Vivemos o pandemônio, ou seja: o pandeiro do demônio
Dia 14 de janeiro publiquei neste
blog texto em que satirizava a situação de descalabro e de medo no Rio Grande
do Norte, entregue à própria sorte no que diz respeito à segurança pública. O
texto – que segue abaixo – de alguma forma antecipava o quadro de terror hoje instalado.
Os bandidos conseguiram paralisar
o transporte público, apavorar as pessoas, causar grandes danos e já causam
abalos econômicos. A lentidão da resposta das autoridades é alarmante.
O uso de forças do Exército,
adstrito a uma chocante burocracia, demonstra o quanto o Estado, aqui em compreensão
mais larga, Estado como ente além e acima da designação de ente federado. O Estado,
enquanto instituição formuladora de ações e decisões administrativas profundas,
ações de caráter nacional, tem-se mantido letárgico, lento, quase omisso.
Os bandidos fazem de tudo ou
quase tudo e o Exército não chega, é o que quero dizer.
Entendo que as ações dos
criminosos são terrorismo, mesmo que lhes faltem componentes ideológicos mais
profundos, semelhantes aos dos grupos terroristas típicos, ou seja: atos de violência
originados e sob a tutela de uma ideologia que se alega política, libertária e,
portanto, contra-hegemônica.
Na verdade, os criminosos que
agem no RN apenas se diferenciam do terrorismo ortodoxo, digamos assim, por
dois fatores: o primeiro já foi mencionado: eles não almejam o poder político
pela violência; o segundo diz respeito ao fato de que não atacam – pelo menos não
por enquanto – pessoas inocentes, antes depredam patrimônio público ou privado.
Mas tais circunstâncias não
elidem o fato de que, sim, a sociedade está aterrorizada. Especialmente porque
não se vê polícia na rua e isso passa a sensação de desamparo, ampliando a
possibilidade dos atos de terror.
É preciso, porém, admitir: o
trabalho de inteligência da polícia tem funcionado. Tanto, que bandidos que
lideram as ações têm sido capturados.
O que se espera é que a segurança
pública consiga debelar essa crise, mantenha o trabalho de instalação de
aparelhos que bloqueiem os celulares nas penitenciárias e garanta ao cidadão o
direito de viver em paz.
Mas não confio que
a Polícia Militar do Rio Grande do Norte aprenda com a lição e passe a agir
como dela se espera: desenvolvendo enérgicas ações tático-estratégicas, ações
diuturnas com resultados preventivo-repressivos à altura do que a situação cotidiana
está a exigir.
PS: segue abaixo a crônica
mencionada no início deste texto.
.............................
Sindicato dos Ladrões, Arrombadores,
Assaltantes e Similares-Silada/RN
NOTA OFICIAL
A entidade supramencionada vem a público convocar
tal e operosa categoria para que empreenda esforços a fim de implantar no Rio
Grande do Norte um regime de terror e dominação em 2016.
Sabedores de que a Polícia Militar não dispõe de
tropas, recursos ou número suficiente de viaturas para nos enfrentar,
envidaremos esforços para que todos os nossos associados possam usufruir de tal
estado de coisas com total liberdade e desenvoltura.
As explosões de cofres em bancos em Natal e
interior do estado são o comprovante exato do que acima afirmamos. Assim,
bravos companheiros, não temamos: vamos agir com vigor e força a fim de
assegurar a todos e a cada um de nós o que é de direito: assaltar, arrombar,
roubar e agir sem temor já que a PM não tem condições, como supramencionado, de
nos enfrentar.
É imperioso notar que a falta de vigilância é
indício fortíssimo de que especialmente Natal não dispõe de um sistema de ronda
digno desse nome.
Assim, temos literalmente a obrigação de, como
profissionais competentes e respeitáveis no mundo do crime, trabalhar para
garantir nosso bom nome perante os demais membros de nossa comunidade, seja
nacional ou internacionalmente. Sejamos, portanto, literalmente bons
ladrões.
O bom ladrão não descansa. O bom ladrão agride
sempre; o bom ladrão não perde oportunidade seja domingo, feriado ou dia santo;
o bom ladrão é atrevido; o bom ladrão, se preciso, mata. O bom ladrão, em suma,
não está nem aí: faz e acontece.
Assim sendo, colocamo-nos à disposição de todos os
companheiros: que andam sempre bem armados e botem pra quebrar.
A DIRETORIA