Ave, sertão brabo do
Pade Ciço;
Ave, cavalo bom de gado
Vi na televisão que hoje é o Dia
do Sertão. A bença a meu Padim Pade Ciço do Juazeiro, a Frei Damião e aos
vaqueiros rezadores, aqueles que curam no rastro. A bença às benzedeiras e à
santas mulheres antigas, aquelas que iam à missa de mantilha, terço na mão, fé
no olhar.
Nasci em Natal, mas me
considero sertanejo de gosto e vontade de ser de lá. Li em Guimarães Rosa que o
sertão é uma grande espera.
Mas ele não se referia ao sertão do Nordeste, virava-se
a outra instância do sertão: a vastidão do campo largo, batido de vento e percorrido
pela vida dos agrestes que por lá moravam no tempo que ele cifrou em seu livro
famoso. Era um outro sertão, não o nosso; não tinha seca nem vaqueiro encourado.
Mas também é bonito e dele me apego.
Nosso sertão tem a brabeza das
coisas que não têm pena de gente: pedras e calor sem dó. Mas quando chega chuva
criadeira o sertão vira um mar, um mar que só o sertanejo entende em sua alma de
bicho de Deus.
Ave sertão, ave Maria, ave rezadeiras e o bicho lobisomem; ave
cavalos bons de gado.