sábado, 31 de agosto de 2013

Meu aeroplano, a África e a sabedoria de um soba

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Meu aeroplano, a África e os ensinamentos de um soba
Emanoel Barreto

Não sei se já lhe contei, mas tenho um aeroplano. Um biplano, que uso costumeiramente para atavessar o Atlântico e chegar à costa da África onde, com habilidade e um pouco de esforço, muitas vezes medo e um laivo de irresponsabilidade, aterrisso na praia - apesar de ser aquele tipo de pista totalmente irrecomendável às pessoas de bom senso, o que não é o meu caso. Tanto que faço tais e insólitas proezas. Desnecessárias, porém essenciais ao meu paradoxal pensamento aeronáutico.  

Outras tantas cruzo longitudinalmente o continente e atiro-me à costa mais oriental, chegando muitas vezes à Somália, país perigosíssimo, uma vez que ali praticamente inexiste essa instituição a que chamamos Estado, e piratas e outros quejandos podem ser encontrados pelas praias, aprestados a apresar navios. Não poucas vezes tive que arremeter, ante a iminência de ataques de tais turbas.

Mas, quando fixo-me em praias ocidentais daquele belo e sofrido continente tenho especial preferência por Angola ou Senegal. 


 E fico ali; e nas praias podem surgir elefantes desgarrados, leões que lutam inutilmente contra as ondas e horrendos crocodilos marinhos, em visão terrível e chocantemente bela. Tais bestas, creio, deveriam estar na Austrália, mas, não sei porquê, aparecem por terras d'África quando estou por lá.

Certa vez me apareceu um soba, na costa sul da Angola, e nos contou os segredos do mundo, esses segredos que somente podem ser encontrados nos mistérios das florestas. Era noite. E, após saber de todas e tão grandes sabenças, das quais a rigor não entendi nada, atirei-me a voar na noite: à luz do mar e ao som do céu profundo. 


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Ao trabalhar em minha tipografia sou procurado por elegantes animais. Leia a seguir

De como o 11 de setembro estava previsto desde 1799

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Estava eu ocupado, e mui, em trabalhos tipográficos --que tipógrafo o sou -- quando se me apresentam à casa onde moro dois elegantes cidadãos: um elegante e bem postado orangotango; fidalgo, logo o vi, e um sisudo grou, tambem ele homem de grandes ascendências e preclaros ancestrais. 

Trabalhava eu na preparação de éditos me encomendados por monarca de ilha distante e ignota, senhor de selvas e ondas de mar turquesa. Como sabeis, sou tipógrafo. Arte que aprendi com o Mestre de Mogúncia, idos de 1450.

Queria tal graúdo personagem comunicar a seus súditos que ninguém deveria ler os tais éditos, uma vez que tratavam das terríveis coisas do mundo como guerras, pestilências, corrupção dos costumes e outras debacles, a fim de que aquele honesto e ingênuo povo não se abalançasse a buscar tais e tremendos sucessos. Naquela ilha imperavam a mansidão e a concórdia e assim, queria o monarca, tudo deveria permanecer. 

Devo dizer que neste momento encontro-me em pleno ano de 1799, quase adentrando, como se nota, o Século XIX. Devo dizer que espero mui desse século, cujos albores, parece, encaminharão a humanidade a patamar mais elevado. Mas, voltemos aos dois senhores. Parei o trabalho e fui atendê-los.

Após as apresentações de praxe disseram a que tinham vindo: queriam que eu preparasse jornal - um jornal mágico logo descobri - onde se publicariam todos os infortúnios do mundo. Tudo o que fosse se tornar fato e realidade. Se isso fosse feito, asseguraram-me, e o jornal destruído em fogo de fogueira feita com madeira do monte Olimpo todos os males seriam retirados da Terra, e o século vindouro e todos os demais seriam plenos de idades fabulosas, eras magníficas e grandes ocorrências, chegando a humanidade a seu destino e fado: de bem viver feliz, até até. O jornal purgaria por antecipação os males que viriam a se pôr.

Disse-lhes que era apenas um gráfico, um dono de tipografia, não tendo acesso aos dons de Merlin. Não, rebateram, eu não precisaria prever a vida do mundo. Apenas anotar e fazer publicar em jornal tudo o que me dissesse bela e dramática pitonisa a quem fizeram chamar - e  logo adentrou à minha casa, envolta em volutas espessas, enignática dama. Fiz-lhe profunda reverência, a mulher entrou em transe a logo passou a prever o que iria o mundo viver e sofrer a partir do Século vindouro e daí em diante. 

Ao iniciar-se meu trabalho os grandes senhores retiraram-se, não sem antes me advertir: ninguém, ninguém poderia ler o jornal, que seria levado à fogueira olimpiana isento de olhar de homem. Assenti com a cabeça e eles saíram. A tudo o que a mulher dizia, minha mão, trêmula, anotava. Eram horrores demais, temores demais, cataclismas intensos, tragédias incontáveis, explosões e armas inacreditáveis. Datas e líderes explodiam às palavras da vidente. 

Percebi que minha missão era também algo terrível: tinha ali, literalmente, os destinos do mundo, da vida, de tudo. Caso aquela missão tivesse bons frutos um simples tipógrafo gutemberguiano mudaria a repetiviva estrada da história: guerras e horrores liderados por loucos crentes em sua própria loucura, aqui e no ignoto Oriente.

http://www.google.com.br/imgres?q=11+de+setembro&hl=pt-BR&safe


A mulher não parava de prognosticar, vaticinar, profetizar e adivinhar, até que o mundo chegou a final de Apocalipse, com o acionamento de arma tão tremenda que é difícil crer que algo assim possa ser criado pela mente humana e usada por mão carrasca. Após terminar, três dias depois os seu trabalhos, exausta e branca, a pitonisa foi levada por um cortejo de aias que a amparavam, desaparecendo e meio a brumas.


Mal parei: refiz-me também da minha luta e corri à oficina, onde tipos preciosos, manejados por Gutemberg em pessoa me esperavam para o próximo passo. Trabalhei sozinho durante dias. Dispensara todos os auxiliares: o jornal não podia ser lido. Ao fim e ao cabo de toda a travessia mandei que mordomo fosse convidar os dois senhores - o jornal estava pronto.


Impresso em papel de grande qualidade, ilustrado com imagens desenhadas à perfeição e textos de grande poder narrativo e descritivo, aquela obra era algo preciosíssimo. Lacrei-a em enorme envelope, entregando-a absolutamente fechada ao grou e ao orangotango. Não nos falamos. Ato contínuo, dirigiram-se eles a um outeiro onde já estava pronta a fogueira do Olimpo. Vetustos e sérios seguiram em sua carruagem. Nunca mais os vi.


Passou-se o tempo e, de lá para acá, vi, li e escrevi a respeito de grandes males e enormes ocorrências e dores profundas. Duas Grandes Guerras, revoluções e destroços. Duas bombas atômicas. Tudo isso fora previsto pela pitonisa. Minha compreensão terminou por ensinar-me algo que recusava a acreditar: algo havia dado errado com os respeitáveis grou e orangotango. Algum miserável acontecimento os havia colhido, impedindo que o mundo seja hoje um local digno e aprazível.


A minha suspeita de que algo ocorrera àqueles dois senhores foi confirmada: os honoráveis homens voltaram à minha casa e, como naquele dia distante, estava eu na oficina. 
Foram trazidos à minha presença e contaram, olhos injetados de angústia: o jornal fora lido! Lido minutos antes de ser levado à fogueira. 

Como assim?, quis saber. Muito simples: para ser queimado o jornal teve que ser retirado do envelope. Nesse instante o lacaio que o levava às mãos dos seus mestres pousou os olhos na manchete, caindo fulminado por um colapso, tão horrenda era a notícia. Outros acorreram a ele e entraram em pânico. Enlouquecidos, puseram-se a correr gritando ao mundo o que aconteceria. Formou-se multidão e o jornal foi lido a todos, que se puseram a gritar. Em meio a isso acusaram o grou e o orangotango de feitiçaria e atos cabalísticos. Eles conseguiram fugir e ao longe viram acesa a fogueira e queimado o jornal, mas era tarde: o mundo continuaria a trilhar sua senda enternamente - até que venha o último artefato.


PS: os dignos senhores ainda estão em minha casa. De repente pediram que eu ligue a televisão. Hoje é 11 de setembro.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Assessoria de Comunicação do CCHLA: pedido de desculpas

Acabo de receber pedido de desculpas da Assessoria de Comunicação do CCHLA. Segue a íntegra assinada por
Flávio Rezende, um profissional digno de respeito:


PEDIDO DE DESCULPAS AO
PROFESSOR EMANOEL BARRETO


A Assessoria de Comunicação do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN vem a público esclarecer o equívoco a que foi submetido o professor Emanoel Barreto (DECOM).

O texto do convite, enviado pela secretaria do CCHLA a todos os
professores, estudantes e técnico-administrativos, via *sig-admin*, foi
formulado por esta assessoria a partir do texto do memorando encaminhado aos grupos convidados para compor a mesa de debate, dando ao convite geral um certo tom pessoal.

Os problemas decorrentes de um texto inadequadamente trabalhado
provocaram mal-estar e assumo total responsabilidade, renovando perdão a todos que foram atingidos por meu ato.


Flávio Rezende
Assessoria de Comunicação do CCHLA

Quando a mesa não é redonda

Não vou me calar

Caros amigos,


Foto: Assessoria do CCHLA
Venho relatando aos longos dos meus quase 40 anos de jornalismo as coisas de jornal. Não posso deixar de relatar um fato ocorrido comigo, visto que foi uma tentativa pública de humilhação.

Ontem o CCHLA promoveu uma mesa redonda: Universidade, Gênero e Movimentos, que objetivamente tratava da ocupação de um banheiro no setor II. Fui convidado a compor a mesa, por e-mail, pelo próprio CCHLA.

Qual não foi minha surpresa: chegando ao evento quando, dirigindo-me ao diretor do Centro, mediador do debate este perguntou-me que entidade eu representava. Respondi que estava ali a convite.

Senti claramente um tratamento de certa rispidez. Mantive a serenidade e ocupei meu lugar à mesa. O professor deu a palavra a todos os participantes da mesa e ignorou-me por completo. Depois abriu ao debate com o público, quando cinco pessoas se inscreveram e falaram.

Afinal, percebendo que a indelicadeza chegava às raias do desrespeito, pedi a palavra anunciei claro e alto que estava ali a convite.

O professor Herculano reagiu e afirmou que eu não representava qualquer entidade nem fora convidado. Diante da clara tentativa de desmoralização mantive o ânimo de minhas palavras, reafirmei que viera para contribuir. Na oportunidade fiz convite a que representantes do coletivo compareçam segunda-feira próxima ao programa Grandes Temas, que apresento na TVU, às 20h, para ser entrevistados.

Em notícia divulgada pós-evento pela assessoria do CCHLA aparece meu nome como se eu fora ali somente para fazer um convite ao coletivo. 

Refletindo, me pergunto: o convite veio errado, Não sei? Quero dizer, fiquei sabendo pela forma que fui recebido.  Se era só para eu só assistir, foi mal redigido. 

Talvez teremos que voltar à época do carimbo, assinatura reconhecida em cartório e RSVP, e não essas mensagens por e-mail que já vem avisando: "por favor, não responda"

E, como dizia o e-mail: "Por favor, não responda".

Abaixo, na íntegra, o convite que recebi por e-mail. Fica claríssimo o convite a fazer parte da mesa. Leia:

CCHLA promove mesa redonda sobre Universidade, Gênero e Movimentos
Sociais--------------------------------------------

  Sexta, 23 de agosto de  2013
  O Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do
  Rio Grande do Norte vem, por meio deste, convidá-lo para participar da
  mesa redonda
sobre Universidade, Gênero e Movimentos Sociais, junto com a
  Profa Nara Graça Salles, Coordenadora do Cruor Arte Contemporânea, a
  Profa. Berenice Bento, Coordenadora do Núcleo Indisciplinar Tirésias, o
  Sr. Daniel Menezes, representante do site Carta Potiguar, e ao
  representante do Coletivo que ocupa o banheiro masculino do bloco G do
  Setor II de aulas, a se realizar no Auditório B, na próxima segunda-feira,
  26 de agosto, a partir das 16 horas. A mesa redonda terá a mediação do
  professor Herculano Ricardo Campos, Diretor do CCHLA.
  Certos de contar com a sua presença, desde já
  agradecemos.
  Assessoria de Comunicação do CCHLA