sexta-feira, 8 de abril de 2011

Criminal minds

O seriado Criminal minds no canal a cabo AXN, trata de um grupo de investigadores do FBI que busca pessoas de comportamento divergente que exercem atitudes de poder violento sobre vítimas indefesas. Wellington Menezes de Oliveira se encaixa perfeitamente no padrão, na tipicidade dos personagens da série. 

As matérias que têm abordado o assunto o apresentam como alguém esquisito, antissocial, alguém dotado de uma espécie de recato mórbido, um ser humano que de algum modo sofria discriminação. Quanto a este último aspecto, vi breve abordagem  numa notícia de TV.

A pólícia está tentando traçar o perfil do assassino, a fim de descobrir a causa ou causas profundas que o levaram ao desatino. A mim, parece que se trata de alguém que tinha da vida visão dolorosa, amargurada. Um ressentimento tão acre e convincente de que a humanidade é má, que tinha nele uma espécie de vítima preferencial, o levou, suponho, ao ato extremo dessa vingança inusitada, paradoxal e chocante. 

Assim, ao construir esse mundo interno, íntimo, pungente, ele criou todas as condições subjetivas e justificadoras do gesto brutal que perpetrou. O acontecimento, que tomou repercussão midiática planetária, e expõe a condição humana em sua maior crueza e bestialidade, nos entristece e nos lança a pergunta desesperada e existencialmente sem resposta: por quê? Até que ponto um ser humano, acossado por seus próprios fantasmas e demônios, pode matar, a partir de justificativas que sua mente angustiada cria para fugir desses mesmos fantasmas?

No fundo ele sabia do mal que causava, tanto que veio o suicídio. No fundo, ao se matar, matou também o mundo sinistro que supunha habitar, atirando-se a si próprio, ferindo de morte sua existência de dores íntimas.


Na carta que deixou salientava sua condição de "virgem" em oposição aos "pecadores" e "adúlteros", ou seja: uma criatura límpida e pura, habitando uma espécie de inferno moral que o atemorizava e do qual fugia pela internert que acessava ao longo de noites inteiras. 

Afinal, uma tragédia sem nome, deixando-nos pasmos e cabisbaixos quanto à condição do homem. Abaixo, reprodução da carta deixada pelo matador.

Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está neste prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem neste lençol poderão me colocar em meu caixão. Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu.

Preciso de visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida eterna.”

"Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se alimentarem, por isso, os que se apropriarem de minha casa, eu peço por favor que tenham bom senso e cumpram o meu pedido, por cumprindo o meu pedido, automaticamente estarão cumprindo a vontade dos pais que desejavam passar esse imóvel para meu nome e todos sabem disso, senão cumprirem meu pedido, automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais, o que prova que vocês não tem nenhuma consideração pelos nossos pais que já dormem, eu acredito que todos vocês tenham alguma consideração pelos nossos pais, provem isso fazendo o que eu pedi."

quinta-feira, 7 de abril de 2011

 Deu na Folha:

Sistema criminal trata diferente ricos e pobres, afirma De Sanctis

FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
O desembargador Fausto Martin De Sanctis, que atuou no caso Castelo de Areia, recusou-se ontem a falar sobre o julgamento do STJ que anulou os grampos da operação, mas disse que o sistema criminal do país vive uma situação de "dualidade de tratamento" entre ricos e pobres.
Mastrangelo Reino - 29.out.2009/Folhapress
Fausto Martin De Sanctis disse que o sistema criminal vive uma situação de "dualidade de tratamento" entre ricos e pobres
Fausto Martin De Sanctis disse que o sistema criminal vive uma situação de "dualidade de tratamento" entre ricos e pobres
 
Folha - Como o sr. avalia a decisão do STJ que anulou os grampos da Castelo de Areia?
Fausto De Sanctis - Não posso falar sobre esse caso concreto, mas posso falar sobre o sistema criminal de um modo geral. Em várias situações o Supremo Tribunal Federal já legitimou interceptações após denúncias anônimas e prorrogações de interceptações por longos prazos.
A Justiça tem um compromisso, pois ela serve de estímulo ou desestímulo para outros órgãos de poder. Não se pode comprometer a imagem da Justiça como uma Justiça dual, que trata diferentemente pobres e ricos.
O grande desafio do Judiciário brasileiro é reafirmar o princípio da igualdade e não fazer reafirmações que passam de forma concreta a ideia de que o crime compensa para alguns. A dualidade de tratamento já foi discutida no passado e os países desenvolvidos já superaram essa fase. Mas parece que o Brasil não superou. 

Qual será a repercussão desse julgamento para outros casos que tiveram interceptações após denúncias anônimas?
Não posso falar desse julgamento, mas é nítido para juízes criminais, Ministério Público, Polícia Federal e advogados o desestímulo institucional já existente. Tudo o que é feito é sempre interpretado de maneira favorável às teses provenientes daqueles que lucram muito com elas.
Não existem direitos sem deveres, mas parece que os deveres não são exigidos ou são muito bem flexibilizados em determinadas situações, o que é inconcebível. 

O subprocurador que representou o Ministério Público no julgamento disse ser preciso reavaliar os cuidados nas apurações. O sr. concorda?
Não falo do fato concreto, mas acontece que há uma total desorientação da jurisprudência com relação aos trabalhos de apuração, porque a jurisprudência sempre permitiu interceptações por tempo indeterminado, denúncias anônimas e ações controladas.
A partir do momento em que determinados casos vieram à tona, e não estou falando da Castelo de Areia, a jurisprudência simplesmente vira e interpreta com rigor tal que não se tem como investigar ou processar, pois tudo leva à prescrição, à nulidade ou à inépcia da denúncia.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Subiu no telhado

Assisti ontem, no auditório da Reitoria da UFRN, palestra de Juca Kfouri aos estudantes de Jornalismo. A personalidade solar do jornalista cativou à larga. O espetáculo, no melhor sentido que tenha o termo, ganhou força especialmente porque Kfouri, elegantemente, não tem meias palavras quando se trata de falar desse ofício que tem muito de missão. 
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.imagensgratis.


Abordou a corrupção no futebol ao mencionar a cartolagem implícita e criticou, sob palmas veementes, a realização no Brasil da Copa e da Olimpíada. Disse que até poderiam ser realizadas, mas sob condições brasileiras, ou seja: sem a gastança que está programada para gáudio de quem vai com ambas ganhar muito dinheiro.

Mas, para mim, o mais importante se deu quando, respondendo a uma indagação, disse que a Copa em Natal "subiu no telhado". 

Para quem não conhece o sentido da expressão, isso quer dizer que Natal será, para minha alegria, retirada de sua condição de subsede da Copa; caiu fora, saiu, perdeu. As obras sequer começaram e não há, isso é opinião minha, sinal mais forte indicando quando tal intentona terá início. Graças.

Melhor assim. O dinheiro a ser esbanjado nessa insanidade será melhor, muito melhor empregado se o for em hospitais, segurança, escola e infraestrutura. 

Antes que esqueça: quando Kfouri disse que a loucura da Copa subiu no telhado foi aplaudido.
Na charge de Angeli, na Folha, a essência da política brasileira. Um petardo.