O dicionário da
corrupção
Como nas velhas gazetas, aquelas
em que meninos apregoavam ao mundo as manchetes tintas de horrores, saiu a
lista de Fachin. Os jornais espocam os nomes dos indigitados.
Apesar dos tempos plusmidiáticos
o anúncio teve força idêntica à que tinha a antiga gazeta, anunciada ao grito
de “extra!, extra!”
A lista de Fachin expôs ao
alarido social a listagem de homens e mulheres mencionados em atos de altíssima
indignidade com a coisa pública: traz a público o catálogo, o dicionário da
monstruosa máquina político-empresarial que dirige o País.
Um monstro, autointitulado delator
premiado denuncia outros iguais a si, como se àqueles não fosse idêntico e
paritário.
O grande problema brasileiro,
como se estivéssemos num jogo de espelhos onde uns e outros se acusam
mutuamente – uns denunciam outros, que, por sua vez, se dizem vítimas de denunciação
caluniosa – não seria, pelo menos não completamente, a corrupção como elo entre
o corrupto e o corruptor.
A grande questão diz respeito à cultura
da corrupção que foi institucionalizada, valorada, vivida, convalidada e, sob
certos aspectos, regrada: o estatuto de
tal situação tem a marca da troca de favores, premiação em dinheiro por ato ilícito,
facilitações e patrimonialismo.
Pior: naturaliza o ato de
corrupção como algo essencial a qualquer atividade que diga respeito à
movimentação de dinheiro público.
Quem não age segundo tais normas é o otário, o besta, o mané que
perdeu a oportunidade...
Agora as manchetes, sejam
impressas, enunciadas na TV ou trazidas a público em jornais e redes sociais,
mostram que tal realidade precisa ter fim.
É que o dinheiro desviado por
corruptos e corruptores faz falta em hospitais, folhas de pagamento de
funcionários, escolas, construção de estradas, universidades federais e
segurança pública.
A cultura política do Brasil transformou-se
em caso de polícia. Os enredados nas acusações, todavia, são homens e mulheres
poderosos, riquíssimos.
Têm dinheiro suficiente para
pagar advogados caríssimos, conhecedores dos meandros e cavilações processuais
e, assim, capazes de procrastinar qualquer questão jurídica até o final dos
tempos.
Precisamos de uma reforma
profunda e, ao longo do tempo, uma ação onde se valorem a ética e o trabalho em
todos os segmentos sociais. E se puna, sempre e exemplarmente, os que se dedicarem
ao crime como meio de vida na política.
....
Aposentadoria,
não
Uma reforma política que venha ou
viesse a ser feita deveria extinguir a concessão de aposentadoria a políticos.
O exercício de mandato é serviço ao público, de caráter temporário e já
regiamente remunerado. Todo político tem uma profissão, supõe-se. Assim, que
seja aposentado como profissional.
Lista
suja
Também é coisa abominável:
deve-se repudiar o voto em lista fechada. Trata-se, e todos sabem disso, de jogo
sujo para reeleger os criminosos enganchados na Lava Jato.
Financiamento
de campanha
Lamentável também a ideia de criação
de um fundo público para financiar campanhas eleitorais. Temos aí, de graça, as
redes sociais e, claro, o dinheiro de cada um. Que gastem do próprio bolso. Dinheiro
público deve ser investido a favor do povo.
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