sábado, 5 de fevereiro de 2011


A cadeira
(A Moça Sentada) 
Newton Navarro

O alto corpo se curva,
Quebram-se as linhas
E partidas formas lentas
Se debruçam.
Do vivo traço que era
De pé, como haste erguido
Em três planos se dispersa.

Vivos olhos, agudamente,
Percorrem a sala sem lume.

Dois seios pulsam, solenes.
As mãos uma flor seguram
Suspensa sobre o regaço
E o sexo e a flor se ocultam
No sem espaço da curva.

Pernas suspendem ligeiras
Os pés, e as alpercatas
Caem no vazio onde foram
Sólidas raízes do corpo
Que a cadeira despedaça.

E na sombra,
Sem movimento,
Todo o corpo adormecido
Sobre o corpo da cadeira
Mulher de amor ausente
Talha na sombra envolvente
Vivo relevo de carne
Inútil sobre a madeira.

A lenta derrocada de um ditador

Diz a Folha:

Mubarak deve permanecer durante transição, diz enviado dos EUA

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Revolta Árabe O ditador egípcio, Hosni Mubarak, um "velho amigo" dos Estados Unidos, deve seguir em seu posto durante a transição democrática, disse neste sábado o enviado especial para o Egito do presidente Barack Obama, Frank Wisner. 

"Necessitamos chegar a um consenso nacional em torno das condições prévias para dar um próximo passo à frente. O presidente deve permanecer em seu cargo para liderar essas mudanças', disse Wisner, a um encontro sobre segurança em Munique, sul da Alemanha, através de uma videoconferência. "A continuidade da liderança de Mubarak é decisiva", acrescentou. 

Segundo o enviado especial de Obama, que nesta semana reuniu-se com Mubarak, para o ditador egípcio "é a oportunidade de escrever seu próprio legado. Ele dedicou 60 anos de sua vida a serviço do país, este é o momento ideal para ele mostrar o caminho a seguir". 
...

A participação dos Estados Unidos no episódio tem um objetivo: assegurar sua hegemonia na região; nada de garantir "a continuidade da liderança de Mubarak" em meio ao processo de transição. Mubarak, a rigor, não lidera mais nada, nem está mostrando qualquer "caminho a seguir". Ninguém lidera sua própria débâcle ou aponta qual o melhor caminho para o seu fim.
Corrente de soldados na praça Tahrir, no centro de Cairo;  Mohammed Abe/AFP


Assim, é preciso dar às coisas um certo ar de organização e de grande política, uma espécie de respeitabilidade mofada. É a farsa do poder em sua mais abjeta expressão. 

O ditador do Egito, desde o início das mobilizações, já dava mostras de que não teria forças para se impor aos que o contestavam: dada a magnitude dos protestos, e com a real ameaça à sua perpetuação no comando, poderia simplesmente ter determinado às tropas que dissolvessem as multidões à bala, e isso teria sido fácil. Por que não o fez? Simples: não conseguiria suportar a pressão da opinião pública mundial e isso, ao invés de mantê-lo à testa do governo, apressaria sua derrubada. O banho de sangue o levaria de roldão.

Desta forma, Mubarak esperou que os protestos arrefecessem, o que não aconteceu. Os Estados Unidos perceberam que seu "velho amigo" estava mumificado e resolveram passá-lo ao museu da história, mas de forma o mais amena possível. Retirar Mubarak pura e simplesmente seria dar ao movimento força suficiente para atirar longe o jugo e assumir o protagonismo. Logo, foi melhor buscar uma saída lenta, retirando à voz das ruas sua condição revolucionária.

Saindo ele em meio a processo político negociado fica para a história que foi isso mesmo, uma saída. O contrário seria deposição. E tudo o que os americanos não querem é um novo governo que não lhe seja obediente. Um governo que chegou a se constituir como tal pela força popular. O que se deseja, do ponto de vista americano, é um governo com quem possa, no day after, manter algum tipo de relacionamento estável.  

O Egito, do ponto de vista geopolítico, é importante demais para que os EUA negligenciem com ele um bom relacionamento. A história, contudo, está a se fazer. Os passos a seguir serão de importância vital para o futuro próximo. O novo governo, se merecer mesmo esse nome, tem a seu encargo a administração de um espólio de pobreza e miséria extremos e com essa situação o povo egípcio disse que não quer mais conviver. Que o novo governo seja mesmo novo. Não mais uma praga do Egito.

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Bette Davis
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrada/images

A matéria abaixo deu na Folha. Fala de Sabrina Sato e Eduardo Suplicy. Ele deu um livro de presente a ela. Saiba, depois de ler a matéria, quais as maravilhosas consequências desse presente àquela interessante menina e dulcíssima criatura.

Eduardo Suplicy é o primeiro a chegar à festa de Sabrina Sato

DE SÃO PAULO
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi o primeiro a chegar na festa da apresentadora Sabrina Sato, do "Pânico na TV", que completou 30 anos. 

A informação é da coluna Mônica Bergamo, publicada na Folha deste sábado (5). A íntegra da coluna está disponível para assinantes do jornal e do UOL. 

Suplicy teve que esperar --e muito: a aniversariante só apareceu quase duas horas depois.
"A que horas ela chega?", perguntava ele na entrada. "Em 20 minutinhos", respondia Karina, irmã de Sabrina. "Vou ficar aqui na porta. Quero recepcioná-la." Paciente, olhava o relógio. "Vocês estão me enganando, né?". Sabrina chegou e ele deu a ela um livro de Nelson Mandela de presente. 

Maravilhosas consequências do presente de Suplicy a Sato:

1) A adorável criatura passou a saber que existe alguém chamado Nelson Mandela.
2) Passou a saber que existem coisas chamadas livros.
3) Disse que vai aprender a ler. Depois a escrever. Depois a contar até dez, o que não é pouca coisa.
4) Afinal, depois de aprender a ler, a escrever e a contar vai escrever um livro: com dez páginas, cada uma com  dez palavras. Palavras com no máximo duas sílabas. 
5) Coroando sua carreira vai entrar para a Academia Brasileira de Letras. 

Conclusão: diante de tal calamidade, devemos todos fugir .

Felix Lima/Folhapress
Sabrina Sato e Eduardo Suplicy na festa de aniversário dela
Sabrina Sato e Eduardo Suplicy na festa de aniversário dela

Sorry, Vera Fischer não escreve para pobres

Vera Ficher agora é escritora. Escreveu dez livros de uma fornada só. Não escreve para gente pobre, acha que somente os ricos são importantes e, na foto, você percebe como a moça vive o estio de sua beleza. Ao fundo, ícone de Marilyn Monroe faz o contrapondo da ex-bela La Fischer. Pelo menos ganhamos uma escritora... Compensa, né?

Deu na Coluna Monica Bergamo, Folha:


Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Luciana Whitaker/Folhapress

A atriz Vera Fisher, que lança o romance 'Serena', em seu apartamento no Rio

EU NÃO ESCREVO PRA POBRE

Vera Fischer lança, no dia 20, o romance "Serena", o primeiro de uma série de dez, todos com nome de mulher. Ela falou à coluna:

Folha - Como é o romance?
Vera Fischer
- Não queria que meus livros fossem açucarados, mas sim vibrantes, para o público começar a ler e não parar mais. Já tenho dez livros escritos. E não queria títulos como "Um Amor e a Traição", "O Barco e a Saudade". Falei: vou botar nome de mulher, "Serena", depois "Donatela", "Valentina", "Pietra"... É a marca Vera Fischer. Fica mais chique.

Dez livros?
Fiz um atrás do outro, durante um ano. Como tenho muita imaginação, vou criando personagens. Tem uma situação ou duas pelas quais eu passei. Mas ninguém pode saber, é "segredíssimo". Eu descrevo os personagens, o perfume, as roupas, se é Ungaro ou Valentino. Meus personagens não são nunca pobres, são sempre ricos (gargalhada).

Por quê?
Porque eu não gosto, eu não sei escrever pra gente pobre. Eu detesto.

O universo dos ricos é mais interessante?
É mais interessante. Cada livro tem pelo menos uma viagem ao exterior. O "Serena" tem Marrocos e St. Barths, no Caribe.

Os que você chama de pobres podem comprar seus livros.
Podem. Porque eles não custam caro. Eles vão se identificar e adorar. Coisa bonita sempre é melhor.

Qual é o seu estilo?
Ah, esse negócio de descrever uma folhinha caindo da árvore em quatro páginas, ninguém tem mais saco pra ler isso, não. As coisas são rápidas nos meus livros.

Tem até um sequestro.
Achei que o livro tava acabando e aí falei: tem que inventar coisa interessante pra acontecer. Vamos botar um sequestro! É ação.

Tem também sexo oral.
Os meus livros têm sexo de todo tipo. Têm gays fazendo sexo -eu não sei como é, mas invento. Tem de tudo. Não tenho pudor. O mundo dos escritores é assim.

Em 2009 você disse: "Estou há dois anos sem sexo". E agora?
Ah, de vez em quando tem um sexozinho assim rápido.

O que você achou de uma mulher ser eleita presidente?
Eu achei que podia uma mulher ser eleita presidente, mas não esta (Dilma Rousseff). Porque essa não dá, né? O PT não dá mais.
Alguém viu Kafka por aí?

Quando se quer falar da ocorrência de algo absurdo em nosso mundo muitos a chamam de situação kafkiana, alusão à obra do genial Kafka que recodificava as coisas desse "nosso mundo" a partir de visão particularíssima que, na verdade, nada mais seria, para mim, que visão objetiva de como o mundo realmente é: insano, inseguro, estranho, dual, perigoso, rito de simulacros que se intercomunicam em farsa monumental, jogo de espelhos.
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Digo isso como nariz-de-cera para tratar do assunto inspeção veicular, aquela determinação governamental que teria por objetivo impedir a circulação de carros com motores poluentes. Alguém sabe no que deu? Diziam as coisas de jornal, nas folhas, na TV, rádio e internet, que teria sido suspensa, melhor proibida de realizar-se por não atender a nenhum interesse prático que não o enriquecimento da empresa a quem o governo dera o condão e a autoridade de dizer a você: "Ei!, seu carro é um agente poluidor ativo, perigoso e temível. Vá fazer os consertos necessários e volte aqui para que nós, empresários altamente comprometidos como a preservação do meio ambiente e donos da empresa que faz a inspeção veicular, possamos lhe conferir o salvo-conduto circulatório veicular." Algo mais ou menos assim. É o espírito da lei, deu para notar?

Trocando em miúdos, uma empresa amiga do peito estava credenciada a cobrar de você, de mim e de qualquer outra vítima, quer dizer de todos os donos de carros no Rio Grande do Norte, não-sei-quanto para inspecionar seu automóvel e dizer se podia ou não trafegar sem entraves e seus jurídicos e legais efeitos.

Então, vem o governo sucessor do outro governo e diz: "Nada disso. Está tudo errado. Não precisa fazer essa inspeção porque pá-pá-pá, pá-pá-pá, pá-pá-pá..., entendeu?".

Mas agora, parece, não precisa mais. Percebe como é kafkiana a situação? De repente precisava, agora não mais. 

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Isso me faz lembrar outra situação, essa de alcance nacional. Também absurda. Também ilógica. Refiro a uma onda de histeria que varreu esta infeliz nação dizendo o seguinte: "A partir do dia tal - isso já faz uns 15 anos - todos serão obrigados a ter no carro um estojo com material de primeiros-socorros". Foi uma loucura. Farmácias foram praticamente invadidas, as tais bolsinhas eram disputadas, espalhou-se o temor de ser preso. "Já pensou se eu atropelar alguém?", era a mensagem que os autores dessa louca lei impuseram no mais íntimo do pensamento coletivo.

Mas isso foi bom: de repente, todos nós fomos promovidos a socorristas de primeira categoria. Aptos a prestar atendimento de emergência a qualquer uma de nossas virtuais e possíveis vitimas. Aí, todo mundo comprou as tais bolsas. Aí, quando todo mundo tinha comprado as tais bolsas saiu uma nova lei: "Não precisa mais". Aí, todo mundo correu a doar as tais bolsas a farmacinhas de bairro, instituições de caridade, etc...etc...etc...

Percebe que alguém ganhou muito, muito dinheiro com a venda de tais acessórios? Não dá para suspeitar que a lei fora feita com o intuito de beneficiar o fabricante ou lá quem seja, de tais inutilidades? Pois é: Kafka puro.

Depois teve outra lei: "Todas as bicicletas do país precisam ser dotadas de retrovisores, uma buzininha e faixinhas reflexivas de luz dos carros. Quem não tiver..." 
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Se não me engano, parece até que exigiam capacete, já pensou? Foi outra loucura, saí feito um louco - já que era uma loucura, eu tinha de agir feito louco - para comprar essas traquitanas para as bikes das minhas meninas. Do mesmo jeito que fizera com a bolsa de primeiros socorros. 

Não me lembro se a tal lei foi revogada, abrogada, desmanchada, destituída ou amassada e jogada na cesta de lixo, que não sou advogado para saber de tais sabenças. Só sei que deu em nada. A mesma coisa é a inspeção veicular, nomão bonito, bem ao gosto da burocracia. De repente era obrigatória, agora parece que não é mais. Fico na minha dúvida, fico na minha indignação. E pergunto: será que alguém no governo não está precisando pegar uma lavagem de roupa? Só para ter o que fazer, entende?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Al Jazeera English: Live Stream - Watch Now - Al Jazeera English

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Flagrantes da revolta no Egito


A interferência dos EUA nos protestos do Egito

Lefteris Pitarakis/AP - Exército está presente na Praça Tahrir, no centro do Cairo, mas não interfere nos confrontos
Americanos já manobram para saída de Mubarak

Deu no Estadão:

O governo americano está discutindo com oficiais egípcios um plano para que o presidente Hosni Mubarak entregue imediatamente o poder a um governo de transição encabeçado pelo vice-presidente Omar Suleiman, informou o jornal The New York Times nesta quinta-feira. O plano busca respaldo do Exército egípcio, diz a nota, que cita funcionários americanos e árabes.
O artigo afirma ainda que apesar da resistência do presidente Mubarak em deixar o poder, oficiais de ambos os governos conversam sobre um plano em que Suleiman, apoiado pelas forças armadas egípcias, começaria imediatamente um processo de reforma constitucional. Ele seria apoiado nessa missão pelo chefe das Forças Armadas egípcias, Sami Enan, e pelo ministro da Defesa, o marechal de Infantaria Mohamed Tantawi.

O jornal afirma ainda que a proposta é para que o governo de transição convide membros de um amplo espectro de grupos opositores, incluindo integrantes da Irmandade Muçulmana, a fim de que se inicie um processo que leve às eleições livres em setembro.  
As informações são da Dow Jones.
 ....

O protagonismo americano revela-se mais uma vez: trata-se de inferferência indébita na autodeterminação do Egito e uma espécie de golpe na busca de evitar que grupo setores realmente democráticos, que não se curvem aos EUA assumam o proscênio político e almejem hegemonia. Contrariamente às negociações americanas, o povo nas ruas quer a saída imediata de Mubarak. Sem meios- termos.

É plausível que, vindo a prevalecer a pressão americana, os ânimos não sejam serenados, uma vez que as multidões não querem conviver com quaisquer vestígios da era Mubarak. A serenidade desejada pelos altos escalões é uma serenidade de conveniência, nao resultado do atendimento ao que se exige nas ruas.

O que os americanos querem é manter hegemonia naquela região, que do ponto de vista geopolítico é essencial para a manuntenção dos seus interesses frente ao mundo árabe.
O que se espera é o ascenso de setores realmente comprometidos com a democracia, não a substituição de uma ditadura por uma teocracia à lá Irã. Nada porém garante uma democracia após a revolta, mas é preciso dar curso à história para que tais setores consigam chegar ao poder.



Em meio à efusão que espero libertária do Egito olho no computador a viva tragédia, a história em marcha como espetáculo, a história se fazendo em coragem e sangue, a terrível e arrebatadora alegria do lutar.

E é assim, nesta manhã esplendente de sol nordestino e corajoso, Natal debruçada de longe para a África, encontro a poesia do grande Omar Khayam, o mestre que compôs os Rubayat. É ele quem diz: 

                                      " Hoje os meus anos reflorescem.
Quero o vinho que me dá calor.
Dizes que é amargo? Vinho!
Que seja amargo, como a vida."

Seguem 30 estrofes. 


Os Rubaiyat de Omar Khayyam
versão em português de Afredo Braga

1
 Nunca murmurei uma prece,
nem escondi os meus pecados.
Ignoro se existe uma Justiça, ou Misericórdia;
mas não desespero: sou um homem sincero.
 2
 O que vale mais? Meditar numa taverna,
ou prosternado na mesquita implorar o Céu?
Não sei se temos um Senhor,
nem que destino me reservou.
 3
 Olha com indulgência aqueles que se embriagam;
os teus defeitos não são menores.
Se queres paz e serenidade, lembra-te
da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.
 4
 Que o teu saber não humilhe o teu próximo.
Cuidado, não deixes que a ira te domine.
Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;
não firas ninguém.
  5
 Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.
Apanha um grande copo cheio de vinho,
senta-te ao luar, e pensa:
Talvez amanhã a lua me procure em vão.
 6
 Não procures muitos amigos, nem busques prolongar
a simpatia que alguém te inspirou;
antes de apertares a mão que te estendem,
considera se um dia ela não se erguerá contra ti.
 7
 Alcorão, o livro supremo, pode ser lido às vezes,
mas ninguém se deleita sempre em suas páginas.
No copo de vinho está gravado um texto de adorável
sabedoria que a boca lê, a cada vez com mais delícia.
 8
 Há muito tempo, esta ânfora foi um amante,
como eu: sofria com a indiferença de uma mulher;
a asa curva no gargalo é o braço que enlaçava
os ombros lisos da bem amada.
 9
 Que pobre o coração que não sabe amar
e não conhece o delírio da paixão.
Se não amas, que sol pode te aquecer,
ou que lua te consolar?
 10
 Hoje os meus anos reflorescem.
Quero o vinho que me dá calor.
Dizes que é amargo? Vinho!
Que seja amargo, como a vida.
 11
 É inútil a tua aflição;
nada podes sobre o teu destino.
Se és prudente, toma o que tens à mão.
Amanhã... que sabes do amanhã?
 12
 Além da Terra, pelo Infinito,
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.
 13
 Não vamos falar agora, dá-me vinho. Nesta noite
a tua boca é a mais linda rosa, e me basta.
Dá-me vinho, e que seja vermelho como os teus lábios;
o meu remorso será leve como os teus cabelos.
 14
 Tenho igual desprezo por libertinos ou devotos.
Quem irá dizer se terão o Céu ou o Inferno?
Conheces alguém que visitou esses lugares?
E ainda queres encher o mar com pedras?
 15
 Na sombra azulada do jardim
o ar da primavera renova as rosas
e ilumina os meigos olhos da minha amada.
Ontem, amanhã... é tão grande o prazer agora.
 16
 Bebo, mas não sei quem te fez, ó grande ânfora;
podes conter três medidas de vinho, mas um dia
a Morte te quebrará. Numa outra hora perguntarei
como foste criada, se foste feliz, ou por que serás pó.
 17
 Como o rio, ou como o vento,
vão passando os dias.
Há dois dias que me são indiferentes:
O que foi ontem, o que virá amanhã.
 18
 Não me lembro do dia em que nasci;
não sei em que dia morrerei.
Vem, minha doce amiga, vamos beber deste copo
e esquecer a nossa incurável ignorância.
 19
 Khayyam, enquanto erguias a tenda da Sabedoria,
caíste na fogueira da dor; agora és cinzas.
O Anjo Azrail cortou as cordas da tua tenda
e a Morte vendeu-a por uma ninharia.
 20
 É inútil te afligires por teres pecado;
também é inútil a tua contrição:
além da morte estará o Nada,
ou a Misericórdia.
 21
 Cristãos, judeus, muçulmanos, rezam,
com medo do inferno; mas se realmente soubessem
dos segredos de Deus, não iam plantar
as mesquinhas sementes do medo e da súplica.
 22
 Na estação das rosas procuro um campo florido
e sento-me à sombra com uma linda mulher;
não cuido da minha salvação: tomo o vinho
que ela me oferece; senão, o que valeria eu?
 23
 O vasto mundo: um grão de areia no espaço.
A ciência dos homens: palavras. Os povos,
os animais, as flores dos sete climas: sombras.
O profundo resultado da tua meditação: nada.
 24
 Eu estava com sono e a Sabedoria me disse:
A rosa da felicidade não se abre para quem dorme;
por quê te entregares a esse irmão da morte?
Bebe vinho; tens tantos séculos para dormir.
 25
 Admito que já resolveste o enigma da Criação;
e o teu destino? Aceito que desvendaste a Verdade;
e o teu destino? Está bem, viveste cem anos felizes
e ainda tens muitos para viver; e o teu destino?
 26
 Ninguém desvendará o Mistério. Nunca saberemos
o que se oculta por trás das aparências.
As nossas moradas são provisórias, menos aquela última.
Não vamos falar, toma o teu vinho.
 27
 Olha, um dia a alma deixará o teu corpo
e ficarás por trás do véu, entre o Universo
e o desconhecido. Enquanto não chega a hora,
procura ser feliz. Para onde irás depois?
 28
 Os sábios mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância,
e eram os luminares do seu tempo.
O que fizeram? Balbuciaram algumas frases confusas,
e depois adormeceram, cansados.
 29
 A vida é um jogo monótono que dá dois prêmios:
A Dor e a Morte.
Feliz a criança que expirou ao nascer;
mais feliz quem não veio ao mundo.
 30
 Na feira que atravessas não procures amigos
ou abrigo seguro. Aceita a dor que não tem remédio
e sorri ao infortúnio; não esperes que te sorriam:
Seria tempo perdido.

Transmissão da Al Jazeera. Protestos no Cairo

Al Jazeera English: Live Stream - Watch Now - Al Jazeera English

Brutalidade do regime de Mubarak agora se volta contra jornalistas

Deu na Folha:

Por 3 vezes, repórter brasileiro pensou que fosse morrer

Jornalistas e cinegrafista foram encapuzados, levados para uma delegacia e tiveram que assinar depoimento em árabe para sair

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Por três vezes, em algumas horas, o jornalista Corban Costa, 49, achou que seria assassinado a sangue frio pela polícia de Hosni Mubarak.

"Eu pensava: "eles vão atirar, eu vou morrer'", conta ele, que passou parte do tempo com um capuz na cabeça, sem saber onde estava.
Os problemas começaram já no desembarque no aeroporto do Cairo, quando todo o equipamento de Corban e do cinegrafista Gilvan Rocha, baiano de 31 anos, foi confiscado pela polícia.

Eram 20h15 na capital egípcia, 16h15 de Brasília.
Liberados, eles pegaram um táxi com motorista que falava inglês e avisou: "Não digam que são jornalistas".

Passaram por cinco barreiras, sem grandes problemas.
A sorte mudou na quinta barreira. "Somos turistas", disseram. Mas o passaporte de Gilvan é muito carimbado.

Uns dez militares e policiais foram se juntando e os obrigaram a sair. Meteram então "um capuz ou uma venda" em cada um e os empurraram para uma calçada, de frente para um muro.
"Pensei: "é agora, vou morrer'", relata Corban.
Cercado por policiais e soldados, ele foi levado por uma rua e, depois de subir numa calçada, caminhou na areia.
"Então, é agora. Ninguém vai ouvir nem ver nada."

Mas continuaram até uma delegacia. Tiraram-lhe o capuz, e Corban viu Gilvan.
Corban foi colocado numa solitária: "Não tinha janela, era forrada de uma coisa acolchoada. Igual a uma câmara de interrogatório".

Meia hora depois, um policial entrou, pediu a caderneta de Corban e anotou, em inglês, três perguntas: "Quando veio para o Egito? Em que trabalha? Por que veio?"
Depois, veio com um papel em árabe, disse que era o depoimento e perguntou: "Se acredita em mim, assine". Corban e Gilvan assinaram.

Eles passaram a noite numa cela e só foram soltos às 14h30 (10h30 de Brasília), depois de comer biscoitos, sem água. Foram postos numa van branca, com mais quatro ou cinco pessoas.
Um soldado perguntou: "Tem alguém da Argélia?" Tinha. E era jornalista. O carro passou a dar voltas e Corban pensou pela terceira vez: "Vão metralhar todos nós".

Em vez disso, largaram os dois no centro. Ontem, eles tentavam deixar o Egito.
"Vocês estão mortos de fome?", perguntou a Folha, às 19h de Brasília. "Pra falar a verdade, não. Só pensamos numa coisa: sair logo daqui".

Em nota, o Itamaraty disse que "deplora os os atos de hostilidade à imprensa".

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cena de O último tango em Paris

Maria Schneider: o último acorde de um tango triste

As coisas de jornal, sejam na internet ou páginas nas impressas, contam da morte de Maria Schneider, "após uma longa doença", menção cifrada a "câncer", a doença temível, que tem uma espécie de rancor contra os corpos e vidas que habita, parasitando a saúde, decompondo faces, destruindo futuros, aniquilando a vítima e os familiares que a seu lado sofrem. Com ela não foi diferente. A beleza facial cedeu lugar a uma expressão sofrida, que sempre é aposta à condição humana em momentos, às vezes longos momentos, quando nos havemos com tormentos e dores as mais diversas.
Francois Guillot/AFP/Divulgação MGM

La Schneider tornou-se famosa em 1972 ao estrelar a obra-prima de Bernardo Bertolucci "O último tango em Paris", contracenando com Marlon Brando, música de Gato Barbieri. O filme causou furor, literalmente. Foi censurado em Portugal, Espanha, Reino Unido, Coreia do Sul, Itália e Chile. As cenas de sexo entre a ardente menina de 19 anos e o atiçado homem de 48 anos eram algo demasiado para certas plateias. A cena do coito anal apavorava aqueles públicos ou pelo menos as autoridades que se sentiam na obrigação de vedar sua exibição.

A Folha informa que depois de O tango "Schneider atuou em mais de 50 filmes em sua carreira. Seu último trabalho foi no filme "Cliente", de 2008. Além de protagonizar "Último Tango em Paris" ela também trabalhou com o diretor Michelangelo Antonioni em 1975 em 'Profissão: Repórter'", ao lado de Jack Nicholson.

Todavia, em nenhum outro filme foi tão marcante como no Tango. A década de 70 ainda tinha sobre si a criatividade e o arrebatamento dos insurgentes anos 60 e Schneider, filha do ator Daniel Gélin, assumiu por inteiro o sentimento e a força da obra de Bertollucci.

Sinopse da Folha detalha sobre o filme: "Ele (Brando) é um americano de 45 anos morando em Paris, atormentado pelo suicídio de sua esposa. Ela (Maria Schneider, Jane Eyre) é uma beldade parisiense de 20 anos, noiva de um jovem cineasta. Sem sequer saber os nomes um do outro, estas duas almas torturadas se unem para satisfazer seus desejos sexuais em um apartamento tão vazio como suas trágicas e sombrias vidas. Arrebatados em uma dança carnal frenética que eles parecem incapazes de interromper, esses dois amantes improváveis levam sua paixão a alturas e profundezas eróticas acima de qualquer coisa que eles jamais haviam imaginado..".

Umsa grande atriz... Tinha 58 anos...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Nordeste Independente

Composição: Bráulio Tavares/Ivanildo Vilanova

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito

Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
“Asa Branca” era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade,
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta

Nordeste Independente - (você'achou mídia)

A cidade e o rio: poema visual de João Maria Alves


O olhar do mestre alteou-se até não sei aonde e lá de cima viu Natal, a torre da igreja velha, os telhados rebatendo em barro a luz do sol. Ao fundo o Potengi e os matos e umas casas escondidas nos meios dos matos e uns navios descansando - uns escorados nos outros. Natal.
A coragem do emboá e a vontade de ir à tempestade

www.imotion.com.br/imagens/data/media/83/427mar_revolto.
Caminhando pelo Bosque dos Namorados observo o perigoso passeio de uns bichinhos conhecidos como emboás. 

Aqueles pequenos seres que movem suas perninhas em espantosa coordenação e cruzam a pista por onde os enormes pés humanos seguem, ameaçando suas vidas elementares que se guiam pelo instinto de ir e vir. Sem motivo para o ir ou o vir, mas apenas pelo simples ato de ir e vir. Não chegam nem saem, apenas se movem.

Não se apressam, desconhecem o que seja o temor de encontrar a pisada esmagadora de um tênis, das rodinhas da bicicletas das crianças ou até mesmo dos carros. 

Sim, porque, por mais absurdo que possa parecer, no Bosque há trânsito de automóveis entre os pedestres. E os emboás seguem para lá e para cá. Vidas brutas, rudes, somente assumem posição de defesa quando se enrodilham a ser tocadas. 

Enquanto caminho pareço cabisbaixo. Não estou: estou olhando o passeios dos emboás, das formigas tocandiras, de um ou outro lagarto que passa, esse sim, correndo em meio às ondas de pés e rodas. 

Os emboás têm uma espécie de coragem básica, que a rigor não é coragem porque não sabem o que seja perigo. E eu, caminhante-que-olha-os-emboás, fico a pensar na coragem humana e então penso que a coragem humana é a engenharia reversa do medo, a aptidão de arrostar o fracasso e vencê-lo, a decisão de se atirar ao mar para saber como age a tempestade, a fúria, o trovão, o grito da água que explode de si.

A coragem do emboá é simples e essencial. Pelo fato mesmo de que, como disse, eles desconhecem e nem sabem do medo.

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Gloria Swanson
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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um cavalo no Senado e dois loucos trocando tapas
O senador Eduardo Suplicy resolveu "lutar" boxe com o ex-pugilista Acelino Popó, hoje deputado federal. 

Ao que parece, a miséria da política brasileira chegou ao cúmulo ou pelo menos ao prâmbulo da indignidade: Sarney presidente do Senado - mais uma vez - e um senador e um deputado se estapeando num ringue.

Então, é o seguinte: vamos deixar de ser sérios, perder de vez todos os pudores e sigamos os ensinamentos de Calígula, aquele imperador romano que nomeou Incitatus, seu cavalo, a uma cadeira no vetusto senado de Roma. 

É claro: como as coisas já estão se passando numa estrebaria onde muitos se espojam, ou  num circo de luta de boxe onde a indignidade não vai à lona, nada melhor que soltar em plenário um grande cavalo estabanado e louco. Até porque muita gente chegou ao Senado porque o cavalo tinha passado selado...

Sobre a luta, diz a Folha:

Suplicy vai cobrar R$ 1 pelo ingresso da luta com Popó

GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA
Por sugestão do presidente do PT, José Eduardo Dutra, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) decidiu cobrar R$ 1 como ingresso para a luta de boxe que vai travar com o deputado Acelino Popó Freitas (PRB-BA), na quinta-feira. 

Suplicy disse que dinheiro arrecadado com as entradas vai ser usado para financiar a "Renda Básica de Cidadania", projeto idealizado pelo petista.
Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 31-01-2011, 13h00: Deputado Acelino Freitas, o Popó, que veio participar da reunião sobre como funciona o Congresso Nacional. (Foto: Marcelo Camargo/Folhapress, PODER) // BRASÍLIA, DF, BRASIL, 31-01-2011, 19h20: Senador Eduardo Suplicy imitando o ex-boxiador e deputado eleito Acelino Freitas, o Popo, no Congressso Nacional.. (Foto: Marcelo Camargo/Folhapress, PODER)
O deputado Popó e o senador Eduardo Suplicy vão se enfrentar nos ringues

"O presidente Dutra disse que, quando soube que aceitei o desafio do Popó, colocou no twitter a sugestão. Eu decidi aceitar", afirmou. 

A luta está marcada às 8h de quinta-feira no Clube Motonáutica (em Brasília).
Apesar de Popó estar aparentemente em melhor forma física que o senador, que não luta "para valer" desde a década de 60, Suplicy disse que tem fôlego para enfrentar o deputado. 

"Eu já estou em boa forma. Na segunda-feira, eu corri 41 minutos, tenho feito ginástica. Vocês vão ver. Me senti honrado por ele ter me chamado para este desafio", disse. 

Mal chegou à arena política, Popó sugeriu ontem uma luta com o senador. O parlamentar foi empossado hoje como deputado, ao lado de outros 512 colegas eleitos em outubro para um mandato na Câmara.