sábado, 28 de maio de 2011

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Liza Minelli
O sangue dos inocentes

Leio na Folha e, abaixo, comento:

MATHEUS MAGENTA
SÍLVIA FREIRE

DE SÃO PAULO

O agricultor Adelino Ramos, líder do MCC (Movimento Camponês Corumbiara), considerado um dos movimentos sociais agrários mais radicais do país, foi morto a tiros ontem em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO).
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Foi o terceiro assassinato, só nesta semana, de pessoas que estão no levantamento de ameaçados de morte feito pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), ligada à Igreja Católica. Na terça-feira, um casal de líderes extrativistas foi morto em Nova Ipixuna (PA).
Ramos era um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara, que ocorreu em 1995 durante a desocupação de uma fazenda em Rondônia. No conflito, foram mortos dez sem-terra e dois PMs.
Os ministros Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) divulgaram nota repudiando o assassinato do agricultor e cobrando da polícia uma investigação rigorosa.
Eles atribuem a morte a uma provável perseguição aos movimentos sociais.
Segundo a CPT, Ramos denunciava a ação de madeireiros na região da divisa entre Acre, Amazonas e Rondônia.

Ele e um grupo de trabalhadores rurais reivindicavam a criação de um assentamento agrário no local.
No início do mês, o Ibama apreendeu cabeças de gado e madeira no local, que é área de preservação ambiental.

"Isso leva a crer que esse tenha sido o motivo de sua morte", disse a CPT, em nota.
Em 2009, Ramos disse à Ouvidoria Agrária Nacional que sofria ameaças de morte.
Segundo a Polícia Civil de Rondônia, o agricultor foi morto a tiros por um motociclista enquanto vendia verduras produzidas no acampamento onde vivia.
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Análise de texto simples revela: o agricultor era "radical". Ou seja: no subtexto está sugerido que o agricultor era "agressivo", "desafiador", "empedernido", "animoso". Portanto, distanciado do que seria de se esperar de "um homem de bom senso", dialogal e sereno. Objetivamente, o agricultor era "ruim" e sendo assim atraiu a si a reação que o matou.
http://www.google.com.br/search?um=1&hl=pt-BR&safe=off&client=firefox-a&rlz

Percebe como numa só palavra o jornal redigiu todo um editorial? Nota como numa contextualização rasa e pedestre se transfere à vítima a condição de culpada? Esse tipo de jornalismo justifica tudo ou pelo menos amaina e esmaece a fúria de criminosos a soldo de seus mandantes.

Por que não se disse que o agricultor era "coerente" com seus princípios e os efetivava em prática de protesto e denúncia à ação dos que exploram os trabalhadores e ameaçam a natureza? 

Nos últimos dias tem sido noticiado um ascenso do número de mortes de trabalhadores do campo e não vejo na imprensa nenhum sinal de indignação, cobrança editorial ao governo federal para que investigue vigorosamente os crimes e, paralelo a isso, envie pessoal  de segurança que garanta a vida de pessoas ameaçadas. Mais: não há qualquer ação jornalística exigindo uma política de preservação dos recursos naturais, colocando áreas vitais como setores de preservação permanente. 

Os criminosos continuam  lavando suas mãos em sangue e esses herodes sabem que sua impunidade é coisa garantida.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Tempos modernos

Com estardalhaço a Rede Globo lançou em forma de noticiário a chegada dos tablets ao mercado nacional. Foi no jornal da manhã, aquele apresentado por Renato Machado. A notícia cantava loas à maquininha e mostrava até a imagem de jovem que alevantava o seu iPad como um troféu. E, você acredita, os infelizes que estavam na filha de compras aplaudiam tão incrível privilégio? Isso mesmo. Depois, claro, todos saíam felicíssimos: ao comprar cada um o seu deixavam a condição de infelizes, acabavam de apalpar a felicidade.

Ressalto: a portabilidade dos computadores, é óbvio, tornou-se algo importante para os dias de hoje. O computador é ferramenta aliada ao nosso, digamos, desempenho diário. Somos, em parte, maquinizados, mas isso é processso histórico que começou quando as máquinas surgiram e fomos obrigados a nos capacitar a seu uso. 

A questão é que da forma como as coisas estão sendo encaminhadas pelo marketing o homem, que poderia e deveria usar as máquinas como uma espécie de prótese social para seu desempenho seja no trabalho, no lazer, enfim, na vida cotidiana, protetizou-se em função da relação de deslumbre com aparelhinhos como o iPad.

Você sente-se como que obrigado a usar todos os "recursos" do iPad como se fosse um ritual de inserção aos tempos modernos. Veja bem, a palavra recurso indicia algo a seu dispor e, diz o Houaiss, é um substantivo que designa "meio empregado para vencer dificuldade ou embaraço". Todavia, numa espécie de semântica comportamental, o substantivo, o meio, passou a coisa essencial e coloca o ser humano como periférico adstrito à coisa central, ao "recurso". E a pessoa torna-se modernete com o seu iPad reluzente.

Não nego a importância ou validade da iniciativa em si, como instrumental facilitador de nossas vidas. O que deploro é a forma como isso é vendido, tornando-o grilhão de quem o deveria vivenciar como artefato. A sensação de que se deve comprá-lo, a fim de não "ficar por fora".

quinta-feira, 26 de maio de 2011

 Dinheiro não, trabalho sim


http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://tribunaterraboa.com.br
Estão falando em aprovar o financiamento público de campanha eleitoral. Como cidadão, sou contra. Uma campanha nacional repudiando essa manobra chegaria em boa hora. Se não há dinheiro para saúde, educação, segurança, conservação de estradas e aumento do funcionalismo, como há verba para garantir campanha a políticos profissionais? 

Outra coisa: o que garante que eles irão desativar o caixa dois? Nada. Assim, é importante que haja um movimento de sociedade civil em oposição a essa, digamos, atitude, que não diz respeito aos interesses sociais.

O caldo de cultura política nacional é farto em exemplos de locupletação dos dinheiros públicos sem que seus usufrutuários sejam punidos. Desta forma, financiar campanha de políticos será literalmente lhes entregar um cheque em branco, dinheiro que será pessimamente empregado. É preciso acabar com a farra. Dinheiro não, trabalho sim. 

Financiar campanha política é transformar o esbulho em prática institucional, a matreirice em gesto legalizado, a esperteza em golpe socialmente aprovado. Dinheiro não, trabalho sim.

domingo, 22 de maio de 2011

Do  Observatório da Imprensa:


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LÍNGUA & LINGUAGEM
Escrever, falar, pensar

Por Alberto Dines em 20/5/2011
Comentário para o programa radiofônico do OI, 20/5/2011
Escrever bem é pensar bem. Quem tirou este ditado do esquecimento foi, aparentemente, o grande jornalista e exímio prosador mineiro Otto Lara Resende. Erro de concordância, além de doer nos ouvidos, atravanca o pensamento, trava a comunicação. Cria ruídos, comunica erradamente.

É bem-vinda e salutar a polêmica sobre a correção da linguagem motivada pelo livro didático Por uma vida melhor, do Ministério da Educação, que sugere uma indulgência com os erros de gramática. Este contencioso é um dos melhores serviços que a imprensa pode prestar à sociedade.

Mas se a imprensa está efetivamente empenhada em levar adiante a pendência conviria que examinasse o seu próprio desempenho como ferramenta para a divulgação das normas cultas.

Missão da mídia Não podemos deixar de reconhecer que a mídia impressa escreve mal, nosso rádio e nossa TV expressam-se pior ainda. São muitas as exceções, mas também muitas são as comprovações da regra.
Nossos blogs repousam nos impropérios e o Twitter – como sentenciou o escritor e prêmio Nobel de Literatura José Saramago (1922-2010) – está próximo dos grunhidos. Acontece que estes grunhidos muito em breve poderão constituir um jargão. Este é o perigo, porque o jargão é uma "linguagem viciada, disparatada", segundo o dicionarista Antonio Houaiss (1915-1999).

O jargão, na verdade, é uma sublíngua que pode até ser reabilitada e requalificada, mas isso leva séculos. A reversão só acontecerá quando esse jargão for capaz de produzir uma literatura e expressar idéias abstratas.
Cabe à mídia, tanto impressa como falada, evitar que o idioma se transforme em jargão. Ela – e não o governo – será a sua primeira vítima.