionava fantasmas
Emanoel Barreto

A Folha traz a matéria que publico abaixo. Como num conto de horror de Edgar Allan Poe, oscilando entre esse mesmo horror e a demência, entre a miserável condição humana e a compaixão perplexa e dissimulada pela objetividade jornalística ante essa mesma condição, a notícia, em seu estilo distanciado e frio, dá o relato de uma vida infeliz e feia. 


O patético humano manifesto em toda a sua brutalidade e incompreensibilidade na figura de uma mulher que guardava os cadáveres de seus filhos mortos. Perdida em seu mundo secreto, cheio de caminhos que eram só dela e de seus fantasmas, seguia. Como que colecionando toda a nossa decadência, fracassos, traumas, desesperos e vazio. Leia a matéria:
.....
UMA BRITÂNICA admitiu ter guardado os cadáveres de três bebês em um armário por 20 anos. Bernadette Quirk, de 55 anos, também enterrou, secretamente, em um cemitério, o corpo de um quarto bebê.
Ela está sendo julgada em um tribunal na cidade de Liverpool, no norte da Inglaterra.

Britânica Bernadette Quirk, 55, admitiu que guardou bebês mortos em armário por 20 anos
Britânica Bernadette Quirk, 55, admitiu que guardou bebês mortos em armário por 20 anos 

Os bebês nasceram entre 1985 e 1995. Quirk, que no período consumia grandes quantidades de álcool, alega que todos os bebês nasceram mortos e que ela embrulhou três deles em trapos e guardou-os em um pequeno recipiente plástico em seu armário. 

Nascida no condado de Merseyside, hoje vivendo nos arredores da cidade de Manchester, Quirk teve dificuldade em se lembrar das datas em que os bebês nasceram. Ela se declarou culpada da acusação de ocultação de nascimentos e será sentenciada em outubro.

PERÍODO DIFÍCIL
O advogado de Quirk, Ian Morris, disse ao tribunal que os nascimentos aconteceram durante um período difícil na vida dela. Ele disse que a cliente desejava tornar claro que os bebês já estavam mortos quando nasceram, fato que não foi contrariado por pareceres médicos.
Segundo o advogado, Quirk descreve aquela fase em sua vida como caótica e diz ter enterrado as memórias daquele tempo em algum lugar inacessível. Morris disse que sua cliente não se lembra do quarto bebê mas não teve outra opção senão admitir culpa, tendo em vista evidências irrefutáveis de que ela era a mãe. 

Ele disse ao tribunal que quando Quirk foi presa, no ano passado, estava recebendo tratamento para depressão em um hospital e corria o risco de ser despejada de sua casa.

GÊMEAS
Não foi explicado por que Quirk guardou os restos dos cadáveres, levando-os consigo para os vários endereços que ocupou após os nascimentos. Os restos mortais foram encontrados pela filha de Quirk, Joanne Lee, que avisou a polícia. 

Os quatro bebês eram meninas e duas delas eram gêmeas. O juiz pediu mais informações contextuais antes de decidir sobre a sentença, mas alertou Quirk de que há possibilidade de que ela seja mandada para a prisão.
A família de Quirk anunciou que pretende organizar um enterro para os bebês.
+ Notícias sobre infanticídio

terça-feira, 14 de setembro de 2010

http://www.pontodevista.jor.br/blog/galeria.php
 Encontrei este texto de Clarice Lispector e compartilho (EB).
O primeiro beijo
Clarice Lispector

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)