sábado, 12 de julho de 2014

Futebol como arte e guerra, beleza e luta



O trágico e o belo da Copa; a grandeza e a queda na vida

O desenrolar catastrófico da Copa para o Brasil, aliado ao fato de que, mesmo sem sentido algum haverá a disputa por um infrutífero terceiro lugar, levam-me a analisar aqui o megaevento a partir da compreensão de que não é apenas um fato esportivo.  Prefiro colocá-lo no plano da tragicidade histórica, funcionando como parábola do mundo que de alguma forma a Copa representa.
http://globoesporte.globo.com/jogo/copa-do-mundo-2014/17-06-2014/brasil-mexico.html

Vemos na Copa do Mundo, dentre outras coisas, a simulação de uma guerra, a mesma guerra cotidiana e implacável do dia a dia, da luta pela sobrevivência, do enfrentamento de pequenos horrores, dos dilemas rotineiros, das pressões e perplexidades, fracassos e vitórias de ocasião que tanto nos ufanam. 

Depois da derrota mais horrenda ou da vitória mais olimpiana – tudo passa. 

Sinto a Copa como um processo que valoriza a exclusão, o sucesso mediante o empurra-empurra, o sai pra lá que esse lugar é meu, o tenho de ganhar de qualquer jeito vem o é preciso que alguém seja o vencedor, ou inversamente: é preciso que alguém seja o perdedor, o desgraçado, aquele que ficou para trás por efeito de sua própria inépcia  - e viva em público a humilhação, o desterro.

Dá também para notar, em meio aos micro acontecimentos dos jogos, a replicação de fatos da vida fora do campo. No gramado também são encontrados os medíocres, os insatisfeitos, os desequilibrados dando vasão a seus, será que posso dizer instintos? Digamos que sim, que são instintos, só para facilitar a compreensão.  

Vejamos: será que no seu dia a dia você nunca foi mordido por alguém que inveja seu talento? Ou se seu desempenho é sensacional, jamais lhe ocorreu a agressão safada do colega sem brilho, atacando-o por trás, traiçoeiramente? Vimos isso também na Copa: o jogador uruguaio hidrófobo mordendo o italiano; e seu similar colombiano, atleta no máximo mediano, agredindo o olímpico Neymar. No jogo, como elemento simbólico a realidade truculenta, covarde, também está presente de forma crua. 

Mas, da mesma forma como pude notar aspectos dramáticos em seu sentido competitivo-destrutivo, vejo também outra faceta existencial representada na Copa: os momentos de heroísmo, a doação, o cansaço resistente, a coragem dos que sabem que não podem vencer mas mesmo assim lutam até o último minuto. São eles os que suportam os momentos finais dos acréscimos, enfrentam os instantes enervantes da prorrogação e partem para o derradeiro pênalti, afinal batido e perdido.

Logo após vem o desalento. Mas, ao longo do processo, o jogador reintegrado à vida, virá, necessariamente virá, a compreensão de que tudo passou. Foi só um jogo. 

A Copa é isso que eu disse mas também é muito mais. O acontecimento é monumental, é complexo e traz agregado a si outra complexidade, a complexidade de cada partida. Temos no grandioso evento a convergência de aspectos ideológicos, políticos, sociológicos, antropológicos, teatrais, bélicos, estéticos, poéticos. Pelo menos foram esses os que me ocorreram agora. Cada um interligado aos demais de alguma forma e, também de alguma forma, se interinfluenciando em suas múltiplas variáveis dependentes, independentes, interdependentes. 

A Copa é um microcosmo da vida e por estar na vida é também parte dela. Está para acabar, mas não vai acabar. Renascerá daqui a quatro anos com todas as suas mazelas e grandezas, esplendor e queda, assim como a vida renasce todos os dias com seus fracassos e medos, arroubo e vitórias. Ave Baco! Evoé, Vida!
 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Feitiçaria, uma sogra terrível e o estranho final de uma aventura




Estranha história do Brasil ou de como uma bruxa me salvou

http://detudoemaisumpouco-fioradianew.blogspot.com.br/2009/02/mitologia-dragoes




O ano era 1402 e eu caminhava por estrada perdida em um grotão quando sou assediado por homem que me pede para ajudá-lo a se livrar de sua sogra mediante o "uso de minhas artes mágicas". 
Tomado de susto, recuei, explicando que não sou douto em tais procedimentos, sequer domino qualquer arte, até mesmo as menores e mais fugazes.
O homem não me deu crédito, dizendo que em aquela região todos me têm como "grande mago e alquimista" e assim deveria eu contribuir para livrar o mundo da terrível virago, deixando-o, ao mesmo tempo, fagueiro e feliz.





Disse isso e deu um grito: logo formidável multidão se achegou e começou a aclamar-me como "feiticeiro digno de crédito e "grande homem das almas". Tiraram-me de sobre o cavalo e fui levado numa espécie de andor até o sopé de um monte. Ali, me foi dito, deveria eu promover "inominável feitiço" para acabar com a vida da pavorosa sogra. 

Perguntei por que aquela mulher era tão odiada, mas não tive tempo para ouvir a resposta: saindo de dentro da mata próxima uma mulher aproximou-se, mulher que a todos infundiu pavor, menos a mim: era uma bela jovem em quem todos começaram a atirar pedras.

 E me foi dito que aquela era a sogra. Sem compreender aquele gesto, ante dama tão gentil pedi calma. Mulher que tal jamais poderia encarnar um desses seres terríveis que são as sogras. Mas a multidão recrudesceu e continuou o ataque.

Diante disso a mulher começou a se transformar. Tornou-se de aspecto terrível, olhos vermelhos, roupas andrajosas, dedos de unhas pontiagudas, cabelos desgrenhados. Em pouco tempo pôs por terra a muitos dos que a atacavam. Dominado pelo pânico, chamei a multidão à fuga e todos nos pusemos a correr. 

 Depois de grande correria chegamos a lugar bem distante e a multidão, assim, voltou-se contra mim. Disseram que eu, como feiticeiro, havia falhado e agora seria punido. Insisti em que nunca havia sido bruxo. Mas alguém apareceu, dizendo que já havia me encomendado feitiçaria para matar um padre e havia obtido sucesso estrondoso. Desta forma decidiram que eu deveria mesmo ser punido. 

Bem depressa prepararam uma fogueira e as chamas começavam a subir, eu amarrado no poste em meio à lenha, quando a bruxa apareceu montada em sua vassoura. Não sei porquê, mas, rápida como um raio, arrebatou-me das chamas e atirou-se para cima. Voamos muito até chegarmos à lua. Lá encontramos como São Jorge e o dragão, que tinham feito as pazes. Assim a bruxa, eu, São Jorge e o dragão iniciamos grande viagem juntos.

Voltamos para a Terra e, aqui chegando, fomos às plagas onde a multidão havia tentado me matar. E implantamos um tal terror que todos se tornaram nossos súditos. Ninguém queria enfrentar o dragão e sua boca de fogo. E foi assim, em meio a essa confusão, que surgiu Portugal, cujos habitantes não tendo o que fazer inventaram de descobrir o Brasil e as coisas estão como estão. Pronto. É isso.