sábado, 21 de setembro de 2013

Este texto é republicado dada a situação das coisas neste país.

Trouxe a muriçoca?
https://www.google.com.br/search?q=mosquiro%20muci%C3%A7oca&oe

 Era uma vez Brasileiro. Quando foi um dia, Brasileiro, sem saber como, estava numa fila enorme. Perguntava a um e a outro por que estava ali. E a resposta era essa: "Não sei. Eu  estou nessa fila e também não sei porquê." 

Nisso chegou um funcionário que trazia no peito um crachá, que informava qual o órgão público onde ele trabalhava: Instituto das Instituições Instituídas para Instituir novas Instituições e Cobrança de Taxas e Emolumentos, Tributos, Contribuições de Melhoria, Propinas e Etc...".

Brasileiro dirigiu-se a ele: "Senhor, posso saber o que faço nesta fila?"
O funcionário respondeu: "Não sei. O senhor vai ter que pegar uma ficha para se informar. Vá até aquele guichê, para receber a sua ficha."
Brasileiro: "Obrigado."

Foi ao guichê, esperou em outra fila e afinal foi atendido.
"Ficha?", disse o funcionário.
"Ficha", respondeu Brasileiro.
Então, o funcionário perguntou: "Trouxe muriçoca?"
Brasileiro quase cai para trás e quis saber: "Muriçoca? Pra que muriçoca?"

A resposta: "Aqui só tira ficha quem traz uma muriçoca. Se não trouxe, vá para aquela fila. Lá, eles dão fichas que dão direito a uma muriçoca. Você vai ao Criatório Nacional de Muriçocas, apresenta a ficha, eles lhe dão a muriçoca, você volta aqui, pega nova ficha para eu atendê-lo novamente, eu lhe dou uma ficha e depois você vai para outra fila. Será atendido por outro funcionário e ele vai informar porque você está na fila."
Brasileiro dirigiu-se à fila para pegar a ficha de atendimento no Criatório Nacional de Muriçocas. Depois de muito esperar, recebeu a ficha de número 900.000.000.000.890.000.789.982.000.000.000.777.663.000.444. 000.767.980.765.000.000.123.456.789.3334-687.987.987.095.876.456.4329.899.999.
678.543.765.900.888.076.776 etc e tal, pá-pá-pá, não sei o quê.

Quando Brasileiro viu a ficha, sentiu que estava numa enrascada. Não tinha a menor idéia do motivo por que estava ali, ninguém sabia informar nada e ele ainda tinha que pegar fichas e mais fichas. 

Resolveu sair e ir para casa. Quando um guarda notou que ele estava saindo, disse: "Vai sair?" 

Brasileiro respondeu: "Vou, não aguento mais ficar aqui e vou embora."
O guarda foi curto e grosso: "Pode não. Depois de entrar aqui, só sai depois de atendido. Volte já para a fila, para pegar a ficha da muriçoca."

Brasileiro argumentou: "Mas, quando eu vou ser atendido? Já viu o número da minha ficha?" E mostrou o papel com o absurdo número ao guarda.

O sujeito fez uma cara de espanto; "Óóóóóóóóó." Então, chamou Brasileiro a um canto e disse: "Negócio seguinte. Eu posso dar um jeitinho..."
"Pode?", perguntou Brasileiro quase feliz.
"Posso", garantiu o outro. "Mas precisa rolar uma merreca. Sacomé, né?"
"Seicomé", disse Brasileiro. "E quanté?" 

Era pouco garantiu o guarda. Por um salário mínimo ele daria a Brasileiro uma muriçoca e ele poderia afinal saber porque estava ali, depois de cumpridas as demais formalidades, claro. O guarda facilitou: aceitava cheque. Brasileiro nem pensou duas vezes: passou um cheque sem fundos ao guarda. Poucos minutos depois estava com uma linda muriçoca num belo e transparente frasco. O guarda era contrabandista de muriçocas.

Em seguida Brasileiro encaminhou-se ao funcionário encarregado de receber as muriçocas. Chegando lá, o homem disse: "Adianta não. Tá faltando um carimbo que eles dão na asa direita da muriçoca, atestando a procedência. Além disso, tá faltando duas meias, um pedaço de pneu de caminhão e três palitos de fósforo, para fazer juntada ao processo."

Brasileiro deu um grito de desespero e quis fugir para outro país. Quando já ia pulando a cerca que dava para outro país, o mesmo guarda da muriçoca pulou em cima dele e disse. "Teje preso. Pra fugir, também tem que pegar ficha... Somente saiu daqui depois que os home deram ficha a ele..."

Brasileiro então, implorou: "Posso ao menos me suicidar?"
O guarda: "Tá difícil. O país é pobre e só tem um revólver público para suicídios. E mesmo assim tá faltando bala. Pegue aquela fila ali e..."

Brasileiro nem esperou: caiu seco ali mesmo, mas não foi enterrado porque não tinha tirado ficha para morte... A família entrou com um processo pedindo direito a enterro mas os juízes estão em greve...

---Falando nisso... você tirou ficha para ler este texto?


Uma estranha viagem em um mundo de papel



Um voo de aeroplano ou um mergulho em Atlântida
Como cansei de escrever usando teclado de computador, e como minha máquina de escrever está com problemas para rebobinar a fita passo a redigir da maneira mais antiga: à mão. E que fique claro: essa não é minha letra verdadeira, que é péssima. Para escrever com a clareza que você está vendo usei de toda a minha força de vontade a fim de que o grafos fosse legível, elegante, bondoso com o seu olhar, ok? 

Neste sábado matinal, quase início de tarde, gostaria de estar em meu biplano sobrevoando praias distantes, paisagens com algo de mistério, quem sabe alguma selva ainda habitada por animais por conhecer; feras, felinos jamais vistos por olho humano.

Também poderia ser, em vez do voo, um mergulho no mar-oceano em busca de Atlântida. Sempre pensei em chegar a Atlântida, seus mistérios literalmente profundo, as colunas de seus templos, casas, palácios, construções imensas... Mas o que tenho é mesmo esta folha de papel, minha caneta e a vontade de escrever. E, com ela, vou voando: rasante, passando a você estas impressões e querendo mergulhar no papel para ver o que se esconde no infinito de uma lauda em branco.

Um abraço, que agora vou mergulhar. Quando voltar conto o que descobri. De início, tenha uma certeza: a lauda sem texto é mesmo um mar. E, para quem sabe, é realmente um mundo, uma Atlântida onde podemos mergulhar, deitar no chão do mar, prender a respiração e ficar lá. Horas e horas; o tempo que nossa eternidade criada em papel possa nos permitir.
Um abraço, já estou quase chegando em Atlântida.

Saudações,
Emanoel Barreto

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Zooastrologia: veja se você é esquiliano ou esquiliana



     Zooróscopo
https://www.google.com.br/search?q=esquilo&client=firefox-a&hs


ESQUILO - Veja bem como são os de Esquilo. São pessoas rapidíssimas, parecendo sempre aflitas, desesperadas, permanentemente com algum problema insolúvel. 

Choram por tudo, torcem as mãozinhas e desesperam-se facilmente. A ansiedade é seu permanente mal. Especialmente quando são obrigadas a conviver com os de Lacrau, truculentos que só eles. 

Se você é de Esquilo, jamais ingresse na política. Não terá estômago nem nervos para isso. Mas será um excelente entregador de pizza. Se conseguir frear a moto.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Filosofia, pura filosofia

Al Caparra, o gangster chic

Veja que perigo já corremos antes mesmo da próxima eleição



Os planos loucos de um futuro deputado

Fui procurado ontem por um tipo que se dizia disposto a candidatar-se a deputado estadual na próxima eleição. Estava eu em minha oficina de tipografia quando sou informado de sua presença. Disse-me a que veio e, ante minha surpresa, pois jamais pensara que alguém assim viria a meu encontro, mostrou-me sua “lista de intentos públicos”, o que foi suficiente para saber de antemão que o sujeito já pode se considerar eleito[1].

Eis o que dizia o documento que me chegou às mãos:
1.      Assumo o compromisso de permitir que todos tenham direito a respirar;
2.     Para isso pagarão preços módicos os que tiverem salário-mínimo como remuneração;

3.     Farei a inauguração de escombros e outras ruínas, a fim de que sejam transformados em atração turística;

4.     Importarei, da mesma forma, ruínas e lixo de países distantes e exóticos a fim de que tais espólios venham a ser inseridos em nosso patrimônio histórico; 

5.     Estimularei a implantação de empresas construtoras de buracos;

6.     Implantarei o Plano Nacional de Ordenha de Abelhas e Centopeias;

7.      As cobras e os ratos passarão à condição de insetos. E os insetos passarão à condição de cobras e ratos. Creio que isso abrirá um novo campo à ciência e haverá grandes progressos em nosso país;

8.     Haverá estímulo especial a um novo esporte que farei popularizar: corrida de carros fúnebres. Será evento de grande atratividade turística. 

9.     Destruirei todos os monumentos históricos e em seu lugar serão erguidos buracos ao contrário, buracos no ar, efetivamente uma grande iniciativa;

10. Mandarei derrubar a Arena das Dunas e em seu lugar será construída uma nova Arena das Dunas, em tudo semelhante à anterior. É muito importante preservar a memória histórica;
11.   Instituirei a figura do aleijado suplementar. Ainda não sei o que isso significa, mas minha assessoria já desenvolve altos estudos a fim de determinar o que isso venha a ser;

12. Afinal, criarei para mim um mandato eterno, transmissível como herança a meu filho, ao filho do meu filho, ao filho do filho do meu filho, etc... etc... etc... e instalarei meu gabinete em ambiente livre de gravidade. Não gosto de qualquer coisa que lembre gravidade, seriedade, trabalho;

13.  Espero que todos sejam otários. E que, acima de tudo, votem em mim.

Após receber o terrível documento fiquei seriamente preocupado. Ainda tentei chamar a polícia, mas o homem escapou, gritando: “Nada tente. Ninguém pode impedir a marcha da História.”

Só me restou chorar. E preparar este relato.




[1][1]