sábado, 25 de setembro de 2010

 Estamos em Bogotá: nas ruas a polícia; e enormes cães caminham até você
Emanoel Barreto


Vivendo três dias em Bogotá para participar de encontro de professores de jornalismo tive a experiência de ver um povo e seu diário convívio com o medo. Em bares, ruas, restaurantes; no aeroporto e em pontos turísticos, em táxis e locais de grandes aglomerações soldados por todo lado olham você com desconfiança. Vigilantes de empresas particulares caminham ao lado de cães de grande porte. Nas revistas a que fui submetido nada escapou: desde a bolsa com pertences simples até o meu chapéu. Na dúvida, ainda usavam máquinas detetoras de metal. 

Quando do anúncio da morte de Mono Jojoy, líder das Farc, as televisões entraram em estado de êxtase ideológico. Era preciso mostrar à larga que o inimigo, o oposto, o indescritível, havia sido abatido. 

Não se questionava o motivo da guerrilha, a insurgência contra uma situação histórica de opressão sobre todo um povo. E se a luta armada é uma opção que apenas amplia o horror, acresce mais horror a uma situação em si terrível sem conseguir vislumbrar, mesmo que ao longe, uma solução, o uso das vitórias das forças regulares é um discurso suficientemente forte para apresentar as elites como "salvadoras" e "patrióticas".


O povo revela não entender a matriz profunda da guerra, suas motivações de repulsa à injustiça social para somente perceber a ação violenta dos guerrilheiros.  Para as pessoas com quem conversei, "los guerrilleros son malos" e fim. 

O foco essencial é desviado para o confronto em si, a batalha, mais que isso, a notícia dessa batalha. Assim, a vida passa ao plano da notícia pontual, esquecendo-se a dor histórica de um povo. Há medo? Matêmo-lo. E matando-se o homem origem do medo garante-se pelo noticiário que o Bem está triunfando. 

A pretensa busca pela democracia pelas armas dá liberdade e legitimação ao discurso de manutenção da ordem e a brutalidade apenas se justifica. A brutalidade primeira, de uso do povo para fins privados, é esquecida. A visão do ataque a Mono Jojoy é um  blockbuster de horrendo sucesso. O espetáculo da guerra, na Colômbia, faz parte da grade de programação das redes de TV.



Bombardeo de la Fuerza Aérea Colombiana al campamento de alias Mono Jojo...

Al Caparra, o gangster chic

O Estadão, a pele de cordeiro e a filha de Serra
Emanoel Barreto

Deu na edição de hoje do Estadão: Em uma semana, a preferência dos eleitores pela petista Dilma Rousseff caiu de 58% para 55% dos votos válidos, enquanto os que optam pelo tucano José Serra aumentaram de 28% para 31%. Marina Silva (PV) tem 13% dos votos válidos. A candidata governista venceria no primeiro turno se a eleição fosse realizada hoje, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo.

Veja também:

A contagem dos votos válidos exclui nulos e em branco, além de indecisos. São esses os números que o Tribunal Superior Eleitoral divulgará na apuração oficial. Em relação ao total dos votos, Dilma oscilou de 51% para 50%, enquanto seu principal adversário subiu de 25% para 28%. O crescimento do tucano se deu sobre os eleitores indecisos - os que não sabem em quem votar caíram de 8% para 5%. 

Marina oscilou um ponto para cima, de 11% para 12%.
Há uma semana, a candidata do PT tinha 14 pontos porcentuais de vantagem sobre a soma dos adversários, no cálculo dos votos totais. Agora, essa diferença diminuiu para 9 pontos. Se a soma dos adversários ultrapassar o índice de Dilma, haverá segundo turno.
Na hipótese de uma segunda rodada eleitoral entre a petista e o tucano, ela é favorita: venceria por 54% a 32%.
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Não  é preciso ser expert em estudos estatísticos para perceber que o jornal dos Mesquita elabora uma tentativa de raciocínio que aparentemente é veraz e sólida em sua essência propositiva, quando na realidade é aquilo que se chama de falácia. Em outras palavras: é verdade que é mentira.

O pretenso  poder assertivo da falácia, todavia, se esboroa quando é visto a lupa: a candidata mantém a dianteira de forma absoluta, numericamente; a "soma" de votos dos outros candidatos é que estabeleceria a contestação a esse universo apurado; digo, a real e efetiva vantagem de Dilma e mantém. O resto é apenas isso, o resto.

É uma tentativa de afirmar que o trabalho da grande imprensa, Estadão integrando o topo da lista, teria surtido efeito. Contudo, contra fatos não há argumentos. Não vou entrar em análise do que seja um fato objetivamente nem se o fato é quem guia nossos sentidos em vez de ser por nós valorado enquanto tal. Apenas afirmo: o quadro instalado não indica qualquer variação suficientemente poderosa para aniquiliar a candidatura Dilma. Esse é o fato.

O próprio Estadão, apesar do esforço em contrário, quando alude à tal "soma" das intenções de votos dos adversários de Dilma, o admite: ela ganharia hoje e pronto. A elogiar, apenas a admissão de que o jornal está empenhado, como se fora sim partido político, na eleição de Serra. 

O anúncio está no editorial "Mal a evitar" ( http://www.estadao.com.br/noticias/geral,editorial-o-mal-a-evitar,615255,0.htm ), à maneira dos grandes jornais norteamericanos. A rigor isso não precisaria ser dito: qualquer análise de discurso o confirmaria. Mas, pelo menos, o jornal tirou a pele de cordeiro.

Antes que eu me esqueça: onde está a filha de Serra?
(Imagem http://picblow.com/pt/img/3295)
Murdoch agora quer derrubar o New York Times

A Folha registra que o magnata da mídia Rupert Murdoch quer tomar o lugar do centenário New York Times. Murdoch não gosta do jornalismo, gosta de dinheiro. Abaixo, a matéria. 

Neste final de semana farei uma apreciação sobre a Colômbia, de onde acabei de chegar. No momento em que redijo estou no Aeroporto de Guarulhos, São Paulo (EB).

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LUCIANA COELHO
EM CAMBRIDGE (EUA)

O "Wall Street Journal" engrossa sua artilharia hoje com uma edição de fim de semana maior e repaginada, munindo-se de resenhas de livros, ensaios e uma recapitulação analítica dos fatos da semana para atacar o "New York Times" em seu território mais caro.


Desde que comprou o "Journal" em 2007, em uma tentativa de somar prestígio a um portfólio repleto de sucessos, Rupert Murdoch tem investido pesado para transformar o sisudo diário financeiro no jornal mais lido dos Estados Unidos.


Conseguiu. Hoje imprime 2 milhões de exemplares diários (200 mil a mais que o concorrente, o "USA Today", e o dobro do "Times", segundo o Birô de Circulação Americano).


Surdo as previsões catastrofistas sobre o jornalismo impresso, o milionário australiano de 82 anos aposta alto, dificilmente perde e adora uma briga. O novo "WSJ Weekend" é só o golpe mais recente no "Times" após a ofensiva aberta com a criação de um caderno de notícias locais, em abril.


"Há 25 anos, o consenso era que não dava para ter quatro redes de TV aberta nos EUA. Murdoch começou a Fox e fez sucesso", disse à Folha Richard Wald, professor de jornalismo na Universidade Columbia, ex-presidente da rede de TV NBC News e ex-editor-administrativo do "Washington Post".


"Muitos analistas dizem que jornal é um mau investimento. Mas você não aposta contra um sujeito que venceu quase todas as suas apostas."


O caderno metropolitano ainda não pode ser lido como um sucesso comercial, mas foi bem recebido por quem acompanha o setor -apesar da ironia do rival.


"Eles conseguiram atrair alguns anunciantes que tradicionalmente compravam espaço no "New York Times", como lojistas locais", afirma Nat Ives, colunista da revista especializada em publicidade Advertising Age. "Ainda é cedo, no entanto, para saber se afetou a circulação."


À época do lançamento, o "Times" parabenizou o concorrente por passar a "cobrir Nova York de Wall Street para cima" e prometeu passar umas "dicas", já que estava há 160 anos no ramo.


O "Journal" deu de ombros. "Somos mais que duas vezes maiores do que o "Times'", afirmou nesta semana à Associated Press o editor-chefe Robert Thomson. "Eles não são um concorrente sério."


Arthur Sulzberger, o editor-chefe e publisher do "Times", também diz não levar o rival a sério. Em entrevista à revista "Vanity Fair" recém-publicada, ele debocha da falta de prêmios das publicações do australiano e de seus modos.


"Murdoch é um homem que sozinho construiu uma corporação, mas que normalmente não é visto como uma pessoa que melhorou o jornalismo", comenta Walt.

PRESTÍGIO


Porque é prestígio que Murdoch busca, Walt e Ives estão comemorando a disputa como fôlego novo para os jornais impressos após sombrios anos de cortes (inclusive no "Times").


"Times" e "Journal" chegam hoje com públicos distintos para o duelo, com o "Journal" claramente conservador e o "Times" de inclinação progressista.


A edição de hoje, no entanto, pode tornar essa divisão mais borrada. O "Times" tem um terço de seu público com menos de 30 anos, e só 33% de seus leitores passaram dos 50 (ante 45% do "Journal", segundo pesquisa recente do Instituto Pew).


É esse público, que transita o tempo todo entre o impresso e o on-line, que o "Journal" cobiça com seus novos cadernos.



sexta-feira, 24 de setembro de 2010


Em Bogotá é tempo de comemoração midiática: é preciso mostrar o inimigo morto
Emanoel Barreto

Bogotá - A primeira página de hoje de El Tiempo dá bem uma ideia da comemoração midiática em torno da morte do guerrilheiro Mono Jojoy. A manchete é incisiva: foi entregue, traído seria o termo, por parceiros, insinuado aí que o movimento Farc está em processo de falimentação.

A guerrilha, enquanto discurso violento de contestação a um determinado sistema, passou a carecer de legitimidade quando se envolver com os narcotraficantes, tornando-se assim organização temida, tanto quanto os comandos paramilitares de extrema direita e os traficantes mesmo.

Na primeira página autoridades comemoram, em destaque o presidente Juan Manuel Santos. Em foto abaixo, imagem do corpo do guerrilheiro morto. A contraposição é forte: é preciso exibir o troféu fúnebre. É preciso uma imagem-são-tomé para que se tenha dimensão da vitória alcançada.

No fundo o povo, sempre o povo, fica ao sabor dos interesses de quem tenha poder, de fogo inclusive, passando a viver uma situação-limite. E quando um grupo que escolheu as armas para supostamente defender o povo mas incide em situação de similaridade à violência das elites - violência que vai da assimetria de classes às manifestações de banditismo e brutalidade, tal grupo passa a ser apenas mais um drama na vida de quem vive na corda bamba.
Tudo é natural desde que esteja acontecendo ou toda mulher devia ser como Giselle Bündchen
Emanoel Barreto

Leio na Folha um infotainment típico: uma "notícia" a respeito de Giselle Bündchen e seu mais novo vestido. Esse tipo de idiotice tem repercussão, uma vez que, mesmo sendo aqui criticada, essa forma de jornalismo tem eficácia editorial ou seja: rumor social de alguma forma.

A celebração das celebridades é também uma forma inconsciente de um certo sistema de poder justificar-se e ganhar legitimação. Afinal, todas-as-mulheres-deveriam-ser-como-Giselle Bündchen-e-assim-serem-felizes-e-mesmo-que-não-consigam-devem-continuar-tentando.

Essa imposição de corpo é também uma imposição de classe e de entendimento de mundo: tudo é natural desde que esteja acontecendo. Assim, é natural que todos devem seguir o acontecimento-Bündchen. Se não, ninguém, ou pelo menos nenhuma mulher, será feliz.

Abaixo, o infotainment.


Gisele Bündchen mostra ótima forma em evento brasileiro em NY



DE SÃO PAULO


Gisele Bündchen mostrou sua ótima forma em um vestido Calvin Klein personalizado na noite desta quinta-feira. A top deixou o filho Benjamin em casa e prestigiou um evento brasileiro em Nova York.

Justo ao corpo, o vestido marrom marcava as curvas de Gisele e deixava à mostra as costas da modelo.

O evento Brazil Gala foi realizado no Metropolitan Museum para arrecadar fundos para a organização BrazilFoundation. justjared.buzznet.com/Reprodução


 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Colômbia vive um vendaval de histeria ideológica
Emanoel Barreto


A Colômbia, onde estou para participar de congresso de estudiosos da comunicação, é varrida por um vendaval de esquizofrenia ideológica. As TVs comemoram a morte do guerrilheiro Mono Jojoy como se fora ganha uma espécie de Copa do Mundo ou algo assim. Nas ruas não há mobilizações festivas. Mas, todos com quem falei em táxis, restaurantes, calles, afirmam que foi uma grande vitória.

Militares deram hoje à TV Caracol a mais surrealista entrevista que já vi: o repórter fez uma pergunta generalista e os oficiais generais das três Forças, mais a polícia, ficaram trocando o microfone e mão em mão até acharem que tinham falado o suficiente.

Jornais deram edições extra. Pessoas foram entrevistadas nas ruas e a TV Caracol, a que mais vi, deu a "repercussão mundial" do acontecimento: entrevistas rápidas com presidentes de Honduras e Costa Rica, além de imagens de TVs da América do Sul.

A Colômbia tem inegavelmente uma dramática e histórica situação de sofrimento e pobreza do seu povo, daí o surgimento das Farc e sua posterior ligação com os narcotraficantes, imergindo o país numa tempestade de violência e brutalidade, atingindo especialmente os mais pobres.

A eliminação de Jojoy é o discurso que as elites precisam para aferrar-se ao poder, aparecendo como defensoras do povo. A guerrilha, pela forma como conduziu suas atitudes, terminou por esvaziar o discurso de salvação, passando a ser tida como um flagelo, mais um, na vida do povo daqui.

No fim, é lamentar o império da brutalidade vivido pelo país.

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Término dos trabalhos acadêmicos e um passeio na Quinta de Bolívar
Apresentei hoje meu trabalho no Congresso da Associação Latinoamericana de Pesquisadores em Comunicação, na Universidade Javeriana. Volto ao Brasil nesta sexta. Se der, escrevo algo no Coisas de Jornal antes de voltar.

Na foto, um registro da Quinta de Bolívar, um dos lugares onde viveu O Libertador.
Local belíssimo e de intenso sentimento, cheio de uma aura de dignidade e sentido histórico da vida humana.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Estou em Bogotá: muito frio e chove
Emanoel Barreto

Estou em Bogotá, bela e de povo atencioso. As montanhas cercam a cidade, encobertas por densas névoas. Faz muito frio e chove um pouco. Para mim, com meu olhar trópico-brasileiro, é estranho ver tantas pessoas encasacadas e isso mui elegantemente. A mim parece que estão todos fantasiados e prontos a participar de uma super-produção existencial. Como também não posso escapar ao frio também me fantasiei.

Estou sem tempo de atualizar Coisas de Jornal como queria. As atividades na Universidad Javeriana tomam todo o meu tempo. Assim, vou postando alguma coisa quando posso.

Amanhã apresentarei meu trabalho no Grupo de Trabalho "Estudios de Periodismo". É uma abordagem a respeito do olhar do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson e intitula-se "A fotografia como paixão em Cartier-Bresson.

Paixão no sentido de dedicação intensa a algo, disposição de cumprir com um propósito histórico: no jornalismo, revelar o mundo e todos os seus matizes de insanidade e de beleza.

Se ainda não leu, bem abaixo deste post há um resumo do meu trabalho.
Volto. Mais tarde ou amanhã.
Al Caparra, o gangster chic
 
Estou em Bogotá. Com dificuldade para atualizar o blog. Farei o possível para atualizar ainda hoje.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 20 de setembro de 2010


 Os milagres que farei quando for candidato
Emanoel Barreto

Quando eu for candidato farei milagres
por antecipação, protomilagres, 
milagres prévios e todos serão felizes há dois minutos atrás
mesmo que não o percebam.



Farei a inauguração do sol todos os dias
e a lua também será inaugurada,
e assim também todas as sarjetas.


Todos terão direito a cheirar uma flor.
Terão direito a respirar, a andar.
Terão direito a olhar, não é incrível?

Quando eu for candidato, prometo,
vou salvar o mundo anteontem.
E depois, quando eu não fizer nada,
estejam certos: é que tudo aconteceu tão de repente
que as lentidão da vida não se emparelhou.

Debussy, Clair de lune (piano music)

Uma beleza com cara de súplica, estranha eternidade

Na foto de Everson Santos de Andrade um toque de misticismo. A visão de um momento onde o mundo fala seus instantes de mistério. Um murmúrio, como que uma prece em poema de Auta de Sousa.

Encontrei a informação no Extra Online e compartilho:

Tropa de elite 2: PM corrupto no primeiro longa volta como miliciano


Sandro Rocha, um sargento no primeiro longa, vira major e miliciano

Não foi só o Capitão Nascimento (Wagner Moura) que subiu de posto na “Tropa de elite” comandada por José Padilha. Autor da frase “quem quer rir tem que fazer rir” no primeiro longa, o Sargento Rocha também ganhou nova patente: deixou de cuidar dos assuntos burocráticos do batalhão da PM e virou major. E não só isso: na sequência da história, que estreia dia 8, ele ganha o apelido de Russo e será um chefe de milícia.
 
— Russo não é mole, não. É um miliciano sanguinário, consegue tudo o que quer por meio da força, da imposição — adianta o ator Sandro Rocha, que por obra do destino repete o personagem em “Tropa de elite 2”: — Sempre achei que tinha alguma coisa guardada para mim desde o primeiro filme. Na verdade, agora, eu faria um dos homens do Russo, o chefe da milícia, mas o ator que o interpretaria teve um problema. O Zé Padilha (diretor) resolveu abrir um teste para mim. Passei e veio a calhar, não é? Estou dando continuidade ao papel que fiz lá atrás.

Morador do Lins, Sandro, de 36 anos, sofreu maus bocados para atuar em “Tropa 2”, filmado de dezembro de 2009 a abril deste ano.

— Não passei por esse trabalho sem consequências na vida pessoal. Russo é barra pesada, sempre em meio a tiros... Eu chegava em casa muito brutalizado, numa energia negativa. Discutia com a minha mulher, vivia nervoso, tenso... Isso tudo só foi acabar junto com o fim das filmagens.

Além da preparação com o elenco, Sandro fez questão de aprender sobre milícia com quem entende do assunto.

— Conversei com amigos policiais que estão acostumados a conviver com isso e puderam me dar dicas. Falei também com duas pessoas ligadas à milícia, que me explicaram como tudo funciona.

Tropa de Elite 2 - Trailer Oficial

Al Caparra, o gangster chic

Uma viagem a Bogotá e a fotografia como paixão em Cartier-Bresson
Emanoel Barreto

Viajo amanhã a Bogotá, onde participo do 10º Congressso da Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación, na Pontificia Universidad Javeriana. Apresentarei o trabalho intitulado "A fotografia como paixão em Cartier-Bresson", que aborda o olhar do fotógrafo francês considerado um dos maiores nomes do século passado.

O trabalho de Bresson é uma espécie de conjura entre cerebralismo e arrebatamento; o fotógrafo à espreita do momento decisivo, ator sem papel no grande teatro do mundo. Mas participando sem falar, é ator de máxima importância, ao congelar em foto um instante que pode ser a visão epifânica de um gesto poético ou a captação da condição humana na dor, na grandeza, na miséria.

É sobre isso que vou falar. Enviei ao congresso texto de 15 laudas tratando do assunto e o fiz como quem produz uma crônica. Dexei o repórter falar, mesmo cumprindo o que determinam as regras da academia.

Percorri com os olhos e o olhar uma parte da trajetória de Bresson ( http://www.magnumphotos.com/Archive/C.aspx?VP3=ViewBox&ALID=2TYRYD1D518O&IT=ThumbImage01_VForm&CT=Album ) e da internet consegui imagens preciosas.

Pode-se perceber o poder e a força da fotografia como arte e como exercício de um jornalismo incisivo e captor de momentos da história. Bresson, que antes de ser fotógrafo fora pintor, tinha noção exata dos planos e do equilíbrio dos volumes no texto fotográfico.

Dizia que a foto de uma certa maneira era uma forma de pintura. E tinha razão. Pois então é isso: vou a Bogotá também, já que surgiu a oportunidade, para ver como funciona um país em guerra; como age o povo, o que se diz nas ruas, como fervilham os fatos. Vou a uma universidade mas vou também ser repórter. Mando notícias de lá.

Leia abaixo um trecho do trabalho que apresentarei.
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A mulher seminua num Éden suarento

Na fotografia de Bresson o mundo é rápido e cada segundo conta. O tempo tem locução própria, e o espaço e seus habitantes com ele dialogam. Resta saber o que dizem. E o que dizem é transcrito na imagem. A vida e todas as suas digressões.
[...]
 Surge então uma outra forma do presente. O presente da vida e as suas divagações, esse o mister de Bresson: fazê-los co-incidir na foto. E coincidem na colagem pictórica. Pode ser na imagem da feirante seminua do mercado de Bali. Seios suntuosos – que adornam nudez primal, despojada e majestosamente banal aos olhares da feira – contrastam com descarnado ancião que lhe é perto.

O torso ossudo próximo ao luxuriante-corpo-fêmeo. Na mulher, à cabeça, um turbante branco é enfeite ligeiro, contraponto de alvura à pele escura. Mas o cesto na cabeça não é adorno, é fardo. Temos dois seres básicos em seu estado-de-natureza infausto. Uma espécie de inocência tosca os une, a guiar a naturalização de sua tragédia. Escassez e viço convivendo nos corpos de tais inocentes.

Tão humanos, tão singelamente espécimes, tão ingenuamente mansos; dois exemplares, dois viventes, dois de muitos viventes de um éden suarento, ignaro e tórrido mostrado no universo cifrado da foto, feita em 1949. Podem-se intuir os gritos do mercado, a vida plebe e rústica, o girar dum cotidiano eterno. Cotidiano inculto, ironia que esculpiu improvável fêmea exuberante enquanto desbastava a vida de outro, o infeliz mirrado. Detalhe: o olhar da moça, delicado, se espicha numa meia-volta do corpo silvestre, olhar virado para o lado e para baixo. Ela vê além, olha para fora do que está no enquadramento, portanto fora da vista do fotógrafo e, depois, do expectador da foto. Aí a composição perfeita, mistério e feitiço da colagem pictórica.

Bresson entrecruza dois, três acontecimentos: a moça e o esquálido; a moça, o esquálido e o que não é possível ver, mesmo supondo. Ela olha a algum ponto. Olha a alguém? Sem perguntas. O importante é o olhar, não o olhado. Bresson captou candura no que era agreste.
Ainda na fila
Everson Andrade

A fila é um dos locais onde o ser humano poder passar por um alto conhecimento em um meio social, em uma dessas milhares que existem por aí você sabe quem você é, partindo do questionamento do motivo que você está naquela fila, e também se diferenciando das pessoas que dividem com você esse momento de auto-conhecimento.

Para começar vamos dividir em grupos não é? Como já disse existem muitos tipos de fila, em algumas são excelentes fazer parte dela, outras é prazeroso e outras ainda são grandes coisas. Por exemplo, imagine você pegar uma de um banco para receber um prêmio da mega-sena, agora porém imagine essa mesma fila, porém para pagar suas contas, tá vendo como as coisas mudam.
Como falei da mega-sena pensem em todas aquelas pessoas que estão numa fila para concorrer a um prêmio de 85 milhões de reais, a chance para quem aposta 6 dezenas é de uma em 50.063.860, tenho certeza se todas as pessoas que ainda sonham em ser milionários, quando parassem para ver esse número na face de trás do papel 75% delas deixariam de sonhar e pegavam o ônibus lotado de todo dia e trabalhariam pois é bem mais fácil ficar rico trabalhando que enfrentando uma fila de 156 corpos. Achou estranho? É isso mesmo filas são medidas por corpos, depois de Staligrado quando as ruas eram medidas por corpos deitados a moda pegou e as filas são medidas, porém por corpos em pé, isso é claro muda quando a distância muda para um kilômetro então entra aquelas filas quilométricas.

Há ainda aquelas filas prazerosas, se realmente tem algo de prazer em estar numa fila, salvo quando a beleza daquela mulher na sua frente é capaz de tirar sua atenção da chatice de esperar, depois dessa matutada confirmo, não há boa nem má fila, e sim a finalidade de estar naquela fila, pense você estar na fila da barraca do beijo ou então estar na fila para um transplante.

Para aqueles mais atentos há nas filas um quê de filosofia, dentre daqueles corpos que medem a distância os espíritos se revelam, e com ele todo o seu conhecimento, ou não. Basta observar sempre tem aquele homem, que sabem de tudo, mas infelizmente ele mora numa cidade pequena ou é pobre, por isso não tem como passar todo o seu conhecimento para o resto do mundo, e quem sabe a nossa terra ser um lugar melhor. Também tem uma grávida e outra mulher com um menino pequeno.

 Cuidado com essa criança, ela pode te enganar com a carinha, mas uma coisa é fato, se a mãe levou a criança e não deixou com nem uma vizinha é simplesmente pelo motivo do que aquele fedelho pode fazer. Geralmente ele é o único na fila que não é bípede, pois vive se arrastando pelo chão e se contorcendo, mas essas peripécias têm uma pausa quando a mãe o pega pela orelha, 30 segundos de pausa para respirar, final nem ele é de ferro, e logo depois todo de novo. Não sei como acho que eles se multiplicam, mas sempre, eu disse sempre, essa criança está do seu lado.
Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.waram.org/wp-content/uploads/2008/08/fila.jpg&imgrefurl=http://www.waram.org/tag/balada/&usg=__BIzO1fxlRMVbUuFk9jc66mCfFVs=&h=281&w=400&sz=35&hl=pt
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://maususin.files.wordpress.com/2010/07
Cabo Telecom promete 
bom serviço, mas...
Emanoel Barreto 
Estive na Cabo Telecom dia 13 de setembro deste. Mantivemos a internet
a cabo, solicitamos mudança de plano de TV e adesão ao cabo-fone.
 
Naquele dia solicitei à pessoa que me atendeu prioridade no serviço, visto
que durante esta semana não teria uma pessoa para atender aos técnicos
durante o dia. Ela digitou uma série de informações e solicitou que eu
ligasse na tarde de quinta(16) para saber o
telefone da empresa cuja ordem de serviço fora encaminhada e agendar o
atendimento.
 
Prevendo o desencontro, comecei minha "via crucis" pelos protocolo
290.7373, depois 290.7394, 290.9641 e 291.2655, Confirmei minha tese de
que de nada adianta tantos protocolos e que na maioria das vezes neles não
estão registrados aquilo que o cliente informa ou solicita.
 
Hoje fiz mais uma ligação e recebi o último protocolo citado acima. Fui
informado pelo atendente que para solicitar prioridade eu teria que ir até
à sede da Cabo Telecom.

Indignado estou de ter que sair de minha residência para ir ter com a
pessoa que me atendeu, na sede. Veja bem: uma empresa de telefonia,
internet e TV, que lida cotidianamente e tão somente com altíssima
tecnologia, pedir a um cliente que se desloque de sua casa para ir ter com
a pessoa que o atendeu em sua sede, para ver o porquê da prioridade
não ter sido atendida,  pois o contrato fora "assinado pessoalmente"?
 
Existe outra forma, já que a empresa não trabalha com assinatura digital,
de assinar um contrato sem ser pessoalmente?
 
Como ir até à sede? Se não estarei disponível para o técnico na minha
casa, muito menos terei tempo de me deslocar até a sede.
 
Terei que aguardar a próxima semana, na segunda(27) quando poderei fazer
contatos novamente para solicitar o número do telefone da empresa
prestadora de serviços para que eu possa ligar,
 agendar e ser atendido sabe lá Deus quando.
 
Essa mensagem foi enviada à Cabo Telecom e talvez gere mais um protocolo
que de nada servirá. Porém, como conhecedor dos serviços de qualidade de atendimento,
 ISO 9000 e
tantas outras normas ou regras que pregam a qualidade, gosto de registrar
minha insatisfação junto a quem me deu a insatisfação.
 
 
 

domingo, 19 de setembro de 2010

Recebo e publico artigo da professora Maria Arlete Duarte de Araújo, candidata a reitor da UFRN. Outras chapas terão idêntico tratamento (EB).

Discutindo a UFRN: gestão por competências, um caminho a seguir?
Maria Arlete Duarte de Araújo
Professora Titular – DEPAD/ Centro de Ciências Sociais Aplicadas
(arletearaujo@natal.digi.com.br)
Candidata à Reitoria: “Um novo olhar para a UFRN”

É fato que a UFRN tem feito, nos últimos anos, importantes investimentos na qualificação do corpo docente e técnico-administrativo. Muitas oportunidades foram criadas e sem dúvidas as iniciativas devem ser louvadas. Todavia as questões que se colocam, essenciais, são as seguintes: o que o servidor produziu e implementou com o conhecimento adquirido? Qual o retorno para o servidor e para a instituição, em termos de alcance de objetivos e metas institucionais, da obtenção de níveis de desempenho na execução da atividade e da satisfação do servidor?


Na maioria dos casos a resposta não é simples, pois não existe uma articulação forte entre as ações de desenvolvimento institucional, competências exigidas, avaliação de desempenho e premiação pelo mérito. Em conseqüência o mais provável é que os servidores acabem não encontrando significado no trabalho realizado, dado que as suas aspirações e desejos se ampliaram, em função do conhecimento novo adquirido, e em razão de que percebem que a sua capacidade intelectual não está sendo corretamente aproveitada. E esse entendimento abre a possibilidade de por em xeque o contrato psicológico firmado entre servidor e instituição, trazendo inúmeros prejuízos, tanto do ponto de vista individual quanto organizacional.


As instituições de ensino dependem fundamentalmente das pessoas que no seu cotidiano articulam demandas, processos, fluxos de informação e que, em função da natureza do trabalho que executam, apóiam as suas atividades fins. Em decorrência torna-se vital repensar o modelo vigente de gestão de pessoas para adequá-lo às estratégias da instituição e às novas exigências que se colocam para o ensino superior. Toda a antiga filosofia de gestão de pessoal, com suas ferramentas tradicionais, em que os processos são mais importantes que os resultados, vem sendo duramente questionada. O foco deve dirigir-se para os resultados e para a efetividade das ações administrativas e acadêmicas, o que deve resultar em um modelo de gestão com maior participação, autonomia e descentralização. Um modelo centrado na gestão de competências existentes e na criação de um ambiente institucional que favoreça oportunidades de crescimento profissional.


Nestes termos, a implantação de uma gestão por competências exige:


• o estabelecimento de políticas para a gestão das pessoas alinhadas com as políticas gerais da instituição, o que implica em definir com bastante clareza as competências exigidas de cada cargo, para que o corpo docente e técnico-administrativo possa levar a bom termo os objetivos institucionais;


• o mapeamento das competências existentes em cada local de trabalho para o conhecimento da capacidade e potencial das pessoas;


• o planejamento das ações de qualificação para suprir a distância entre competência atual e competência futura, caso seja necessário, com base nas competências de cada cargo;


• a oportunidade para que o servidor possa assumir outras atividades no âmbito da instituição, de modo a valorizar, desenvolver e utilizar o seu pleno potencial;


• a criação e manutenção de um ambiente de trabalho e um clima organizacional que conduza à excelência do desempenho organizacional e plena satisfação dos servidores.


O caminho traçado depende previamente de um dimensionamento correto de pessoal, para subsidiar a gestão, tanto em termos quantitativos como qualitativos, bem como da análise da evolução provável das aposentadorias. Sem essas informações é impossível a adoção de um plano de qualificação das pessoas capaz de responder às necessidades institucionais e organizar as oportunidades de valorização das competências já existentes.


Uma gestão por competências deve também preocupar-se em estabelecer formas de recompensa pelo bom desempenho do servidor. Uma das idéias possíveis de serem implementadas e em sintonia com a filosofia de uma gestão por competências é criar sistemas de recompensas que tenham como objeto central a disponibilização ao servidor de novos programas de treinamento e desenvolvimento. Ao mesmo tempo torna-se fundamental implementar, para o corpo técnico-administrativo, uma política de afastamento para qualificação em níveis de mestrado e doutorado, a exemplo do que já ocorre com o corpo docente, de modo que haja, de forma consciente e deliberada, um esforço para profissionalizar de modo competente o corpo técnico-administrativo.


Estas ações decorrem da compreensão de que se faz necessário criar as condições para que as pessoas se realizem profissionalmente, maximizando seu desempenho e bem-estar por meio do comprometimento e do desenvolvimento de competências. Cada pessoa traz em si aspirações e desejos que procura satisfazer no exercício de suas funções, ao longo de sua carreira.


Assim, se formos capazes de criar um ambiente que privilegie a excelência e o reconhecimento pelo trabalho realizado nos níveis desejados pela instituição, com certeza encontraremos pessoas altamente motivadas e competentes. Em um momento de grande renovação da nossa instituição, tanto do corpo docente quanto técnico-administrativo, não temos o direito de desperdiçar a oportunidade de repensar a gestão das pessoas com foco na gestão por competências. Necessitamos de um novo olhar que permita o crescimento da instituição mas também o crescimento e a realização profissional das pessoas.















O olhar de um grande mestre

A foto de Canindé Soares tem o apelo da imensidão. É feita de desafio e mistério; encanto e uma certa dose de... sinceramente, não sei (EB).
E vêm aí as novas pesquisas de intenção de voto
Emanoel Barreto

Vox Populi, Datafolha e Ibope deverão divulgar resultados de pesquisas realizadas após a demissão da ministra Erenice. Tudo foi programado pela grande imprensa para buscar a derrubada da candidatura Rousseff. Fatos foram buscados às pressas, acontecimentos foram catalogados e usados. Nada vem dando certo.


Não tenha dúvida de que, permanecendo a tendência dilmista, Serra está virtualmente derrotado. A grande imprensa vem agindo como partido político em trabalho de propaganda subliminar mas, até agora, apesar de todos os balanços, a nau petista se mantém no rumo.

Ao que parece, as TVs e jornais nacionais de referência não entenderam que a agenda da mídia nem sempre consegue determinar a agenda pública. Escândalos somente se realizam quando pessoas se manifestam indignadas. Não havendo indignação, nem manifestação dessa indignação, não há escândalo.

Isso está bastante claro no livro "O escândalo político", do sociólogo americano John B. Thompson. O escândalo, na verdade, não está centrado na figura do escandalizado, mas no coletivo, no social. É aí que mora o escândalo: no sentimendo das pessoas vivenciado de maneira coletiva a partir de valores fundamentais de referência.

De nada adianta levantar casos se as pessoas não se interessam. E não se interessam por motivos vários. Que vão da simples indiferença pela política à banalização do próprio fato escandalizado. O que a imprensa tornou comum passa a ser tido como normal. E quando esse normal se confronta com um governo que vem dando certo a tentativa de escandalizar fracassa.
Agora, só resta esperar os resultados das pesquisas.
 Gordinhas preparam o 'orgulho fat'
Emanoel Barreto

 A ditadura da mulher magra estilizada, aquela que só existe nas revistas, aquela produzida a photoshop, começa a ser contestada. Mulheres de verdade, gordas, com celulite e estrias começam a se manifestar em processo de autoestima e enfrentamento ao sistema da indústria cultural que manipula a figura feminina. Leio esta matéria no Estadão e compartilho.


As gordinhas estão chegando


Desfiles só com modelos gordinhas, confecções de números grandes renovadas, revistas especializadas, blogs e site de moda para quem veste GG, calendário só com fotos de mulheres com curvas avantajadas e até campanha para que lojas coloquem em suas araras peças modernas com números acima do 46. O mundo plus size vem ganhando força no Brasil, num movimento que bem poderia ser batizado de "orgulho fat". 

"Depois do negro e do gay, agora é a vez do gordinho", diverte-se a professora de idiomas Sandra Ebener, autora do blog Mundo G Mais. "Após toda a discriminação no mercado da moda e beleza, estamos mostrando que podemos nos sentir bem e bonitas." Sandra - que tem 39 anos, é casada e mãe de dois pré-adolescentes - comemora essa onda, assim como muitas outras mulheres com manequins acima do 46, e que agora podem usufruir de uma moda que antes as renegava. 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse público já representa metade da população adulta do País: 48% das mulheres e 50% dos homens estão com peso acima do padrão recomendado para uma vida saudável. 

No entanto, todos os envolvidos diretamente na onda "orgulho fat" ressaltam com veemência que ninguém quer fazer apologia da obesidade. "A ideia é fazer com que essas pessoas passem a aceitar mais suas características e, ao mesmo tempo, adotem um estilo de vida saudável", avisa o jornalista Jeff Benício, que, por meio da sua editora Haz, especializada em títulos corporativos, criou com seu sócio o projeto Mulheres Reais: um mix de eventos e publicações para promover a inclusão da mulher GG no universo da moda.

O primeiro passo foi o lançamento, no ano passado, de um guia de moda com looks específicos para quem tem curvas avantajadas. Na sequência, veio um calendário-pôster com quatro modelos plus size vestidas como pin-ups. O de 2011 está em fase inicial de produção. 

Ainda como parte do projeto, tem sido realizada uma série de desfiles para a divulgação de grifes especializadas em tamanhos maiores, batizados de Mulheres Reais Fashion Show. O último aconteceu no final de agosto, na Casa Portugal, e reuniu mais de 100 pessoas, entre clientes e empresários. Foi exibida a coleção de verão de quatro marcas que andam renovando a moda extra G: Palank, Miglon, Loony Jeans e Fique Linda Lingerie. 

"Sem dúvidas, esse é um nicho de mercado ainda pouco explorado", afirma Jeff. "O projeto nasceu para chamar a atenção para essas consumidoras sempre ignoradas pela mídia e pela indústria da moda, que investe num padrão de magreza que não tem nada a ver com as curvas da brasileira."
Combater o bom combate ou de como ser elefante e homem plenamente

Emanoel Barreto

Como já disse uma vez neste jornal sou tipógrafo de profissão. Aprendi o ofício em 1444 pelas mãos do mestre Johann Gensfleich zum Gutenberg quando este, em sua genialidade artífice, juntou todas as técnicas então conhecidas, criou os tipos móveis e fundou isso a que chamais imprensa. Tinha eu então 15 anos. E ainda hoje sigo os ditames do mestre: produzo os meus tipos com a mistura de chumbo, estanho e antimônio; meticulosa e dedicadamente. Cada um na medida exata para a criação de caracteres os mais belos, ilustres e bem postos.


A história que vos vou relatar ocorreu no ano da graça de 1784, já então eu bem velho, em Paris. Foi assim: certa noite fui procurado por um elegante e bem elevado senhor. Homem idoso, bem vestido, porte alto e sobranceiro, de maneiras afáveis; um cavalheiro. Apeou-se de sua carruagem e adentrou à minha oficina onde também moro.

Dado o horário supus que se tratasse de algo de muita relevância. Tirando as luvas, a nobre e elegante figura se apresentou. Passando as mãos na basta cabeleira alvíssima e pelos gestos refinados, logo reparei que tratava-se de um elefante. Desejei-lhe boa noite e perguntei no que poderia servi-lo, sendo eu apenas um tipógrafo.


Explicou-me ser muito velho, o que era absolutamente desnecessário, e pediu-me ajuda. Revelou que havia há alguns meses sido procurado pela Morte em encontro formal, quando esta lhe havia anunciado o seu fim.

Perguntei-me a razão daquela inusitada conversa, não sem antes haver-lhe anunciado que até então jamais havia sido procurado por aquela dama, muito embora já a tivesse visto visitando amigos em encontros aos quais testemunhei.

A Morte, para quem não sabe, vem sempre acompanhada pela Dor, Solidão, Frieza, Injustiça, Doença. São suas aias fiéis e dedicadas. Todas elegantes; vestidas, para espanto meu, com ricos indumentos, roupas solares, cores delicadas como uma manhã nascente. A Morte sorri, sorri sempre nesses encontros, e se explica como necessária e guardiã de que o Homem cumpra com sua sina de ser homem.

Num desses encontros a que presenciei, disse ao elefante, perguntei quando seria eu finado e ela me disse que ainda não se havia decidido a respeito. Mas confortou-me que não ficarei para sempre. Mas, voltando ao meu visitante, eis o que se segue: contou-me que os elefantes têm um lugar secreto, um cemitério aonde vão sempre que se lhes chega o momento.


Prosseguiu, dizendo que tal cemitério é âmbito sagrado, devendo ali repousar aqueles grandes despojos e suas magníficas presas de marfim. Um repouso eterno e impenetrável a olhos malfazejos. Afinal explicou o motivo de sua vinda: tivera iformação de que um homem havia descoberto a existência da necrópole e preprava-se para infausta e malíssima invasão, a fim de apoderar-se do marfim e com isso fazer fortuna.

Assim, completou, pedia que eu, como tipógrafo, o acompanhasse a tal lugar, onde pretendia defrontar o sacrílego infame e impedir que perpetrasse o indigno intento. Perguntou se eu o acompanharia, mesmo sendo noite e longa a viagem. Queria que um tipógrafo registrasse aquele encontro e o contasse depois. Não pensei um segundo e aceitei.

Antes de sairmos quis saber quais as armas para o duelo; ele respondeu: as convencionais: florete e pistolas, à escolha do agressor. Mas, como supunha que se tratasse de elemento vil, não um cavalheiro, levava também facas para bater-se em encontro desonroso e mesquinho com o miserável.

Pecebi que o meu amigo - àquela hora já o considerava um amigo-, tinha lágrimas nos seus grandes olhos por obrigar-se a combate tão desgraçado, com armas tão torpes: as facas, típicas de manhosos e ignóbeis homens de tavolagem.


Aprestei-me a sair. Pedi licença e fui a meu quarto onde apoderei-me de uma pistola que escondi em meu casaco. Jamais deixaria o elefante ser humilhado e abatido pelo canalha. Nesse instante evoquei a Morte a lhe pedir conselhos. Ela não veio. Mandou-me, em seu lugar, a Dor, a Frieza e a Solidão. Belíssimas, decotes profundos, elas me olharam com olhar de indiferença e me disseram que aquele momento deveria ser vivido em toda a sua plenitude. Quer dizer: em total sucumbência, obediente sucumbência ao que seja ser homem. E se foram.

Nós também partimos. A confortável carruagem era tirada por três parelhas de poderosos cavalos, animais enormes, bestas de formidável força e grande impulso. E seguimos. Varamos a noite e seu vento uivante e frio. Prosseguimos de dia e mais uma noite e outra e outra e outra.

Até que afinal chegamos ao santuário. Lugar esplêndido, apesar de ser um mortuário. Grandes carcaças se espalhavam em sua grandiosa condição de testemunho do que um dia fora vida. Uma clareira selvática, cercada de vegetação de verdes de todos os matizes. Descemos da carruagem e esperamos.


De repente o infame apareceu. Vinha só, montado em enorme carroça onde pretendia levar o seu butim. Quando se preparava para iniciar a desprezível tarefa foi atalhado pelo elefante. Digno, aquele homem dirigiu-se ao salteador e mandou que parasse. Este reagiu dizendo que nem as forças do Alto o deteriam.


Tirando a casaca o elefante o desafiou: o biltre jamais levaria adiante seus molestos intentos, asseverou. E mandou que escolhesse armas. O falsário não se fez de rogado. Mas não escolheu armas: tinha já pronta na mão o objeto indigno: o combate seria travado a faca, sem honra ou regras.

Temi pelo destino do meu amigo. Homem velho, o elefante poderia ser estraçalhado pelo jovem carniceiro, perdendo assim de ter uma morte digna, a morte que merece todo elefante.


O cavalheiro então chamou o cocheiro e lhe pediu idêntido armamento.

Encaminhou-se ao centro da clareira onde já o esperava o velhaco e o confrontou. Notava-se claramente a assimetria entre os desafiantes: meu amigo caminhava pesadamente, movia-se com dificuldade, enquanto o malfazejo o cercava girando à sua volta, jogando a arma de uma mão para a outra.

Então veio o primeiro golpe. Atingido no ombro o elefante rilhou os dentes e aguentou a brutalidade. O sangue quente e vivo descia da ferida, mas aquele velho homem não se dobrava. E veio o segundo golpe, o terceiro golpe e o quarto golpe.


Semicerrei os olhos e tirei do coldre a pistola. Não, jamais permitria aquela indignidade. Sendo eu também muito velho, pedi forças à Morte para que me ajudasse naquele instante. E então ela me ajudou. Fez renascer minhas forças, meu sangue tornou-se ácido e cruel. Uma crueldade boa e intensa, a crueldade da imensidão que precisamos ter ao afrontar o indigno e o mau pelejador.

Minha mão puxou a pistola do coldre num movimento semicircular, vindo do quadril até o ponto de mira. Mas, quando fixei na vista a testa do invasor deu-se o milagre: o elefante, reunindo suas últimas forças e lavado de sangue e hombridade, estirou-se à frente e cravou certeiramente a faca no pescoço do criminal, que caiu de borco em meio a um mar vermelho e borbulhante de sangue ruim.


Num impulso de pólvora atirei para cima e dei um grito rouco e longo que estremeceu todo o meu corpo. Lágrimas corriam dos velhos olhos cansados. Eu agora era novamente apenas um velho. Corri a amparar o meu amigo, aquele homem digno, aquele elefante insuperável. Então a Morte se aproximou. Mas não vinha em companhia de suas aias costumeiras; agora trazia a seu lado a Luz, a Imensidão, a Flora e a mais bela de suas novas companheiras: a Paz.


Meu amigo caiu ao solo e a Morte, a Luz, a Imensidão, a Flora e a Paz o abraçaram em seu regaço enquanto ele ainda respirava. A seguir deu-se uma epifânica transformação: aquele grande corpo humano aos poucos foi se dissolvendo e meu amigo assumiu a força de um monumental, grandioso e belo elefante.

Já não mais tinha os sofridos ferimentos. Estava inteiro, intacto e esplendente. Duas grandes presas de puríssimo marfim refulgiam de sua boca. Seus enormes olhos miraram-me a mim e ele fez uma solene e profunda inclinação com a cabeça. Então, ajuntou todo o corpo, deitou-se e morreu. Recerreguei a pistola, dei outro tiro para o ar e gritei meu grito rouco e primal. Meu ser todo tremia. Toquei o corpo daquele magnífico homem e voltei à carruagem que me tornou a Paris.

Jamais esqueci aqueles momentos que agora compartilho com você. Ainda hoje estou vivo e sempre pergunto à Morte quando ela me virá buscar. Ela sempre diz que ainda não chegou a hora. Mas sempre me promete que não me faltará, como jamais faltou a elefante algum.

Escrevi a história do meu amigo e agora publico nesse estranho jornal que não é de papel, para leitores que são bem mais jovens que eu, mesmo que sejam já anciães. Prometo que voltarei a contar outras histórias. Afinal, como sou muito velho, tenho sempre algo a compartir com algum elefante que queira desfrutar deste meu ofício de tipógrafo.

Voltaremos a nos falar meu caro elefante.








Os jornais como partidos políticos
Emanoel Barreto

A Folha reclama porque o presidente Lula diz que jornais e revistas "agem como partidos políticos". Traz matéria em que usa as aspas com conotação cínico-pejorativa, como se ela e os demais jornalões e revistas não fossem mesmo partidos políticos, doutrinariamente.

Clausewitz dizia que a guerra é a continuação da política por outros meios. O mesmo se dá com o jornalismo. Nada demais, até porque jornal é parte da sociedade civil e seu trabalho se dá nesse âmbito também. Mas a completa partidarização é outra coisa. 

Chega até a ser desonestidade porque o leitor acredita que está comprando informação e no entanto adquire a opinião e os interesses privados do proprietário dos meios de comunicação e dos que os financiam.