sábado, 11 de dezembro de 2010

Leio na Folha e compartilho. (EB)

Vídeo mostra carro em chamas após explosão na Suécia; assista

DE SÃO PAULO
As imagens abaixo, postadas no Youtube, mostram um carro em chamas no centro de Estocolmo, na Suécia. Segundo a imprensa local, ao menos uma pessoa, um suposto terrorista suicida, morreu neste sábado após explosões de dois carros em uma zona comercial da capital sueca. As causas ainda foram esclarecidas. Várias pessoas ficaram feridas.
A TV estatal sueca SVT confirmou que se tratou de um ataque terrorista em ambas as explosões. O canal informou ainda que, próximo ao corpo do terrorista, havia uma mala cheia de pregos. 

O lugar das explosões --próximo à Concert Hall, onde ocorreu a entrega dos prêmios Nobel 2010 na última sexta-feira (10)-- foi isolado pela polícia sueca, que efetuou um amplo desdobramento e impediu a passagem de pessoas.
Encontrei esta bela matéria no Estadão e compartilho (EB)

Brasília, meio século entre a utopia e as ruínas modernas

No mais extraordinário levantamento fotográfico já realizado sobre a capital do País, livro dos artistas Lina Kim e Michael Wesely reúne 1410 imagens da cidade pesquisadas em arquivos públicos e privados


Antonio Gonçalves Filho, de o Estado de S.Paulo
 
Ainda que tenha sido projetada por dois ateus, Brasília é alardeada pelos sites administrativos da capital como uma cidade de "vocação mística", nascida há 50 anos sob o signo da cristandade. Eles lembram que Dom Bosco anteviu num sonho a "terra prometida" - igualzinha como está lá, com seus dois eixos formando em ângulo reto o sinal da cruz. O sonho do fundador da congregação dos salesianos foi registrado em 1883, seis décadas depois de José Bonifácio de Andrada e Silva ter proposto a criação da capital no interior do País, sugerindo para ela o nome Brasília - embora se diga que a ideia não partiu dele, mas sim dos inconfidentes.

Seja como for, meio século de existência de um marco arquitetônico e urbanístico, patrimônio da humanidade desde 1987, é suficiente para um balanço sobre sua presença no cenário nacional e internacional. O livro Arquivo Brasília, ambicioso trabalho de catalogação e restauração de fotografias históricas da cidade feito pelos artistas Lina Kim e Michael Wesely (leia entrevista na página ao lado), lançado neste fim de semana pela Cosac Naify, é o ponto de partida ideal para uma discussão como essa. Nele, seus autores reúnem imagens raras e esquecidas em arquivos ou coleções privadas, recontando a história de Brasília sob nova perspectiva.

São mais de 1.400 fotos, em preto e branco e em cores, que registram desde as primeiras expedições do então presidente Juscelino Kubitschek à região, em 1956, até a inauguração da capital, às 16 horas do dia 21 de abril de 1960. Há também uma entrevista feita em 1995 com o arquiteto franco-carioca Lucio Costa, responsável pelo projeto urbanístico de Brasília, e textos teóricos de críticos que, distantes do tom laudatório, levantam questões um tanto incômodas, como o gigantismo de um projeto associado à política desenvolvimentista de JK para criar sua "cidade ideal". Afinal, também os grandes ditadores do passado perseguiram essa ideia. O monumental projeto de Albert Speer do Grossdeutsche Reich, o Grande Reich Alemão de Hitler, em Berlim, diz o crítico de arte Helmut Friedel no livro, também se baseava em linhas axiais. Esse princípio da ortogonalidade revelaria um desejo oculto de controle das autoridades sobre os cidadãos?

Qualquer que seja a resposta, o rigor do traçado ortogonal e a mística do sistema axial não foram capazes de conter a expansão de Brasília e acomodar o que não foi projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer: a arquitetura da miséria. Empurrados para longe do eixo monumental, os candangos que ergueram a capital foram obrigados a improvisar abrigos para se proteger do sol desde os primeiros minutos de sua construção. Por causa disso, essa é também uma iconografia incômoda - mas não ideológica, garantem os autores do livro. Após uma pesquisa de três anos em arquivos oficiais e coleções privadas, realizada entre 2003 e 2006, a dupla formada por Lina Kim e Michael Wesely chegou a 4 mil imagens, restauradas a custo de sacrifício pessoal (o fotógrafo alemão chegou a leiloar fotos suas para bancar o projeto).

Mundo novo

Muitas dessas imagens foram encomendadas por Juscelino para assegurar a cobertura do andamento dos trabalhos e registrar a presença de celebridades internacionais que testemunharam a concretização da modernidade arquitetônica em pleno cerrado. O escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), autor do profético Admirável Mundo Novo (1932), foi um deles. Ele definiu sua viagem de Ouro Preto para Brasília como "uma jornada do passado para o futuro, do acabado para o que está para começar". E o que estava para começar foi uma grande seca no Nordeste, justamente no ano de sua visita, 1958, atraindo para a capital uma leva de migrantes esfomeados. Um ano depois de Huxley passar por Brasília, a nova capital tinha 60 mil candangos acampados de forma improvisada em barracas do Exército e barracos. Já os técnicos foram instalados na Vila Planalto, ocupando casas que pareciam saídas do subúrbio americano. Nada especial, mas melhores que os alojamentos da Candangolândia.

Escalas

Enquanto os edifícios públicos eram erguidos em concreto, as casas dos trabalhadores usavam madeira tosca, criando uma situação de conflito entre o permanente e o provisório - até hoje sem solução, lembram os textos de Arquivo Brasília. O crítico e curador inglês Mark Gisbourne, a esse respeito, diz que a árdua labuta dos operários foi desconsiderada pelas autoridades, "não havendo sinais de que foram consultados sobre como imaginavam ou desejavam a nova capital". Gisbourne considera pouco civilizado o processo de construção da Brasília, acusando seus planejadores de "determinismo arquitetônico e urbanístico". A capital, segundo o crítico, "desfaz-se de parte de sua condição de cidade utópica, totalmente planejada", e mostra sua verdadeira face - a de uma cidade que busca uma articulação capenga entre modernidade e tradição - nos registros selecionados pelos autores do livro.

Eles são originários de várias fontes, a principal delas o Arquivo Público do Distrito Federal, seguido pelo arquivo Gabriel Gondim de Brasília, Instituto Moreira Salles e outras coleções.
O arquiteto Milton Braga, que não participa do livro, mas organizou outro volume igualmente importante sobre a capital, O Concurso de Brasília, também publicado pela Cosac Naify, lembra que outros sete projetos apresentados no concurso público de 1956 não separavam tão radicalmente o centro residencial dos prédios públicos.

Ao concentrar os edifícios governamentais no eixo monumental clássico-barroco, para dar visibilidade à arquitetura de Niemeyer, Lucio Costa criou uma paisagem que concorre com a natureza local - ao contrário dos outros projetos apresentados, que buscavam a vizinhança do lago Paranoá, promovendo o contato de seus habitantes com a água numa região de extrema aridez. O parceiro de Niemeyer, contudo, considerou as margens do lago (que cobre uma superfície de 40 quilômetros quadrados) para "passeios e amenidades bucólicas de toda a população urbana". Isso acabou não acontecendo. Elas foram ocupadas por clubes recreativos privados.

Braga cita o projeto do paulistano Rino Levi (1901-1965) como exemplo dessa diferença de concepção urbanística. Levi projetou uma cidade definitiva, sem grande espaço para o improviso. "Já Lucio Costa teve de se adaptar à demanda", pouco se preocupando com o que acontecia com sua população construtora. "Não é que Costa tenha errado, mas faltou a ele experiência urbanística", arremata. Faltou também bom senso para perceber que uma cidade não se faz com um só protagonista - no caso, a arquitetura de Niemeyer. Contra a dimensão monumental de seu projeto, o público vira personagem liliputiano numa terra gulliveriana. "Tem muito espaço e pouco público", observa Braga, criticando a desproporção entre as vastas áreas públicas e a população da cidade, ausente dos centros de poder e retraída pela escala monumental - além, é claro, de ser Brasília um lugar nada atraente para quem gosta de andar.

As escalas da paisagem do plano piloto, que se baseiam em dois grandes eixos viários, são também inibidoras. Embora Costa tentasse com seu eixo rodoviário ininterrupto livrar os habitantes de Brasília dos congestionamentos futuros, ele criou ao longo desse eixo o grosso dos setores residenciais e uma paisagem um tanto desoladora. Eram apenas quatro superquadras na inauguração. Hoje são mais de 120. O chão contínuo das superquadras é visto pela professora de Teoria e História da Arquitetura (PUC-RJ) Ana Luiza de Souza Nobre como integrador, a exemplo das casas americanas de subúrbio sem grades ou cercas limitadoras. "Ele é muito revolucionário e pode nos ensinar muito ainda hoje, numa época em que lutamos contra a privatização do espaço público", diz ela.

Identificação

Brasília permanece uma referência arquitetônica e urbanística, segundo a professora. "Um projeto datado, é certo, mas que pertence ao seu contexto", opina. E que contexto era esse? O livro traz um resumo da iconografia da época, porém não se vê nessas fotos nem a leveza das imagens da era da bossa nova, que garantiu ao Brasil um lugar no cenário musical internacional, nem o entusiasmo dos herdeiros do construtivismo. A modernidade já era questionada na época em que Brasília foi desenhada. Ela é o atestado de óbito da cidade funcional da carta de Atenas, manifesto urbanístico que, em 1933, dividiu as cidades por zonas (residencial, de trabalho e de lazer), levando à dependência de veículos - nada problemático nos tempos de JK, que incentivou a indústria automobilística, no entanto muito crítico nos dias de hoje.

Um aspecto que se destaca no livro é a identificação popular com os ícones de Niemeyer - que o arquiteto Guilherme Wisnik chama de "logomarcas" do arquiteto, como o peristilo do Palácio da Alvorada, que sugere ao mesmo tempo uma arcada de cabeça para baixo e a forma de uma rede, tão cara à tradição dos nordestinos. "Brasília foi pensada por Lucio Costa como uma cidade de vida pacata, um pouco bucólica, uma cidade para funcionário público", diz Wisnik, observando que o núcleo familiar é essencial, norteador desse projeto. "Quem não tem esse lastro, fica desesperado nela." Realmente, não é uma cidade para flâneurs solitários, como Paris, mas pensada para concentrações de massa. Paradoxalmente, ela representou a convergência dos ideais da vanguarda histórica dos anos 1950, responsável pelo advento da linguagem abstrata nas artes plásticas e pela emergência da bossa nova no Brasil.

Para o crítico e professor da USP Lorenzo Mammì, Brasília é a imagem de um projeto desenvolvimentista que não deu certo. Como monumento, é um clássico com todas as limitações que um clássico tem, sendo a principal delas a impossibilidade de mudar. "O caráter utópico, desmedido, de Brasília, deu um ponto de referência para um país acanhado, onde tudo era regional", diz o crítico de origem italiana, um dos grandes pensadores da arte e da arquitetura brasileira, tendo, inclusive, escrito o melhor ensaio sobre Volpi aqui publicado.

Renascença

Volpi, aliás, aparece numa foto rara de 1960, pintando os afrescos do Palácio do Itamaraty, edifício que retoma a arquitetura dos palácios renascentistas italianos (tanto que Mondadori encomendou um projeto semelhante a Niemeyer para sua editora em Milão, construído em 1968). Destacam-se no livro outros registros sobre as pinturas de Volpi (bandeiras, fachadas e uma santa) na Igreja Nossa Senhora de Fátima, o primeiro templo das superquadras, cuja construção foi concluída em 1958. Infelizmente, são as únicas imagens remanescentes dos afrescos que decoravam as paredes internas da capela, depredados no final da década de 1960.

O Itamaraty é apontado por nove entre dez críticos como o mais belo projeto de Niemeyer em Brasília. Também por isso é um dos mais fotografados. "Há um refinamento técnico em sua construção que ainda hoje é referência", observa Mammì, que não gosta da catedral projetada por Niemeyer, considerada por ele "muito retórica". De fato, ela já começa por se afastar do centro, ocupando o lado sul da Esplanada dos Ministérios e fugindo da tradição colonial, reforçando assim a separação Estado-Igreja. Mammì considera o prédio do Supremo Tribunal Federal o trabalho de maior peso do arquiteto em Brasília, toda ela uma cidade tomada por símbolos, como se fosse um sítio arqueológico hoje examinado como uma ruína moderna. O primeiro desses símbolos é o próprio plano piloto, formado pela superposição de uma cruz e um avião - a cruz simbolizando a posse do território pelo colonizador, como assumiu o urbanista Lúcio Costa, e o avião como imagem tradutora do futuro no horizonte da cidade.

O horizonte dos mortos, porém, não seguiu a solução axial do plano piloto, e sim um modelo baseado na tradição nórdica, segundo os autores do livro. O percurso do cemitério de Brasília segue em espiral a partir de um ponto central e foi assim que os parentes de Bernardo Sayão acompanharam esse primeiro morto lá enterrado, em 1959. Sayão morreu durante a construção da Rodovia Belém-Brasília e foi sepultado nesse mesmo cemitério onde está o túmulo do presidente Kubitschek.

Diplomatas

Talvez por acreditar que o projeto de Brasília seria um fiasco destinado ao cemitério, muitas embaixadas deixaram de ocupar os terrenos cedidos pelo governo JK, preferindo manter suas representações diplomáticas no Rio de Janeiro. Muitos lotes destinados às embaixadas permaneceram desocupados por vários anos. Há, no livro, registros engraçados de diplomatas desanimados sob pequenas placas que indicavam os países representados, entre eles Cuba - Fidel Castro foi um dos primeiros convidados do presidente JK, visita que desagradou aos militares. Esses, ao contrário dos diplomatas estrangeiros, encontravam vantagens na transferência da capital para longe do Rio, a principal delas se manter distante das manifestações públicas e distúrbios políticos.

A localização e o projeto de Brasília acabaram facilitando o golpe militar. Involuntariamente, no caso de Niemeyer, comunista histórico.
A imagem do primeiro cinema de Brasília que ilustra esta página (foto maior), registrada pelo fotógrafo francês Marcel Gautherot (1910-1996), traduz à perfeição o silêncio como contraponto do inferno urbano carioca. Gautherot, cujo acervo é guardado pelo Instituto Moreira Salles, foi o fotógrafo que melhor registrou a monumentalidade da arquitetura de Niemeyer. O francês passou dois anos em Brasília a convite de JK e trouxe de lá 7 mil negativos na bagagem, entres eles o impressionante registro da construção das cúpulas do plenário do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.

O artista americano Robert Smithson diria que elas já nasceram ruínas antes mesmo de serem concluídas. A utopia do projeto moderno, contudo, é aspirar ao eterno, embora o passado de Brasília se imponha em seu cinquentenário e em suas ruínas. "Nossas mais belas ruínas", conclui a professora Ana Luiza de Souza Nobre.



Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Frida Khala
Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://img54.imageshack.us/img54/949/fridakahlolivrezh4.jpg&imgrefurl=http://mapadedias.blogspot.com/2007/07/centenrio-do-nascimento-de-frida-kahlo.html&usg=__nrlaP2r8LxrAZqh6Z2UbbdGb2uI=&h=383&w=300&sz=21&hl=pt-br&start=136&sig2=Ov5v45Mf0dH1SoUJhiQ7bA&zoom=1&tbnid=Z8JokQxs0-rR1M:&tbnh=134&tbnw=111&ei=rpEDTfjdB8SBlAfYlaTFCQ&prev=/images%3Fq%3Dfrida%2Bkhala%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26client%3Dfirefox-a%26sa%3DN%26rlz%3D1R1GZEV_pt-BR___BR406%26biw%3D1024%26bih%3D581%26tbs%3Disch:10%2C36860%2C3686&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=477&vpy=220&dur=124&hovh=254&hovw=199&tx=93&ty=158&oei=gJEDTeP9FYL88Aayg_X6BA&esq=18&page=9&ndsp=15&ved=1t:429,r:7,s:136&biw=1024&bih=581
Hoje descobri que sou um homem ruim
Emanoel Barreto

Uma mulher apareceu hoje de manhã à minha porta. Mendigava. Atendi. Quando aproximei-me do portão fico algo surpreso: não tinha o aspecto que a visão social atribui aos pedintes: as roupas andrajosas, cabelos amargurados,  o olhar esganiçado, a voz humílima. Não. Mais parecia uma pequena e arrogante morsa. Não sei porquê, mas parecia-me uma pequena morsa. Acho que por ser baixota e gordota. Vestia-se com com um certo aprumo dessa moda ordinária e vulgar que muitas mulheres empunham: calça justíssima que lhe chegava ao meio da canela, blusa que salientava o torso grosso, o cabelo puxado para trás. Grotesca elegância. Volúpia rasteira.

Na verdade, ela pareceu-me muito mais preguiçosa que mendiga; malandra que necessitada; pilantra que desamparada; vigarista que digna de pena.


Tinha a cria ao lado. Um menino de cabelo liso que lembrava uma criança indígena. O que ela queria? Dinheiro, respondeu. Voltei à casa, retornei ao portão e lhe dei algum dinheiro. Quando já lhe dava as costas, ouvi-a chamar-me. O que é agora? Água. Para tomar um comprimido. Estava morrendo de dor de cabeça. Fui e voltei com o copo d'água. Ela bebeu e eu dei-lhe as costas novamente. Chamou de novo. Sim? O senhor tem algum brinquedo de seus netos, que eles não queiram mais? Respondi não e comecei a me distanciar. 

Então ouvi quando o menino dizia "esse homem é ruim". Preferi não ser chamado outra vez e fechei-me em minha ruindade. E enquanto me afastava descobri que ali não havia uma morsa, que afinal de contas, é um bicho de jeito bonachão. Ali havia um tipo de fera humana, muito humana, metida em suas calças justíssimas.

Imagem http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://nisu.blogia.com/upload/20060220075411-mendiga.jpg&imgrefurl=http://nisu.blogia.com/2006/022001--strong-font-size-4-la-mendiga-...-strong-font-.php&usg=__5r4vU6DF7mO6iJuMmYy0wMqkYoU=&h=255&w=283&sz=23&hl=pt-br&start=339&sig2=gC4MfU20WyImCa_pQsRnRQ&zoom=1&tbnid=sWKGQQ7HOOQAAM:&tbnh=127&tbnw=141&ei=0Y4DTb60OIOglAelt9zDCQ&prev=/images%3Fq%3Dmendiga%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26client%3Dfirefox-a%26sa%3DN%26rlz%3D1R1GZEV_pt-BR___BR406%26biw%3D1024%26bih%3D581%26tbs%3Disch:11%2C9884&um=1&itbs=1&iact=rc&dur=716&oei=fo4DTa-QIYL98Aan6cHoAg&esq=22&page=22&ndsp=18&ved=1t:429,r:12,s:339&tx=75&ty=45&biw=1024&bih=581

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

De como hoje somos todos presidiários - mas não notamos
Emanoel Barreto

Cansado de muito trabalhar e pouco receber, padecer em filas de atendimento médico da rede pública, ser atacado por assaltantes e quejandos, sofrer sob o peso de chefias despóticas e amargar a possibilidade bastante real de velhice aterradora, aquele homem resolveu mudar de vida.


Tornou-se patife a malsinado, vilão e malfeitor, plajenou golpes e os executou com tanta mestria que até mesmo os mais refinados canalhas renderam-lhe homenagens e o elegeram "Grande Injuriador", comenda máxima da Ordem dos Salafrários, que tem jurisdição em todo o território nacional. 

Depois disso o Grande Injuriador passou a reescrever a história do país e divulgou seus estudos por toda parte. Tais divulgações ganharam foro de jurisprudência e tornaram-se lei.
Destarte, ficou-se sabendo que a Lei Áurea perdera há muito a validade e fora resultado de um pileque da Princesa Isabel, igual ao de Jânio Quadros que bebeu todas e renunciou. Só que, como renúncias não caducam, a Lei Áurea, pelos estudos do Grande Injuriador, estava com prazo de validade vencido.

Assim, ficou determinado que todos os que trabalhassem de carteira assinada deveriam assumir imediatamente sua condição de escravos. Mas, como os tempos são modernos e senzalas seriam caríssimas de manter, poderiam morar em suas casas que, pela nova lei, claro, pertenciam ao Grande Injuriador. 

E houve mais e grandes determinações e todo o povo, além de trabalhar, passou a pagar aos seus patrões, digo seus donos, a fim de ressarci-los por todos os anos em que haviam, injustamente, pago os salários daqueles agora escravos. 

Doentes passaram a ser chicoteados, a fim de desocupar as camas dos hospitais o mais rápido possível e dar lugar a outros doentes que, não tenha dúvida, pagariam muito caro para ser atendidos e internados por tempo não superior a dois dias, como já havia ocorrido com seus antecessores imediatos. Doença passou a ser chamada de vadiagem e havia rudes e justas punições. Afinal, alguém tem que trabalhar nesse país. 

Depois disso tudo passou a ser crime. Desde olhar para os lados ou formar filas. Assim, todos foram presos. Até os guardas foram presos. Então, toda a economia parou. E foram consultar o Grande Injuriador, que disse como solução de tão grave problema: "Libertai-os a todos, mas liberdade temporária. Todos os apenados terão uma semana para trabalhar, recolhendo-se novamente às suas respectivas penitenciárias aos sábados e domingos. Assim restabeleceremos a ordem e o progresso."
  
Tão sábias e augustas palavras foram saudadas com vivas e hurras e tudo se cumpriu segundo o dito. É por isso que hoje vivemos assim: pensamos estar livres, mas o Grande Injuriador guia a nossas vidas. E repousamos aos sábados e domingos.

Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://ipt.olhares.com/data/big/47/477769.jpg&imgrefurl=http://olhares.aeiou.pt/presidiarios_foto477769.html&h=486&w=750&sz=193&tbnid=pNRk1v5GFcsqjM:&tbnh=91&tbnw=141&prev=/images%3Fq%3Dpresidi%25C3%25A1rios&zoom=1&q=presidi%C3%A1rios&hl=pt-br&usg=__ax3i2rDDDUcmBaHPFwNo6kP4-qQ=&sa=X&ei=I8oCTeWSLYO78gbO0dj3Ag&ved=0CDQQ9QEwBA

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Pier Paolo Pasolini
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://4.bp.blogspot.com/
Opulência e mau gosto nas joias das mulheres de criminosos
Emanoel Barreto

Uma demonstração de opulência e mau gosto. Assim são as joias com que os traficantes do Rio presenteiam as suas mulheres. Sejam as "fiéis", as digamos assim, primeiras damas, ou as outras, as amantes. São preciosidades grosseiras, espalhafatosas, grotescas até.

Uma forma de contrabalançar, pela exuberância do feio, pelo excesso ostentatório, a origem social dos criminosos. Seria uma espécie de discurso de compensação - a demonstrar de alguma forma a perversa degradação a que foram levados pela vida de miséria e exclusão.

Daí o luxo aberrante. Não justifico os criminosos, dou a pista para o seu surgimento.  A matéria é da Folha. As fotos foram cedidas ao jornal pela polícia.
.......

Novas imagens de um levantamento da Polícia Civil para chegar aos chefões do tráfico no Rio de Janeiro, ao qual a Folha teve acesso, mostra outros exemplos de opulência dos presentes que eles costumam dar para suas mulheres.


Nas imagens, as "fiéis" --como são chamadas as mulheres oficiais-- e as amantes exibem correntes que, na avaliação de ourives ouvidos pela reportagem, custam em média R$ 35 mil.
A Folha não identifica as mulheres, pois algumas são menores de idade e outras ainda são investigadas. De acordo com a polícia, há um mercado clandestino de produção de joias para traficantes funcionando no centro antigo da cidade e em alguns bairros da zona norte.
Na tabela dos "ourives do tráfico", quando o "cliente" leva o ouro --várias peças pequenas, provavelmente produto de roubo, que são derretidas--, um cordão pode custar de R$ 4 mil a R$ 15 mil.
Segundo o presidente do IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos), Hécliton Santini Henriques, estima-se que o mercado clandestino de produção de joias movimente até R$ 1 bilhão por ano no Brasil --40% do movimento do setor.
 

De acordo com a polícia, há um mercado clandestino de produção de joias para traficantes funcionando no centro antigo da cidade e em alguns bairros da zona norte.
Na tabela dos "ourives do tráfico", quando o "cliente" leva o ouro --várias peças pequenas, provavelmente produto de roubo, que são derretidas--, um cordão pode custar de R$ 4 mil a R$ 15 mil. 

Segundo o presidente do IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos), Hécliton Santini Henriques, estima-se que o mercado clandestino de produção de joias movimente até R$ 1 bilhão por ano no Brasil --40% do movimento do setor.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Al Caparra, o gangster chic

As duas faces de Sakineh, a mulher que o Irã transformou em sofrida Mona Lisa
Emanoel Barreto

As coisas de jornal da Folha dizem que a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani foi libertada, revogada também a pena de morte por "lapidação", que é o nome dado a apedrejamento pelos seguidores de Mafoma, também chamado de Maomé. A libertação é decorrência da pressão internacional.

O jornal informa também que "a ONG Solidariedade Irã, que também acompanha o caso, confirmou a libertação de Sakineh, seu filho Sajad Ghaderzadeh, e seu advogado Javid Houtan Kiane, detidos no começo de outubro junto a dois jornalistas alemães que os entrevistaram, em comunicado enviado por e-mail à Folha".



Como se vê, a justiça iraniana é duríssima: além da ré foram presos o filho e o advogado. O que os aiatolás querem com a libertação da mulher, acusada de assassinato e adultério, não é cumprir com os mais mínimos princípios do que seja civilidade por oposição à barbárie de sua legislação maometa. Não. Trata-se de atitude política, ação de marketig político e, mais que nisso, se insere na chamada diplomacia midiática.

Estudos de comunicação ainda iniciais, que se desenvolvem nos Estados Unidos, indicam que a globalização implicou em fatos que tais: o uso dos meios de comunicação para finalidades diplomáticas. Vai além de uma reles atitude de relações públicas e bem diferente da propaganda como a usada em tempos de guerra - quando os países se utilizam desta para incentivar seus cidadãos ao patriotismo e abalar o moral de tropas e povos inimigos.

A diplomacia midiática se insere sutilmente no processo de discussão típico da diplomacia, utilizando de técnicas de propaganda que, a par das negociações que se desenvolvem em tempos de paz, ingressa nesse cenário apresentando mensagem que visa positivar sua imagem no teatro político. Ou seja: a diplomacia midiática é a propaganda em tempo de paz e se volta para melhorar a visibilidade social de uma determinada potência.

O inverso também é verdade: usa-se da mídia para prejudicar a imagem de uma nação, como fizeram os Estados Unidos, utilizando-se de Sakineh para acuar o Irã em meio ao zoar das manchetes e de atos de protesto à sua morte. No caso, ela foi vitimizada três vezes: pelos seus algozes/compatriotas, pelos americanos e novamente pelos compatriotas, que a "libertaram". Mas, deixemos tal aspecto de lado, uma vez que estaríamos enveredando para o plano existencial da iraniana.

Quanto à libertação, o que quero observar é o seguinte: a arrancada midiodiplomática do Irã a está usando para assegurar ao mundo que ali se deu um passo à frente em termos de direitos humanos - tudo uma simulação, tudo um simulacro.

Observe as duas fotos: a primeira é a imagem emblemática da vítima. A imagem que correu o mundo em milhões de monitores. A visão de uma mulher alheada, o olhar perdido, fixo em algum ponto, o ominoso véu muçulmano deixando à mosta mínima parte de um ser humano. Olhar débil, algo choroso, profunda decepção com o ato de existir.

A segunda foto é típica imagem produzida: há uma espécie de soturna elegância na vestimenta e, da mulher, aparece apenas a face - nisso há alguma identidade entre uma imagem e outra. Mas, só nisso.

Observe: a mulher dá a impressão de estar maquiada. Sobrancelhas feitas, e aparentemente usa discreto batom. Ao fundo, em desfoque, árvores e arbustos dão a ideia de alguém ao ar livre. Mais que isso, alguém "fora da prisão", alguém que "está no mundo", portanto, gozando dessa alforria política que lhe deu o seu país.

A foto inspira uma atmosfera de tranquilidade, sugere pessoa que está ali, mas poderia muito bem estar em outro lugar qualquer, uma vez que está "livre". É como se a foto fosse um flagrante, não uma simulação de flagrantre. O ambiente é claro, insinua placidez e uma vaga sugestão de que o que está fora representa o estado interior, íntimo, espiritual, da mulher. Seria uma Mona Lisa em estilo maometa.

Perceba como ela foi orientada a olhar para a máquina, para que seu rosto renovado possa ser visto como alguém que aparenta estar bem de saúde, rosada e calma. Que lamentável.

Detalhe: ela não foi mostrada por inteiro. A visão de uma vestimenta feminina muçulmana é assustadora ao olhar ocidental: um imenso vestido negro adornando cruelmente um corpo de mulher volatilizaria a ideia otimista que se quer passar. A veste trevosa seria como se víssemos um presságio a caminhar pelas ruas anunciando ruínas e proclamando débitos impagáveis com Alá. Daí não ser recomendável a foto de corpo inteiro. Pobre Sakineh.

A diplomacia midiática de Irã e Estados unidos, claro, irá continuar, respaldando a marcha da insensatez do fundamentalismo de ambos os lados. E Sakineh, esteja certo, irá ser esquecida, pois jamais deixará o Irã, suponho. O Irã jamais aceitará que seja asilada em outro país. Lula tentou e perdeu. Libertar, libertar mesmo aquela mulher, os aiatolás jamais o farão. Isso daria munição à diplomacia midiática dos EUA, pois a iraniana daria entrevisatas, entrevistas que o Irã quer evitar a qualquer custo.

O que o regime islamita quer é apenas mostrar uma farsa. E o Ocidente, também farsante, inversamente igual ao Irã, irá monitorar o destino de Sakineh e gritar sempre que supuser que esteja sob ameaça. Diante disso talvez fosse mesmo melhor  que seja esquecida e viva pacificamente seus dias até que Alá, o Misericordioso, a leve deste mundo.
Biggs, o ladrão-mor do século 20, foi roubado
Emanoel Barreto

Veja só, Ronald Biggs, um dos mais famosos assaltantes do século passado diz ter sido... roubado. Mesmo condenado à prisão na Inglaterra, foi levado a um asilo de idosos, por razões médicas. Foi lá que algum espertalhão lhe roubou, melhor, furtou 100 libras, o equivalente a 230 reais. Agora, quer porque quer o dinheirinho de volta. 
www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.hangoverguide.com/

Biggs, lembra o Estadão, "era membro de uma gangue que roubou 2,6 milhões de libras de um trem pagador inglês em 1963.

Ele foi condenado a 30 anos de prisão, mas fugiu após 15 meses.
Biggs ficou foragido por mais de 30 anos e morou na Espanha, na Austrália e no Brasil. Em 2001, ele retornou voluntariamente ao Reino Unido".

Só para encerrar: ladrão que rouba ladrão...
Faça tudo, mas, pelo amor de Deus, não insulte as hienas
Emanoel Barreto

A charge de Angeli na Folha, como sempre é direta, ferina, brusca, em cheio no alvo. Claro que o chargista segue a linha editorial, como todo bom intelectual orgânico. E a Folha manda bater em Lula, o mesmo se diga com relação a Dilme. Mas, à parte a obrigação de cumprir como alinhamento obrigatório, temos aí efetivamente uma grande charge-editorial.

Trata-se de um texto iconográfico poderoso, aplicável não apenas à atual situação, mas válido para qualquer tipo de governo no Brasil: agora ou em futuro próximo ou distante: a necessidade de o governante atender à voracidade das hienas políticas.

Apenas um erro, e não é do chargista, mas do social por inteiro: o associar a determinados animais nossos mais baixos instintos, nossas mais lamentáveis abominações sociais. As hienas, são feias, agressivas, comedoras de carcaças, mas não são melhores nem piores que os leões, sempre representados em sua grandeza felina e majestosa: reis dos animais. Cada um cumpre com um papel na natureza. Ao leão cumpre dominar a matar presas; às hienas, limpar o que restou nos ossos. É a pura e simples cadeia alimentar.

Assim, não deveríamos ofender os animais. Comparar políticos com hienas é uma injustiça àquelas. Os políticos, em sua maioria, não tenha dúvida, são animais repulsivos, cruéis, safados. São mamíferos na pior expressão do termo. Sugam o que podem e se apojam, viscerais,  nas tetas fartas do Estado.

Mas, vá lá, é preciso mesmo, se alguém quer governar, associar-se às hienas políticas. Ou então ser devorado em meio a um butim que à humanidade deslustra e faz a alguns desacreditar no gênero humano. Aliás, é profundamente humano ser desumano.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Boa noite, fantasmas...
Emanoel Barreto

Gosto do silêncio da noite e dos pequenos sons que de repente brotam de-não-sei-onde. O silêncio da noite é feito de mínimos mistérios que se movem com passos de fantasmas invisíveis, eles próprios envoltos em seus atos silentes, meditantes. 

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://img.photobucket.com/albums
Fantasmas, cavalheirescos, que não perturbam ou fazem gelar o sangue; fantasmas que a mim existem mas não se dizem existentes. 

 Suponho que estejam em alguma biblioteca multicentenária e nevoenta, cujos corredores intangíveis passem pelo meio da minha sala. 

Quem sabe estejam consultando alfarrábios, lendo livros velhíssimos que contenham a solução ou adicionem à vida os segredos indecifráveis da morte e da vida mesma. Daí os pequenos ruídos, sons, estalidos sinceramente sutis: são os fantasmas caminhando.

Nos últimos tempos voltei, noturno, a cultivar antigo hábito: o de ler três, quatro livros de uma vez: dez páginas de um, outras dez de outro, vinte do terceiro, duas do último, quando o cansaço afinal me empurra para dormir. Então, pé ante pé, para não atrapalhar os fantasmas em seu amável conciliábulo, retiro-me e lhes digo: "Boa noite, fantasmas." E sei que eles respondem: "Boa noite." 

E durmo.

Aretha Franklin - I Say A Little Prayer - Leio na net que Aretha Franklin está com câncer no pâncreas. Por ela, quem sabe, uma pequena oração e uma grande torcida pela vida. Aqui, talento e presença de palco - 1970

Retábulo, do Piollin (PB) no Barracão Clowns

Nesta semana receberemos no Barracão Clowns o Piollin Grupo de Teatro, de João Pessoa, para uma curta temporada do seu novo espetáculo, Retábulo, que encerra o projeto Piollin 30, contemplado pelo Programa Petrobras Cultural. Retábulo é uma adaptação cênica da narrativa Retábulo de Santa Joana Carolina, de Osman Lins, e tem a direção de Luiz Carlos Vasconcelos. A peça narra a história de Joana Carolina e de todos os seus sofrimentos de mulher simples do povo através de vários narradores. O espetáculo será apresentado nesta quarta (08), às 20h, e de quinta (09) a domingo (12) em duas sessões, às 19h e 21h. Os ingressos custam R$ 10,00 (R$ 5,00 para es tudantes, idosos e clientes do cartão Petrobras), e estarão a venda uma hora antes das apresentações. Mais informações no site do grupo (clique aqui) ou no blog do espetáculo (clique aqui).
 
 
Última apresentação de Sua Incelença, Ricardo III!
 
Após passar pelas cidades de Santa Cruz, Currais Novos e Assu, Sua Incelença, Ricardo III volta a Natal para fazer a última apresentação da sua temporada de estreia. O espetáculo será apresentado no Complexo Cultural da Zona Norte (Av. Dr. João Medeiros Filho, S/N), neste sábado (11), às 20h, com acesso livre. Sua Incelença, Ricardo III tem o patrocínio do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, OiBanco do Nordeste, BNDES e Lei Câmara Cascudo, e apoio da Locarx, Camarões, La Tavola, Oi Futuro, Mozzarella e Complexo Cultural de Natal
 
 
Fernando Yamamoto no Produção Cultural no Brasil

Está no ar a entrevista que o diretor dos Clowns Fernando Yamamoto fez para o projeto Produção Cultural no Brasil, iniciativa da Casa da Cultura Digital. O projeto tem como intuito mapear a cultura brasileira a partir das entrevistas com 100 personalidades de todo o país, como os últimos ministros da cultura Juca Ferreira, Gilberto Gil e Francisco Weffort, além de outros nomes como Zé Celso Martinez Corrêa, Nelson Motta, Danilo Miranda, Luiz Carlos Barreto, Hugo Possolo, Sérgio de Carvalho, dentre outros. Além das entrevistas em vídeo no site, no início de 2011 a transcrição de entrevistas mais aprofundadas serão lançadas em livros. Confira clicando aqui.

John Lennon - Imagine - Nos 30 anos da viagem de quem sempre foi um caminhante

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces




John Lennon
 Senado aprova perigosíssima lei: agora, bandidos de colarinho branco vão poder dar assessoria a criminosos comuns
Emanoel Barreto

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.gentedeopiniao
O Senado aprovou o fim da prisão especial para quem tem curso superior. Fico preocupado: já pensou, um grande deputado - grande bandido, quero dizer - preso na mesma cela que Fernandinho Beira-mar ou Marcinho VP? Ou mesmo numa cela com um sujeito que roubou uma galinha? Vão ministrar todos os seus procedimentos e tramoias e os presos vão sair craques  em corrupção, desvio de verbas, concussão, peculato, maracutaias e quejandos.

Se sem título superior muitos bandidos já são perigosíssimos, imagine se passam por um curso completo de criminalidade de colarinho branco ministrado por elegante deputado, ínclito senador, fulgente empresário ou digníssimo juiz ladrão... os bandidos - os bandidos convencionais digamos assim -,  vão dar nó em pingo d'água. 

Será, literalmente, a universidade do crime. Pode até ter vestibular, sabia?

Gostei dessa lei não. Com essa lei os criminosos sem curso superior, agora muito bem assessorados, vão ser desvirtuados... Sim, porque, perto de muitos corruptos, eles são fichinha.
De como o Diabo queria ter um filho
Emanoel Barreto

No post abaixo, a respeito de Lennon como morador do Edifício DAkota, faltou à matéria alusão importantíssima: ali foi filmado "O bebê de Rosemary", um dos mais impressionantes e bem feitos filmes a que já assisti. 

Dirigido do Roman Polanski em 1968, conta a história de jovem casal que vai morar no Dakota e ali o marido se envolve com satanistas que querem porque querem que a personagem vivida por Mia Farrow seja a mãe do filho do Diabo. 

A produção foge completamente do tipo terror sangrento e bruto para ser uma espécie de expressão da criatura humana lutando em meio a um mundo pavoroso. 

Transcrevo abaixo primoroso texto do jornalista e diretor Carlos Gerbase, que trata do filme.

Trata-se de análise que desvenda a trama por trás da trama e mostra como o trabalho de Polanski é fruto do comportamento profissional de um grande e meticuloso artista.

O BEBÊ DE ROSEMARY
de Roman Polanski
 
"O bebê de Rosemary" é normalmente classificado como um filme de terror. Nada mais equivocado. Os fãs de terror tendem a ficar decepcionados, pois não há qualquer imagem particularmente aterrorizante no filme. E, bem pior, o rótulo serve para espantar quem desgosta do gênero. Polanski é um mestre da ambigüidade, e não da clareza; da ironia, e não do riso; da intertextualidade, e não das fórmulas clássicas. Polanski é um homem atormentado, com uma vida difícil, cheia de lances dramáticos, mas que, ao transpor suas angústias para o cinema, consegue a façanha de torná-las universais, atemporais e (quase sempre) bem-humoradas. 

A vinda do anti-Cristo é, à primeira vista, o tema principal de "O bebê de Rosemary". Alguns chegam a dizer que o filme abriu caminho para os sucessos populares de "O Exorcista" e "A profecia" na década de 70. Mais equívocos. Polanski não está interessado, nem em discutir seriamente o satanismo, nem em espantar o público com exibições circenses de vômitos e levitações. Polanski está interessado em usar o medo do desconhecido como mola propulsora de uma análise devastadora da família norte-americana, de seus sonhos pequeno-burgueses, de suas aspirações tão conhecidas, domesticadas e inofensivas. Em "A dança dos vampiros" o vampiros são tratados com total descrédito – um é gay, outro não acredita em Deus, nem tem medo da cruz. Em "O bebê de Rosemary" o diabo vai nascer da barriga de Mia Farrow! Querem coisa mais inverossímil?
O que torna "O bebê de Rosemary" um clássico? Um poderoso conjunto de fatores, em que é possível destacar: 

1) o roteiro de Polanski, que mantém o suspense sempre crescendo, e o espectador cada vez com mais raiva da sonsa da Rosemary;
 
2) atuações muito boas de Mia Farrow (provavelmente a melhor da sua carreira), John Cassavetes e Ruth Gordon;
 
3) direção primorosa, que coloca a câmara sempre no lugar certo e consegue um ritmo fantástico para um filme que se passa quase todo dentro de um apartamento;
 
4) o humor permanente, que não causa risadas, e sim a sensação agradável de acompanhar uma história totalmente realista, mas que não leva a sério seu próprio argumento.
Polanski ainda nos oferece um dos melhores finais de filmes da história. Quando Rosemary finalmente vê seu bebê no berço negro e confirma todas as suas suspeitas, tem a chance de escolher entre dois caminhos: ou renega seu filho, partindo para o confronto com os feiticeiros, numa atitude católica e moralmente defensável; ou deixa seu instinto maternal falar mais alto, seguindo um caminho de sombras e pecados. Mia Farrow sorri, terna, para o bebê, a câmara abandona o apartamento e Polanski mostra como se termina um filme mantendo a espinha ereta e o coração tranqüilo. Alguns críticos dizem que ele cansou. Eu ainda tenho esperança. Longa vida para Roman Polanski.

Ficha técnica:
Roteiro: Roman Polanski, com base no romance de Ira Levin; Fotografia: William Fraker; Música: Krysztof Komeda; Produção: William Castle (Paramount); Duração: 137 minutos; Elenco: Mia Farrow (Rosemary), John Cassavetes (Guy, seu marido), Ruth Gordon (Minnie Castevert), Sidney Blackmer (Roman, seu marido), Maurice Evans (Hutch), Ralph Bellamy (dr. Sapirstein), Charles Grodin (dr. Hill).

LEIA MAIS: Roman Polanski
 
Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".
 

Encontrei essa matéria na Folha e compartilho. É uma lembrança de um dos maiores artistas de todos os tempos: John Lennon (EB)



 
  Dakota lembra dias com John Lennon

Beatle morto há 30 anos era visto por vizinhos como um pai protetor

Em 1973, John e Yoko se mudaram para o prédio gótico cheio de famosos e passaram a colecionar imóveis e críticas

Vinnie Zuffante/Michael Ochs Archives - 1º.jan.77/Getty Images

O músico John Lennon e seufilho Sean, então com 2 anos de idade, em 1977, em Nova York, onde viviam com Yoko Ono

CHRISTINE HAUGHNEY
DO "NEW YORK TIMES"

Antes de ser morto a tiros diante do Dakota, 30 anos atrás hoje, John Lennon vivia no sétimo andar do edifício.
Era conhecido como pai bastante protetor e um colecionador de imóveis bastante ativo que chegou a irritar os vizinhos ao adquirir cinco apartamentos no prédio.
O que tornava o Dakota diferente de outros edifícios, além de seu design gótico característico, era o grande número de celebridades, o que conferia certo grau de privacidade a Lennon.
A vida de Lennon e Ono ali começou em 1973, quando decidiram sair de seu loft em Bank Street. Bob Gruen, que fotografou Lennon quando ele vivia em Nova York, diz que o casal queria um lar mais seguro.
Embora os dias iniciais tenham sido difíceis e Lennon tenha brevemente deixado a mulher para viver com May Pang, Gruen conta que Lennon voltou no final de 1974.
O filho, Sean, nasceu em 1975. A maioria dos vizinhos o recorda como um pai envolvido na criação do filho.
Os Lennon atraíram críticas especialmente quanto às compras de imóveis. Ono absorvia parcela desproporcional delas. "Creio que as pessoas não ousavam se irritar com John", disse Paul Goldberger, que fez parte do conselho do Dakota.
Mas as compras não afetaram Nina Bernstein Simmons, filha de Leonard Bernstein, que se mudou com a família para o prédio em 1975, aos 13 anos. Seu "grande encontro com John Lennon" ocorreu no jantar de confraternização do edifício, para o qual os Lennon levaram sushi.
Bernstein Simmons estava ao lado dele na mesa de sobremesas, quando ele contemplou os doces e disse: "Quero alguma coisa grudenta e repulsiva", ela conta, recordando o sotaque de Liverpool.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

 Transcrevo material enviado pelo professor Marcelo Kischinhevsky. Magnífico trabalho. Dele e de seus alunos. (EB)


O desafio de escrever obituários de entes queridos

Estudantes de Jornalismo mobilizam-se para reportar os descaminhos de um dos maiores diários da história do país e discutir as perspectivas da imprensa pós-JB
Marcelo Kischinhevsky

Um aluno me perguntou, este semestre, qual havia sido o momento mais difícil da minha carreira. Certamente, esperava que eu contasse histórias escabrosas de alguma das (poucas) coberturas de operações policiais que acompanhei, quando era estagiário ou repórter dos jornais O Dia e O Globo, antes de enveredar pelo mundo dos indicadores econômicos. Titubeei e não respondi. Agora a pergunta me ronda novamente e percebo que, entre as matérias mais espinhosas da minha trajetória profissional, sem dúvida está o obituário que redigi quando meu pai, Waldemar Kischinhevsky, morreu há quase uma década. Um texto correto do ponto de vista técnico, mas pleno de emoções profundas, que me valeu por anos de terapia.

Escrever sobre perdas próximas é um dos maiores desafios da profissão. Talvez por isso, me abstive de comentários em mídias sociais sobre o fim da edição impressa do Jornal do Brasil. A notícia estava longe de surpreender, mas envolvia grande carga emocional para milhares de jornalistas. Inclusive eu, que passei ali oito anos, de altos e baixos, acertos e fracassos, adrenalina e depressão, e sobretudo de aprendizado.

O anúncio do fim do JB em papel chegou em agosto, soterrando de vez as esperanças de uma guinada na trajetória de um dos mais importantes títulos da imprensa brasileira. Como escrever o obituário de um jornal tão próximo, que havia marcado gerações de profissionais, ajudando a construir a história do país ao longo do conturbado século 20?

Repassei o fardo a um grupo de jovens talentos, estudantes do quarto período de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ). Em atividade prática da disciplina Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa II, eles foram fundo na história desse gigante da imprensa nacional, responsável por edições históricas, ora inovando em termos editoriais e gráficos, ora driblando o cerco da censura nos anos de chumbo, desempenhando papel-chave na luta pela redemocratização.
O resultado segue nas reportagens que você poderá ler, ver e ouvir neste blog. Ouvimos personagens que ajudaram a construir a história desse gigante da imprensa nacional, como Alberto Dines, Carlos Lemos e Wilson Figueiredo; investigamos como sobrevive o JB Digital, desvendando histórias como o da estagiária que foi promovida a editora e trancou a faculdade; mostramos como o JB inventou uma escola brasileira de fotojornalismo e ouvimos um de seus maiores nomes, o premiado Evandro Teixeira; e apuramos como estão os leitores órfãos do diário centenário, muitos deles pouco afeitos às novas tecnologias e, portanto, distantes das edições online; expomos a concentração do mercado de jornais no Rio; e discutimos as perspectivas para a imprensa pós-JB.

É um trabalho de sala de aula, mas realizado com paixão de bichos-jornalistas. Partilhamos aqui o resultado deste esforço de reportagem, este tributo ao bom e velho JB. Navegue por ele, comente, divulgue.

Um jornal que nunca mais será escrito

01/12/2010
Alberto Dines, Carlos Lemos, Wilson Figueiredo, Míriam Leitão e Alfredo Herkenhoff relembram grandes momentos da edição impressa do JB, um ícone do jornalismo

Clarissa Salles, Fernanda Freire, João Guilherme, Luana Corrêa e Rafaella Gil
Depois de enfrentar e vencer ameaças, empastelamentos, perseguição política e censura em momentos obscuros da história da imprensa nacional, o Jornal do Brasil deixou as bancas no dia primeiro de setembro de 2010. Participante ativo de episódios marcantes da vida política brasileira por mais de cem anos, o JB chegou a ser considerado o jornal mais influente do país na segunda metade do século XX. Neste período, sua redação contou com nomes como Alberto Dines, Zuenir Ventura, Carlos Lemos, Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Figueiredo, Ancelmo Góis, Dora Kramer, Miriam Leitão e inúmeros outros, de diferentes gerações.

Lançado no dia 9 de abril de 1891, o Jornal do Brasil chegou ao seu período áureo (fins dos anos 1950 até a primeira metade dos 1980) marcado por uma inovadora reforma gráfica, consolidada e aprimorada durante a chamada ‘‘Era Dines’’. Localizado na capital cultural do Brasil, em uma época em que o Rio de Janeiro ditava tendências e comportamentos, o JB influenciou não só os outros jornais, mas também uma geração de jornalistas vindos de diversas regiões do Brasil. Foi a bússola dessa geração de jornalistas, muitos dos quais hoje têm considerável prestígio nos meios de comunicação, que participaram do que muitos apontam como o único jornal impresso efetivamente nacional.

O polêmico anúncio do fim da versão impressa do JB, feito pelo empresário Nelson Tanure, afetou a todos que tiveram suas vidas, pessoais e profissionais, marcadas pelo jornal. Alguns exigiram providências para tentar salvar a versão impressa, outros declararam estar aliviados com o fim da agonia do que restou daquele grande jornal, e há ainda os que acreditam no crescimento da versão online.

Fim de edição impressa foi notícia no arqui-rival O Globo
Entre os diversos possíveis carrascos do jornal figuram a perseguição política sofrida durante o regime militar pós-64, em decorrência da ‘‘resistência criativa’’ ao AI-5 e da oposição aos generais-presidentes, quando o governo, de um lado, censurava veículos de comunicação e, de outro, era o maior anunciante do país (muitas vezes favorecendo a concorrência); a transferência da sede do jornal da Avenida Rio Branco para a Avenida Brasil, em um prédio que seguia projeto de Henrique Mindlin, imponente, premiado internacionalmente e demasiadamente caro; má gestão, entre diversos outros fatores.


Alfredo Herkenhoff, autor do livro Jornal do Brasil: Memórias de um Secretário, acredita em um conjunto de causas que levaram ao fim do jornal, entre as quais cita a concorrência da televisão e “um certo mau humor de Brasília a partir de 68”. Entretanto, Herkenhoff diz que o “anúncio de morte” não o surpreendeu: “O jornal já tinha começado a morrer muito tempo antes, ele só vinha definhando e agora acabou de ser jornal impresso, tentando sobreviver como digital, mas não sei se terá futuro nisso”.

Miriam Leitão, que trabalhou como editora de Economia no JB antes de ir para o concorrente O Globo, concorda: “Ele deixou de ser JB, foi saindo devagar. Primeiro perdeu as características, a influência, e depois fechou no impresso, tentando transformar isso numa história de migração para o online. Eu já tinha parado de lê-lo há muito tempo, porque não precisava mais, deixou de ser fundamental muito antes de morrer. E um jornal morre quando deixa de ser fundamental”.

E o que fez o Jornal do Brasil fundamental foi, segundo Wilson Figueiredo, “o bom humor no tratamento de problemas, a objetividade e a segurança da informação. Não havia sensacionalismo, mas uma procura pela qualidade da informação”. Miriam cita a liberdade de criação: “Trabalhei entre 1985 e 1990, anos intensos para o Brasil e para a economia. Em 90, por exemplo, a inflação chegou a 84% em um único mês, então tivemos que inventar um jornalismo – e o JB deixava a gente inventar qualquer coisa. O jornalismo econômico naquele momento era utilidade pública”.

Carlos Lemos, ex-chefe de reportagem do JB nas décadas de 60 e 70, acrescenta o sentimento de identificação e pertencimento entre os jornalistas: “Era um espírito de clã, éramos tão cientes da qualidade do produto que quem não trabalhasse no JB não era jornalista”, brinca. Alberto Dines, ex-diretor de Redação e um dos responsáveis por consolidar as mudanças editoriais e gráficas que, nos anos 1960, deram prestígio inigualável ao jornal, relembra o clima familiar da redação, onde era frequente ver crianças, levados pelos pais jornalistas especialmente aos sábados. Duas dessas crianças eram os filhos de Miriam: “Eles iam para a pesquisa ler quadrinhos e a primeira vez que usaram um computador foi dentro da redação. Os dois viraram jornalistas, um final inevitável”, conta a jornalista.

Dines atribui o espírito da redação ao JB e não aos jornalistas em si. “Criou-se um espírito único. As pessoas podiam sair e, quando voltavam já não encontravam todos, mas tinha alguma coisa impregnada. O JB não foi o jornal de um período, por pelo menos 40 anos passou por diversos comandos, mas ninguém tocou em nada, era uma coisa sagrada. O Jornal do Brasil criou um espírito corporativo, as pessoas confraternizavam, qualquer oportunidade era motivo para festinha. É esse espírito que fez o jornal que acabou, mas os filhos continuam. Essa choradeira positiva ela é reflexo de um sentimento coletivo de perda.”

Perda que Wilson Figueiredo descreve como “uma parte minha que já morreu” e faz Herkenhoff e Miriam relembrarem a infância. “A importância do Jornal do Brasil para mim começou na infância, meu pai lá no interior do Espírito Santo passou a assinar o JB. Morei dois anos na Europa decidido a fazer comunicação e o JB e o Correio da Manhã (diário que fechou as portas após bater de frente com a ditadura militar) eram as minhas referências emocionais da infância. Foi muito doloroso assistir a esse processo de decadência. O JB foi acabando todo dia um pouquinho nos vinte anos que eu trabalhei lá e foi muito triste ficar impotente diante daquilo”, diz ele. Natural de Caratinga (MG), Miriam acrescenta: “Eu morava no interior de Minas e quando alguém vinha ao Rio eu pedia para trazer o JB de todos os dias, mesmo que estivesse velho. E eu lia com grande prazer, porque a matéria era muito mais completa, o caderno B era inigualável e as matérias de comportamento eram modernas, atrevidas”.

Além de moderno e atrevido, o Caderno B é descrito por Wilson Figueiredo como agradável e inovador. “Era agradável, provavelmente não pela literatura, mas pelo sentido informativo e cultural que o Jornal do Brasil adotou, transformando tudo. Entrevista não era formal, era uma entrevista importante que pegava o sujeito na hora certa, os repórteres aguçavam e tinham bem o sentido agudo do momento, do momento cultural… O jornal fazia tudo de maneira criativa e na oportunidade ideal, na hora certa”.

Alberto Dines é citado pelos colegas como a grande referência no JB. “O JB realmente marcante na minha geração é o JB do Dines. A reforma começou antes, mas ele fez uma parte grande dela e o consolidou como um jornal à frente do seu tempo, que os outros copiavam”, diz Miriam. Carlos Lemos concorda: “O período áureo foi comandado pelo Dines, que era editor-chefe, seguido por mim e mais três abaixo, Luiz Orlando Carneiro – que era o homem do futuro –, Sérgio Noronha, chefe do copidesque, e José Silveira, editor e diagramador. Esse quinteto foi uma das coisas mais sensacionais que se conseguiu juntar na imprensa brasileira”

Primeira página histórica: JB dribla censura ao noticiar AI-5
Miriam frisa a quantidade de grandes nomes que passaram pela redação: “Muita inteligência passou por lá. O Zuenir Ventura, por exemplo, parava o trabalho dele para reler um texto e te ajudar a melhorar, descobrir um talento que estava sufocado. E Drummond, Antonio Callado, Ruy Barbosa ter sido editor-chefe, Rodolfo Dantas, um dos fundadores… JB é um mito, um emblema na história do Jornalismo brasileiro”.

Dines, no entanto, lembra que não se preocupava em dar um nome ao seu cargo: “Eu só fazia questão de alguma coisa ligada a editor porque eu era responsável pelo jornal, pela feitura do noticiário, não pela opinião do jornal, porque isso era competência dos donos. Então eu queria alguma coisa que fosse ligada a redação, e fiquei lá por quase 12 anos”. Para ele, um dos trunfos do JB era o treinamento de jornalistas dentro da própria redação: “O departamento de pesquisas era uma espécie de escola, e esse é o segredo de uma organização jornalística: ser uma instituição de aprendizado permanente, porque senão você fica patinando na mesma coisa e não vai pra frente”.

Quanto à possibilidade de renascimento do jornal, Dines diz que mesmo que o jornal fosse comprado por um milionário – ele cita Eike Batista, que dias depois desmentiria qualquer interesse em investimentos em mídia –, de nada adiantaria se a cidade não estivesse pronta para produzir: “O jornal era o reflexo do Rio de Janeiro, não de um grupo de pessoas. Era o reflexo de uma comunidade inteligente e que queria fazer um produto inteligente. O JB era o fruto da inteligência do Rio, independendo de quem escrevia e informava. É como um casamento, você não fala assim: Ah, resolvi casar! Não, precisa haver algo em comum”. Assim, a relação se torna uma via de mão dupla, onde o leitor tem papel de identificação com o jornal e o jornal tem o dever de respeitar o leitor, mantendo o que ele gosta e retirando o que não agrada.

Miriam Leitão descreve a redação do Jornal do Brasil como um ambiente encantador e cita Joaquim Ferreira dos Santos, que contava a história do ascensorista que, ao chegar ao andar da redação, exclamava: “Parque de diversões!”. “A gente trabalhava muito, duramente, mas também se divertia”, diz Miriam. E Dines completa: “Atualmente é uma coisa inanimada, totalmente diferente do que é o jornal: vida, a vida da comunidade”.

Indagado sobre um possível fim do jornalismo impresso em geral, Carlos Lemos é direto: “O jornal vai acabar, vão acabar todos. Hoje vivemos o reinado da imagem, vai acabar tudo aqui (mostra um telefone celular)”. A tendência segundo Miriam Leitão é, de fato, essa: “Os jornais vão migrar para o online, ou farão as duas coisas ao mesmo tempo. Essa é a tendência, os jornais serão multiplataforma mesmo, e já o são”. Dines vê com incerteza essa migração, já que, para ele, uma redação dá vida ao jornal: “Como é que vai fazer isso na internet? Por enquanto, a internet é uma coisa inanimada”, diz.

Já Wilson Figueiredo se mostra preocupado com a documentação do online: “A importância de um jornal online é o presente e eu nunca vi a durabilidade de uma matéria eletrônica, que com muita facilidade se perde, você não encontra. A documentação é importante para o historiador, porque o que sobra de cada época é mínimo, é o essencial: a idéia que se faz de uma época é o que sobrou dela no que está escrito. É importante ter material para analisar”.

Todos deixam transparecer grande pesar e nostalgia ao falar do fim deste jornal que não apenas acompanhou e noticiou, mas também fez parte da história do país – principalmente na cidade de sua sede, onde agora apenas um grande jornal fala para o público órfão do JB. “É uma tragédia”, lamenta Miriam Leitão, “a competição entre O Globo e o JB era muito viva, a gente queria fazer o melhor jornal. Era uma saudável disputa, porque queríamos fazer o melhor para agradar ao leitor e isso nos estimulava”.

O futuro do jornalismo impresso é, de fato, incerto, e não se pode afirmar ainda se haverá um fim, já que propostas de novos formatos podem surgir. Sendo assim, cada jornal vai tentando sobreviver em meio à incomparável agilidade de informações que se obtém online. Porém, o que revolta aqueles que viram o Jornal do Brasil definhar é o processo de desligamento do que este representava, sua gestão nas mãos de quem “não gostava do produto”, segundo Dines. “Um industrial que fabrica salsicha tem que gostar da sua salsicha, do seu biscoito, do automóvel que ele faz, se esse industrial ou artesão não gosta daquilo que ele faz, ele não prospera”, compara.

Miriam Leitão segue o mesmo pensamento: “O Tanure não quer fazer jornal, ele não entende de jornal. Um cara que compra empresas quebradas para tentar ganhar mais algum não vai entender o espírito do JB, não tem a menor chance”. Carlos Lemos também atribui o fim à “megalomania e generosidade do Dr.
Nascimento Brito” (Manoel Francisco do Nascimento Brito), dono do Jornal do Brasil e responsável pela suntuosa sede da Avenida Brasil. Muitos esquecem de listar os Nascimento Brito entre os responsáveis pela derrocada do jornal, mas é fato que a marca JB acabou sendo arrendada ao empresário Nelson Tanure por 50 anos devido às dificuldades enfrentadas na época da gestão da família.

Ouça a íntegra da entrevista de Carlos Lemos e conheça histórias como a do drible de Pelé à restrição de fotos de negros na primeira página do JB

Ousado, mítico, mágico, excêntrico, revolucionário, inovador, formador de gerações, influência para jornais e jornalistas do país inteiro. O Jornal do Brasil deixou as bancas, mas não deixou os corações daqueles que o escreveram, nos quais deixou sua marca. Marca de um jornal que, provavelmente, nunca mais será escrito. E toda vez que esses grandes nomes passarem pela Avenida Brasil 500, o sentimento será o mesmo: emoção.

Os sobreviventes que mantêm o JB no ar

27/11/2010
JB Digital representa nova (e incerta) fase para redação devastada por sucessivas ondas de demissões. Editor-chefe e funcionários contam como o diário resiste na internet

Débora Monserrat, Guilherme Schneider, Lucie Girardot, Raquel Pedroza e Tiago Andrade


Entrada da sede do JB: redação com apenas 60 funcionários

Quem passa apressado por debaixo do viaduto da Av. Paulo de Frontin, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio, talvez nem perceba, mas lá estão as duas sedes do tradicional Jornal do Brasil. A vizinhança depauperada expõe a atual fase de dificuldades enfrentadas pelo diário, que já teve como endereços a Av. Rio Branco e, entre 1973 e 2001, o suntuoso edifício número 500 da Av. Brasil (apontado pelos críticos como um “elefante branco”, que ajudou a quebrar a empresa). Perto de completar 120 anos de sua fundação, o jornal aposta na dita era digital para sonhar com uma sobrevida próspera.

Em lados opostos da avenida, sob o Elevado Paulo de Frontin, estão a sede principal, com a redação do JB, e CPDoc, prédio que preserva o que restou da memória visual da empresa, vitimada por um incêndio nos anos 1970 e por anos de falta de investimento em pesquisa e documentação. O prédio da redação encontra-se no número 651, em um discreto anexo à “Casa do Bispo”, construção colonial do século XVIII onde antes funcionava a redação do jornal impresso, hoje vazia. Ao passar pela porta é inevitável notar uma grande placa fixada na fachada escrito “aluga-se”.

Não é a sentença de morte: o jornal, que se mudou para o Rio Comprido em 2005, reduziu dramaticamente seu quadro de funcionários e, hoje, a redação cabe inteira nos fundos do casarão, num modesto prédio que já abrigou um seminário. O imóvel, pertencente à Igreja, já foi ocupado pela Fundação Roberto Marinho, que se mudou dali devido aos constantes tiroteios nos morros vizinhos, abrindo caminho para o último inquilino: o JB.

A redação atual é organizada, moderna e funcional. De acordo com Marcelo Migliaccio, atual editor-chefe, trabalham na empresa cerca de 150 funcionários, incluindo colaboradores em outros estados, sendo cerca de 60 jornalistas e 10 estagiários. Uma fração se comparada à redação dos tempos da Av. Brasil 500, onde há pouco mais de uma década trabalhavam mais de 400 jornalistas.

Cartaz informa: aluga-se casarão que abrigou redação do JB
De fato, o Jornal do Brasil não acabou, como muitos acreditaram que aconteceria. Porém, passou por uma mudança jamais vista nos meios de comunicação impressos nacionais. Desde 1º de setembro de 2010, o jornal deixou de existir como impresso, passando apenas a ser um jornal digital com duas versões: uma online, com cobertura em tempo real, e a outra diagramada nos mesmos moldes do impresso, a chamada versão digital. Ambas são escritas no mesmo ambiente, mas por equipes de jornalistas distintas.

Em entrevista, Migliaccio listou e justificou os diversos motivos para a escolha do formato apenas digital, entre eles os altos custos do papel-jornal. Segundo o editor-chefe, o discurso ambiental também pesou na escolha, pois assim estariam “derrubando menos árvores”. Migliaccio considera a mudança uma tendência mundial e chegou a dizer que todos os jornais mais cedo ou mais tarde acabariam abandonando o modelo impresso. Ele não deixa de reconhecer, no entanto, que grande parte das dificuldades jurídicas e econômicas pelas quais passou o jornal contribuíram para a mudança: “Ninguém nega que o JB passou por uma crise forte”, afirma. Apesar de admitir problemas, o jornalista sustenta ter boas perspectivas para o futuro: O JB não acabou. Acabou na banca. Porém, antes o JB estava somente na banca. Hoje estamos no Japão, na China… recebo e-mails do mundo inteiro de gente que está lendo o JB na internet, conta.

Marcelo Migliaccio, atual editor-chefe do JB
Ainda segundo o editor-chefe, o jornal conta atualmente com sete milhões de acessos por mês, contra uma tiragem impressa média de 20 mil exemplares este ano. Quase nada para um jornal que há quatro décadas colocava nas bancas mais de 500 mil exemplares aos domingos.

Um ex-editor, que trabalhou no JB por mais de uma década, afirmou em entrevista que as vendas não paravam de cair, e que o jornal mudou o formato puramente por questões financeiras. Para não acabar, a única maneira foi fazer isso (ficar só online).” De fato, o JB foi o primeiro diário brasileiro na internet, em 1995. Mas o pioneirismo da época não guarda semelhanças com a opção atual, adotada após sucessivos prejuízos e perda de espaço no mercado impresso carioca. Sob o controle do empresário Nelson Tanure desde 2000, o JB enfrentou sucessivas mudanças de comando (em média, um novo editor-chefe a cada 10 meses) e perdeu o rumo. Em 2008, deixou o Instituto Verificador de Circulação (IVC), em meio a denúncias de que inflava sua tiragem para cobrar mais pelos anúncios.


A dívida trabalhista tornou-se também uma bola de neve, devido ao frequente desrespeito aos direitos dos funcionários. Em 2001, os que ganhavam salários mais elevados foram obrigados a criar empresas, numa estratégia do jornal para driblar a legislação e pagar menos encargos. Anos depois, recuou e se comprometeu com o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro e com a Justiça do Trabalho a regularizar a situação. Mas o estrago já estava feito. Segundo Migliaccio, “a Justiça asfixiou o Jornal do Brasil”, ao arrestar todos os recursos da empresa para quitar débitos trabalhistas, impedindo seu funcionamento normal. O que poderiam ter feito: JB você está devendo X, então você vai pagar todo mês R$ 500 mil para causas trabalhistas. Mas não. Entravam R$ 2 milhões aqui de anúncio publicitário, e a Justiça carregava os R$ 2 milhões. A Justiça matou a galinha dos ovos de ouro que tinha, porque foi incapaz de criar um escalonamento da dívida”, lamenta. Ninguém sabe ao certo o tamanho da dívida do JB, que, de acordo com a fonte, pode variar entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão. Há ex-editores com indenizações superiores a R$ 1 milhão, acertadas em acordos judiciais, mas que simplesmente não são quitadas, gerando novas multas.

Migliaccio nega que a mudança para o formato digital tenha acarretado novas demissões (exceto na Editoria de Arte) ou atribuição de tarefas de profissionais a estagiários. Nossa equipe de reportagem apurou, no entanto, que houve cortes na Fotografia e, pontualmente, em diversas editorias. Com equipes extremamente enxutas, a saída de um único jornalista já acarretava transtornos. Um ex-editor afirma que, nesse cenário, ocorrem ascensões meteóricas na redação. “Há uma editora que não é graduada. Era estagiária, e trancou a faculdade, para trabalhar apenas no jornal. Ela ia fazer faculdade e estagiar, só que um editor saiu e, com a vaga aberta, ela começou a editar a página e teve que trancar a faculdade, porque passou a ser a editora contratada. Uma pessoa que não é nem formada. De estagiária, virou editora”.


Redação do novo JB: moderna e "mais tranquila"
O clima menos agitado da redação foi um aspecto favorável das mudanças defendido por Marcelo Migliaccio. O editor-chefe afirma que, com o fim da correria do impresso, a rotina dos jornalistas ficou um pouco mais tranquila. “Agora não tem mais horário de gráfica, limite de páginas, então se a gente quiser fazer 20 páginas por dia a gente faz. O Caderno B, por exemplo, antes fechava cedo, porque tinha que imprimir página antes, hoje ele pode fechar às 10 horas da noite”. A impressão transmitida na visita à redação é de um ambiente tranquilo, se comparado com a correria que se espera de um jornal impresso. Além disso, o formato diagramado tem a proposta de não dar as notícias chamadas quentes, em tempo real, que o JB Online transmite. Pelo contrário, a intenção deste modelo é apresentar matérias diferenciadas ao público. Como qualquer veículo online, o telefone e a própria internet são os meios de apuração mais utilizados. Porém, o editor garante que há equipes que vão para a rua diariamente cobrir os mais diversos fatos (cinco no Rio e mais duas em Brasília).

Ironicamente, a revista JB Ecológico ainda é impressa em papel, pondo em xeque o argumento ambiental utilizado pela empresa por ocasião do abandono do papel. Questionado, Migliaccio justifica dizendo que a revista passou a ser publicada somente em edições especiais, que geram grandes lucros. Complementa dizendo que os R$ 9,90 das assinaturas pelo JB Digital (que no momento não são cobradas) não sustentam o jornal, e sim publicidade e eventos. “Nós fizemos agora a premiação do JB Ecológico, que foi um evento que trouxe mais de R$ 1 milhão para o jornal”, afirma o editor-chefe, acrescentando que já não ocorrem mais atrasos no pagamento dos salários, como na época do impresso.

Por concentrar suas ações exclusivamente na internet, a nova fase do JB exige uma integração intensa com as redes sociais, para divulgar a marca e chamar acessos ao site. Há um peso inegável na crescente conexão com Twitter (mais de 11 mil seguidores) e Facebook (mais de mil contatos). Além dos blogs, que atendem nichos de leitores e podem atingir independentemente até 50 mil acessos mensais. O número de acessos diários à página oficial do jornal (que é hospedada no Portal Terra) é de cerca de 300 mil por dia. Chegou a atingir 600 mil diariamente, durante a fase de transição para o JB Digital. Os sete mil assinantes do jornal impresso tiveram seus contratos estendidos para a versão digital, por R$ 9,90, o que naturalmente não agradou a todos os leitores.

A mudança em direção ao formato exclusivamente digital traz novos dilemas, como a renovação do público, já que o leitor do JB é mais velho do que a média da concorrência. A dificuldade natural em se adaptar nos primeiros momentos faz com que o jornal busque soluções para dinamizar o processo, especialmente para quem está acostumado com a manipulação do impresso ao invés de leitura em jornal no computador ou nos mais recentes gadgets.

O redator Borges Neto: "Prefiro o jornal impresso"
Encontramos um exemplo claro da resistência ao modelo digital dentro da própria redação. Borges Neto, redator que ingressou no jornal no ano de 1970, época na qual existia uma equipe de revisão fantástica”, segundo ele, agora é o único responsável pelo controle de qualidade na versão online. Quando indagado se prefere o modelo impresso ao digital Borges Neto não hesita escolher o tradicional: Prefiro que imprimam as páginas, acho que isso é um vício. Eu prefiro papel, faço no print. No computador é estranho”, diz, completando em seguida: “Gosto mais do impresso, assim como muita gente também gosta. Acho que mesmo daqui a alguns anos vão preferir o papel. O online é muito rápido, muito fútil. Ele passa, vai embora.

O nascimento de uma escola brasileira de fotojornalismo

23/11/2010
Jornal do Brasil notabilizou-se pelo aproveitamento excepcional das imagens, tornando-se espaço privilegiado para revelação e premiação de talentos
Jorge Natan e Carlos Oliveira
Foram quase 120 anos como referência na imprensa nacional. O Jornal do Brasil foi um veículo que ultrapassou todos os períodos da República, dos mais democráticos aos anos de chumbo. Desta forma, desenvolveu sua importância como meio de comunicação e, simultaneamente, suas particularidades, que não estavam restritas apenas ao estilo de escrita. O JB possuía um aspecto totalmente peculiar nas fotografias que estampava e, assim, é visto como fundamental para o desenvolvimento do fotojornalismo brasileiro.
Esta análise é compartilhada por uma série de acadêmicos e profissionais da fotografia. Professor de fotojornalismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e fotógrafo do Jornal do Brasil por mais de 14 anos, Ricardo de Hollanda tem propriedade para apontar como a publicação revolucionou a importância da imagem dentro do jornalismo em terras nacionais.

Segundo o professor, o JB conseguiu revolucionar a linguagem fotográfica, sob o ponto de vista jornalístico, ao implantar – pela primeira vez no Brasil – as ideias vindas do jornalismo americano, no final da década de 50. Nesta época, a reforma gráfico-visual do JB é comandada por Odylo Costa, filho, momento em que chegam ao jornal profissionais de renome, como o artista plástico Amílcar de Castro.

A principal transformação reside no fato de que o Jornal do Brasil passou a ter a publicação de fotografias na primeira página, em espaço nobre. “A imagem ganha outra dimensão e a equipe de fotógrafos do JB já estava adaptada para atender a essa demanda. Surge, então, uma equipe fotográfica que em nenhum momento do fotojornalismo brasileiro existiu igual”, comenta Hollanda, que cita Evandro Teixeira como grande nome da fotografia do jornal.

Flagrante da noite do golpe militar, por Evandro Teixeira
O ex-editor de fotografia Erno Schneider, que chegou ao JB neste período de reforma, expõe o quão especial era o fotojornalismo desenvolvido por tal equipe. “Na época, o Jornal do Brasil era covardia em matéria de fotografia. Sempre trazia uma foto diferente dos outros. Apostavam na foto diferente e a publicavam na primeira página. O JB era o máximo do jornalismo fotográfico”, declara o fotógrafo, que ainda lembra as premiações para os profissionais que emplacavam mais imagens na primeira página.
Este ambiente de valorização do fotojornalismo ganhou ainda mais força quando Alberto Dines cria o Departamento de Fotografia e a figura do editor de fotografia, que davam aos profissionais da imagem uma maior autonomia, pois se reportavam a alguém com visão mais apurada do que os editores convencionais. Assim, o primeiro Prêmio Esso (maior premiação do jornalismo brasileiro) que o JB viria a ganhar seria o de fotografia, em 1962. Erno Schneider seria o premiado com a clássica foto em que o ex-presidente Jânio Quadros aparece de costas, com as pernas em direções opostas, sob o título “Qual é o rumo?” (abaixo, no detalhe).
Jânio Quadros, flagrado pela lente de Erno Schneider, em foto premiada“O diferencial era o grande diálogo entre a redação e a equipe fotográfica. Assim, criou-se uma cultura da imagem, que acabou virando uma escola de referência”, explica Ricardo de Hollanda, que garante a influência do Jornal do Brasil no ensino do fotojornalismo no Brasil. Para o professor, os jornais de hoje não apresentam imagens com a mesma representatividade. “Hoje se abre a primeira página do jornal, são sempre fotografias sem graça, paradas; sem vida, sem dinâmica. No JB, havia lugar, também, para a fotografia romântica, algo mais subjetivo.”

“O JB morreu, não vamos chorar”

23/11/2010
Grande nome do fotojornalismo nacional, Evandro Teixeira conta as experiências de quase cinco décadas de jornal
Carlos Oliveira e Jorge Natan
Humildade e persistência são palavras que descrevem a personalidade de um dos mais importantes fotógrafos do Brasil. Único a entrar no Forte de Copacabana para registrar a chegada do general Humberto Castelo Branco em 1964, na ocasião do golpe militar, Evandro Teixeira, hoje com 65 anos, também foi o único brasileiro a cobrir o suicídio em massa comandado pelo líder religioso Jim Jones, na Guiana, em 1978.
Evandro, autor de sete livros, afirma que hesitou ao ser convidado para trabalhar no Jornal do Brasil. Na época, lembra, só os melhores trabalhavam lá, e o jovem repórter fotográfico não tinha certeza de que estava à altura dos futuros colegas. Mas encarou o desafio e acabou se tornando, ao longo das décadas seguintes, um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro.
Nos últimos anos, comandava a editoria de fotografia do JB, mas não perdia a oportunidade de sair às ruas, sempre que possível. Demitiu-se na última semana de circulação da versão impressa, quando soube que sua equipe de oito fotógrafos seria reduzida a apenas dois. Na redação, fez discurso acalorado de despedida, com seu forte sotaque nordestino, sendo aplaudido de pé pelos jornalistas remanescentes.

Evandro Teixeira: uma vida dedicada ao JB
Em entrevista, Evandro Teixeira contou um pouco de sua experiência ao longo de 47 anos de serviços prestados ao que afirma ter sido “o jornal mas importante do Brasil”. Mas, pragmático, recusa-se a lamentar o fim da edição em papel, que representou um marco em termos de aproveitamento de fotografia na imprensa do país.
Como foi o convite para trabalhar no Jornal do Brasil?
Naquela época eu trabalhava no Diário da Noite, onde comecei. À medida que cresci e apareci, fui convidado a trabalhar no JB. Tive medo porque a elite do jornalismo brasileiro estava lá. Fiquei mais de um ano pensando até aceitar o convite, em janeiro de 1963, pois era o sonho de todos porque o JB era o melhor do Brasil, trabalhar lá era a glória.
Qual foi a sua primeira cobertura no Jornal do Brasil?
A primeira cobertura importante foi a dos Jogos Pan-Americanos de 1963, logo que entrei no jornal. Era um jornal em que fazíamos o que tínhamos vontade de fazer, viajávamos quando queríamos viajar de carro, avião etc.
Como foi fazer parte dessa revolução que o JB foi para o fotojornalismo brasileiro?
Eu me senti honrado em ter feito parte dessa história do jornal que foi considerado o mais importante do Brasil e um dos mais importantes do mundo. Um jornal pioneiro em modernidade, criatividade e diagramação, de um modo geral. Claro que aprendi muito ali, o Jornal do Brasil foi uma eterna escola de jornalismo até no seu fechamento. Era ainda um jornal de respeito, moderno e criativo.

O que o fotojornalismo do JB tinha como diferença em relação aos demais jornais?
O JB tinha tudo diferente, os outros profissionais seguiam quem trabalhava no Jornal do Brasil. O JB era a referência para a fotografia jornalística brasileira. Procurávamos mostrar um lado diferente de todos, fazendo isso através de uma maneira especial de fotografar e mostrar o cotidiano dos espaços. Assim, o jornal era querido e acompanhado.
Qual era o diferencial dos profissionais do JB em comparação com os profissionais de outras publicações?
A diferença era o que se mostrava no dia a dia. O impacto do jornal e os leitores faziam a diferença. Ficávamos distantes do fato, e não no meio das confusões, a fim de explorar outra visão, mais jornalística, diferenciada. Mostrávamos um lado mais humano, cômico ou histórico. Cada situação tinha sua particularidade e era isso que procurávamos mostrar e diferenciar. A ordem dos concorrentes era nos seguir onde estivéssemos. 

Qual foi a foto mais marcante?
Eu não tenho uma foto marcante, mas muitas matérias e fotos minhas ficaram marcadas na história do Brasil e do mundo. Eu acompanhei diversos fatos históricos e a partir daí muitas imagens ficaram na memória, como o golpe militar no Chile (em 1973), o enterro do Neruda (Pablo Neruda, poeta e cônsul chileno, também em 1973), o massacre da Guiana comandado por Jim Jones, nos dois últimos sendo o único brasileiro. Porém aquela que mais gosto é sobre um casamento em Paraty, que impressiona pela simplicidade, singeleza e o inusitado.
Houve fotos vetadas pela ditadura?
Muitas fotos, muitas coisas eram vetadas. Por exemplo, uma foto da passeata em que aparecia um cartaz dizendo “Abaixo a Ditadura. Povo no poder” nunca foi publicada. Foi publicada uma outra que mostrava o contexto geral da passeata, a multidão, sem que pudesse ser feita leitura de qualquer faixa. Eu quis dar o meu olhar sobre aquela passeata, quis dizer algo com aquela foto e por isso não deixaram publicar. A foto original ficou guardada até 1983 quando foi publicada em meu livro.
Qual foi a pior situação passada no Jornal do Brasil?
Eu passei grandes momentos alegres e tristes. Mas os momentos mais dramáticos foram a ditadura no Brasil, quando sofremos muita represália, e o golpe militar no Chile, que foi “barra pesada”. Lá era “salve-se quem puder”. Apesar de tudo foi muito gratificante. A função do fotojornalismo é mostrar e denunciar esses acontecimentos, no Brasil e no mundo.
Quantos fotógrafos formavam a equipe do JB?
A equipe chegou a ter 52 fotógrafos, depois foi diminuindo e agora no fim tinham oito a dez. Cobríamos o que era possível no padrão atual do jornal. Dentro do limite de quantidade procurávamos mostrar qualidade. Quantidade não significa qualidade.




Como viver sem o JB nas bancas diariamente?
Todo mundo sente a diferença. O jornal era uma referência para o intelectual do Brasil e do Rio de Janeiro, especialmente. Eu sinto falta porque gosto de ler o jornal, apesar de ele estar muito bom na internet. Nela, não temos o sabor e o gosto de ficar folheando.

Por que as outras publicações não suprem a saída do JB?
O Jornal do Brasil foi único como a revista Life. Ninguém nunca conseguiu superar a qualidade dela. Igual não tem. As pessoas sentem muita falta do Caderno B, que era belíssimo. Ao contrário de jornais como o Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, que são regionalistas, o JB era o jornal nacional e era puramente a cara do Rio. Mas morreu, não vamos chorar, vamos fazer e ler outras coisas.
O que o JB contribuiu para sua carreira e o que você contribuiu para o jornal?
Foi uma troca de informações. Eu aprendi muito com o jornal e claro que o JB tirou proveito do meu trabalho. Ali viajei e conheci o mundo, fiz muitas coberturas esportivas, política, moda. Foi um casamento perfeito.
Qual a frase ou expressão que ilustra a sua passagem e vivência no Jornal do Brasil?
Foi bom enquanto durou. O JB marcou muito e deixou saudade.
Ouça os principais trechos da entrevista de Evandro Teixeira


Órfãos de um velho gigante

23/11/2010
Antigos leitores do Jornal do Brasil relembram o periódico, que tenta manter seu legado em versão digital
Jéssica Barreiros e Marianna Salles Falcão
“Vocês estão fazendo uma petição para o Jornal do Brasil voltar?” Foi esta a reação imediata da aposentada Hilda Santana, quando procurada pelas estudantes de Jornalismo que elaboravam reportagem sobre o fim da versão em papel do diário surgido em 9 de abril de 1891. Passados poucos meses desde o término de sua versão impressa, em 31 de agosto de 2010, muitos leitores ainda lamentam a despedida daquele veículo que, por mais de um século, esteve presente no dia-a-dia carioca.
As razões para acompanhar o Jornal do Brasil eram várias: entre os 18 leitores entrevistados, foram citadas a impressão de imparcialidade do jornal, se comparado com O Globo, seu maior concorrente; suas grandes reportagens que evitavam abordagens sensacionalistas; o alto nível de seus colunistas; o enfoque diferenciado em cultura através do Caderno B e da Revista de Domingo, entre outras qualidades.
Além disso, por vezes, ler o JB era um hábito que passava de pais para filhos. Eda Machado, professora de tai-chi-chuan de 67 anos, diz que começou lendo a parte infantil do jornal e, à medida que amadurecia, mudou para os outros cadernos. “Meu pai me passou o gosto pelo JB. Fiz laços de amizade com o jornal, porque fui crescendo junto com ele. Depois fui passando isso para os meus filhos também”, lembra. O mesmo aconteceu com Bete Nogueira, jornalista de 43 anos, que diz ter aprendido a gostar de ler e escrever com as crônicas de Luis Fernando Verissimo na Revista de Domingo. “Quando criança, não perdia uma edição, que eu pegava na casa da minha vizinha, leitora assídua do JB por, entre outras coisas, ser o jornal com o melhor caderno de classificados da cidade”, conta.
Apesar de todo este carinho pelo JB, que levou a professora Enia Mittelman, de 56 anos, a apelidá-lo como “o jornal de seu coração”, apenas dois dos entrevistados acompanharam a versão impressa até seus últimos dias. Novamente, as razões para deixar de lê-lo foram várias: a não-adaptação ao formato tablóide, com menos páginas, adotado em 2006; a perda de muitos colunistas para O Globo; o preço de R$ 2, que o tornava pouco acessível; a escassez de exemplares nas bancas, entre outros.
Leonardo Madela, jornalista que acompanhou o JB por um ano, justificou a diminuição de seu interesse pelo jornal por ter percebido uma queda na qualidade da apuração. “O JB foi perdendo a principal ferramenta de um veículo de comunicação: a credibilidade. O jornal não realizava uma apuração eficiente de suas matérias, que se tornaram verdadeiras ‘cópias’ de outros veículos”, afirma. O jornaleiro Alberto Bellafronte, que há 58 anos mantém uma banca na Avenida Rio Branco, lembra que o JB teve fases de muito prestígio, mas também de decadência, principalmente depois da construção da grande sede na Avenida Brasil nº 500. Nos últimos meses de vida do JB em papel, o jornaleiro deixou de vendê-lo porque havia uma exigência da distribuidora de que a banca vendesse pelo menos 20 edições diárias para que continuasse a recebê-las. “Qual banca vendia 20 exemplares do JB aqui no Centro?”, questiona Alberto, lembrando que muitos dos seus clientes reclamavam da queda de qualidade do jornal.
Já para Bete Nogueira, os problemas que levaram ao fim do JB não eram perceptíveis para o leitor comum. A jornalista, que trabalhou de 1999 a 2000 no veículo, afirma que, antes, já se comentava que o JB estava em decadência, mas essa impressão não passava para os leitores, “porque o padrão de texto e abordagem ainda eram os mesmos. Por isso, ainda era um orgulho trabalhar lá. Afinal, ele tem uma história lindíssima e ainda era uma referência para os cariocas”, diz.
A mesma sensação era compartilhada pela maioria dos entrevistados: mesmo aqueles que já não o acompanhavam ainda o qualificavam como um jornal de primeira grandeza. Georgina Maria Nader, professora de 56 anos, classificou o fim do JB como “um patrimônio que se perde”. Já Hilda Santana afirma que, atualmente, “não há jornal que se compare”. O mesmo sente Francisca Eliede da Silva, aluna da Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI/Uerj), que foi assinante do JB por mais de 20 anos. Com uma filha jornalista, sabia da dita “decadência” do jornal, que sofria com a má administração, mas se diz incapaz de compreender as razões que levaram a seu término. “Por que acabou? Pode ser por problemas financeiros, mas o jornal era bom, mesmo vindo com menos páginas, ele continuava bom”, conta.
A aposentada, que se diz uma fã incondicional do JB, guarda até hoje a última edição, de 31 de agosto, que foi mandada apenas para assinantes: “Inclusive o último jornal, que não foi entregue nas bancas, nós temos guardado, porque meu genro também é jornalista e ele quer guardar como relíquia”. A procura por esta edição histórica foi grande, mesmo entre aqueles que já não o liam periodicamente. José Paulo Gomes, que tem uma banca de jornal na esquina da Rua Teófilo Otoni com a Avenida Rio Branco, conta que a demanda pela última edição foi tanta que “neste dia, venderia mais do que em um ano inteiro”. Hoje, é possível encontrá-la à venda em sites de leilão online como Mercado Livre por valores que variam de R$ 99 a R$ 999.
O JB atualmente está disponível apenas em versão digital. Além do site com notícias divididas em editorias e um arquivo com pedaços de edições datadas de 1992 até 1998 (News Archive), é aberto o acesso ao JB Digital, em formato semelhante ao antigo impresso. Nele, estão disponíveis as editorias País, Cidade, Opinião, Economia, Internacional, Saúde-Ciência, Esporte e Caderno B, com um total de seis colunistas. Por enquanto, qualquer um pode lê-lo, mas há a previsão de que seu conteúdo se tornará restrito para assinantes, ao custo mensal de R$ 9,90.
Muitos dos entrevistados desconheciam a existência da versão online ou não tinham interesse neste formato. Para o eletricista Tarcísio Jacinto Freitas da Silva, que acompanhou o JB até suas últimas edições, chegando a comprar jornais de assinantes em uma banca da Zona Sul, o formato online ainda não é adequado à realidade brasileira. “Se o Brasil fosse um país em que você pudesse comprar um leitor eletrônico e ficar desfilando por aí para ler jornal nele, eu até me interessaria mais. O online também é um formato muito ruim para quem não se pode se dar ao luxo de entrar na internet de manhã e ver logo o jornal”, acredita.
Já o crítico de cinema Rodrigo Carvalho sempre teve o hábito de acompanhar o JB em sua versão online. Ainda que admita sentir falta de uma maior portabilidade, já que gosta de ler jornais enquanto está no ônibus em direção ao trabalho, vê no formato digital alguns recursos que tornam sua leitura uma experiência mais dinâmica. “Você vê o jornal como se estivesse vendo o real, tocando, pode folhear, tem a mesma diagramação, tudo, pode aumentar, tem esse lance do zoom que você aumenta onde quiser, mexe na página… Dá aquela sensação de que você está fazendo a edição do jornal”, relata.
Convidamos Eda Machado, de 67 anos, e Elza da Silva Barros, de 65, antigas leitoras, para testarem a versão online. Apesar de perceber a esporádica demora para carregar e sentir falta dos muitos colunistas que um dia o JB já teve, Eda a qualificou como “prática”. Ela elogiou a falta de anúncios e a facilidade para mexer em suas várias ferramentas, em especial aquela que permite que se pule direto para a editoria que mais lhe interesse. Elza também gostou da experiência: “é colorido, bem agradável, o que torna o jornal menos tradicional, sério. Adorei. Vou acessar lá de casa”, afirmou, animada. Ao serem informadas de que há previsão de que o conteúdo do site será fechado para assinantes, as aposentadas não se mostraram muito dispostas a pagar pela assinatura. Ainda assim, pelo tempo em que o acesso permanecer livre, Eda seguirá divulgando a versão digital: “Comecei a contar para todo mundo que ia ver o online”.

Uma reforma que fez história na imprensa mundial

22/11/2010
JB foi referência internacional de diagramação de jornais, conta Ivanir Iazbeck
Jefferson de Barros Gomes
No fim dos anos 1950, o Jornal do Brasil iniciou uma histórica reforma gráfica e editorial, que transformou o diário das donas de casa, conhecido por seus anúncios classificados, num dos veículos mais inovadores do século 20, exemplo a ser seguido pelos concorrentes.
O jornalista e escritor Ivanir Yazbeck, ex-editor de arte dos jornais O Dia e Extra, com passagens pelo JB e pelo Globo, lembra em entrevista por e-mail como se deu essa revolução.
A reforma dos anos 50/60 foi considerada revolucionária na história do jornalismo brasileiro. Como ela foi construída?
A reforma começou em 1956 sob o comando do jornalista Odylo Costa, filho e do artista plástico Amílcar de Castro. Lentamente – e não, como se imagina hoje, de um dia para o outro–, o JB foi se impondo como uma escola de arranjos gráficos diferenciados dos outros jornais diários, no visual mais atraente, elegante e, sobretudo, de fácil leitura. Três características dos primeiros movimentos: a) a abertura de um espaço maior, entre os anúncios classificados, que dominavam a primeira página, para as chamadas das notícias mais importantes; b) a abolição dos fios que separavam as colunas; c) valorização do material fotográfico.
Como a sociedade reagiu à mudança? Que impacto ela causou? O que representou para os leitores?
Aos leitores, o texto disposto mais ordenadamente, sem artifícios de continuações em páginas seguintes. Para se entender o significado dos efeitos desse aprimoramento, compare-se o Globo, dessa mesma época, com o seu caótico emaranhado de textos, ao lado da diagramação mais clara e disciplinada do JB.
Dentro do JB, como reagiram à mudança?
Todos os setores foram contemplados pela modernização gráfica: os  repórteres viam seu material mais valorizado; a padronização desafiava os redatores a produzirem títulos mais criativos; o material ilustrativo, fotos ou desenhos, ocupando espaços amplos; os editores e diagramadores, tentados ao desenho das páginas mais atraentes; e, na última ponta, a indústria gráfica mais disciplinada na sua linha de montagem, orientada pelos cálculos dos textos datilografados transformados na matéria-prima da impressão (basicamente, o chumbo), que vão se encaixar em cada página, de acordo com os diagramas desenhados na redação. A oficina adquiriu mais rapidez e fluidez, com grande economia de tempo e de material.
O JB, nessa época, começou a publicar o Suplemento Dominical e em seguida, o Caderno B, com arte, cultura e variedades. Como a classe artística, que ganhou mais espaço no jornal, observou essa mudança e se integrou ao jornal?
O Suplemento Dominical foi o modelo para todos os cadernos de artes e variedades que se seguiram, não só no JB. Ele foi o embrião da maior invenção da imprensa brasileira, em todos os tempos, em matéria de suplemento: o Caderno B. A classe artística aplaudia de pé os espaços generosos que o Caderno B lhe dedicava. Havia uma página diariamente dedicada às críticas de cinema, teatro, artes plásticas, música popular e clássica, assinadas pelos mais respeitados jornalistas especializados. É no Caderno B que ocorrem as mais ousadas, criativas páginas que o farão modelo de diagramação. Dentro da grande escola de jornalismo obsessivamente correto e honesto, que foi o JB, o Caderno B representou o jornalismo gráfico ousado nas propostas e tendências inovadoras.
Também nessa época, a primeira página do jornal deixou de exibir somente classificados, e estes tornaram-se um L na primeira página. Ficou marcada a frase de Amílcar de Castro, que disse que “Antigamente, o JB queria se parecer com os outros jornais. Depois, todos os jornais quiseram ser o JB”.
Deve se destacar que a base do L, formado pelos pequenos anúncios, foi sendo reduzida, lentamente, em dois ou três anos, se ampliando o espaço para as notícias. Não foi um momento de impacto de um dia para outro. A frase de Amílcar de Castro é corretíssima: especialmente nos anos 60 até meados dos 70, o JB era uma referência não apenas nacional, mas reconhecido nas principais redações do mundo como um modelo de diagramação admirável.
De que forma o JB influenciou os outros jornais?
A edição da primeira página; os textos primorosos; o Caderno B – “onde o Rio era mais carioca”; a editoria feminina; a edição mais solta da cobertura esportiva; o Informe JB; a página de editoriais e charges assinadas por Lan, depois Chico Caruso; a coluna do Zózimo; a Revista de Domingo –  em cada item, um modelo que se espalhou, se diversificou e ainda adquire nos jornais de hoje ares de “inovação”.
A mudança causou uma popularização do jornal?
Popularizou-se entre os leitores mais bem informados, mais cultos e exigentes – isso pode ser traduzido em 550 mil leitores de uma edição dominical nos anos de chumbo: 1969. Proporcionalmente à população do Rio à época, é bem superior às atuais edições dominicais da Folha de S.Paulo e Globo.
O JB sofreu uma forte censura na época da ditadura. De que forma isso afetou a estrutura do jornal e seus leitores?
Todos os setores continuaram trabalhando normalmente – observando, é lógico, as imposições do “pode/não pode” especialmente aos editores, redatores e repórteres da área política. Havia, é certo, a tensão natural, que se irradiava por toda a redação, especialmente durante as prisões do editor Alberto Dines, em duas ocasiões. Mas esse é um capítulo longo, que merece relembrar alguns célebres episódios de como se conseguiu driblar a censura e as conseqüências.
Por que a reforma gráfica de 2006 não deu certo?
Não foi a reforma gráfica que não deu certo – foi a empresa, nas mãos de outros proprietários e o jornal na de outros editores. A única identidade desse JB de 2006 com o JB acima lembrado era o nome. Este começou a desaparecer em meados de 1980… Mas também esta é outra longa história.

Mercado de jornais cada vez mais concentrado

22/11/2010
Aline Ferreira e Monalisa Lima
O Rio de Janeiro já foi o mercado mais disputado pela imprensa nacional, abrigando mais de uma dezena de diários de grande circulação. Correio da Manhã, Diário Carioca, Última Hora, Tribuna da Imprensa, Diário de Notícias, O Jornal… e, agora, Jornal do Brasil. É longa a lista de veículos que sucumbiram nas últimas décadas, devido à má gestão, à concentração das verbas publicitárias e à perda de leitores, agravada pela concorrência do rádio, da TV e da internet.

Na década de 1950, a soma das vendas diárias de todos os jornais que circulavam pelo Estado do Rio de Janeiro chegava a 1,2 milhão, o equivalente a 0,4 exemplar para cada habitante. Hoje, os jornais do Rio de Janeiro, em conjunto, vendem apenas 500 mil exemplares por dia, ou seja, uma relação de 0,08 exemplar por habitante.

Isso significa o fim da linha para o jornalismo impresso? Longe disso. Relatório da Associação Mundial de Jornais (WAN, pela sigla em inglês) informa que as vendas de jornais no Brasil, entre 2003 e 2007, registraram alta de 24,93%, sendo que apenas no último ano a vendagem aumentou 11,8%. Apesar destes dados positivos, as vendas diárias de grandes jornais brasileiros como Folha de S.Paulo e O Globo têm caído desde o ano 2000. Dados divulgados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) revelam que a Folha, O Globo e O Estado de S. Paulo perderam, respectivamente, 10,84%, 7,75% e 16,93% de circulação média diária em abril de 2009, se comparada aos números de abril de 2008. No ano de 2000, a Folha tinha circulação média de 429.476 exemplares/dia; O Globo, 334.098; e o Estadão, 391.023. Atualmente, nenhum deles atinge a circulação de 300 mil exemplares diários. Os dados do Jornal do Brasil eram uma incógnita, desde a desfiliação do diário do IVC, em 2008, devido a denúncias de que estaria inflando seus números. Mas informações do próprio JB apontavam circulação média diária em torno de 20 mil exemplares.

No Brasil, o mercado de jornais se mantém em expansão graças às publicações dedicadas à população de baixa renda e aos compactos gratuitos. Segundo Leonel Aguiar, professor e coordenador do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o país vive um caso singular de crescimento. Ele relaciona essa realidade a dois fenômenos econômicos. O primeiro foi a saída de cerca de 28 milhões de cidadãos da linha de miséria e de aproximadamente 32 milhões da pobreza, ao longo dos últimos anos. O segundo, a produção focada nesses novos consumidores. “Essa incorporação da nova classe média como consumidora de informação foi percebida por algumas empresas”, assinala.

Esse novo contingente no mercado incentivou a criação de produtos específicos para seu poder aquisitivo. No caso dos impressos, surgiram os chamados jornais populares de qualidade ou populares sensacionalistas. O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais, Ricardo Pedreira, explica que esses títulos populares foram produzidos após a ascensão desta classe social. “As empresas jornalísticas souberam aproveitar o aumento da distribuição de renda e conquistaram novos leitores, que antes não compravam jornais”, sintetiza.

Segundo Aguiar, a manutenção ou expansão das tiragens de jornais brasileiros está diretamente relacionada às ofertas de jornais direcionados aos recém-chegados ao posto de leitores. “Em relação aos populares de qualidade, as manchetes lidam com quesitos econômicos que afetam a vida e o bolso do leitor do jornal. No outro segmento, de populares sensacionalistas, as manchetes são de casos policiais, esporte e mulheres”, distingue. Ele ainda menciona dois dos principais impactos destes veículos populares. “Incorpora a essa camada: o consumo de produto jornalístico e as discussões da sociedade”.

Com relação à oferta de jornais gratuitos, como Destak e PubliMetro, Aguiar é pontual: “Eu acho positivo. Quanto mais informação disponível, melhor”. Na visão de Pedreira, da ANJ, “é sempre muito auspiciosa a chegada de novos jornais, gratuitos ou não, pois significa um número maior de pessoas adquirindo o hábito do consumo de informações jornalísticas”. Aguiar comenta que este tipo de impresso não representa concorrência às demais publicações populares. “Eles concorrem em nichos muito particulares”. Além disso, ambos entrevistados apontam estes jornais como os responsáveis pelo número de leitores não ter continuado declinando. “Os jornais gratuitos não representam ameaça, mas sim o avanço dos impressos”, diz Pedreira. “Segundo alguns analistas, no mundo, principalmente na Europa, não caiu ainda mais o número de leitores por causa desses impressos grátis”, diz Aguiar.


No mercado de veículos impressos, o Estado do Rio ainda desempenha papel estratégico. Conforme Pedreira, o estado ainda possui um dos mais altos índices de leitura de jornal no Brasil. “Mas é importante assinalar que o país cresceu, se diversificou e há hoje uma fragmentação de leitores de jornais em todo o nosso território, o que é positivo”, complementa. Apesar dos elevados indicadores de leitura no Rio de Janeiro, a situação de estado concentrador não é a mesma de, no mínimo, 50 anos atrás. Para o professor Aguiar, diversos fatores influenciaram nesta mudança. As principais condições para essa modificação foram “a transferência da capital para Brasília, o fato de alguns jornais serem perseguidos e fechados, e a presença de setores que atendiam às idéias da ditadura militar para o desenvolvimento e a integração do Brasil como nação”, lembra.

Este caráter expansivo também pode ser aplicado para além de táticas políticas. Atualmente, algumas empresas empregam um marketing agressivo para garantir hegemonia comercial: como oferecer desconto para anunciantes divulgarem produtos ou serviços apenas em seu veículo. Em alguns casos, o preço que o anunciante pagaria para divulgar no jornal de uma empresa, é o mesmo que paga para divulgar em três veículos da companhia concorrente. “Isso não faz bem para a sociedade, para o mercado de trabalho e nem para a credibilidade do jornalismo”, alerta o professor. Para o diretor-executivo da ANJ, qualquer concentração é negativa, “o saudável é atuar dentro do espírito da concorrência”.

Sem o JB, o mercado carioca, hoje, está dividido entre os títulos do Infoglobo (O Globo, Extra e Expresso) e da Editora O Dia (jornais O Dia, Meia Hora e Marca.Br, antes chamado Campeão). Ambos protagonizam disputa que foi parar na Justiça. A ANJ pediu ao Ministério Público Federal que investigue possível manobra para driblar a legislação brasileira, que proíbe a participação de grupos estrangeiros superior a 30% em empresas de mídia. A Editora O Dia, antes pertencente à família Carvalho, foi comprada em abril de 2010 pela Empresa Jornalística Econômico S.A. (Ejesa), em transação avaliada em R$ 75 milhões.

Pedreira, da ANJ, define como condenável esta aquisição, pois 70,1% da Ejesa são de propriedade de Maria Alexandra de Almeida Vasconcellos, mulher do dono do grupo português Ongoing, Nuno Vasconcellos. Isso caracterizaria uma manobra para burlar a legislação, sustenta o executivo. Segundo o grupo Ejesa, a compra não é inconstitucional, pois Maria Alexandra é brasileira e casada em regime de separação de bens, podendo provar que o capital investido no negócio é dela e não do marido.

Sobre o assunto, leia:
MPF-SP investiga atuação da Ongoing no mercado de mídia brasileiro
Ejesa diz que Folha e Globo temem concorrência do Brasil Econômico


Diante desse duopólio, quais as perspectivas para o jornalismo impresso? Segundo Aguiar, o futuro é a convergência midiática. Pedreira explica que é possível ter a convivência das duas plataformas, impressa e digital: “Quanto à internet, devemos encará-la mais como uma oportunidade de crescimento da audiência do que uma ameaça”. Com a união de ambas as mídias, os profissionais desta área estão recebendo novas designações. “Essa junção das redações traz duas denominações para os jornalistas: os migrantes digitais, que devem se adaptar; e os nativos digitais, que sofrem com sobrecarga de trabalho, por exemplo: TV e rádio na web, e impresso”, exemplifica Aguiar, lembrando que pesquisadores têm divergentes análises acerca dessa conjuntura, alguns apontando “ampliação do mercado de trabalho; outros, enxugamento nas redações”.

Longe do fim?

21/11/2010
Novas perspectivas surgem para o jornal impresso, mas o futuro do formato é incerto
Júlio Altieri, Luiz Portilho e Rodrigo Cherem

O fim da edição impressa do Jornal do Brasil fez ressurgir a discussão sobre o futuro do impresso. Questões econômicas, o avanço do digital, o surgimento de novas estratégias de mercado, a aceleração da informação e o alcance de público são combustíveis para esse debate. Segundo especialistas, não há perspectiva de extinção do impresso a curto prazo, mas o futuro é incerto.

O avanço das novas mídias criou condições especiais no mercado do jornalismo e provocou reações em todo o mundo. Segundo o blog americano, “PaperCut”, pertencente a uma empresa americana da área de gerenciamento de impressão de mesmo nome, há uma tendência de diminuição do número de jornais nas grandes cidades americanas. Desde 2008, 166 jornais fecharam as portas só nos EUA.
No Brasil, o Instituto Verificador de Circulação (IVC) aponta um aumento de 2% na venda diária de jornais durante o primeiro semestre deste ano, que chegou, em julho, a 4,25 milhões de exemplares. Contudo, este é um aumento estimulado pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e por um novo comportamento do mercado, a venda de jornais populares, que atinge a ascendente classe C, e gratuitos.

Apesar do primeiro semestre deste ano ter apresentado um sutil crescimento na venda, os dados de circulação do ano passado apontaram uma queda total de 3,5% e, entre os 20 maiores jornais, há uma decaída ainda mais abrupta, de 6,9%.

Segundo Orivaldo Perin, editor-executivo de O Globo, de 1995 até hoje houve queda expressiva na venda de exemplares de jornais. A Folha de S.Paulo, no auge do Plano Real, vendia 1,3 milhão de exemplares diários, hoje vende 340 mil; O Globo vendia 950 mil, quase o triplo da atual marca, de 332 mil; O Dia chegou a apresentar tiragem superior a 1 milhão de exemplares aos domingos, só em banca, mas atualmente não passa de uma média diária de 94 mil.

Paralelo a essas modificações surgem duas tendências que podem contribuir para a reconfiguração das estratégias de mercado do impresso. A primeira seria o encarecimento do papel e, em seguida, o gradativo barateamento e popularização das linhas de banda larga, aumentando cada vez mais o público disponível na internet, o que, de fato, já está ocorrendo, afirma o vice-diretor do Instituto de Arte e Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), João Batista de Abreu.

No livro A hora da geração digital, o pesquisador Don Tapscott, que previu a convergência de conteúdos para o celular, indica mais dois obstáculos ao impresso, os quais, para ele, são características comportamentais da geração de “early users”, os primeiros indivíduos a terem contato com o digital e a internet. Segundo Tapscott, essa geração não entende por que gastar dinheiro com a informação que se pode obter gratuitamente na internet e por que esperar até o dia seguinte para acessá-la. A velocidade e gratuidade da notícia online mostram-se rivais fortes ao impresso.

Outro pesquisador, o americano Chris Anderson, em seu livro Free, lança uma proposta mais ambiciosa: a de que a disponibilização gratuita na internet de conteúdos musicais, informativos, literários e midiáticos, no geral, é uma tendência do mercado. Anderson diz que o importante é acessar o maior número de pessoas e vender a popularidade. “A internet, então, mudou as formas de comercializar, usar e divulgar a informação”, completa a coordenadora do curso de jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cristiane Costa.

Apesar de todas essas transformações, o jornal impresso já resistiu a situações parecidas diante do surgimento do rádio e da TV, mostrando-se uma instituição sólida e capaz de se adaptar. Hoje também há motivos para acreditar que ele não vai desaparecer tão facilmente.
Para Orivaldo Perin, “tudo indica que o impresso é o produto que mais gera receita para as empresas de comunicação, inclusive as Organizações Globo”, enquanto “o Globo Online é responsável por 10% do nosso faturamento, o que ainda é um número modesto”.
Perin também chama atenção para o fator da credibilidade que o impresso agrega. “Na ocasião da morte de Michael Jackson, a notícia só foi aceita oficialmente quando foi dada pelo L.A. Times”, relembra o jornalista. A internet sofre muito com a questão de qualquer um poder participar da produção de informação. As pessoas continuam se pautando pelos meios de maior credibilidade.

Geralmente não se muda para o digital para lucrar mais, e sim por estratégia de contenção de gastos, pois, como esclarece Cristiane Costa, “ainda são poucos os que conseguem ganhar muito com a internet, a publicidade paga melhor no impresso”. Para completar, quanto à queda na venda de exemplares nas bancas, Cristiane diz que esse nunca foi o sustento do jornal, nem as assinaturas, que é mais um instrumento de fidelização do público.
O professor João Batista de Abreu lembra que mais um aspecto favorável ao jornal impresso é o hábito cultural de consumo e de leitura do papel. Ele mesmo diz não gostar de ler no formato “online”.

Os especialistas parecem concordar em duas coisas: que a indústria dos jornais impressos não vai crescer muito mais e também que o futuro do segmento é incerto. O especialista em novas mídias e professor da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, Caio Túlio Costa afirma que “o grande desafio de agora é adaptar os veículos às novas plataformas. Precisamos tentar novos modelos, novos formatos”.

Rosenthal Calmon Alves, professor da Universidade do Texas e diretor do Knight Center for Journalism in the Americas, aponta um caminho para o impresso. Segundo o pesquisador, possivelmente, este irá se tornar cada vez mais caro, um artigo de luxo, buscando quem não abre mão da relação com o papel, agregando a função de ir além do que já foi trabalho na internet. Em seminário na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) sobre o futuro do impresso, Rosenthal, que participou por meio de videoconferência, alertou para o fato de a publicidade, tanto na Europa quanto nos EUA, não estar mais crescendo o suficiente para sustentar os jornais. Para compensar, os preços dos espaços publicitários estão aumentando.

Por fim, chama a atenção para o preço médio do jornal no Brasil, que tem se elevado.
Já sobre a configuração das mídias digitais, Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, acredita que, com o surgimento dos tablets, o digital começa a ter sustentação no mercado. Mas o executivo ressalva: “É preciso esperar para ver como isso vai se consolidar”.
As plataformas digitais dedicadas à notícia parecem estar se consolidando. Orivaldo Perin destaca uma mudança de atitude das empresas em relação ao online, que está se integrando mais. “No começo, existia a ideia de que o online era um animal novo, que não se misturaria com o papel”. Desde o ano passado, de acordo com Perin, as redações de O Globo nos formatos online e impresso se fundiram. O jornalista afirma que os “jornalistas multimídia” do online e os “dinossauros” do impresso são complementares, pois, enquanto um domina as novas mídias, o outro apresenta um olhar mais reflexivo. “Além do mais, os portais de informação não sobreviveriam sem o suporte das grandes marcas do papel”, assinala Perin.