sábado, 21 de dezembro de 2013

Extra! Minha incrível entrevista com o ano de 2013



Saiba tudo sobre este estranho relato:
Ano de 2013 quer reencarnar no ano de 2014

Se V. costuma ler este coranto deve saber que sou tipógrafo de profissão. E que à minha oficina comparecem os tipos mais estranhos e inesperados. Veja só: ursos vêm falar-me a respeito de grandes problemas internacionais, hienas comentam a respeito de ópera e literatura, cavalos falam sobre graves questões existenciais.
Todos esses bichos são, sem dúvida, seres humanos do mais alto quilate. E a todos trato com atenção. Se V. pesquisar meus arquivos lerá a respeito de tais e requintados seres. 
http://www.infoescola.com/historia/fortalezas-militares/
Pois bem; ontem quem esteve na minha tipografia foi o ano de 2013. Sim, o ano de 2013 em pessoa, já pensou? Vinha falar sobre seus planos para o futuro. Estranhei, pois pensava que os anos, ao fim do seu tempo, simplesmente desapareciam, esvaneciam-se nas brumas de um tempo maior e mais antigo, o tempo da eternidade, o tempo sem tempo, o tempo estático. 

− Não – ele me disse – os anos são como as pessoas; têm essência e consistência. Veja só: cada ano é único e irrepetível. Tem cara própria, personalidade bem sua, tragédias únicas e felicidades exclusivas. Assim, quando um ano cumpre seu período, vai reunir-se a outros anos mais sábios e anciães. E com eles dialoga tentando passar ao ano novo sabedoria e experiência. 

− E o ano novo aceita os conselhos? – quis saber.
− Nunca – 2013 afiançou.

− E o que vocês fazem. Há alguma punição? – perguntei, enquanto compunha um título manualmente.

− Não podemos fazer nada. A Lei dos Anos não permite. Ela nos obriga a voto de silêncio sempre que o ano novo não quiser ouvir os mais velhos. Ou seja: podemos falar uma vez. Mas, repelidos, temos que nos calar.

Virei-me para 2013, já um velho respeitável, e indaguei:
− E o Sr., aceitou os bons conselhos quanto era um ano novo?
− Jamais – admitiu, sentando-se próximo a mim.
− E quais foram seus piores erros?

Ele respondeu: no mundo foram milhares, milhões de erros: − Deixei haver guerras de barbárie inominável, exploradores do povo continuaram com a sua terrível tarefa, houve bombas e massacres. 

− E em Natal?  O   que o Sr. Deixou acontecer? – foi a minha curiosidade em seguida.

Eis a resposta: − Peço perdão ao povo de Natal e do Rio Grande do Norte por haver permitido que fosse levada adiante a construção do novo campo de futebol que políticos insanos chamam de Arena das Dunas; peço perdão por haver deixado que o Hospital Walfredo Gurgel seja quase um campo de concentração, onde os médicos não têm condições de trabalhar; peço perdão pelos corruptos que não foram presos. 

Quis eu então saber: − Como os anos podem influir nos destinos da história?

Ele respondeu: − Por algum motivo mágico os anos têm esse poder. Conduzimos a inteligência dos cientistas na cura das doenças e os grandes artistas nas artes. Eu poderia ter impedido a construção da Arena das Dunas, levando a que o dinheiro fosse empregado numa coisa digna e útil. 

− E por que não o fez? – era agora a minha curiosidade.

E 2013, cabisbaixo e compungido, confessou:
− Fui subornado para não fazer coisas boas.

− Como assim, subornado? – eu estava perplexo.

Ele respondeu: − Um grupo de políticos procurou-me prometendo a imortalidade anual. Eu seria, segundo disseram, um ano eterno. Iriam promulgar uma lei tornando-me um ano sem fim. Acreditei e deixei que as obras daquela maléfica, sórdida e reluzente obra fossem levadas adiante.

−E deu certo? Você será o ano eterno, o ano sem fim?

− Não. Os políticos me enganaram. Quando o dinheiro jorrou sobre o maldito estádio eles tiraram a lei de votação com pedido de urgência urgentíssima e agora vou acabar, tornando-me um ano como os outros. 

− Mas – eu completei – você me disse no começo deste texto que que tinha vindo falar de seus planos para o futuro. Quais são esses planos?

− Ótimos planos. E envolvem novamente os políticos.
− Quais são esses planos?

− Seguinte: ontem mesmo um político me garantiu que fará uma lei para que eu reencarne em 2014. 

−É mesmo?

− Sim. Desde que eu providencie para Natal a reforma e ampliação do Forte dos Reis Magos, a demolição da Igreja do Galo para a construção de um grande edifício bem como um terremoto para destruir Ponta Negra a fim de que sejam feitos novos aterramentos a preços espaciais. Vai ser tudo superfaturado e...

Não deixei que ele terminasse de falar. Diante de tamanha e tão trágica ameaça muni-me de uma pesada acha de lenha e expulsei 2013 da minha tipografia.Ele correu, foi recolhido por um misterioso carro preto com placa branca e agora estou com medo de que venha mesmo a reencarnar em 2014.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Safadeza e política



Se gritar pega ladrão...

A pequena política, aquela com aspectos paroquiais, com jeito de briga pelo cargo de noiteiro de festa de interior, parece haver dominado a cena nacional. PT e PSDB parecem disputar quem mais tem munição para atacar o outro, cada um tentando mostrar que seu oponente é o que há de pior no mundo. 
 
Cartum - Jorge Nobre
De lado a lado surgem provas, incriminações, acontecimentos espetaculosos como prisão de mensaleiros e captura de helicóptero abarrotado de cocaína e pertencente a político ligado ao PSDB. Tudo para impressionar o povo. A quem, ainda no terreno da pequena política, mas aqui usada como arma de grande política foi impingida a construção de estádios milionários sob alegação de que após a Copa seremos mais felizes. O legado da Copa... é isso...

E tudo se passa como num processo de eterno retorno: o povo como sujeito sucumbido, os próceres políticos – horrível esse nome, não? – enquanto os debates nacionais têm como foco denúncias de lado a lado. 

Ao que parece, a prática política passa àquele ser coletivo a que se dá o nome de povo a sensação de que fazer política é isso mesmo: trocar acusações que resvalam ao desaforo; chamar o outro de corrupto quando seu próprio lado não é assim tão limpo; desviar as atenções de grandes projetos nacionais para discutir quem é mais ladrão. 

Esquecem os políticos que, esquecendo qual seu verdadeiro papel, em favor da troca de acusações o eleitorado pode chegar à seguinte conclusão: “Se gritar ‘pega ladrão’ não fica um, meu irmão...”