A polícia
midiática versus o garboso meliante
As constantes
e espetaculosas operações da Polícia Federal no Brasil nos dão de alguma forma uma
visão do que seja este país: algo que deveria ser apenas o cumprimento do dever
legal é transformado em ação de mocinho, ato de heroísmo cívico.
A questão
também pode ser vista assim: a corrupção está tão entranhada em nossas práticas
que, quando um bandido de luxo é preso a polícia quer surgir como merecedora de
honras e vivas pois capturou alguém que vivia na impunidade, usurpando dinheiro que deveria ser usado em função social.
Digo
que as ações são espetaculosas porque, ao ser deflagradas, já vêm com nome e
marca para uso de mídia. Os jornalistas sabemos que, de tanto conviver com o noticiário
e sabendo o impacto de agendamento que este implica junto à opinião pública, a
fonte passa antecipadamente a adotar atitudes que se encaixam nos nossos
padrões noticiosos.
Como historicamente
a imprensa costuma dar nomes a acontecimentos de grande repercussão como forma
de melhor identificá-los, personaliza-los, digamos assim, a fonte – no caso a
polícia – absorveu esse aspecto de nossas atividades e já carimba seus gestos
funcionais com o peso apropriado à manchete do impresso ou à escalada da TV –
escalada é aquela apresentação inicial, a abertura que os telejornais fazem ao
enunciar seus principais assuntos.
Acho
que a Polícia Federal está fazendo um excelente trabalho ao capturar bandidos
ricos, usufrutuários do poder, bem ao enfrentar os criminosos convencionais –
traficantes de drogas, contrabandistas e quejandos.
Mas
entendo que não seria necessário tal alarde como se fora para tirar proveito midiático
da situação.
A
questão, porém, tem outro aspecto. É o seguinte: neste país a impunidade grassa
e está imbricada à subcultura de valoração da esperteza e da safadagem; assim, quando
se vê um banqueiro preso, um senador posto a ferros, um alto funcionário flagrado
e levado ao cárcere isso transformou-se em algo digno de comemoração.
E nada
melhor, pelo lado da polícia, que trombetear mais uma operação-não-sei-o-quê. É
como se os agentes estivessem dizendo: “Olhaí, pessoal, mais um ricaço está
metido em apuros com a lei. E nós estamos no pedaço.”
Mas o
espocar de fogos da polícia é o menor dos males. É preferível isso – bisonhamente preferível –, ao silêncio dos gabinetes onde discretamente se organizam as
quadrilhas de gravata e se armam as tramoias mais sórdidas.
OK pessoal, vamos botar na cadeia o garboso meliante.
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Foto: http://www.otempo.com.br/cidades/pol%C3%ADcia-federal-divulga-a-extradi%C3%A7%C3%A3o-de-23-estrangeiros-durante-a-copa-1.880725