sábado, 1 de outubro de 2011

Ministro diz que brasileiros devem comprar um terço de ingressos à Copa e não confirma meia-entrada

O ministro do Esporte, Orlando Silva, disse nesta sexta-feira que cerca de um milhão dos 3,5 milhões de ingressos da Copa do Mundo de 2014 devem ser vendidos a brasileiros. Ainda segundo o político, a Fifa é quem vai definir os preços das entradas para o evento.

"A venda de ingressos é um assunto muito importante. A informação que eu tenho é que é possível ofertar cerca de 3,5 milhões de tíquetes. Não me surpreenderia se a venda direta ao público brasileiro seja da ordem de 1 milhão", disse Orlando Silva ao Sportv.

Além disso, o ministro foi evasivo sobre a questão da meia-entrada para os estudantes. O governo, por meio da Lei Geral da Copa, pretende que o benefício seja concedido, mas a Fifa se disse contra a medida. Por outro lado, Silva confirmou que idosos terão direito a pagar metade por ingresso.

A tramitação da Lei Geral da Copa desagrada à Fifa. A entidade reclama que o país não acatou todas as exigências negociadas para a realização do evento. Os principais pontos de discórdia envolvem a venda de meia-entrada para idosos e estudantes e a proibição da comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios brasileiros - a associação é patrocinada pela Budweiser.

"O estatuto do idoso é uma lei federal, e neste tema há uma decisão do governo brasileiro de não suspender o estatuto. É o típico tema que é sensível, mas passível de resolução.(Folha de S. Paulo)

Copa do Mundo de 2014 em Natal até agora tem mais factóide do que obras

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

'Sou juíza que teme precisar da Justiça'

Recém-nomeada, a magistrada diz que o Judiciário está '100 anos atrasado' e 


Felipe Recondo / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Substituta. A ministra Eliana Calmon durante entrevista ao 'Estado', em Brasília: mandato de dois anos no lugar de Gilson Dipp - Andre Dusek/AE
Andre Dusek/AE
Substituta. A ministra Eliana Calmon durante entrevista ao 'Estado', em Brasília: mandato de dois anos no lugar de Gilson Dipp
Eliana Calmon, corregedora nacional de Justiça

A nova corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, é uma vítima da morosidade do Judiciário brasileiro. Há quatro anos, após a morte de seu pai, ela espera que a Justiça conclua o inventário. Mas, como ela mesma define, este foi mais um caso que caiu nas "teias do Poder Judiciário". Por isso, diz que prefere resolver seus problemas sem a intervenção da Justiça. "Eu sou uma magistrada que teme precisar da Justiça", afirma. 


Eliana é responsável por corrigir eventuais desvios dos magistrados e trabalhar justamente para que problemas como a morosidade se resolvam. Ela substitui o ministro Gilson Dipp e terá dois anos de mandato. Dentre os exemplos de morosidade do Judiciário, a ministra cita o julgamento da Lei da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que terminou empatado na semana passada. "Até esse projeto, que é sim uma reação à morosidade da Justiça, ficou parado nas teias do Judiciário."


Que imagem a senhora tinha do Judiciário antes de chegar à corregedoria?

Eu sou uma crítica do Poder Judiciário. E seria uma incoerência não vir para a corregedoria num momento em que a vida me permitiu fazer alguma coisa para combater a burocracia que eu critico. Com dez dias apenas de atividade, estou vendo muito mais do que eu sabia. Eu sabia da disfunção, do atraso do Judiciário. Mas aqui tomei consciência de que não existem culpados específicos. Essa disfunção vem da disfunção estatal. 


Por que isso ocorre?

Cada Estado tinha uma Justiça absolutamente independente. Eles se organizavam como queriam. Não havia controle das pessoas que organizavam a Justiça. A partir daí pudemos detectar que tínhamos 27 feudos. Tinham independência como Poder e são geridos por grupos de desembargadores que não se alternam no poder. Essas circunstâncias específicas do Poder Judiciário e que a lei estabeleceu (vitaliciedade e inamovibilidade dos magistrados) para dar maior garantia ao jurisdicionado começou a fazer mal ao próprio Judiciário. 


Quem é prejudicado por isso?

Toda essa disfunção deságua nas mãos dos jurisdicionados com o atraso dos processos. Estamos 100 anos atrasados em tudo: nos prédios, nos funcionários, nas práticas de serviço público, na informática - ainda existem magistrados que não usam computador ou usam apenas como máquina de escrever. São essas práticas que levam a essa disfunção. E essa disfunção é de um tamanho inacreditável. Só em São Paulo temos 16 milhões de processos. E isso com um custo Brasil imenso. Quando se entra no Judiciário não se tem expectativa de quando se sai, quanto vai custar o processo.


Se for possível resolver uma pendência sem precisar da Justiça, a senhora prefere?

Com certeza. Hoje, eu sou uma magistrada que teme precisar da Justiça. Eu temo precisar da Justiça.

Isso é insolúvel? 


Nada é insolúvel. Eu sou extremamente otimista. Agora, nós não resolveremos o Poder Judiciário com menos de 10 anos. Não resolveremos. Porque todos os controles da sociedade, e que estão nas mãos do Judiciário, estão com problemas.


Por exemplo?

A política carcerária. Nós temos problemas gravíssimos. Isso não é só do Judiciário. É do Executivo também. Pelo fato de o Executivo não realizar a política pública necessária, o juiz vai se desinteressando pelos presos pelos quais é responsável. O juiz virou um assinador de papel. Ele assina a carta de guia, manda o preso para a penitenciária e estamos encerrados. Ele não examina, não conduz, não acompanha.


Mas não é possível resolver isso mais rapidamente?

Eu acho que a Justiça só se resolve a longo prazo. Casos episódicos nós podemos resolver. Eu estou com um pedido para São Paulo de alguém que está há 24 anos na Justiça brigando com o irmão. E depois de ganhar em todas as instâncias, o processo chegou ao Supremo Tribunal Federal, onde houve nada mais nada menos que seis embargos de declaração, recursos para que o processo não saísse de dentro do Supremo. Agora, a parte vencida molhou a mão do juiz para que a execução não se complete. Essa é a realidade. 


Qual é o tamanho da corrupção do Judiciário?

Num momento em que se tem um órgão esfacelado do ponto de vista administrativo, de funcionalidade, de eficiência, temos um campo fértil para a corrupção. Começa-se a vender facilidades em razão das dificuldades do sistema. Para julgar um processo, às vezes um funcionário, para ajudar alguém, chega para o juiz e pergunta se ele pode julgar determinado processo. Aí vem um bilhetinho de um colega, eu mesmo faço a toda hora: "Na medida do possível dê um pedido de preferência para um baiano aflito que está querendo ser julgado." Essas coisas começam a acontecer. E quem não tem amigo para fazer um bilhetinho para o juiz? 


E como se acaba com a corrupção?

Acaba-se com a corrupção na medida em que se possa chegar às causas dessa corrupção. Parte disso é fruto da intimidade indecente entre o público e o privado, entre a atividade judicante e política e a interferência dos políticos nos tribunais. Só se acaba com a corrupção combatendo as causas, não as consequências. Punir os corruptos é como fazer uma barragem para ele não propagar seu comportamento deletério.


E as corregedorias dos Estados funcionam a contento para resolver esses problemas?

Não. Elas nunca funcionaram a contento. O corregedor local, sozinho, não pode fazer muita coisa. Como dizia Aliomar Baleeiro (ex-deputado e ex-ministro do STF): lobo não come lobo. É difícil para um corregedor começar a se rebelar contra seus colegas.


Alguns magistrados, agora no Tocantins, estão dando liminares contra a publicação de matérias contra políticos. O que a senhora acha disso?

Nós sabemos que a transparência é um dos princípios de toda democracia. A notícia naturalmente é benfazeja e está ligada à transparência de toda e qualquer atividade do Estado. A explicação para decisões nesse sentido só pode estar na tentativa de alguém proteger alguém. Eu acredito piamente nisso. 


A Lei da Ficha Limpa, que prevê a inelegibilidade de políticos antes da condenação em última instância, é uma reação à morosidade da Justiça?

Sim. E parece que nós colocamos também a Ficha Limpa na morosidade da Justiça. É como se fosse uma teia de aranha. Até esse projeto, que é sim uma reação à morosidade da Justiça, ficou parado nas teias do Judiciário. A prova maior da disfunção do Judiciário está na tramitação desse projeto no Judiciário.


QUEM É
Eliana Calmon Alves nasceu em 5 de novembro de 1944 na capital baiana. Formou-se em direito pela Universidade Federal da Bahia em 1968. Foi juíza federal na seção Judiciária da Bahia no período entre 1979 e 1989 e juíza do Tribunal Regional Federal da 1ª região entre 1989 e 1999, Assumiu o cargo de ministra do Superior Tribunal de Justiça há 11 anos.(Estado de S. Paulo)

Em artigo irretocável no Estadão, Fernando Gabeira analise a realização da Copa do Mundo e fala sobre o Machadão: somente uma vez lotou; não se justifica a construção da Arena das Dunas. Isso somente é passível na delirante visão dos que dirigem este pobre estado do Rio Grande do Norte.

Pátria de chuteiras e ocaso da razão

Fernando Gabeira, jornalista - O Estado de S.Paulo
 
Aprendi ao longo de alguns textos sobre a Copa do Mundo de Futebol que o preço de questionar uma conquista nacional é o de ser acusado de torcer contra o Brasil. Isso não é exclusivo do atual governo. Desde a ditadura militar, com seu famoso slogan "ame-o ou deixe-o", a tendência é inibir certas críticas, associando-as à falta de patriotismo. Neste caso, e em muitos outros, o patriotismo não é simplesmente um refúgio de canalhas, como na célebre citação. Ele faz parte de um processo complexo de acúmulo de poder e dinheiro, no qual um dos elementos sempre impulsiona o outro: mais dinheiro traz mais poder, que, por sua vez, traz mais dinheiro.

Da maneira como está sendo conduzida, a preparação para a Copa não é racional. Notícias de bastidores relatam a insatisfação da Fifa, que poderia em outubro cancelar a escolha do Brasil como sede. O que a Fifa parece querer é pior ainda do que se está fazendo por aqui. A entidade quer eliminar o meio ingresso para estudantes e idosos, algo que, correto ou não, representa direitos conquistados. O governo enfatiza esse detalhe da disputa com a Fifa porque sabe que o deixa bem com a opinião pública.

Outros anéis já se foram, sem grandes protestos. O Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), denunciado pela Procuradoria-Geral da República, foi o primeiro grande passo para conformar a legislação brasileira ao desígnios dos que se querem aproveitar da Copa. E o relator do projeto do novo Código Florestal no Senado, Luiz Henrique (PMDB-SC), afirmou que seria introduzida uma emenda no projeto permitindo desmatar para obras da Copa. O Brasil tem pressa, disse ele.

Quando se trata de conformar uma legislação aos seus desígnios, o Brasil deles tem pressa. Quando se trata de avançar com obras essenciais para a Copa, o Brasil deles é devagar. Aparentemente, são movimentos contraditórios, mas no fundo se complementam: mais pressa significa menos controle sobre os gastos.
Estou convencido de que muitos desses gastos são irracionais. 

No capítulo dos estádios esportivos, tenho mencionado dois exemplos: o do Maracanã, no Rio, e o do Machadão, em Natal. Só para a reforma do Maracanã o governador Sérgio Cabral pretendia gastar quase R$ 1 bilhão. O Tribunal de Contas apertou o controle e conseguiu abater R$ 84 milhões. O governo do Rio, que esta semana contraiu um empréstimo de US$ 126,6 milhões com o Banco Interamericano, resolveu fazer marketing e reduziu mais R$ 80 milhões no custo do Maracanã. O mecanismo foi sutil: isentar de ICMS o material de construção destinado à obra, construída pela empresa Delta, de Fernando Cavendish, amigo de Cabral. Nem os fluminenses nem sua imprensa se deram conta, na plenitude, de que estavam sendo enganados: os custos são os mesmos, mas pagos de forma diferente.
Tudo foi feito em concordância com a legislação federal que também isenta estádios de alguns impostos. A conta da Copa ficará um pouco como as pessoas cujas fotos são processados no Photoshop e parecem ter 10 kg a menos.

O caso do Machadão, em Natal, que se vai chamar Arena das Dunas, também é típico. O estádio será reconstruído para ampliar sua capacidade. Pesquisas sobre sua trajetória indicam que só lotou uma vez, durante a visita do papa João Paulo II. Suponhamos que a ampliação sirva aos jogos da Copa. Mas, e depois? Teríamos de esperar nova visita de um papa para encher o estádio outra vez.
A solução para os aeroportos também me parece irracional. O aumento do número de passageiros das linhas aéreas é constante no País. Com ou sem Copa, precisamos de novos aeroportos. A solução apresentada: construir terminais provisórios. Se há uma necessidade estratégica de crescimento, o arranjo provisório atrasaria a solução definitiva e drenaria parte dos seus recursos. Serviria à Copa e aos torcedores, mas atrasaria o passo de novas levas de viajantes.

As famosas obras de mobilidade urbana não serão concluídas. O empenho na construção do trem-bala parece maior do que a preocupação com as massas metropolitanas que, às vezes, passam quatro horas do dia se deslocando de casa para o trabalho e vice-versa. A solução para esse complexo problema já foi anunciada pela ministra Miriam Belchior: sai o legado, entra o feriado. Nos dias de jogo, as cidades param e o Brasil arca com um imenso prejuízo, sentido na carne pelos trabalhadores autônomos.

Nunca se falou tanto em transparência quanto na época em que o Brasil foi escolhido para sediar a Copa e a Olimpíada. Políticos de vários horizontes formaram comissões, ONGs se posicionaram no front da vigilância e, no entanto, os dados não aparecem com toda a sua clareza. O empréstimo de US$ 126,6 milhões no exterior e a redução de custos no Maracanã com base em isenção de impostos são faces de um drama que escapa até aos grandes órgãos de comunicação do Rio, siderados com os lucros que a Copa lhes trará.
Porém a vida continua no seu implacável ritmo. A insensatez joga em inúmeras posições, mas os governantes calculam que os prejuízos serão recompensados por uma vitória nacional no futebol. Em caso de derrota e insatisfação, há sempre o recurso de mais um feriado para aplacar a fúria.

A proposta do Brasil é sediar a Copa do Mundo para projetar sua nova importância internacional. Para essa tarefa estratégica a interface cosmopolita do País são os Ministérios do Esporte e do Turismo. O primeiro é dirigido pelo Partido Comunista do Brasil, que há alguns anos era fascinado pela experiência da Albânia. O segundo é feudo do senador José Sarney e procura atender, prioritariamente, ao Maranhão, um belo Estado, porém mantido no atraso pelos seus dirigentes.

Os patriotas que me perdoem, mas não posso repetir o slogan do McDonald's, amo muito tudo isso. E já vai muito longe o tempo em que o dilema, pela força da repressão, era amar ou deixar. 

Nos tempos democráticos, é preciso demonstrar a racionalidade das ações do governo. E a Copa do Mundo de 2014 pode ser a amarga taça da improvisação e cobiça na qual bebem apenas políticos empresários.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Escândalo de venda de armas dos EUA a traficantes mexicanos abala governo Obama


O objetivo era investigar o tráfico de armas dos Estados Unidos para organizações criminosas mexicanas. Mas a operação "Fast and Furious" (Velozes e Furiosos), orquestrada pelo ATF (Departamento de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo dos EUA, na sigla em inglês), em 2009, acabou sendo um enorme fracasso. E, após recentes revelações de congressistas norte-americanos, tem potencial para se tornar um dos maiores escândalos da administração de Barack Obama.

Efe (20/09/2011)

Os cartéis mexicanos acabaram se tornando os principais beneficiados da operação dos EUA

A ideia era vender, de forma controlada, armas norte-americanas de alto calibre a membros de cartéis de drogas. Com isso, os agentes de segurança dos EUA esperavam rastrear o armamento no México até os chefões do tráfico e desarticular as sofisticadas redes de criminosos. Só que o plano não saiu como o esperado: cerca de duas mil armas sumiram do radar dos EUA e hoje circulam livremente em território mexicano.

Grande parte das armas oriundas da operação da ATF, instituição cujas ligações com o lobby de produtores de armas norte-americanos são investigadas, foi vinculada com mais de 200 delitos no México, entre eles o assassinato do agente da Patrulha da Fronteira Brian Terry, em 14 de dezembro de 2010, morto com um AK-47.

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A pergunta que as autoridades nos EUA e no México agora se fazem é: de quem é a culpa? Com o passar dos meses, seguem saindo elementos cada vez mais assombrosos, que revelam aspectos inquietantes da operação. Agentes da ATF admitiram a periculosidade da falha, acusando superiores de terem tomado decisões incorretas. Porém, nesta terça-feira (27/09), o tema ganhou novo fôlego com revelações feitas por uma comissão investigadora do Congresso dos EUA sobre o caos entre a ATF e a DEA (Força Administrativa de Narcóticos, na sigla em inglês) e o FBI.

Segundo as investigações dos congressistas, a falta de comunicação entre as agências federais aconteceu e foi documentada. A DEA e o FBI, em particular, haviam ocultado da ATF a identidade do mais importante comprador de armas em Ciudad Juarez – um dos principais alvos da operação – e de um dos principais informantes das duas agências, cujo nome em código era CI #1 (Informante Confidencial Número 1).

O agente John Dodson foi instruído a comprar quatro unidades de AK-47 em dinheiro e ainda recebeu uma carta do supervisor, David Voth, o autorizando a vendê-las para criminosos mexicanos. Essencialmente, os contribuintes norte-americanos pagaram pelo armamento de traficantes mexicanos.

Efe (25/09/2011)

As maiores vítimas da violência são os milhares de mexicanos mortos pelo tráfico de drogas 

Acordo com traficantes?

A notícia chega justamente depois da declaração, da emissora Fox News, de que há documentos que atestam que o governo dos EUA, utilizando dinheiro público, comprou armas no arsenal Lone Wolf, no estado do Arizona, que foram entregues a traficantes mexicanos e acabaram nas mãos de integrantes do Cartel de Sinaloa, liderado por Joaquín “El Chapo” Guzmán.

Segundo declarações de Vicente Jesús Zambada Niebla, filho do número dois do Cartel de Sinaloa, Ismael El Mayo Zambada, e atualmente preso nos EUA, a situação é muito mais complexa e teria características ainda mais obscuras. Através de seu advogado, Vicente disse que a operação “Velozes e Furiosos” seria parte de um acordo mais amplo, com a DEA e o FBI como protagonistas e com a aprovação do Departamento de Justiça, que teria oferecido imunidade aos integrantes do Cartel de Sinaloa em troca de informações sobre outros cartéis.

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A defesa de Vicente, ex-encarregado da logística do cartel, se baseia na afirmação de que ele atuava como agente dos EUA quando cometeu os delitos pelos quais é acusado, em nome do Departamento de Justiça dos EUA, da DEA, da Segurança Nacional e do FBI. Washington não negou que o filho de Mayo Zambada foi apoiado pelo Departamento de Justiça.

Com as novas revelações, o governo Obama enfrenta uma avalanche de críticas direcionadas a uma história que parece ainda não ter mostrado todas as facetas. Articulistas de jornais e intelectuais norte-americanos exigem que a opinião pública saiba quais são as verdadeiras relações entre o gabinete presidencial e os cartéis, considerando também a batalha declarada pela Secretário de Estado, Hillary Clinton, contra o “narcoterrorismo” e “narcoinsurreição”.

Certo é que os parentes de Brian Terry querem justiça e pretendem descobrir quem é responsável pela morte do policial. (Do Estado de S. Paulo)
Já nasce velho, mas o povo vai gostar

O PSD, Partido Social-Democrático, é exemplo de algo que já nasce velho. Nada acrescenta à vida política nacional. Será sem dúvida uma sublegenda em todos os estados nas próximas eleições municipais. Trata-se, o partido, de uma arrumação política, um gesto matreiro de políticos que buscam valorização no mercado setorial, ganhando forças para manobrar situações pontuais.
http://www.google.com.br/imgres?q=povo+sofre&hl=pt-BR&safe

É, sem dúvida, indício claro do tipo de vida política que vivenciamos, nasce do caldo de cultura dessa realidade, revigora o discurso carcomido dos profissionais da área e busca no populismo o chamamento e o slogan para dar nutrição a seus dias.

Temos no Brasil terreno fértil para tais manobras. Homens e mulheres do meio sabem que, aqui, qualquer pronunciamento, se bem elaborado por marqueteiro de razoável competência, ganha foros de possibilidade a ser realizada na tela de qualquer bar da esquina. E assim temos uma realidade virtual: paraísos nacionais, estaduais e municipais; tudo ao gosto de quem comprou a propaganda, sabendo que o povo engole isso como quem bebe água.

O povo transformou-se, foi transformado numa grande esponja que absorve tudo. Depois, basta o mandão espremer e passar no tampo da mesa molhada pelo visgo dos negócios fechados a meia-luz que a esponja volta a ficar embebida - do limo que lhe é vendido todos os dias como vinho precioso e velho. E bebe.
Recebo e divulgo:

IFRN no Festival MPBeco 2011

Alunos de Produção Cultural ganham experiência profissional através de
grandes eventos e festivais da cidade

Estudantes do curso de Produção Cultural do IFRN Cidade Alta foram
escalados pelos produtores do Festival de Música MPBeco, Júlio Pimenta e
Dorian Lima, para colaborar com a produção do festival. A resposta foi positiva
e através de um sorteio, oito estudantes foram escolhidos para auxiliar na
produção.

Segundo Júlio Pimenta, as atividades irão se concentrar mais nos dias do
evento, quando os produtores terão que recepcionar os artistas, organizar a
sequência das apresentações do palco, esclarecer eventuais dúvidas do
público, estar a postos para qualquer imprevisto e realizar a contagem dos
votos populares.

Vários encontros foram realizados para discutir algumas propostas sugeridas
pelos estudantes como a divulgação em tempo real do evento através das
redes sociais e transmissão dos shows via Twitcam – meio gratuito que vem
sendo muito utilizado por profissionais de diversas áreas para transmitir ao vivo
shows, palestras, oficinas, entre outros.

Parceria similar foi firmada durante a última edição do Circuito Cultural Ribeira,
que acontece no primeiro domingo de cada mês. Para o Circuito os estudantes
foram divididos em equipes de divulgação, produção executiva, redes sociais e
comunicação com o setor público. O resultado foi positivo e vem gerando bons
frutos.

FESTIVAL MPBECO
A 6ª edição do Festival de Música do Beco da Lama acontecerá nos dias 01,
08 e 15 de outubro de 2011. O MPBeco, como também é conhecido, é um dos
maiores festivais competitivos de música do RN. Em 2011, distribuirá R$15 mil
em prêmios, contemplando composições, compositores, músicos e intérpretes.
Acompanhe as notícias do festival através do site www.festivalmpbeco.com.br

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dinheiro gera briga da Fifa com governo


MARTÍN FERNANDEZ
RODRIGO MATTOS

DE SÃO PAULO

A ameaça às principais rendas da Fifa com a Copa de 2014, que lhe geraram US$ 4 bilhões nos últimos quatro anos, motiva uma disputa entre a entidade máxima do futebol e o governo federal.
A briga deixou o COL (Comitê Organizador Local) no meio do fogo cruzado.
A Lei Geral da Copa é o centro do litígio. A entidade máxima do futebol entende que o texto não defende suas receitas com ingressos, patrocínios e televisão do Mundial.

Na Casa Civil, a insatisfação da Fifa com a lei causa surpresa, pois os cartolas haviam sido avisados das mudanças. O projeto de lei ainda será votado por Câmara dos Deputados e Senado.
Oficialmente, nenhuma das partes comenta o tema.
Nos bastidores, fonte ligada à Fifa no Brasil acenou que a briga abriu a possibilidade de se tirar o Mundial do país. Os EUA seriam uma opção.

Em Zurique, a entidade que comanda o futebol negou. "A Fifa não expressou isso", afirmou a assessoria da federação sobre a suposta ameaça.
Por contrato, a Fifa pode tirar o Mundial do Brasil caso não sejam cumpridas cláusulas do Acordo para Sediar.

O documento diz que o Brasil tem até o meio de 2012 para fazer uma lei que proteja os ganhos da entidade.
Por enquanto, a hipótese de mudar a sede de Copa é uma forma de pressão. A Fifa diz que Dilma Rousseff não cumpre garantias assinadas por Lula, seu antecessor.
São sete pontos de discórdia. Entre os principais, está o fato de a Lei Geral da Copa não ter derrubado a meia-entrada para idosos. Isso contraria o Acordo para Sediar, que dava liberdade à Fifa para lidar com ingressos.
A lei ainda prevê que a entidade ceda imagens dos jogos da Copa para TVs sem direitos de transmissão -até 3% do tempo de cada um.

Pelo contrato, haveria autonomia da Fifa para lidar com as imagens dos jogos.
A entidade ainda critica a redução da pena para pirataria de produtos da Copa e uso indevido de suas marcas.

O litígio põe na berlinda o presidente do COL, Ricardo Teixeira. O cartola tenta mediar acordo com o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., de quem se reaproximou, já que não tem acesso a Dilma.
O COL corre risco de ter que pagar indenizações à Fifa por descumprir o contrato.
Em meio à disputa, a entidade também usou atrasos em obras de infraestrutura para pressionar o governo.
Em carta a Dilma, o presidente da entidade, Joseph Blatter, reclamou do andamento de obras nas cidades-sedes.(Da Folha de S. Paulo)
A farra e o povo besta

Ao desenvolver pesquisa para redação de artigo acadêmico abordando a Copa do Mundo de 2014 tenho encontrado uma profusão de números delirantes; dinheiro a ser despejado na cornucópia faminta da Fifa. Verbas ad infinitum como se esse país fosse uma arca do tesouro de onde se poderia retirar tudo o que os cartolas do futebol mundial desejam.
http://www.google.com/imgres?q=futebol&hl=pt-BR&safe

E o que é pior, nenhum jornal de peso, nenhuma grande publicação assume atitude editorial criticando essa intentona de desperdício. Todos, desde o mais, digamos assim, qualificado paredro - como eram chamados em priscas eras os cartolas -, até o mais chão dentre os mortais sabem que em vez de estádios caríssimos, deveriam as políticas públicas estar voltadas para questões básicas como saúde, segurança e educação.

Mas, não: o Brasil tem de gastar dinheiro, tem dizer ao mundo que o país é mesmo maluco por futebol. E toma lá o mega-evento, toma lá esse acontecimento ciclópico que somente atenderá aos interesses do grande capital.

Outra coisa: os que integram o ser coletivo a quem chamamos povo - e isso é péssimo -, foi convencido que os jogos serão para ele, povo. Na verdade, poucos terão dinheiro suficiente para comprar um ingresso que seja; nem mesmo poderão ficar nas imediações dos estádios - a Fifa não deixa camelô vender pipoca.

Quando terminar a soma da farra publico aqui o resultado.
Os dentes do CNJ

Julgamento no Supremo dos limites do Conselho Nacional de Justiça será decisivo para manter avanços na transparência do Judiciário

Está na pauta de hoje do Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que vai definir o futuro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Na prática, os ministros do Supremo decidirão se o CNJ tem condições de corresponder à expectativa da sociedade e enfrentar os desvios no Judiciário ou se fará apenas um papel decorativo no jogo de poder da Justiça brasileira.

O Conselho Nacional de Justiça foi criado em 2004, na Reforma do Judiciário, em um momento em que o Poder sofria com as revelações de uma CPI e enfrentava escândalos como o do Fórum Trabalhista de São Paulo, que deu projeção nacional -negativa- ao ex-juiz Nicolau dos Santos Neto.

O CNJ teve um importante efeito moralizador. Desde então, buscou combater a morosidade e a ineficiência da Justiça brasileira, com metas quantificáveis para a análise de processos, e puniu juízes acusados de corrupção e outros desvios éticos.

Peça-chave nesse processo foi a Corregedoria do Conselho, que, sobretudo a partir da gestão do ministro Gilson Dipp, assumiu um papel ativo na condução de processos disciplinares contra juízes. Até agora, 49 magistrados já sofreram algum tipo de sanção.
Refletindo a insatisfação claramente corporativista de tribunais estaduais, incomodados com os processos conduzidos pela Corregedoria, a Associação dos Magistrados do Brasil entrou com ação para limitar os poderes do CNJ.

Se o pedido for aceito, a Corregedoria só poderá analisar suspeitas depois que estiverem esgotadas todas as instâncias de recursos dentro dos próprios tribunais.
A medida seria um golpe fatal para a eficácia do CNJ, uma vez que os órgãos de controle estaduais, muito mais sujeitos a pressões políticas, poderão protelar "ad infinitum" investigações contra os integrantes dessas cortes.

É o direito, garantido pela Constituição, de tomar a iniciativa em investigações de corrupção que tem permitido à Corregedoria do CNJ uma ação inovadora e moralizadora num dos setores mais resistentes à prestação de contas.

A decisão do STF definirá se o Judiciário vai seguir o rumo da abertura e da intolerância com a corrupção ou se transformará o CNJ em um leão sem dentes, incapaz de cumprir sua função. (Editorial da Folha de S. Paulo)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Sindicato dos Médicos do RN enviou o seguinte informe:

Projeto de lei prevê redução do salário dos médicos federais em 50%


Os Servidores Públicos Federais de todo o país foram atropelados pelo Projeto de Lei 2203/2011 que trata do reajuste de diversos setores do funcionalismo.

O PL encaminhado a Câmara dos Deputados no dia 31 de agosto está incluso no planejamento orçamentário para 2012 e prevê mudanças no pagamento dos adicionais de periculosidade e insalubridade do funcionalismo federal, além de reduzir de 50% o vencimento básico dos Médicos do Poder Executivo Federal a partir de julho do próximo ano.
O argumento do governo é de que a crise internacional exige medidas de contenção, e dessa forma penalizam os servidores com um reajuste pífio.
Essa redução do vencimento básico ocorrerá tanto na jornada de trabalho 20 horas semanais quanto na jornada de 40 horas semanais. Segundo o PL haverá um aumento na gratificação de desempenho, mas que não compensa a queda no vencimento básico, resultando na diminuição da remuneração total.
Além desse projeto de lei, o Governo está propondo ainda, a extinção da Lei 9436 de 05 de fevereiro de 1997, (A Lei do Médico), que determina a jornada de trabalho de 20 horas semanais, podendo fazer extensão de jornada para 40 horas semanais, mediante ao vencimento básico dobrado.

O que muda com o PL 2203/2011

Sobre a questão dos adicionais, o governo quer fixar o valor pago em 10%. Contudo o cálculo do percentual será feito em cima do salário base e não mais em cima do vencimento como vinha acontecendo. O que gerará uma considerável redução salarial.
Vejamos o exemplo: Hoje, se um servidor técnico-administrativo tiver direito a adicional de insalubridade de 10%, tendo como salário básico o valor de R$ 3.000,00 receberá R$ 300,00 por conta do adicional.
Caso aprovado o PL 2203/2011, os mesmos 10% serão calculados em cima do vencimento base da categoria que hoje é de R$ 1.034,00. Assim o valor recebido pelo adicional cairá para R$ 103,40.
Com relação a situação dos médicos federais, o governo que refazer o cálculo de pagamento dos profissionais que tem carga horária de 20 e 40 horas, não respeitando acordos firmados anteriormente.

Médicos do estado se articulam

No Rio Grande do Norte mais de 350 médicos vinculados a UFRN e IFRN já tem se movimentado em busca de uma saída para o projeto do governo. Para tanto os médicos do RN criaram uma comissão que deverá conduzir a luta no estado.
Devem ser realizadas passeatas, manifestações, reuniões com parlamentares e até paralisações como forma de dar visibilidade a causa.
Além do Sindicato dos Médicos do RN estão engajados também na luta, o Sindicato Estadual dos Trabalhadores em Ensino Superior (SINTEST) e a Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras (FASUBRA).

domingo, 25 de setembro de 2011


A necessidade do corpo

O corpo sempre foi nosso artefato de vida, objeto de estranhamento e parte de nós. Numa definição de dicionário o substantivo corpo é "coisa material que pode ser percebida pelos sentidos". O Homem, assim, percebe o corpo e nele existe, sendo essa materialidade condição insolúvel dessa vida. É o corpo ou nada.

Existimos com o corpo, parceiro  dessa condição primeira. O homem se percebe dentro do corpo e o corpo é ele. Corpo: o homem mesmo e para o homem ao mesmo tempo. Dividido e indivisível.  

Sujeito e objeto de si, o homem sofre pelo corpo que tem, quando não o aceita como este é e está; ou então se alegra quando o corpo sucumbe aos desígnios da moda, essa efêmera estética de costumes desenhados na prancheta do estilista. Da mesma forma brinda quando o corpo é levado à mesa de corte da cirurgia vaidosa.

Mas quando há doença, esta não escolhe a beleza ou o seu contrário, e então o corpo torna-se o adversário e porto que temos a nosso dispor, ameaça sem fuga possível. Enfrentar isso é também condição da qual não se escapa. Não há como.

Leia a matéria abaixo. Ela é o motivo desse texto.

Por Cristiane Ramalho


Por Pedro Diniz


A alemã Uta Melle decidiu virar musa de ensaios sensuais depois que retirou os dois seios, vítima de um câncer


Poucos dias antes de completar 40 anos, a alemã Uta Melle ganhou um presente de grego. Soube que teria de extirpar os dois seios, por conta de um câncer de mama. Logo veio a dúvida: "Será que vou deixar de ser sexy?". Teve certeza que não ao consultar o marido, um publicitário bem-sucedido que a presenteou com um quadro de uma guerreira amazona que cortara o próprio peito para usar melhor o arco e a flecha. Animada com o desenho, Uta partiu para um projeto singular: fotografar mulheres com histórias semelhantes. 

O trabalho rendeu um livro de arte e a exposição fotográfica "Amazonas". São mulheres nuas, e a ideia é incomodar. A exposição já percorreu três cidades alemãs e pode ser vista até meados de outubro em Viena. Nas fotos, 19 mulheres, entre 30 e muitos e 50 e poucos anos, estão nuas ou seminuas. Muitas, em poses sensuais. Em comum, os sinais da batalha contra a doença: algumas têm um único seio, outras próteses, outras apenas cicatrizes no colo. Como Uta. Publicitária que deixou o mercado, a alemã virou uma espécie de ativista da causa, lutando contra o preconceito e a favor de mais verbas para pesquisa. 

"Aqui, a doença ainda é um tabu. Os alemães não suportam ver cicatrizes nem mutilações. Acham que é sinal de derrota. Trauma de duas guerras mundiais", diz Uta. Ela não conseguiu patrocínio, mas ganhou espaço para a mostra: o Stilwerk, templo de lojas de design. Em Berlim, mais de mil pessoas visitaram a exposição em duas semanas. Mas houve quem não gostasse. Dois homens fizeram questão de ver tudo, só para detonar o projeto para ela. "Eram idiotas. A verdade é que muita gente não quer se confrontar com seu próprio medo", dispara a alemã. O jornal de esquerda "Junge Welt" publicou um artigo dizendo que o livro não fazia uma abordagem séria do assunto. Já o tabloide "Bild", que vende milhões de exemplares por dia e costuma ostentar fotos de mulheres nuas e opulentas na capa, reagiu com simpatia, embora alguns leitores tenham feito comentários pouco gentis.

ANJO TATUADO

No ensaio para a revista "Stern", feito logo depois da cirurgia, Uta aparece vestida de Madonna, de David Bowie e de anjo. Um querubim só com asas, cicatrizes, uma tatuagem na barriga e nada mais. "Um rapaz viu minhas fotos e disse que as achava eróticas. Mas que se sentia um perverso por isso", diverte-se. Com sua beleza andrógina, as fotos bombaram na internet. E ajudaram Uta a recrutar as 18 mulheres para o ensaio fotográfico das amazonas, feito num estúdio em Berlim. O ensaio é clicado por duas fotógrafas alemãs, Esther Haase, profissional com vários trabalhos internacionais, e Jackie Hardt, ex-modelo que passou para o lado de trás das lentes. Nele, as mulheres aparecem vestidas de guerreiras ou em cenas de protestos, com cartazes na rua. Toda essa pose de poder tem um fundo de melancolia.

"É um tema muito delicado, que mistura o medo da morte ao da perda da feminilidade", diz Uta. Ao saber do diagnóstico, suas filhas, hoje com oito e 11 anos, ficaram dois dias sem lhe dirigir a palavra. "Fiquei mal, mas entendi que elas precisavam de um tempo", diz a Uta mãe. Na mesma época, ela resolveu postar no Facebook uma espécie de diário do tratamento, com detalhes da quimioterapia e da operação. Foram mais de 300 fotos, com pequenos comentários. Houve quem aplaudisse. Mas alguns amigos ficaram chocados. Era mais informação do que eles precisavam. Para a alemã, compartilhar seus problemas é como exorcizar demônios. Aos 14 anos, quando descobriu que tinha epilepsia, reuniu amigos na escola e contou o que eles deveriam fazer para ajudá-la em caso de emergência. "Isso me ajudou a evitar o assédio moral. Se é para apontar meus pontos fracos, que seja eu mesma."

NUA NOS LAGOS

Como muitos alemães, ela sempre tomou banho de Sol e mergulhou nua nos lagos. Depois da cirurgia, não mudou o velho hábito. As pessoas reparam, mas Uta não abre mão de se bronzear nua. "As crianças são sempre mais fáceis de lidar. Elas perguntam, eu explico. Mas os adultos reagem de um modo estranho, muitos fingem não ver." Quando ela entra para fazer ginástica, tem gente que disfarça e sai da academia. Apaixonada por esporte, Uta não entende o culto ao corpo. Nem o pudor das brasileiras. Ao visitar as praias do Rio, há uns quatro anos , ficou surpresa com o uso da parte de cima do biquíni. 

"A gente sempre imagina a nudez como algo natural no Brasil. Mas as mulheres aí não mostram o peito", diverte-se, entre um gole e outro do expresso no Café Kollberg, em Prenzlauer Berg, bairro badalado de Berlim onde mora. Sem maquiagem, sorridente, simpática, ela fala sem parar. Mas uma certa palidez na pele denuncia que sua recuperação ainda está em curso. Vestida com uma calça de couro preta e uma blusa de gola rulê colada ao corpo, Uta conta que, no início do tratamento, jogou metade do guarda-roupa fora. Especialmente, os vestidos decotados e as blusinhas marcadas no busto. "Fiquei um tempão procurando meu novo estilo." 

Encontrou. Hoje, compra as peças que usa na seção infantil de grandes magazines. Uta ainda sente saudade dos seios. Mas já resolveu: não vai colocar prótese de jeito algum. Está convencida: ainda pode ser sexy. Ela hoje acha que também pode fazer piada do infurtúnio: "Pelo menos, meus peitos não podem mais cair". Texto anterior: (Da Folha, na Serafina - íntegra)